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2.2 A TRADIÇÃO DE UMA METODOLOGIA DE EXPERIMENTAÇÃO: NA

2.2.1 A Influência do PSSC no Brasil

O Brasil em processo de desenvolvimento nacional e seguindo uma tendência de que o caminho era a industrialização e a revolução científica, cria através do decreto federal n.0 9.355 em junho de 1946, o Instituto Brasileiro de

Educação, Ciência e Cultura (IBECC), cuja proposta era de aperfeiçoar a formação científica dos estudantes da escola de nível médio, com a disciplina de Física fazendo parte do currículo, para o futuro ingresso nas universidades. Para tanto passou a elaborar livros didáticos e paradidáticos, e material para laboratório conforme a foto de um kit que faz parte do acervo histórico do laboratório do CEP.

7 Que caracteriza – se pela valorização do relatório experimental. Guiado por descrição do aparato

experimental, coleta de dados, construção de gráficos, determinação de constantes, análise de resultados e claro a seção dedicada aos “erros experimentais”.

Fotografia 4: material de laboratório para estudo de movimentos orientados pelo IBECC. Fonte: Muchenski, J. C., 2013.

O IBECC associado a UNESCO acompanhando o PSSC nos Estados Unidos, propuseram um curso de capacitação de professores na década de 60, e com a intenção que os professores cursistas se tornassem multiplicadores e difundissem a proposta do PSSC por todo o país, da demanda histórica que investigamos apontou que os professores do CEP foram influenciados pelo otimismo de um novo modo de ensinar ciências, em particular o ensino de Física. Em nosso acervo encontramos as caixas de experimentação e os manuais que as acompanhavam.

Os manuais do PSSC foram traduzidos para o português por uma equipe do IBECC na Universidade de São Paulo (USP) e o material experimental foi produzido através da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências (FUNBEC), fundada em 1966. Portanto tínhamos uma proposta de mudança para o ensino de Física, com proposta curricular, com novo material didático e uma proposta experimental.

Paralelo a produção de materiais através da FUNBEC, empresas privadas também passaram a elaborar material de laboratório, com manuais que convergiam

para a proposta do PSSC, como por exemplo Indústria – Comércio Bender Ltda.8 E

tais manuais deixavam claro o encaminhamento metodológico seguindo as tendências norte americanas, a seguir a imagem do manual com recomendações didáticas que acompanhava o material de laboratório e o manual de experimentos:

Figura 2: contracapa do manual da Bender elaborados pelo Pe. Aloysio Vienken.

Fonte : manual de experimentação da indústria e comércio Bender

Agora um trecho na íntegra do autor dos manuais Bender Pe. Aloysio Vienken (1966):

8 A empresa Otto Bender LTDA acompanhando a tendência norte americana, começa na década de

60, a fabricação dos chamados kits de experimentação para as disciplinas de Ciências e Física. Os aparatos experimentais eram acondicionados em caixas, que ficaram populares entre os professores que se engajaram de alguma forma nesta empreitada como “as caixas Bender” de experimentação. As caixas eram compostas duas de Mecânica, uma de Hidrostática, duas de Termologia, duas de ótica e duas de Eletricidade. E quanto aos manuais de instrução o Pe. Aloysio Vienken foi convidado para elaborá-los e também para ministrar cursos para utilização do material, para os cursos a empresa mantinha uma espécie de laboratório móvel montado em um ônibus. Na década de 70 “as caixas da Bender” ficaram bem conhecidas e foram adquiridas por inúmeras secretarias de educação de todo o país, entre elas inclui-se a secretaria de educação do estado do Paraná, que as distribuíram por várias escolas, entre elas o Colégio Estadual do Paraná.

“No ensino de Física, ao qual nos limitamos neste trabalho, a falta de meios e principalmente de tempo, não permite que o aluno adquira, nem em linhas gerais, o conhecimento amplo e sistemático por atividade própria, redescobrindo tudo aquilo que durante séculos foi descoberto pelos cientistas. Também neste caso o professor apresenta os resultados obtidos e, os prova. É claro e indispensável, não por afirmações ou deduções lógicas e sim por exemplos que ele mesmo dará em exposições demonstrativas. Estas não devem ser somente qualitativas, exposições de ilustração, mas devem ser também quantitativas, não ficando em nada aquém das experiências efetuadas pelo próprio aluno. Pelo contrário, as experiências demonstrativas são muitas vezes superiores por serem mais difíceis e inacessíveis à experimentação do aluno. ” (VIENKEN,1966, p. 4)

Outro trecho:

“O resultado deste esforço gigantesco foi esplêndido como era de se esperar. O entusiasmo pelo novo método foi tão grande que o PSSC organizou cursos até na América Latina, para que nós também participássemos dos benefícios do novo método.

Entre nós, foram feitos já diversos cursos e atualmente estes são organizados pelo IBECC, que fabrica e vende o material do curso. ” (VIENKEN,1966, p. 7)

Neste pequeno trecho do Pe. Aloysio Vienken, que é baseado na proposta do PSSC, um profissional que trabalhou com formação científica estava mergulhado em uma percepção de ensino de Física com a experimentação, que atualmente denominamos de visão popular ou tradicional da experimentação, a qual se fundamenta em características da tradição das “ciências indutivas”, (Hacking, 2012):

Originalmente, essa expressão significava que o investigador devia fazer observações precisas, conduzir com cuidado os experimentos e honestamente anotar os resultados, prosseguindo então no estabelecimento de generalizações e analogias e gradualmente elaborando hipóteses e teorias sempre desenvolvendo conceitos novos que lhe permitissem dar sentido aos fatos e organizá-los. No caso de as teorias sobreviverem a uma testagem subsequente, teremos aprendido algo sobre o mundo; poderemos até mesmo ser levados às próprias leis subjacentes da natureza. (Hacking, 2012, p. 62).

Nesta perspectiva no ensino de ciência, a experimentação ancorada em uma forma empirista um tanto ingênua, que apregoa ser possível gerar princípios indutivamente a partir da observação, ou seja leis e teorias a partir da experiência, foi produzido material de laboratório pela indústria Bender, e que a seguir apresentamos a imagem de um dos armários:

Fotografia 5: armário da indústria Bender. Fonte:MUCHENSKI, J., C. 2013.

E os guias de experimentação redigidos pelo Pe. Aloysio Vienken, convergente à proposta do PSSC que acompanhavam os armários com os kits de experimentação.