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Capítulo 3 – Metodologia de Investigação

3.4. Técnicas de recolha de dados

3.4.1. Inquérito por entrevista

3.4.1.1. Caraterização da técnica

A entrevista é uma técnica de investigação que permite uma interação entre o entrevistador e o entrevistado, sendo propícia a fornecer informações mais expressivas sobre as perceções dos mesmos. Todavia, pelo facto de se tratar de uma interação direta entre duas pessoas é importante estar atento e gerir alguns problemas que podem surgir, a saber: i) a influência do entrevistador sobre o entrevistado; ii) diferenças que possam existir entre entrevistador e entrevistado (por exemplo, idade, género, diferenças culturais) e iii) sobreposição de canais de comunicação (Carmo e Ferreira, 2008).

Bogdan e Biklen (1994) referem que a entrevista é utilizada “para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo”. (p.134)

Ao considerarmos as entrevistas tivemos em consideração e foi nossa intenção não só recolher perceções mas conhecer o coordenador enquanto pessoa com uma opinião crítica do seu trabalho e com uma postura, valores, princípios e formas de estar próprias, e que consciente ou inconscientemente também condicionam todo o processo.

Quivy e Campenhoudt (2003) referem que as entrevistas são adequadas para analisar o :

sentido que os actores dão às suas práticas e aos acontecimentos com os quais se vêem confrontados: os seus sistemas de valores, as suas referências normativas, as suas interpretações de situações conflituosas ou não, as leituras que fazem das

próprias experiências, etc. (p.193)

Na entrevista cria-se uma interacção entre o entrevistador e entrevistado que influência ambos os intervenientes. Desta forma se “houver um clima de estímulo e de aceitação mútua, as informações fluirão de maneira notável e autêntica” (Lüdke e André, 1986, p. 34), permitindo ao investigador ter acesso à informação que procura.. Ainda de acordo com os mesmos autores, existe um conjunto de procedimentos próprios a que deve obedecer a entrevista, nomeadamente

o uso de um roteiro que guie a entrevista através de tópicos principais a serem cobertos. Esse roteiro … cuidará para que haja uma sequência lógica entre os assuntos, dos mais simples aos mais complexos, respeitando o sentido do seu encadeamento.” (idem, p. 36).

A tipologia das entrevistas pode variar entre as entrevistas estruturadas (do género do questionário), as entrevistas semi-estruturadas (com perguntas previamente elaboradas mas com liberdade de resposta e com possibilidade de introdução de novas questões caso se revelem pertinentes) e as não estruturadas (decorrendo da interação entre entrevistador e entrevistado).

No nosso estudo recorremos a uma entrevista do tipo semi-estruturada ou semi-directa, pela “certeza de se obter dados comparáveis entre os vários sujeitos”. (Bogdan e Biklen, 1994, p.135)

Subjacente à opção por este tipo de entrevista estiveram variadas razões, nomeadamente caraterísticas como a flexibilidade, profundidade, possibilidade de pedidos de esclarecimentos e outras adaptações, objeto de estudo e caraterísticas da população-alvo a quem a entrevista se destina.

Para Afonso nas “entrevistas semiestruturadas … os temas tendem a ser mais específicos. … são conduzidas a partir de um guião” (2005, p.99). Refere, ainda, que a mesma “é organizada por objectivos, questões, itens ou tópicos. A cada objectivo corresponde uma ou mais questões. A cada questão correspondem uma ou mais questões. A cada questão correspondem vários itens ou tópicos”. (idem)

Este tipo de entrevista foi, então, considerada a mais vantajosa para a nossa investigação, a existência de um guião previamente elaborado (Anexo 2) serviu de eixo orientador ao desenvolvimento da entrevista permitindo aos entrevistados uma certa liberdade e ao entrevistador a recolha de informações sobre outros tópicos relevantes.

3.4.1.2. Preparação e Validação da Entrevista

Aquando da elaboração do guião da entrevista tivemos em consideração as indicações das por Estrela (1994), pelo que no guião constam os objetivos (Anexo3), as perguntas-guia, organizadas por blocos temáticos. Seguidamente, passamos a uma descrição sumária dos sistemas categoriais que estiveram

subjacentes à elaboração do guião da entrevista a realizar aos coordenadores dos departamentos curriculares (Quadro 17).

Quadro 17 – Guião da Entrevista aos Coordenadores de Departamento Curricular

Blocos Objetivos

Específicos Questões a colocar

A - Dados biográficos do(a) coordenador(a) - Conhecer os dados pessoais e profissionais do(a) coordenador(a)

- Qual a idade, o tempo de serviço (total e na presente escola), qual é a formação inicial e a formação complementar, os níveis de ensino a que leciona;

- Exerce outros cargos? Quais?

- Quais os cargos que já desempenhou ao longo da carreira? - Há quanto tempo exerce o cargo de coordenador?

B - Perceções sobre a escola - Conhecer a opinião do(a) coordenador(a) sobre a escola

- Na sua opinião, quais são os pontos fortes da escola? – Na sua opinião, quais são os aspetos menos positivos na

escola?

– Identifica-se com a escola? Se sim, em que aspetos? Se não, porquê?

– Como caracteriza o corpo docente do departamento que coordena? (pontos fortes/fracos/desafios; participação,

cooperação, responsabilização).

– Sente-se apoiado pelo órgão diretivo? Se sim, apresente algumas evidências? Se não, porquê?

C – Perceções sobre o percurso como coordenador(a) de departamento e da sua atuação no dia-a-dia - Conhecer a perceção do(a) coordenador(a) sobre o seu desempenho e forma de atuação no cumprimento das suas funções

– Que grupos disciplinares compõem o departamento curricular que coordena?

– Porque pensa que os seus colegas o/a elegeram para coordenador(a) de departamento?

– O exercício das funções de coordenador implica, da sua parte, um maior envolvimento na escola? – Sente que contribui para a dinâmica da escola?

Especifique/de que forma.

– O que o(a) motiva para o exercício das funções de coordenador(a)?

– Indique as três principais características que, em sua opinião, o definem enquanto coordenador de departamento. – Os docentes do departamento curricular reconhecem-lhe competências de liderança? Apresente algumas evidências.

– Na sua opinião que competências considera mais importantes para o exercício do cargo de coordenador(a) de

departamento?

– Das funções inerentes a este cargo, qual a que considera mais difícil de pôr em prática?

– Promove a reflexão e o trabalho colaborativo? De que forma?

– Por norma como, reage às solicitações dos docentes que integram o departamento curricular?

– De que forma incentiva/promove a participação dos docentes do departamento nas atividades da escola? – Quais as principais dificuldades com que se confronta no

exercício deste cargo?

– Como se sentiu no início da sua atividade de coordenador(a) de departamento?

– E, atualmente, como se sente relativamente ao exercício do cargo?

– O exercício desta função tem contribuído para o seu desenvolvimento profissional? Se sim, como? Se não,

porquê?

– Sente-se reconhecido(a) pelo desenvolvimento do seu trabalho? Apresente algumas evidências.

Após a elaboração do guião da entrevista, o mesmo foi alvo de uma validação interna por parte de um especialista da área, que tendo conhecimento prévio da problemática do nosso estudo, assim como das questões, objetivos de investigação e características dos participantes a entrevistar, se manifestou sobre a adequação, clareza e rigor das questões. Atendendo às sugestões feitas pelo especialista, procedemos à reformulação do guião.

3.4.1.3. Condução das Entrevistas

As entrevistas foram, todas elas, gravadas com a concordância dos entrevistados, de forma a assegurar o conteúdo na sua transcrição. (Bogdan e Biklen, 1994). A este propósito Hill e Hill destacam que “é útil gravar as entrevistas porque torna-se mais fácil utilizar gravações na análise da informação recolhida”. (2009, p.75)

Durante o decorrer da entrevista foi preocupação assegurar um clima de confiança, empatia e tranquilidade aos intervenientes. Foi ainda solicitada permissão para proceder ao registo audio da entrevista, pedido a que todos acederam.

Iniciadas as entrevistas, estas seguiram a estrutura que passamos a referir. Em primeiro lugar, reunimos os dados biográficos do entrevistado, que incluem a sua identificação pessoal e profissional, a formação académica, os níveis de ensino a que leciona, o tempo que exerce as suas funções, o modo como foi designado para as mesmas e a sua experiência no desempenho do cargo de coordenador de departamento e de outros cargos. Partimos, seguidamente, para as percepções sobre a escola, no sentido de obtermos dados gerais relativos à sua caracterização, contextualizando-a, em termos organizacionais e em termos de pessoas que a constituem.

Começámos por questionar quanto às características da escola nos seus pontos fortes, aspetos menos positivos e de que forma se identifica ou não com esta. No que aos docentes que integram os departamentos concerne, questionamos sobre os pontos fortes/fracos, participação, cooperação e responsabilização. Foi ainda questionado o apoio sentido por parte do órgão de direção.

Posteriormente, abordamos as questões relacionadas com as perceções sobre o percurso como coordenador de departamento e da sua atuação no dia- a-dia e neste sentido, interrogámos sobre: os grupos disciplinares que constituem o departamento; os motivos que levaram à sua eleição para o cargo; o seu envolvimento na escola pelo desempenho das funções inerentes ao mesmo; a sua contribuição para a dinâmica da escola; as suas motivações para o exercício das funções; as principais caraterísticas que o definem enquanto coordenador; as competências de liderança que lhe são reconhecidas pelos pares; a sua opinião sobre que competências são mais importantes para o desempenho das suas funções, assim como, qual destas últimas, é mais dificil de pôr em prática; de que forma promove a reflexão e o trabalho colaborativo; como reage às solicitações dos docentes que integram o departamento e de que forma incentiva ou promove a participação destes nas atividades da escola; quais as principais dificuldades com que se confronta no exercício do cargo e o seu sentimento face ao desempenho deste, quer no início, quer atualmente; a contribuição para o desenvolvimento profissional que esta função lhe tem possibilitado e a sua perceção sobre o reconhecimento do seu trabalho.

Finalizamos as nossas entrevistas, agradecendo toda a disponibilidade, simpatia e cooperação dispensadas, assim como o tempo cedido para o efeito.

A entrevista realizada aos coordenadores de departamento decorreram nos meses de maio e junho, nos estabelecimentos de ensino onde decorreu o nosso estudo e teve uma duração total de aproximadamente quarenta minutos. As entrevistas foram, posteriormente, transcritas, embora não integralmente, como forma de preservar a identidade e respeitar o acordo que estabelecemos com os entrevistados.