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4.4 Impactos socioeconômicos dos acordos comerciais

4.4.2 Infraestutura local e o acesso à tecnologia

O impacto dos acordos comerciais na infraestrutura das propriedades e no acesso à tecnologia ocorreu de forma direta através de investimentos realizados pelas próprias empresas em estruturas e equipamentos para o cultivo e processamento de matérias-primas, assim como pela introdução de novas técnicas para a realização destas atividades. Além disso, ocorreu também de forma indireta através da geração de renda que possibilitou aos agricultores investimentos em infraestrutura de moradia e produção e um maior acesso a tecnologias de produção através da aquisição de novos equipamentos e implementos.

De acordo com os entrevistados, em junho de 2004, logo após a aprovação do plano de manejo da pariparoba pelo DEPRN, as empresas Natura e Centroflora investiram na compra de três viveiros, com capacidade para 20.000 mudas cada um, para a produção desta planta. Estes foram doados para os produtores e foram montados com assistência técnica da empresa Centroflora nas propriedades 1 e 3, em Barra do Turvo e 5, em Registro. Embora os produtores tenham utilizado estes viveiros para a produção de mudas de pariparoba durante pouco tempo devido à falta de demanda por esta matéria-prima, os mesmos foram e têm sido utilizados para a produção de mudas de espécies variadas para suprimento das próprias propriedades e também para a comercialização.

Observou-se que de 2004 a 2009, com exceção do Produtor 2, todos os produtores investiram em algum tipo de obra ou reforma na infraestrutura de moradia de suas propriedades. Durante este período, os Produtores 1 e 5 investiram na troca de telhado de suas casas, o Produtor 3 investiu na construção de uma casa de alvenaria em sua propriedade através de um programa de habitação do Governo Federal e o Produtor 4, através do mesmo programa, investiu em na reforma de sua casa. Além disso, nas Propriedades 1, 2 e 3 existem previsões de obras e reformas para o ano de 2010, como a construção de casas em alvenaria nas Propriedades 1 e 2 também através do programa de habitação; troca de telhado na propriedade do Produtor 2; e, reforma da cozinha nas propriedades dos produtores 2 e 373.

Além de investimentos em infraestrutura para moradia, no período em questão foram verificados investimentos em infraestrutura para a produção e na aquisição de novos equipamentos e implementos. Dessa forma, nos últimos cinco anos foram construídos dois

73 No caso do Produtor 3 esta reforma tem por intuito transformar sua cozinha atual em uma cozinha industrial para

secadores de plantas nas propriedades 4 e 5 que foram doados pela empresa Natura. Na Propriedade 1 houve o investimento por parte das famílias dos Produtores 1 e 2 na construção de um terceiro secador. De acordo com os entrevistados a empresa Natura realizou também o investimento em dois motores para os secadores de plantas que atualmente vêm sendo utilizados nas Propriedades 1 e 5 e, também, em um triturador de plantas comprado para processar parcialmente as raízes de pariparoba e que agora será utilizado para outros fins, como explica o Produtor 2:

A gente tá querendo ele agora na verdade pra fazer... Como ele é um triturador de resíduo, ele pode ser, assim, ótimo pra fazer compostagem. Então você bota tudo que você colocar ali, coisa que tá meio já apodrecendo tal, restos de folha, de galho... Ele consegue quebrar tudo e fica tudo mais fácil pros bichinhos ir comendo. Então, eu acho que ele vai ser muito bom! E ele funciona à energia e a gente tem essa energia aqui. Tanto pode ser aqui, a gente tem em casa também. A gente pode usar ele muito bem nessa área sabe? Aí a gente consegue meio que concentrar. Você vai levar, por exemplo, uma compostagem pra área ainda meio que grossa, você pode passar nele e levar ela bem triturada. (Produtor 2)

É importante destacar que, exceto para o Produtor 5, o acesso a tais tecnologias de produção só foi possível devido à instalação de energia elétrica em 2001, nas propriedades 3 e 4, e em 2007, nas propriedades 1 e 2.

Além do investimento na construção de dois secadores de plantas e na compra de dois motores, a empresa Natura auxiliou o Produtor 5 na realização de uma reforma em seu secador conforme este relata: “[...] e aí nós fizemos há uns dois anos atrás a reforma do secador lá embaixo que era para o maracujá, porque a eficiência era meio sofrível, aí foi colocado, sobre orientação da empresa [Natura] e da Universidade Federal de Viçosa foi feito um novo sistema que lá está”.

Houveram também outros investimentos realizados pelos produtores desde o início da relação com a empresa através da compra de materiais, máquinas e implementos para serem utilizados nas propriedades. A tabela 4 a seguir mostra as aquisições feitas pelos produtores no período entre os anos de 2004 e 2009, mencionadas por eles durante as entrevistas.

Tabela 4 – Implementos, materiais e máquinas adquiridos pelos pequenos produtores rurais no período entre os anos de 2004 e 2009

Produtores Implementos Materiais Máquinas

1 pulverizador costal manual plantadeira manual enxada arame palanques e mourões sistema de irrigação plaina elétrica 2 enxada arame palanques e mourões sistema de irrigação

3 pulverizador costal manual enxada arame foice

4 arame

palanques

roçadeira

5 pulverizador costal manual escada de alumínio roçadeira motosserra automóvel

Fonte: Entrevistas realizadas com pequenos produtores rurais do Vale do Ribeira entre fevereiro de 2009 e fevereiro de 2010.

Grande parte das aquisições feitas pelos produtores em materiais, implementos e máquinas no período em questão ocorreram devido à necessidade de adequarem às novas técnicas do cultivo orgânico de maracujá-doce, como é o caso do pulverizador costal, como explica o Produtor 1:

Então, eu tenho um pulverizador. Nós compramos mais um, é um jato costal, porque é o único jeito que tem de trabalhar no maracujá, tem que ser a máquina de costa. Motorizado não vai compensar e, em decorrência também do declive da terra, você não tem como trabalhar com maquinário mecanizado, então aonde precisa parar você pára, não tem desperdício de produto. (Produtor 1)

De acordo com os entrevistados, grande parte dos investimentos em infraestrutura para a instalação do cultivo de maracujá-doce, como compras de mourões, palanques e sistema de irrigação para as propriedades, foram realizados pela empresa Natura nas Propriedades 1, 3 e 5. Investimentos em outros materiais, como arames e catracas, utilizados também para a instalação do cultivo, foram também realizados ao longo da relação comercial pelos Produtores 1 e 2 conforme relata novamente o Produtor 1: “[...] foi comprado arame pra colocar mais alguns pés de maracujá que foi plantado e esse aí tá crescendo. Tinha aqueles, a gente plantou mais 40 pés e plantou mais 160 em cima”.

Durante o período em questão outras aquisições feitas pelos produtores, atreladas ao processamento das folhas de maracujá-doce, foram uma plaina elétrica, adquirida e utilizada pelo Produtor 1 na construção do secador de plantas, e uma motosserra, adquirida pelo Produtor 5 que, de acordo com o mesmo, seria inicialmente utilizada para cortar a lenha que abasteceria o secador de plantas em sua propriedade, mas acabou não sendo utilizada para este fim, porque atualmente este produtor passou a comprar lenha pronta para uso. Jáas demais aquisições feitas no período - como enxadas, arame, foice e palanques - foram investimentos que os produtores realizaram na manutenção de ferramentas e materiais comumente utilizados em suas propriedades.

O acesso à tecnologia propiciado através da construção dos secadores de plantas, ao mesmo tempo em que representou uma grande melhora em termos de infraestrutura produtiva, aumentando a eficiência do processo de secagem, representou, por outro lado, o aumento nos custos de produção, especialmente no caso de dois produtores que, nos acordos comerciais em questão, foram responsáveis pelo fornecimento de mais de 70% de toda a matéria-prima. Assim, o Produtor 1 comenta sobre o consumo de energia em sua propriedade e seu provável aumento:

Varia, varia, uma hora é uma taxa outra hora aumenta mais, porque a gente aumenta o consumo. Um básico não tenho. Tem umas vezes que vem 20, 23, muitas vezes vem 30, chegou até 57, 80, mas disso aí não nunca passou. Agora eu acredito que tem pista de passar porque nós colocamos o forno [referindo-se ao secador de plantas], né? Que já tamo gastando ali com maquinário, quer dizer, com o maquinário não, mas com o trabalho, lâmpada e plainadeira elétrica e o forno também tem a parte que quando funciona ele gasta, nós vamos testar melhor aqui, achamos que a média [referindo-se ao gasto de energia elétrica] de um real, um real e seis por hora. (Produtor 1)

Em nenhuma das propriedades existe fontes de energia alternativas. A falta de acesso a esse tipo de tecnologia e a demora no acesso à energia elétrica faz com que alguns dos produtores pensem ser inviável a utilização de outros tipos de fontes de energia, como resume o Produtor 1: “Sofreu muito, esperou por essa [referindo-se à instalação de energia elética que só aconteceu em 2007] e essa chegou, então essa daí agora permanece!”. Utilizando a mesma linha de raciocínio do Produtor 1, o Produtor 3 comenta a esse respeito:

[...] na verdade a gente ainda não tem acesso a esse tipo de coisa. Hoje tem gerador que o pessoal tem montado aqui, que às vezes tem queda d`água. Isso a gente tinha que ter pensado no passado já, antes de ter instalado energia, porque agora não compensa mais, é ou não é?! Agora a energia tá aqui então vamos usufruir dessa energia. Agora, antes a gente não pensou nisso! Faltou apoio também do poder executivo, do poder legislativo de pensar nisso, de falar e cobrar, né? Então, eu acho que a gente falhou no passado pra gente ter uma energia mais barata, é verdade, é ou não é? (Produtor 3)

Por outro lado, um dos produtores demonstrou interesse em utilizar outras fontes de energia em sua propriedade no futuro, segundo sua explicação:

Eu tenho vontade de fazer alguma coisa assim, né? Mas isso é mais futuramente ainda, principalmente pra aquecer a água. O chuveiro é o grande desafio pra gente gastar menos energia, porque a nossa água é bastante fria, então minha ligação é direta no chuveiro. Então não tem jeito, você gasta muita energia principalmente na época do inverno. Ainda bem que tem um pouco de regularidade porque como a geladeira no inverno gasta pouco, então o chuveiro gasta mais e no verão, a gente não gasta quase nada no chuveiro, mas a geladeira gasta muito mais. (Produtor 2)