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A AVALIAÇÃO DE ESCOLAS EM PORTUGAL Introdução

4.4 Instrumentos de recolha de dados

4.4.2 Inquérito por entrevista

O inquérito por entrevista é uma técnica muito utilizada, representando a forma mais direta para encontrar informações sobre um determinado fenómeno (Tuckman,1994): Pode ser definida como uma conversa “provocada pelo entrevistador, dirigida a pessoas selecionadas com base num plano de investigação, com uma finalidade de tipo cognoscitivo, guiada pelo entrevistador e assente num esquema flexível de interrogação” (Moreira, 2007, p. 204). Também Bisquerra a caracteriza como “un diálogo intencional orientado hacia unos objetivos” (1989, p. 88). Já De Ketele e Roegiers (1999, p. 23) consideram a entrevista como “um método de recolha de informações que consiste em conversas orais, individuais ou em grupos” tendo como objetivo a aquisição de informações sobre acontecimentos e cuja “validade, pertinência e fiabilidade” é perspetivada de acordo com os objetivos da investigação. As entrevistas podem adotar a forma de um diálogo ou de uma interação em que o investigador e o entrevistado falam de uma forma que é um combinado de conversa e perguntas deliberadas (Erlandson, 1993, citado por Moreira, 2007, p. 203) e para que essa conversa decorra sem incidentes torna-se necessário que o entrevistador elabore uma lista de questões que permitam atingir os objetivos do estudo.

Em investigação qualitativa, as entrevistas podem ser usadas como a principal estratégia para a recolha de informação ou em conjunto com técnicas como “observação participante, análise de documentos” (Bodgan & Biklen, 1994, p. 134). Em qualquer das situações, a entrevista serve para

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“recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo”. Ou seja, espera-se que os entrevistados relatem informações interessantes ou experiências singulares e que essas respostas permitem uma maior compreensão das perceções e dos interesses dos entrevistados.

A entrevista é uma conversa com um propósito, é ampla e, como tal, proporciona uma enorme diversidade de entrevistas (Ghiglione & Matalon, 2005). São vários os autores que distinguem três tipos de entrevistas (Quivy & Campenhoudt 2008, Ghiglione & Matalon 2005):

i) não diretivas (ou livres) – coloca-se um tema, com carácter alargado e ambíguo, isto é, o tema introduz a conversa e permite ao entrevistado interpretá-lo de acordo com os seus modelos. Não é inteiramente aberta e o investigador tem que estar atento aos desvios e reencaminhar o entrevista para os objetivos delineados se o entrevistado se afastar do tema proposto;

ii) semidiretivas – existe um esquema de entrevista mas a abordagem aos temas é livre. Existe menor ambiguidade uma vez que o esquema de entrevista existente “estrutura” o respondente. O que fica definido é o campo com as suas categorias, todavia, as categorias estruturantes continuam ambíguas;

iii) diretivas ou estandardizadas – só figuram questões abertas não existindo quase nada de ambiguidade.

Segundo Bodgan e Biklen (1994, p.134) a entrevista “é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo”. Mas, independentemente, do tipo de entrevistas escolhido, esta deve ser sempre completamente registada, isto é, as hesitações, os silêncios, os movimentos das mãos, etc. Realça-se que a realização de entrevistas apresenta como grandes vantagens o grau de profundidade dos elementos recolhidos e a flexibilidade.

Neste estudo, recorremos a esta técnica porque nos parece pertinente ouvir a opinião da coordenadora da equipa de autoavaliação do agrupamento. Interessa-nos perceber como funciona a equipa da autoavaliação, saber quais as consequências da avaliação externa no funcionamento da equipa de autoavaliação, qual o plano de ação da equipa, entre outras. A entrevista permite-nos obter um conhecimento mais aprofundado desta realidade, daí a sua escolha. Elegemos a entrevista semiestruturada por ser flexível e aberta uma vez que temos por objetivo convidar a entrevistada a falar sobre um tema e ao longo da entrevista pretendíamos ir aprofundando e detalhar as informações que nos parecessem pertinentes. Foi elaborado um guião (Anexo I) que se divide em duas partes: na primeira parte pretendemos que o sujeito da entrevista revele alguns dados pessoais e relacionados com a sua experiência profissional.

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Na primeira parte, é-lhe solicitada informação sobre o tempo de serviço, as habilitações académicas e as atividades desempenhadas na escola. Na segunda parte da entrevista, desejamos mobilizar os seus conhecimentos sobre a autoavaliação e a avaliação externa.

A coordenadora foi contactada e foi marcada uma data para a realização do encontro. A entrevista decorreu na biblioteca da escola mas, antes do início do questionário, o sujeito da entrevista foi informado sobre o objetivo da entrevista. Foi, também, acordado o seu envio por correio eletrónico a fim de serem efetuadas as alterações necessárias. Uma vez que pretendíamos proceder à sua gravação, solicitamos a sua autorização.

A realização desta entrevista foi autorizada tanto pela direção da escola como pela Direção-Geral da Educação (Anexo VI).

Com o objetivo de assegurar o anonimato das respostas dadas pela entrevistada no inquérito por entrevista, procedemos à sua codificação. A entrevistada passou a ser conhecida pelo código E6.

4.4.2.1 Grupo de discussão (Grupo Focal)

O grupo de discussão caracteriza-se por ser um estudo em profundidade em que se tenta compreender o máximo daquilo que se investiga e tendo em atenção as pequenas particulares que fazem com que um caso seja diferente de outro (Costa & Paixão, 2004). São caraterizadas por Morgan (1998, p. 1) como group interviews em que o moderado guia a entrevista enquanto um pequeno grupo discute os tópicos previamente preparados. O número ideal de participantes de uma entrevista em grupo não é consensual mas tipicamente são indivíduos que provêm de meio sociais semelhantes e são, fundamentalmente, uma maneira de ouvir as pessoas e aprender com elas.

Este tipo de técnica revela-se muito útil quando o investigador pretende “descobrir o significado e os meios de compreensão dos participantes” (Pereira, 2004, p. 53), ou seja, “a entrevista em grupo permite recolher opiniões distintas sobre a mesma temática, confrontar ideias, partilhar experiências e estimular discussões” (Morgado, 2013, p. 76). As entrevistas em grupo ajudam o entrevistador a entrar no mundo dos entrevistados e como principal vantagem está o facto de durante a entrevista os sujeitos se irem lembrando dos factos por estarem a ouvir os outros. McMillan e Schumacher (2010, p.363) consideram

que by creating a social environment in which the group members are stimulated by one another’s

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strategy than one on one interviewing. A entrevista em grupo evidencia como vantagem o facto de se recolher abundantes dados pois os entrevistados, enquanto grupo, não demonstram tantas reservas e comparam, contestam e opinam entre si. Os participantes na entrevista “coletiva” sentem-se mais à vontade para expressar a sua opinião porque não estão isolados.

Como problemas referem-se o domínio da sessão quando um dos entrevistados insiste em liderar a reunião e a dificuldade em transcrever a entrevista quando existe um grande número de intervenientes (Bodgan & Biklen, 1994), exigindo, da parte do investigador, uma grande perícia. Contudo, de acordo com a nossa experiência, a maior desvantagem desta técnica é a marcação de uma data comum.

Optamos pela aplicação desta técnica para entrevistar os cinco de coordenadores departamento da escola (Matemática e Ciências Experimentais, Expressões, Diretores de Turma, Ciências Sociais e Humanas e Línguas), por causa da possibilidade de obtenção de uma maior quantidade de informação, com mais qualidade e profundidade. Antes de realização das entrevistas, foi necessário solicitar autorização para a realização do estudo ao Ministério da Educação e Ciência através da Direção-Geral da Educação (Anexo V). Para tal, e após a inscrição na plataforma da Direção-Geral, tivemos de enviar em suporte informático alguns documentos: inquérito, guião de entrevista da coordenadora da equipa de autoavaliação, guião de entrevista do grupo de discussão (Anexo IV), bem como, um documento do orientador e da Universidade do Minho a confirmar as informações prestadas aquando do pedido. O pedido foi efetuado a 16 de janeiro de 2013, tendo a sua realização sido autorizada, no dia vinte e oito de janeiro, do presente ano. Após a sua aprovação (Anexo VI) pela Direção-Geral, decidimos entregar uma cópia do documento, recebido via correio eletrónico, na direção da escola. A regularização da situação permitiu-nos solicitar a participação dos coordenadores de departamento e diretores de turma. O convite foi feito verbalmente, uma vez, que já todos os participantes estavam a par da realização do mesmo, através da informação divulgada em Conselho Pedagógico. O guião da entrevista (Anexo IV) divide-se em três partes. A primeira recolhe informações de caráter pessoal e profissional enquanto a segunda e a terceira partes têm como objetivo aferir os conhecimentos dos entrevistados sobre as mudanças pedagógicas, curriculares e organizacionais produzidas pela avaliação externa, bem como mobilizar os conhecimentos que inquiridos possuem sobre autoavaliação e a avaliação externa. Logo no início, os intervenientes serão informados sobre os objetivos que se pretendem atingir com a entrevista em grupo e será solicitada a permissão para gravação da mesma (legitimação da entrevista). No fim da realização da entrevista em grupo, relembraremos aos participantes que lhes será enviada a transcrição da entrevista para que possam fazer as alterações que lhes pareçam essenciais.

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Com o objetivo de manter o anonimato dos intervenientes na entrevista em grupo, escolhemos codificar a entrevista da seguinte maneira:

Tabela 1 – Codificação das entrevistas em grupo

Dos entrevistados, quatro eram do sexo feminino, um do sexo masculino e revelavam bastante experiência no cargo que ocupavam. Das informações recolhidas elaboramos uma tabela que nos permitiu compreender melhor as características individuais de cada entrevistado.

Entrevistado Tempo de Serviço Habilitações Académicas Curso de Especialização Pertence à equipa de autoavaliação E1 20 Licenciatura em Português/ Francês

Pós-Graduação em Políticas educativas e

sociologia da educação Não

E2 26 Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas - - - Sim E3 33 Licenciatura em História - - - Não E4 23 Licenciatura na variante de Matemática e Ciências - - - Não E5 36 Bacharelato em Educação Tecnológica e licenciatura na área de Orientação Educativa - - - Não

Tabela 2 – Caraterização dos entrevistados do grupo de discussão

Entrevistados em grupo (Grupo focal) Códigos Coordenadora dos Diretores de Turma E1 Coordenadora do Departamento de Línguas E2 Coordenadora do Departamento de Ciências Sociais e Humanas E3 Coordenadora do Departamento de Matemática e Ciências Experimentais E4 Coordenador do Departamento de Expressões E5

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