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3.3 ENTRELAÇANDO O RACIONAL E O EMPÍRICO, NA MANIPULAÇÃO DA LE

3.3.1 O Racional, o Empírico e a Especulação Como Elemento Articulador

3.3.1.1 Por que não estamos criticando o Positivismo de Comte?

Sobre a filosofia Positivista “só cabe o nome de ciência, de conhecimento certo, aquele saber que pode ser controlado pela matemática, depois de registrados os fatos pela experiência e for útil para a vida. ” (TORRES, 1957, p. 207). Anunciado por Comte “assim, o verdadeiro espírito positivo consiste sobretudo em ver para prever, em estudar o que é, a fim de concluir disso o que será, segundo o dogma geral da invariabilidade das leis naturais. ” (COMTE, 1978, p. 131).

Com a característica primordial de combater a metafísica que não pode ser experimentada, e que pregava um progresso contínuo, alicerçado na história da ciência europeia, que a humanidade passaria de um estágio teológico para um estado positivo ou científico, passando pela metafísica.

Comte com a virtude de abordar os princípios de cada ciência segundo uma perspectiva histórica, possivelmente influenciado pelos “filósofos e historiadores como David Hume (1711-1776). ” (COMTE, 1978, p. 10). Comte enaltece um dos pontos fundamentais da filosofia positiva, “no qual os descobrimentos e invenções da ciência e da tecnologia desempenham papel preponderante, fazendo o homem caminhar para uma era em que a organização e política seria produto das luzes da razão. ” (COMTE, 1978, p.10), entre os temas:

Por essa razão, o sistema comteano estruturou-se em torno de três temas básicos. Em primeiro lugar, uma filosofia da história com o objetivo de mostrar as razões pelas quais uma certa maneira de pensar (chamada por ele filosofia positiva ou pensamento positivo) deve imperar entre os homens. Em segundo lugar, uma fundamentação e classificação das ciências baseadas na filosofia positiva, finalmente, uma sociologia que, determinando a estrutura e os processos de modificação da sociedade, permitisse a reforma prática das instituições. A esse sistema deve-se acrescentar a forma religiosa assumida pelo plano de renovação social, proposto por Comte nos seus últimos anos de vida. (COMTE, 1978, p. 16).

Em relação a filosofia da história, Comte defende o progresso da ciência e do espírito humano, que apresentariam o desenvolvimento de três fases distintas: a teológica, a metafísica e a positiva. Que evidenciaria a evolução do senso comum de aspectos pré-científicos para aspectos mais científicos. Parece-nos que Comte traz sua vivência com a história europeia, que é possível reconhecer um avanço em termos de racionalidade, de uma era teológica da idade média, depois uma fase alquimista e seus autores herméticos e depois o fortalecimento das ciências naturais como por exemplo entre tantos outros como Bacon, Galileu e Descartes. Portanto a alquimia e os autores herméticos representaram a transição entre a doutrina religiosa da idade média e o fortalecimento das ciências naturais.

Reiterando que de certa forma somos simpáticos a filosofia positiva de Comte, uma vez que nela é ressaltada “a união entre a teoria e a prática seria muito mais íntima no estado positivo..., pois o conhecimento das relações constantes entre os fenômenos torna possível determinar seu futuro desenvolvimento. ” (COMTE, 1978, p. 20). Portanto não criticamos o Positivismo de Comte, pois simplesmente este já corroborava com a união entre a teoria e prática.

Talvez apenas uma ressalva, ou mais um apontamento para a reflexão é o encaminhamento possivelmente de um não equilíbrio entre as duas frentes teórica e prática, dando um certo teor de maior valorização aos fatos e a prática. “Em suma, o espírito positivo, segundo Comte, instaura as ciências como investigação do real, do certo e indubitável, do precisamente determinado e do útil. ” (COMTE, 1978, p. 21).

Comte via o progresso das ciências apoiado na sua filosofia da história como um processo positivo de alcançar uma sofisticação. Sofisticação alicerçada em um maior o grau de especulação complexa, ou abstração através da linguagem físico matemática, maior o alcance do pensamento positivo para aquela ciência.

Segundo Comte, as ciências classificam-se de acordo com a maior ou menor simplicidade de seus objetos respectivos. A complexidade crescente permite estabelecer a sequência: matemáticas, astronomia, física, química, biologia e sociologia. As matemáticas possuem o maior grau de generalidade e estudam a realidade mais simples e indeterminada. A astronomia acrescenta a força ao puramente quantitativo, estudando as massas dotadas de forças de atração (COMTE, 1978, p. 22).

Mais uma vez defende a união entre a teorização e os fatos observados cuidadosamente, porém em uma escala de importância diferenciada, valorizando sim primeiro a quantização em detrimento da qualificação.

Outra ressalva para reflexão no Positivismo de Comte, trata-se de um certo conservadorismo, apesar de alicerçar-se na filosofia da história defendia mesmo assim a imutabilidade dos modelos e assim um sistema de crenças imutável. E que se procurarmos na filosofia da ciência de Kuhn, encontraremos inúmeros exemplos de modelos que entraram em crise e que tiveram de ser substituídos por outros modelos.

Por fim o Positivismo de Comte, é somado ao pensamento positivo a chamada religião positivista ou da humanidade, cujo “Solo mais fértil foi encontrado pelo positivismo comteano, incluindo-se a religião positivista, em países de menor tradição cultural e carentes de ideologia para seus anseios de desenvolvimento. ” (COMTE, 1978, p. 27). Pois eram povos ainda em um estado de pensamento teológico e, portanto, de fácil conversão para um sistema de crença de maior plausibilidade. Entre eles o Brasil parece-nos que acessível ao pensamento positivo:

Miguel Lemos decepcionou-se com “o vazio do littreísmo” e tornouse adepto fervoroso da religião da humanidade, dirigida por Laffite. De volta ao Brasil, fundou a Sociedade Positivista do Rio de Janeiro, que constitui a origem do Apostolado Positivista do Brasil e da Igreja Positivista do Brasil, cuja finalidade era “formar crentes e modificar a opinião por meio de intervenções oportunas nos negócios públicos”. (COMTE, 1978, p. 28). Afeiçoada mais a Religião da humanidade de Comte. Podemos realizar uma última ressalva e uma certa especulação para raciocinarmos, de ter sido o maior equívoco de um Positivismo brasileiro, o da apropriação da última fase da produção de Comte e, que talvez tenha permeado outras áreas, como por exemplo o sistema educacional! Especulamos uma aplicação de método de ensino de uma ciência em cunho tradicional e tratada como um sistema de crenças imutável e que não poderia ser modificado e que corroborasse com o pensamento positivo brasileiro.

Entre essas intervenções, sem dúvida, foi importante a participação dos positivistas no movimento republicano, embora seja um exagero dizer-se que foram eles que proclamaram a República, em1889. Influíram, é verdade, na Constituição de 1891 e a bandeira brasileira passou a ostentar o lema comteano “ordem e progresso”. (COMTE, 1978, p.30).

Que possivelmente influenciaram muitos dos eruditos que constituíram cabeças pensantes e idealizadores do sistema de ensino brasileiro. Reforçamos, portanto, que não é nossa intenção a crítica a Escola Positivista de Comte, mas sim a tentativa brasileira de transformar uma parte da corrente filosófica em um método aplicado ao ensino. Que alicerçou um sistema tradicional de ensinar, com a valorização da repetição da lição, memorização e reprodução desta lição. Um sistema automatizado.

Então existem algumas características que deturpam a visão da ciência, e que associam a ela aspectos doutrinários. Por exemplo a crença de que leis e teorias podem ser descobertas a partir da observação fechada e coleta de dados experimentais e, o segundo em uma crença de que leis ou teorias podem ser comprovadas, testadas e justificadas experimentalmente. Que caracterizam uma forma ingênua de empirismo, que pensada pedagogicamente e aplicada na forma como se elabora proposta de experimentação, parece não contribuir com o gênero de raciocínio de laboratório que procuramos, como enriquecedor nos processos de ensino aprendizagem.

Na próxima subseção argumentamos pontos que consideramos falhos nessa forma de empirismo, que parecem ter sido exoticamente inseridos pelo projeto PSSC como metodologia no ensino de Física, pelo menos a respeito da segunda lei de Newton.