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3.3. O papel do Desenvolvimento Económico no desenvolvimento do Turismo

3.3.1. Influência sobre a Procura Turística

A capacidade e motivação para viajar, bem como as oportunidades para o fazer, são condicionadas por factores variados relacionados com o tempo disponível para lazer, existência de férias pagas, restrições governamentais ao turismo, informação sobre produtos turísticos, disponibilidade desses produtos e o rendimento e poder de compra das famílias.

Cooper et al (2005) dividem os factores que influenciam a procura turística em dois tipos: as determinantes relacionadas com os estilos de vida e as determinantes que se relacionam com o ciclo de vida. Dentro do primeiro grupo, Cooper et al (2005) incluem factores como o rendimento e emprego, direito a férias pagas, nível de educação, facilidade de mobilidade, raça e género. No segundo grupo de determinantes da procura turística, segundo Cooper et al (2005), insere-se a idade e a fase do ciclo de vida familiar em que os indivíduos se encontram (infância, adolescência, fase adulta, casamento, “ninho vazio” e terceira idade).

Bull (1995) admite que, devido às características específicas da actividade turística, entre as quais se inclui o consumo in loco, as condições económicas existentes no local de origem e as que se encontram no destino são diferentes e têm influência na procura turística. Este autor divide em três grupos as variáveis económicas que influenciam a procura turística: variáveis da área de origem, variáveis do destino e variáveis de ligação entre origem e destino.

No primeiro grupo de variáveis incluem-se factores como rendimento, existência de férias pagas, condicionantes dos governos relativamente à prática do turismo, entre muitos outros que condicionam, na origem, a capacidade dos consumidores entrarem no mercado turístico. No segundo grupo de variáveis, as variáveis económicas que interferem com a procura turística do lado do destino, Bull (1995) integra as variáveis relacionadas com os produtos e com a oferta. Dentro destas variáveis encontra-se o nível geral de preços, nível de competição e qualidade dos produtos turísticos da economia local. Por fim, no que

respeita às variáveis económicas que influenciam a procura turística e que resultam da ligação entre uma determinada origem e um só destino, Bull (1995) inclui neste grupo as seguintes variáveis: comparação entre níveis de preço das duas áreas, esforço promocional que o destino realizou na origem, taxas de câmbio e a relação tempo/custo da viagem.

Todas as determinantes apontadas pelos autores referidos anteriormente são determinantes da procura turística que se relacionam fortemente com o nível de desenvolvimento económico, quer no local de origem quer no local destino dos visitantes.

A relação entre o nível de desenvolvimento económico dos locais e a procura turística torna-se, neste contexto, bastante evidente.

Liu (1998) refere que esta relação não só é evidente, como o nível de desenvolvimento económico de uma sociedade determina fortemente o volume da procura turística, dada a influência da economia em muitos factores críticos e inter-relacionados da sociedade.

A relação entre desenvolvimento económico e procura turística pode ser expressa de diversas formas. Por exemplo, através do cruzamento de estatísticas de taxas de partida para férias25 com as estatísticas

acerca do rendimento per capita das diferentes áreas ou ainda através da elasticidade rendimento/procura turística.

No que respeita ao cruzamento dos dados relativos às taxas de partida dos países com o seu nível de PIBpc, na maioria dos exemplos, verifica-se que um maior nível de rendimento per capita coincide com maiores taxas de partida (Gráfico 3. 1). As situações em que tal não se verifica (o caso dos EUA e França) podem ser explicadas por factores sócio-culturais, relacionados com as tradições, hábitos e cultura, e, tal como refere Liu (1998), pela dimensão do país em análise, que fazem com que o turismo doméstico assuma uma grande relevância. Estes são também factores que influenciam significativamente a procura turística, mas sobre os quais este trabalho de investigação não incidirá.

0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 Turq

uia Itália Fran ça Alem anha Bélgi ca Suéc ia Irlan da EUA Países D ól ar es 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 140% 160%

PIBpc (dólares) Taxa Partida (% )

Gráfico 3. 1: Relação entre Taxas de partida e Produto Interno Bruto per capita de diferentes países no

ano de 200526.

Fonte: Elaborado com base em OMT (2007) e OCDE (2008a) (2008b).

Relativamente ao conceito de elasticidade, é um conceito amplamente utilizado em Economia para traduzir a sensibilidade de uma variável relativamente a variações numa outra variável. Os estudos realizados no domínio das elasticidades da procura turística/rendimento (como os de Archer, 1976 ou Crouch, 1992) demonstram que o rendimento dos visitantes é uma forte determinante da procura turística. Esta influência relaciona-se com o nível de desenvolvimento económico no local de origem, uma vez que é exercida através de variações no nível de rendimento dos visitantes, sendo esta variável exógena aos destinos. Alterações no nível de rendimento dos visitantes terão implicações directas no poder de compra dos visitantes e, assim, influenciará tanto a despesa diária como a estrutura dessa despesa.

No que respeita ao valor da elasticidade procura turística/rendimento, esse valor depende do tipo de produto turístico em causa (Crouch, 1992) e do tipo de turismo praticado (Bull, 1995).

Segundo Crouch (1992), produtos turísticos inferiores, têm valor da elasticidade inferior a zero, enquanto que para os produtos turísticos normais, esse valor será maior que zero. Dentro dos produtos turísticos normais ainda existem os produtos necessários, com elasticidade entre zero e um, e os produtos de luxo, com elasticidade superior a um (Crouch, 1992).

Bull (1995) compara a elasticidade procura turística/rendimento do turismo de negócios, com a do turismo de convenções, turismo para visitar familiares e amigos, turismo em férias principais e turismo em segundas férias. Desta comparação conclui que o turismo de negócios é o mais inelástico, seguindo-se o turismo de convenções e o turismo motivado por visita a familiares e amigos. O turismo em férias principais e em segundas férias mostram já maior elasticidade. Segundo este autor estas diferenças

26 Devido à inexistência de dados comparáveis entre países e para as diferentes variáveis, apresentam-se dados relativos a 2005.

reflectem também um grau de obrigatoriedade mais elevado para os três tipos de turismo mais inelásticos face aos restantes dois, onde existe um maior poder de escolha.

A maioria dos estudos tem corroborado a ideia de que o turismo é um “produto de luxo”, uma vez que apontam valores por vezes superiores a dois para a elasticidade procura turística/rendimento. A relação procura turística/rendimento é, considerando esses valores, altamente elástica. No entanto, parece existir um consenso de que o intervalo mais usual será entre os valores um e dois (Eusébio, 2006).

Outro factor relevante geralmente relacionado com o nível de desenvolvimento económico dos países, por condicionar a procura turística e o desenvolvimento turístico, prende-se com as barreiras impostas pelos governos ao turismo. Este condicionamento ocorre tanto ao nível dos países de origem (barreiras à saída de pessoas) como no que respeita à entrada de pessoas no país (barreiras à entrada de pessoas). No entanto, neste trabalho este não é considerado um factor de grande relevância, atendendo à escala de análise (nível local), ao facto de Portugal ser um país integrado na União Europeia (zona de livre circulação de pessoas entre países-membros) e, ainda, ao facto de os principais mercados emissores para Portugal e receptores de visitantes portugueses serem países da EU (segundo o INE (2007)). Como mercados emissores destacam-se a Espanha, com uma proporção de 22,1% do total de visitantes não residentes, seguindo-se o Reino Unido com 20%, a França com 13,3% e a Alemanha com 10,6% e como mercados receptores de visitantes residentes em Portugal salientam-se a Espanha (47,3%), a larga distância, a França (13,3%), a Alemanha (5,3%) e o Reino Unido (5,0%) ).

Liu (1998) sugere ainda que a procura turística é também determinada pelas condições da oferta, já que esta última cria e/ou estimula a procura, através das acções de marketing que promove e das infra- estruturas que possui, determinando a duração e a estrutura das oportunidades para viajar para os destinos.