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Jeferson Cristiano Tavares

2. INFRAESTRUTURA VERDE: MATERIALIDADE DA SUSTENTABILIDADE URBANA

Uma vez apresentadas as diferentes formas de abordar a sustentabilidade urbana no campo teórico, apresentamos abaixo uma de suas muitas variações no campo prático a partir do estudo introdutório da infraestrutura verde. Assim, abordamos algumas de suas referências pioneiras e da maneira como essas referências transformam-se em elementos materiais da cidade.

2.1 REFERÊNCIAS PIONEIRAS

Pode-se atribuir a gênese da infraestrutura verde a algumas ações planejadoras que buscaram articular infraestrutura, meio ambiente natural e ambiente urbano. Um dos casos para- digmáticos dessa união foi o trabalho desenvolvido por F. L. Olmsted, nas últimas duas décadas do século XIX. Olmsted aliava conhecimentos teóricos e práticos dos campos ambiental e social. Em sua carreira, através de seus projetos, ele buscou articular os processos naturais aos culturais sobre paisagem (Spirn, 2002). Uma de suas experiências mais conhecida é a proposta de rede de parques pensada para aprimorar e recuperar o ecossistema da cidade de Boston. O projeto “Colar de Esmeraldas” é mundialmente conhecido por ser um dos primeiros projetos que concilia resili- ência urbana com sustentabilidade (Herzog, 2010).

No Brasil, Pellegrino e Cormier (2010) e Herzog (2010) foram pioneiros nesse assunto e conseguiram contextualizar, de maneira produtiva, esse debate inserido na realidade nacional, sobretudo abordando as particularidades do aspecto social. Pellegrino e Cormier focaram seus

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estudos em sistemas e tipologias de infraestrutura verde. Herzog também debate e se aprofunda no debate técnico, contudo faz aproximações com o debate teórico.

2.2 PRÁTICAS DE INFRAESTRUTURA VERDE

A infraestrutura verde surge como uma alternativa de adaptação do desenho urbano que considera todo o ecossistema e busca minimizar os efeitos negativos da urbanização através da mimetização da natureza. A infraestrutura verde torna-se um campo de pesquisa inserido no debate da sustentabilidade urbana, no início do século XXI, através da sua constituição prática.

Essas práticas têm origem em dois conceitos fundamentais para o desenvolvimento do tema: a integração de parques e áreas verdes construídas e a preservação de áreas verdes naturais para melhorar a biodiversidade do habitat (Benedict & Macmahon, 2011). Os autores definem a infraestrutura verde da seguinte forma:

an interconnected network of green space that conserves natural ecosystem values and functions and provides associated benefits to human populations (Benedict & Macmahon, 2011 p. 5)

Nessa definição, a ideia principal é pulverizar espaços verdes pela cidade ajudando a conservar o ecossistema natural, tornando assim as cidades mais resilientes. Benedict e MacMahon consideram espaços urbanos tratando as ruas e vias públicas que se tornam os elementos de conexão dos grandes, médios e pequenos parques distribuídos pela cidade. Essa conexão entre os espaços é de extrema importância para manter os fluxos naturais da água, da biodiversidade e de pessoas ao longo da cidade.

Outra perspectiva interessante sobre o mesmo assunto é apresentada por Herzog (2010): A infraestrutura verde consiste em intervenções de baixo impacto na paisagem e alto desempenho, com espaços multifuncionais e flexíveis, que possam exercer diferentes funções ao longo do tempo - adaptável às necessidades futuras. (Herzog, 2010, p.97)

A partir dessa perspectiva, projetos paisagísticos a partir das práticas de infraestrutura verde não necessariamente possuem uma escala pré-definida, podendo ser utilizados em edifi- cações, distribuídos em bairros ou em toda a cidade (Herzog,2010; Ahern 2009). Essa prática busca adaptação e uma regeneração da trama urbana, não modificando apenas o espaço físico da cidade, mas o modo de ocupar, vivenciar e compartilhar a cidade.

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Os locais com esse tipo de infraestrutura são vegetados, com arborização e possuem certa intenção plástica, mas principalmente possuem tecnologias que mimetizam as funções naturais da paisagem. Como Pellegrino e Cormier (2008) pontuam, esses espaços são:

(...) paisagisticamente tratados para serem muito mais do que meras ações de embe- lezamento urbano, mas também para desempenharem funções infra-estruturais relacionadas ao manejo das águas urbanas, conforto ambiental, biodiversidade, alternativas de circulação, acessibilidades e imagem local. (Cormier & Pellegrino, 2008, p. 127)

Essas tecnologias estão muitas vezes ligadas à manutenção do fluxo de água e são utili- zadas em diversas tipologias que, quando combinadas, geram a tal rede de espaços verdes.

Pellegrino e Cormier (2008) exploram em seu artigo as diversas tipologias utilizadas em projetos com infraestrutura verde. De maneira introdutória, apresenta as principais soluções rela- cionadas aos contextos hidrológicos, por exemplo: jardim de chuva, canteiro pluvial, biovaleta, lagoa pluvial, teto verde e grade verde.

I. Jardim de Chuva: Pequenas depressões topográficas que recebem águas pluviais, oriundas de áreas impermeabilizadas. Essa tipologia tem como objetivo garantir o contínuo fluxo das águas, filtrar e remover poluentes difusos da água. É composto por diversas camadas de solo, brita, e vegetação que garantem o processo de filtragem da água e encaminhamento da água recuperada para seu destino final.

Figura 1 – Representação de Jardim de Chuva. Fonte: Cormier, N. (2008)

II. Canteiro Pluvial: Os canteiros pluviais são uma rede de jardins de chuvas conectados e compactados em pequenos espaços urbanos.

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Figura 2 – Representação de Canteiro Pluvial. Fonte: Cormier, N. (2008).

III. Biovaletas: Semelhantes aos jardins de chuva possuem uma configuração espacial mais linear. É preenchida por elementos filtrantes que irão realizar uma limpeza da água da chuva. Também é responsável por aumentar o tempo de escoamento, dirigindo a água para jardins de chuva ou sistemas convencionais de retenção de água.

Figura 3 – Representação de Biovaleta. Fonte: Cormier, N. (2008).

IV. Lagoa Pluvial: Conhecida também como alagado construído, nessa tipologia parcela da água pluvial permanece retida, por isso é uma estrutura que exige mais espaço para sua plena operação. Sua principal função é reter a água e conseguir aumentar o tempo para a absorção pelo solo ou por algum outro sistema de absorção de água. Normalmente são formadas por três áreas: uma zona de entrada que seria uma bacia de sedimentação, uma outra área rasa com bastante vegetação para remover

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sedimentos mais finos e poluentes solúveis e um canal ladrão que garante que esses alagados não transbordem.

Figura 4 – Representação de Lagoa Pluvial. Fonte: Cormier, N. (2008).

V. Teto Verde: é o recobrimento da cobertura de certa edificação com vegetação com o intuito de substituir a área permeável natural. É composto por um solo tratado com compostos orgânicos e areia, espalhado em uma barreira contra raízes e um reserva- tório de drenagem. As águas captadas no teto verde podem ser tratadas e reutilizadas.

Figura 5 – Representação de Teto Verde. Fonte: Cormier, N. (2008).

VI. Grade Verde: É a combinação de diversas tipologias, em arranjos múltiplos que compõem uma rede de intervenções. Esse tipo de solução garante que cada tipologia seja aproveitada ao máximo e sua implantação seja no lugar de melhor desempenho.

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