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Projetos de P&D regulados pela ANEEL são aqueles destinados à capacitação e ao desenvolvimento tecnológico das empresas de energia elétrica visando à geração de novos processos ou produtos, ou o aprimoramento de suas características. Devem ser gerenciados pela empresa, por meio de uma estrutura própria e de gestão tecnológica (ANEEL, 2012). As atividades relacionadas à execução de projetos de P&D são aquelas de natureza criativa ou empreendedora, com fundamentação técnico-científica e destinadas à geração de conhecimento ou à aplicação inovadora de conhecimento existente, inclusive para investigação de novas aplicações.

Os primeiros ciclos de P&D nas empresas do SEB foram caracterizados pela implementação de processos empíricos de desenvolvimento e gestão de projetos, em sua maioria capitaneados pelas áreas técnicas das empresas. Gradativamente, contudo, pode-se perceber a incorporação mais sistemática das atividades de P&D atreladas aos programas de planejamento estratégico empresarial e aos programas de educação corporativa (MARTINI & MAFFEI, 2005). A análise dos programas de P&D das concessionárias reflete bem a tendência natural e esperada das empresas alocarem a maior parte dos recursos em pesquisa estratégica e de curto prazo, muito embora a ANEEL tenha realizado esforços para suavizar esta tendência ao longo do tempo (JANNUZZI & GOMES, 2002). Ainda segundo os autores, a obrigatoriedade imposta pela ANEEL às concessionárias de investir em P&D foi, sem dúvida, importante para garantir que recursos fossem alocados para essa atividade, caso contrário seria bem pouco provável que as concessionárias privadas continuassem a promover programas de P&D, uma vez que muitas dessas empresas não possuim programas de P&D, em função da não obrigatoriedade dos mesmos.

De acordo ainda com Jannuzzi & Gomes (2002), os primeiros contratos de concessão continham cláusulas que estabeleciam a obrigatoriedade das distribuidoras aplicarem recursos em P&D e eficiência energética, no entanto, em muitos casos, essas cláusulas eram muito genéricas e de difícil verificação e, na verdade, não havia interesse do próprio setor público em torná-las mais específicas, uma vez que se temia com isso a desvalorização das empresas a serem privatizadas.

Com vistas a fazer cumprir os ditames da Lei nº 9.991 de 24 de julho de 2000 e a competência de estimular e participar das atividades de P&D tecnológico necessário ao setor

elétrico, a ANEEL editou o Manual do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Setor de Energia Elétrica, regulamento no qual estão estabelecidas as diretrizes e orientações para a elaboração de projetos de P&D.

Desde a aprovação da Lei nº 9.991, vigoraram cinco manuais de P&D: o primeiro, referente aos investimentos do ciclo 1999/2000; o segundo, aprovado por meio da Resolução nº 502, de 26 de novembro de 2001; o terceiro, aprovado por meio da Resolução Normativa nº 219, de 11 de abril de 2006; o quarto, aprovado pela Resolução Normativa nº 316, de 13 de maio de 2008 e o quinto e atual, aprovado pela Resolução Normativa nº 504 de 14 de agosto de 2012. A partir desse último manual, é extinta a concepção de ciclos de investimentos com datas fixas de apresentação de programas de P&D à agência reguladora e as empresas passam, então, a ter maior liberdade para o desenvolvimento de seus projetos.

A regulamentação contempla, entre outros aspectos: os procedimentos para a apresentação dos projetos; as despesas permitidas em sua execução; a forma de submissão desses projetos à Agência e sua aprovação; o acompanhamento da execução e fiscalização; a contabilização dos gastos; as áreas de investimentos permitidas e aspectos referentes à propriedade intelectual dos resultados alcançados (ANEEL, 2012).

Os resultados de um projeto de P&D variam em função da natureza, da fase ou das características do projeto. Em termos de produto principal, o resultado de um projeto classificado como pesquisa básica dirigida pode ser uma estrutura, um modelo ou algoritmo. Na fase de pesquisa aplicada, podem-se esperar os seguintes produtos: metodologia ou técnica; protótipo ou projeto demonstrativo. E na fase de desenvolvimento experimental, espera-se como produtos: softwares ou serviços, os quais podem ser novos ou aperfeiçoados; implantação de projeto piloto; e protótipo de equipamento, de dispositivo ou de material (ANEEL, 2012).

Nas etapas seguintes, cabeça de série, lote pioneiro e inserção no mercado, espera-se o aprimoramento do produto com vistas à produção industrial ou à comercialização. Além dos produtos citados anteriormente como resultado de um projeto de P&D, o Manual de P&D da ANEEL inclui a capacitação de recursos humanos, a criação ou o aprimoramento de infraestrutura, a geração de novos conhecimentos e o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes. Para as empresas de energia elétrica, esses resultados podem se converter em novos negócios e receitas, ganhos de produtividade, aprimoramento de processos, melhoria da qualidade dos serviços prestados, redução de custos e, consequentemente, modicidade tarifária para o usuário final (ANEEL, 2012).

Com a implantação do novo modelo do setor elétrico, existiu a preocupação de criar mecanismos para garantir a continuidade e estimular atividades de P&D pelas empresas

concessionárias de energia elétrica. Identifica-se, também, se os projetos são do lado da oferta ou da demanda, pois, atualmente, particularmente no caso das concessionárias no setor elétrico, os investimentos são, grosso modo, mais atrativos do lado da oferta do que no lado da demanda (JANNUZZI & GOMES, 2002).

Conforme Gomes (2003), é natural que as concessionárias de energia elétrica prefiram investir em melhorias do lado da oferta pois, uma vez reduzindo suas perdas técnicas e comerciais, melhorando seus sistemas de gerenciamento e proteção da rede e aumentando a confiabilidade de seus equipamentos, elas se tornam cada vez mais eficientes economicamente sem ter de abrir mão das receitas advindas dos consumidores.

Adicionalmente, particularmente para o caso brasileiro, investimentos do lado da demanda, como programas de eficiência energética, causam reduções nos lucros proporcionalmente maiores do que a perda de receita ocasionada pela redução do consumo (JANNUZZI APUD SANTOS, 2008). Portanto, é natural que as concessionárias centrem seus esforços do lado da oferta ao invés do da demanda. É através dessa análise que são adotados dois critérios balizadores que permitam identificar e comparar quais os tipos de projetos de P&D as concessionárias estariam inclinadas a investir, classificando-os como projetos do lado da oferta e do lado da demanda:

 Lado da oferta: são as atividades de P&D realizadas em geração e transmissão e distribuição (T&D), com um viés importante de interesse dos agentes privados em reduzirem seus custos e venderem a mesma ou maior quantidade de energia para os consumidores, o que aumenta sua margem de lucro. Nem sempre a redução das tarifas se faz presente, mesmo havendo competição, pois a energia gerada pode ser mais cara, dada a tecnologia e o combustível utilizado, em relação àquela das geradoras cujos ativos foram amortizados, o mesmo valendo para a T&D.

Apesar disso, muitos benefícios públicos se fazem presentes (SANTOS, 2008), como redução dos impactos ambientais com a maior eficiência do sistema elétrico, a redução do gap existente entre demanda e suprimento, maior confiabilidade e qualidade do sistema e maior eficiência econômica na busca por soluções de acesso às populações de baixa renda e rural. É evidente que alguns desses benefícios somente viriam juntamente com mecanismos de regulação de mercados e ações sociais advindas de políticas públicas.

 Lado da demanda: são as atividades de P&D com vistas ao consumidor final, cujos benefícios são diretos e mais evidentes, como redução de custos com energia e equipamento, melhor qualidade do serviço energético, novos serviços energéticos e

diminuição dos impactos ambientais no uso final e em toda a cadeia de suprimento. Para o caso brasileiro, atividades do lado da demanda não são interessantes do ponto de vista privado, exceto em algumas situações, devido, em parte, à estrutura tarifária e alguns mecanismos de financiamento existentes.

Assim, considerando as especificidades do SEB e da inovação que se espera em P&D realizada pelas empresas do setor, o Capítulo 4 apresenta a metodologia de pesquisa para valoração da inovação nos projetos de pesquisa.

4 DETERMINAÇÃO DE VALOR MONETÁRIO - METODOLOGIA DE PESQUISA

Do ponto de vista dos objetivos, esta pesquisa tem caráter exploratório, uma vez que visa proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo explícito (SILVA & MENEZES, 2015). Marconi & Lakatos (2007) definem a pesquisa exploratória como investigações empíricas, cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e esclarecer conceitos. Nesse sentido, muitos cientistas sociais acreditam que estudos de casos são apropriados apenas à fase exploratória e que há uma suposta hierarquia entre as estratégias de pesquisa.

Portanto, para o desenvolvimento desta tese, de forma a se atingir o objetivo principal, procedeu-se a uma pesquisa qualitativa, já apresentada nos Capítulos 2 e 3 e na seleção do modelo de Park & Park (2004), para valorar a inovação nos projetos de P&D do SEB (mencionada na seção 4.1). Diante da subjetividade característica do modelo, buscou-se medidas para a sua redução, o qual será mencionado a partir da Seção 4.2. Ao final, foi realizada a aplicação do modelo adequado a dois projetos de P&D do SEB, permitindo a valoração da inovação e a avaliação do modelo.

Para a identificação dos projetos a serem analisados nesta tese, foram utilizados os resumos dos projetos de P&D de uma empresa distribuidora de energia elétrica, desenvolvidos no período compreendido entre 2011 e 2012, cujos dados também estão disponíveis ao público na página eletrônica da agência reguladora. Cada resumo contém o título do projeto, seus objetivos, linha de pesquisa, custo total, resultados financeiros, entre outros. As linhas de pesquisa dos projetos seguem classificação estabelecida pela ANEEL e são mantidas conforme a classificação original dos mesmos.

4.1 Método Proposto - Valor de Tecnologia e Valor de Mercado

A vantagem competitiva do método proposto é considerar o relacionamento estrutural entre fator tecnológico e fator de mercado, isto é, aspectos comerciais de uma tecnologia não são independentes, mas sim influenciados por aspectos técnicos de uma tecnologia e vice e versa.

Por esse aspecto, a noção de Valor de Tecnologia (VOT) e Valor de Mercado (VOM) precisa ser elaborada (PARK & PARK, 2004). A partir do momento em que é compreensível, o termo VOT é dividido em dois subfatores: Fator Intrínseco e Fator de Aplicação, conforme já

comentado. Fator Intrínseco representa as características naturais da tecnologia enquanto que Fator de Aplicação representa o uso prático da tecnologia.

Especificamente, Fator Intrínseco consiste em Posição Proprietária, Nível da Tecnologia, Duração da Tecnologia e Grau de Estandardização. Fator de Aplicação é composto do Tipo de Tecnologia, Taxa de Contribuição, Escopo de Aplicação e Grau de Perfeição. A lista detalhada de fatores VOT, juntamente com definições operacionais, é apresentada no Quadro 4.1 (PARK & PARK, 2004).

Aspecto de

Valor Fator Subfator Definição Operacional

Métrica de Entrada VOT Fator Intrínseco Posição Proprietária

Grau de proteção e/ou uso do

exclusivo da tecnologia Pontuação Nível da

Tecnologia

Nível técnico da tecnologia, quando comparada com estado da arte de

tecnologia comparáveis

Pontuação Duração da

Tecnologia

Duração da geração de receita

proporcionada pela tecnologia Ano Grau de Estandardização Grau de padronização e interoperabilidade da tecnologia Pontuação Fator de Aplicação Tipo de Tecnologia Tecnologia de produto ou

tecnologia de processo Classificação Taxa de

Contribuição

Relação de contribuição da tecnologia para o valor total (fluxo

de receita esperado)

Porcentagem Escopo de

Aplicação

Variedade ou extensão de campo

para os mercados-alvo da tecnologia Número Grau de Perfeição Disponibilidade de comercialização

da tecnologia Pontuação

Quadro 4.1: Fatores VOT, juntamente com as definições operacionais. Fonte: Park e Park (2004).

Da mesma forma, como já visto, o VOM é dividido em dois subfatores: Fator Valor-Tipo e Fator Valor-Tamanho. Fator Valor-Tipo é determinado pelo Tipo de Receita, seja geração de receita ou contenção de custo. Fator Valor-Tamanho compreende os três parâmetros essenciais para abordagem de receita: Quantidade de Receita, Duração da Receita e Risco. O Quadro 4.2 apresenta a definição operacional de fatores VOM.

VOM

Fator Tipo de Valor

Geração de Receita

Valor medido na geração de receita pela tecnologia

Redução de Custo

Valor medido na redução de custos pela tecnologia

Fator Tamanho do Valor

Quantidade de Receita

Total da renda gerada pela tecnologia

Duração da Receita

Vida econômica da tecnologia para gerar renda

Risco da Receita Grau de risco/incerteza associada com a realização da

renda

Quadro 4.2: Definição operacional dos fatores de monetização de tecnologia. Fonte: Park e Park, 2004.

O VOM denota o valor prático da tecnologia, que é materializado no mercado ou no processo de negócio. Portanto, fatores VOM representam diretamente parâmetros que são requeridos para estimar o fluxo de receita e calcular valor monetário.

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