• Nenhum resultado encontrado

A abertura dos mercados e o acirramento da concorrência trouxeram impactos tecnológicos positivos e negativos para o SEB. Se, por um lado, as empresas podem recorrer para a aquisição de soluções tecnológicas estrangeiras para se tornarem mais competitivas, por outro pode-se

reduzir os esforços tecnológicos internos (SILVA et al, 2013). Em vista disto, algumas iniciativas importantes foram tomadas no país para garantir investimentos em P&D no setor.

No âmbito do SEB, o Manual de P&D da ANEEL (2008) conceitua inovação como “(...) a

introdução na empresa ou no mercado de produtos, processos, métodos ou sistemas não existentes anteriormente, ou com alguma característica nova e diferente daquela até então em vigor, com fortes repercussões socioeconômicas”. Expandindo a contextualização, emerge o

conceito de inovação tecnológica, que é mais aderente à realidade de um setor como o de energia e eletricidade, calcado pelos avanços tecnológicos e científicos.

A inovação tecnológica tem exercido um papel central para a evolução e o avanço do setor energético (SAGAR & HOLDREN APUD SANTOS, 2008) e continua exercendo, diante do desafio de garantir o suprimento adequado de energia a baixo custo e, ao mesmo tempo, reduzir os impactos ambientais locais, regionais e globais. De acordo com Rocha Pinto & Maisonnave (2012), são muitos os agentes que intervêm sobre o processo de inovação, os quais os autores mencionados dividem em quatro grupos: a) as empresas que produzem, transportam e distribuem a eletricidade, b) a indústria de fornecedores de bens de equipamento, c) os institutos de pesquisa pública e as universidades e d) o Governo. Os fornecedores de bens de equipamento têm uma influência muito forte sobre a mudança tecnológica do setor elétrico, ao introduzir conhecimentos advindos de outros setores industriais e ao desenvolver novas gerações de bens de equipamento.

O processo de reformas e a abertura à concorrência do setor elétrico têm levado a uma alteração da sua estrutura institucional, com consequências para o financiamento da P&D no setor de energia e para o ambiente. Nesse setor, ocorrem os esforços científicos e tecnológicos e as inovações que trouxeram, como consequências, uma significativa redução dos investimentos tanto públicos quanto privados em P&D no setor elétrico e uma mudança na direção dos investimentos em projetos de curto-prazo. Estes efeitos prejudicaram projetos de longo prazo com grande potencial de gerar importantes benefícios para a sociedade e solucionar, em parte, os desafios energéticos, sociais e ambientais atuais e futuros.

Geralmente, a atividade de P&D é estruturada em torno de objetivos concretos, cujos produtos do projeto são concebidos para atender às necessidades estabelecidas nos objetivos. No entanto, além da meta de se atingir os objetivos propostos, contribui tanto para aumentar o estoque de conhecimentos das empresas como também para melhorar a sua capacidade de fazer uso desse estoque para outras finalidades. Adicionalmente, essa capacidade serve também para fazer uso, e até filtrar melhor, o estoque de conhecimento externo, ou seja, aquele que se encontra fora da empresa (FURTADO & FREITAS, 2002). De acordo ainda com os autores,

tanto a capacidade de lidar com os conhecimentos internos e externos para encontrar novos usos a esses conhecimentos pode resultar em spin-offs de diversos tipos: tecnológicos, organizacionais e relacionais. É em relação, especialmente, à capacidade de lidar com os conhecimentos externos que as empresas podem ser capazes de avaliar o valor de uma nova informação, ou seja, uma inovação proveniente de um concorrente.

Por outro lado, mesmo quando os objetivos científicos e tecnológicos não são alcançados, a atividade de P&D proporciona um importante processo de aprendizagem. Ainda de acordo com Furtado & Freitas (2002), este processo de aprendizagem decorrente da execução da atividade de P&D “transforma a organização que a executa de diversas maneiras: do ponto de vista

tecnológico, relacional e organizacional”, podendo conduzir a diversas formas de impactos

econômicos.

Para o caso particular da P&D, as reformas no setor elétrico e a abertura à concorrência trouxeram como consequências a redução dos recursos públicos e privados para essa atividade; a redução dos projetos cooperativos e a polarização em torno das atividades de P&D de interesse corporativo, de curto prazo, com menores riscos e incertezas e com retorno econômico que justificassem os investimentos (GOMES, 2003).

Conforme Gomes (2003), as atividades de P&D realizadas por empresas privadas e públicas geram benefícios que são aproveitados pelos consumidores e pela sociedade como um todo, especialmente no caso em que alguns destes benefícios, aliados à natureza de bem semipúblico da P&D, são capturados por agentes econômicos que não aqueles que realizaram a pesquisa, beneficiando-se dos seus resultados sem incorrer nos elevados custos relativos a esta atividade. Como resultado, o valor econômico para a sociedade geralmente excede os benefícios econômicos capturados pelas empresas que realizaram os esforços de pesquisa. Dessa forma, ainda segundo Gomes (2003), a atividade de P&D é socialmente desejável porque gera amplos benefícios para a sociedade como um todo, porém a iniciativa privada somente investirá em P&D se os benefícios gerados pelos seus esforços possam ser suficientemente capturados e atrativos economicamente. Caso isto não ocorra, atividades com grande potencial de gerar benefícios econômicos, sociais e ambientais para a sociedade deixam de ser realizadas.

Houve mudanças nas filosofias políticas relativas ao papel do mercado e dos governos no financiamento da P&D tecnológico. Estas mudanças estão associadas, por um lado, a controles mais rígidos dos gastos públicos como resultado de recessões econômicas e de déficits públicos e, por outro, aos processos de descentralização e privatização das empresas estatais de serviço público e sua abertura à competição com o objetivo de promover maior eficiência econômica e operacional. Na avaliação de Rocha Pinto & Maisonnave (2012), a obrigatoriedade imposta pela

ANEEL às concessionárias de investir em P&D foi, sem dúvida, importante para garantir que recursos fossem alocados para essa atividade.

Documentos relacionados