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Os factores e os instrumentos de medida de Crescimento e de Desenvolvimento

3.2. Crescimento e Desenvolvimento: Evolução dos conceitos

3.2.1. Os factores e os instrumentos de medida de Crescimento e de Desenvolvimento

Segundo Thirlwall (1999) são três os factores dos quais depende o crescimento económico: crescimento dos factores produtivos Capital e Trabalho (o turismo pode representar uma multiplicação destes factores na economia local, relação que será apresentada num ponto subsequente deste capítulo); melhorias na eficiência e produtividade dos factores produtivos – Progresso Técnico/Inovação (o turismo pode introduzir ou facilitar a introdução de inovações na estrutura produtiva local, tanto através de técnicas como através de diversificação sectorial); e a transferência ou reafectação dos factores produtivos de actividades menos produtivas para outras com maior produtividade (por exemplo, o turismo pode, em muitos locais, ser uma actividade mais produtiva comparativamente a outras actividades económicas

desenvolvidas localmente). Dentro destes factores, é ainda de salientar que o Capital, enquanto factor produtivo, se divide em duas dimensões: o Capital físico e o Capital Humano. O Capital Humano foi estudado por autores como Lucas (1988), Romer (1992) e Jones (1998)19 e engloba a educação e

capacidades técnicas e intelectuais da força de trabalho. Integra, deste modo, o capital investido em educação, em saúde, em formação profissional, entre outros investimentos que potenciam as características dos trabalhadores e que actuam no aumento da sua produtividade e capacidade de absorção do Capital físico. O Capital físico, por sua vez, engloba o investimento em activos tangíveis, como maquinaria ou infra-estruturas. Aliadas ao Capital Humano, boas infra-estruturas e adequadas ao objectivo da produção que nelas se desenvolve, são essenciais para o aumento da produtividade e diversificação da produção, podendo fazer grande diferença no crescimento das economias. Esta afirmação é comprovada pelo facto de se perceber, de forma clara, uma modificação nas necessidades de diferentes tipos de infra-estruturas à medida que se desenrolam os processos de crescimento e desenvolvimento – quando o crescimento económico possibilita a alteração estrutural que o desenvolvimento económico acarreta, o tipo de infra-estruturas que a economia necessita vai-se modificando.

Com o passar do tempo, a maneira de pensar o crescimento e o desenvolvimento económico, mudou: enquanto crescimento se identifica como fenómeno quantitativo, desenvolvimento ganha um significado associado a qualidade, à forma como o crescimento é aproveitado pelas populações, na melhoria da sua qualidade de vida.

Até meados do século XX, o conceito de desenvolvimento foi medido em termos de taxas de crescimento do Produto per capita, sendo dada muito pouca importância aos beneficiários desse crescimento ou à composição do Produto.

Assumia-se que à medida que o Produto cresce, a capacidade produtiva da economia evolui no mesmo sentido e, desde que a Produção cresça mais do que a população dessa economia, existiria desenvolvimento, como consequência inevitável desse processo de crescimento. Outro motivo pelo qual estes dois conceitos eram utilizados como idênticos, em termos da sua medida, é referido por Debraj (1998): um elevado e igual acesso de todos os indivíduos a níveis elevados de bem-estar material é, provavelmente, um pré-requisito para que os outros níveis de avanço social, que o desenvolvimento abrange, sejam atingidos.

Neste mesmo sentido, o referido autor afirma que, mesmo o Produto per capita não sendo uma medida correcta e absoluta do desenvolvimento, foi utilizado como instrumento de medição deste fenómeno, uma vez que se considerava como uma aproximação à maioria dos aspectos do desenvolvimento.

19 Autores referidos por Fortunato (2003).

A questão que se deveria então colocar, já que este indicador era o utilizado como medida do desenvolvimento, seria sobre qual o poder explicativo do Produto nas restantes dimensões do desenvolvimento (como o nível de educação, acesso à saúde, nutrição, acesso à cultura, entre outros). A partir dos anos 60, começa a notar-se que nem sempre o crescimento económico se traduzia na melhoria da vida das pessoas, sendo até, algumas vezes, factor exacerbante de problemas político- sociais (Seers, 1969 citado por Sharpley e Telfer, 2002).

Esta constatação obrigou ao reconhecimento de um conceito de desenvolvimento mais distanciado de crescimento, que implica uma abrangência maior, envolve objectivos económicos e sociais que necessitam ser avaliados na prática e que funcionem como valores a que as sociedades aspiram para um futuro desejável (Thirlwall, 1999).

Esta consciencialização obrigou ainda a concluir que o Produto per capita, por ser um indicador que resulta de uma média, pode esconder, por exemplo, desigualdades na distribuição do rendimento, mostrando-se indicador de crescimento, mas insuficiente para avaliar um local quanto ao seu grau de desenvolvimento.

Numa primeira fase, uma das formas para tentar suprir esta limitação foi, a introdução do índice de Gini associado ao Produto per capita, como indicador do nível de crescimento e de desigualdade numa sociedade.

Posteriormente, em 1971, Goulet distingue três componentes básicas de uma definição para o termo desenvolvimento: condições de subsistência, promoção da auto-estima20 e liberdade de escolha21.

Ainda na segunda metade do séc. XX e inícios do séc. XXI, organismos como as Nações Unidas e autores academicamente reconhecidos22, têm aprofundado o conceito de desenvolvimento, como

conceito complexo, multidimensional que abrange desde crescimento económico e indicadores sociais a aspectos que afirmem as liberdades individuais e a integridade cultural e politica dos elementos de uma determinada sociedade.

Face a estes conceitos, pensamos que a definição dada por Sharpley e Telfer (2002) resume, ao mesmo tempo que esclarece, o que se entende por desenvolvimento: é a modificação, contínua e positiva, nas dimensões económica, social, política e cultural da condição humana, orientada pelo princípio da liberdade de escolha e limitada pela capacidade do meio ambiente sustentar essa mesma modificação (Sharpley e Telfer, 2002:27, tradução).

Com a emergência dos movimentos ambientais, o conceito de Desenvolvimento ganhou uma nova área de preocupação: a sustentabilidade. Surgiu, então, o conceito de Desenvolvimento Sustentável. Este

20 Conceito que o autor assume como, geralmente, associado ao status económico do país ou da região.

21 Liberdade de escolha é o termo utilizado para transmitir a ideia de que o Desenvolvimento deve implicar liberdade de escolha de cada indivíduo acerca da sua própria vida (por exemplo em áreas como as condições de trabalho, o acesso à saúde e educação ou o consumo).

termo define o desenvolvimento que ambiciona a satisfação das necessidades das gerações presentes sem comprometer a satisfação das necessidades das gerações vindouras (ONU, 1987). Este conceito tem pertinência quando analisamos a área do desenvolvimento económico relacionada com o desenvolvimento turístico, uma vez que o desenvolvimento do turismo de forma não planeada e não consciente desta visão de sustentabilidade pode resultar em graves desequilíbrios nos destinos (por exemplo, a falta de planeamento ou o incumprimento das regras relativas ao ordenamento do território). Estes problemas têm influência directa a nível da descaracterização da paisagem dos locais mas também a nível da erosão costeira, como é o caso de algumas praias do Parque Natural Sintra-Cascais (por exemplo, nas Azenhas do Mar) e do Algarve (por exemplo, a Praia da Rocha).

Outro conceito que aparece na sequência de preocupações acerca das limitações da confusão prática entre crescimento e desenvolvimento é o de Desenvolvimento Humano. Este termo é utilizado com o intuito de encarar a vida das sociedades como um todo e defende a necessidade de medir o desenvolvimento em termos de rendimento per capita, mas também em termos de aspectos que se relacionem com o progresso humano, com o aumento das escolhas das populações.

O desenvolvimento humano introduz um instrumento de medição do desenvolvimento que, apesar de ainda não ser um instrumento absoluto, representa uma tentativa de ir para além do Produto per capita, como medida operacional de desenvolvimento – o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Este índice, desenvolvido em 1990 pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq, foi adoptado pelas Nações Unidas através do Programa de Desenvolvimento, no Relatório de Desenvolvimento Humano de 1990 e é composto por três indicadores: longevidade da população (dada pela esperança média de vida à nascença), nível médio de conhecimentos (obtido através da taxa de literacia e pela taxa de escolaridade) e nível médio de vida (traduzido pelo PIB per capita) (ONU, 1990). Desde então este organismo internacional tem utilizado este indicador nos seus relatórios sobre desenvolvimento humano.

Em consequência da evolução do conceito de desenvolvimento também se verificou a modificação da forma de medir este fenómeno.

Medidas tradicionais e incompletas, como o PIB per capita, foram sendo completadas por outras que pretendem alcançar um leque mais alargado de aspectos da sociedade, como o IDH e outros índices que pretendem traduzir o grau de liberdades civis e políticas de uma determinada sociedade. Estas novas medidas do complexo conceito de desenvolvimento pretendem reconhecer, melhor que as anteriores, a dimensão deste conceito, sem pretenderem ser medidas definitivas e absolutas de tudo o que o desenvolvimento envolve.

No entanto, pode concluir-se que, apesar de novas medidas serem desenvolvidas e utilizadas em diversos estudos, nos estudos económicos do desenvolvimento são as medidas do rendimento per capita das populações, as mais escolhidas e utilizadas para medir o desenvolvimento económico. Este facto deve-se, não só a considerar-se que o rendimento per capita fornece uma aproximação às condições de

vida das populações, mas também por esta medida ser aquela para a qual se dispõe de dados em maior quantidade, comparáveis e com maior grau de fiabilidade.

Expostas as diferenças essenciais entre crescimento e desenvolvimento e a evolução dos dois conceitos, importa registar algumas concepções básicas de autores que se debruçaram sobre a problemática concernente ao desenvolvimento económico local.