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Capitulo 6. Estudo de Caso

6.4 Inovação

Com a maturidade da principal tecnologia de geração de energia eléctrica a partir de fontes de energia renováveis, a eólica, a tendência é o desenvolvimento de outras tecnologias, nomeadamente a solar e a eólica offshore. A empresa para ser competitiva tem que ser sustentável e para isso tem que inovar e investir nestas tecnologias.

Para Meneses (2013), embora a EDP esteja inserida no sector das empresas energéticas, que por vezes é visto como um sector conservador, a empresa demonstra o seu caráter inovador60 através dos resultados: é líder mundial das utilities nos Índices Dow Jones de Sustentabilidade ou Dow Jones Sustainability Index (DJSI), é líder na área das energias renováveis e pioneira no desenvolvimento de tecnologia para eólico

offshore em águas profundas. A EDP integra o Dow Jones Sustentabilidade World

Index (DJSI World) e o European Dow Jones Sustentabilidade Europe Index (DJSI Europe) pelo sexto ano consecutivo, foi três vezes líder do sector eléctrico e atingiu em 2013 o número um no sector das utilities61 (EDP, 2013c).

Aquando uma entrevista relativa à eleição da EDP como número um mundial no DJSI, para António Mexia, presidente da EDP, “Somos a companhia que foi

considerada entre as empresas que têm electricidade, gás e água, a companhia melhor

60 A EDP Inovação é a empresa do Grupo EDP responsável por promover a inovação criadora de valor dentro do Grupo. A EDP Inovação desenvolve a sua atividade alinhada com as prioridades de inovação da EDP e em estreita articulação com as diferentes Unidades de Negócio do Grupo.

do mundo. Melhor em que sentido? No “Triple Bottom Line62”, ou seja, no aspecto do

negócio, no aspecto do ambiente e no aspecto social. E isto é o quê? Estamos a falar de competitividade, ou seja, uma empresa competitiva, uma empresa capaz, uma empresa com as pessoas certas no sítio certo, o que garante que vamos estar cá muito tempo através deste tipo de liderança. Isto traduz o quê? A capacidade de fazer melhor que os outros (EDP, 2013c)”.

Um dos objectivos do plano de negócios do Grupo EDP para o período 2012-2015 é “promover a competitividade e a produtividade através da inovação”, financiando projectos de I&D e Inovação num montante não inferior a €60M (€20/ ano até 2015) (EDP, 2013a, p.33). Neste âmbito, a EDP reiterou a sua aposta na tecnologia eólica

offshore enquanto uma das áreas de foco da inovação (EDP, 2013a, p.59).

Figura 6.2.3-38 Gastos em I&D (M€)

Object 70

Fonte: EDP (2013a e 2009)

A inovação também está presente em tecnologias de manutenção preditiva63 patenteadas pela EDPR (EDP Renováveis, 2011), que permitem prever falhas nos componentes mais importantes (torre, gerador ou caixa multiplicadora), diminuir o tempo de indisponibilidade ou evitar uma eventual avaria.

62 Resultados de uma empresa medidos em termos de rentabilidade económica, social e ambiental (Elkington, 1994).

63 Permite prever quando uma falha pode ocorrer e programar uma manutenção antecipadamente (EDPR, 2011b, p.4)

“Inovação não é só tecnologia. É também, cada vez mais, uma questão de atitude.

De procurar no dia-a-dia uma melhoría contínua. De reflectir sobre as práticas que se têm feito desde sempre (Dr. João Manso Neto, CEO EDPR, Encontros EDP, 2012).”

A EDPR acredita que a inovação é um dos pilares para manter a vantagem competitiva e apoiar o crescimento, é uma forma de otimizar operações e criar novos produtos e serviços. Neste sentido, a empresa destaca dois projectos inovadores: o Windfloat e o Wind Energy Management System (EDPR, 2013g).

No âmbito da difusão do ciclo de vida de novas tecnologias, tornam-se ameaças de novos entrantes as empresas do sector energético que ainda não apostaram nas tecnologias renováveis.

Windfloat

A EDPR analisa constantemente as perspetivas comerciais de uma vasta gama de tecnologias de aproveitamento das energias renováveis que estão ainda pouco desenvolvidas, como forma de assegurar o seu futuro. O projeto WindFloat, conduzido pela EDP Inovação em parceria com a EDPR, é um ótimo exemplo desta abordagem (EDPR, 2013e).

O WindFloat é uma estrutura flutuante patenteada, para suporte de aerogeradores

offshore (EDP, 2011b). A plataforma flutuante é semisubmersível e fica ancorada ao

leito do mar. A sua estabilidade é conseguida através de um sistema de comportas que se enchem de água na base dos três pilares, associadas a um sistema de lastro estático e dinâmico (EDPR, 2013e). Esta é uma estrutura inovadora pois permite atenuar os movimentos induzidos pelas ondas e pelo vento e através da qual é possível instalar aerogeradores em locais anteriormente inacessíveis64 e onde os recursos eólicos são superiores (EDP, 2011b).

Este projecto cuja construção e instalação ocorreu em 201165 tem um investimento directo de 23 milhões de euros66 e um período de testes de 24 meses (Maciel, 2012). A EDP assinou um acordo de projeto e um contrato em regime chave na mão com vários

64 Profundidade da água excede os cinquenta metros de profundidade (EDP, 2011b). 65 Instalação completa a 22 de outubro de 2011 (Maciel, 2012)

66 Custo do projecto de demonstração, que inclui toda a concepção, engenharia, materiais e equipamentos, construção, assemblagem e instalação (Vidigal, 2013).

parceiros67 para a instalação ao largo da costa portuguesa68, do primeiro WindFloat à escala real equipado com um aerogerador Vestas V80 de 2 MW (EDP, 2011b). Para Ferreira (2013), este é o primeiro projeto de energia eólica offshore a nível mundial que não exigiu a utilização de qualquer equipamento de carga pesada offshore e em que todo o processo de construção69 decorreu em terra firme. Após a construção, o Windfloat, já com o aerogerador instalado, foi rebocado e esta operação de reboque foi possível devido à estabilidade da estrutura. Além desta maior facilidade de instalação, junta-se o facto de possibilidar a utilização de qualquer aerogerador, independetemente do fabricante. Este projeto representa também uma oportunidade industrial para Portugal ao nível de infraestruturas, nomeadamente os estaleiros, que com pequenas adaptações poderão constituir a base de desenvolvimento desta tecnologia e criar potencial ao nível das exportações de produtos de elevado valor acrescentado.

Segundo o Responsável do Remote Operations and Dispatch Center da EDPR, “a

EDP está a analisar esta tecnologia e se for rentável seguramente que irá investir nela e o facto de termos know-how ao nível da tecnologia onshore só nos beneficia.”

Para António Vidigal, Presidente do Conselho de Administração da EDP Inovação, ao fazer um balanço deste projecto conclui-se que: após um ano no mar o WindFloat confirmou a sua viabilidade técnica e capacidade de sobrevivência a condições meteorológicas severas (ondas superiores a 15 metros), a capacidade do aerogerador produzir energia de acordo com as curvas de potência teóricas e o sucesso da instalação

offshore, o que representa uma “disrupção da cadeia de valor” (Vidigal, 2013).

Segundo António Mexia (EDP, 2011b), presidente da EDP, "A EDP elegeu a

energia eólica offshore como uma das suas cinco prioridades de inovação e o WindFloat é uma das tecnologias mais promissoras nesta área. Quando forem conhecidos os resultados desta fase de demonstração crucial, a EDP estará mais bem posicionada para superar os desafios da energia eólica offshore em todo o mundo”.

Wind Energy Management System

67 Repsol, a Principle Power, a A. Silva Matos (ASM), a Vestas Wind Systems A/S, a InovCapita e o Fundo de Apoio à Inovação (FAI). Empresas como a ASM e MPG, a Marine Innovation & Technology, a Houston Offshore Engineering, a Bourbon Offshore, a Smith Berger Marine e a Vryhof e Solidal foram subcontratadas para o projeto (EDP, 2011b).

68 Ao largo da Póvoa do Varzim (Aguçadoura), a 14 quilómetros da costa portuguesa (Prado, 2012). 69 Docas secas da Lisnave, perto de Setúbal (Ferreira, 2013).

Para apoiar as suas atividades operacionais, a EDPR desenvolveu a mais moderna infraestrutura de controlo remoto, o Wind Energy Management System (WEMS), um sistema de gestão os activos eólicos utilizado pelos quatro Centros de Despacho ou

Remote Operation and Dispatch Center (RODC) da EDPR localizados no Porto (RODC

principal), Oviedo, Houston e Bucareste. Até à introdução do WEMS na EDPR o controlo era feito através dos SCADAs dos fabricantes o que implicava estabelecer uma ligação individual a cada SCADA de cada parque. Como não era possível ter todos os SCADAs ligados, durante esse tempo não havia forma de saber se os aerogeradores estavam ou não disponíveis. Actualmente o controlo é feito em tempo real, o que possibilita a diminuição dos tempos de indisponibilidade dos aerogeradores e o aumento do fator de carga70.

Para João Manso Neto, CEO da EDPR, “In terms of optimization (the operacional

control – RODC) gives us security that a problem would not create problems. (...) they are very important to control and to be able to act quickly when there is a problem. And a problem is not an incident, a problem is something that is not performing according to the standards, which enables the continuous improvement, and this technology (WEMS) also helps us to increase and to add quality and to introduce improvements in the technology we have (EDPR, 2012, p. 2).”

Ilustração 3 Funções dos RODCs da EDPR

70 Quociente entre a produção anual e a energia que o aerogerador produziria se trabalhasse sempre à potência nominal durante as 8 766 horas de um ano.

Fonte: EDPR (2013f)

Através do WEMS os Despachos têm acesso em tempo real a mais de 5 000 aerogeradores de 11 fabricantes diferentes, 200 subestações e 250 torres meteorológicas espalhados pelas diversas geografias onde a empresa opera. Através deste sistema de controlo remoto é possível gerir todos os ativos em tempo real, parar ou arrancar os aerogeradores remotamente, enviar notificações para as equipas O&M no terreno e servir de interlocutor com os operadores das redes elétricas (EDPR, 2013f). Além dos parques eólicos, com o recente investimento da EDPR em parques solares fotovoltaicos na Roménia, estes também serão introduzidos no WEMS.

Para Frederico Moreira (entrevista pessoal) ,“A grande vantagem do WEMS é a sua

eficiência de operação pois consegue agregar todas as tecnologias de aerogeradores disponíveis na EDPR numa única plataforma “.