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Capítulo 4 – Resultados

4.1. Análise dos itens das entrevistas

4.1.1. Perceções dos coordenadores sobre a escola

Neste âmbito foram identificadas perceções de cada um dos coordenadores sobre: os pontos fortes, os aspetos menos positivos, a identificação com a escola, a caraterização do corpo docente sob sua coordenação e o apoio sentido por parte do órgão de direção (Anexo 14).

Quando questionados sobre os pontos fortes da escola onde lecionam, sobressai o facto de em ambos os agrupamentos os coordenadores reconhecerem importância à liderança, ao corpo docente e ao trabalho colaborativo, aspetos evidenciados no discurso dos entrevistados:

“Liderança interventiva, mas também bastante aberta”. (E1) “Uma liderança, uma direção que nos ajuda, que nos apoia”. (E8) “Um corpo docente estável, preocupado”. (E2)

“Um corpo docente muito estável, muito experiente”. (E5) “O trabalho colaborativo entre as pessoas é muito positivo”. (E4) “O grupo de professores e a dinâmica que se implementa”. (E6)

Em relação aos aspetos menos positivos foram identificados vários, no entanto, no dizer dos coordenadores, estes não se prendem apenas com cada um dos agrupamentos mas, também, são considerados aspetos resultantes da conjuntura nacional, das decisões políticas tomadas e da atitude de cada professor enquanto indivíduo. A este respeito afirmam:

“Pegarem em duas escolas que tinham identidades próprias e juntá-las num só agrupamento, acho que as coisas não resultam”. (E3)

“Talvez seja muito fechada ao exterior”. (E6)

“Há menos professores para tantos alunos, há menos pessoas na direção para a quantidade de alunos que há, sobretudo há menos funcionários”. (E1)

“Uma indisciplina que se torna crescente”. (E8)

“Alguma resistência à mudança. Enquanto instituição, as inovações pedagógicas às mudanças, às vezes, são um pouco difíceis de introduzir”. (E7)

“Acho que nos falta um bocadinho esse profissionalismo para fazermos valer mais a nossa profissão”. (E4)

É notória a identificação que todos os coordenadores têm com a escola em ambos os agrupamentos, gostando do ambiente que se sente. Nesse sentido dizem:

“Identifico-me com a escola, acho que é uma escola dinâmica, é uma escola em que se dá valor ao desempenho de quem cá trabalha”. (E2)

“Eu vejo esta escola, sinto-a muito como a minha escola, efetivamente sinto-a como a minha escola”. (E7)

“Gosto do ambiente”. (E5)

Relativamente à caraterização do corpo docente, no agrupamento Nascente a opinião de duas das coordenadoras tende para “ um corpo docente interessado, trabalhador, assíduo que trabalha colaborativamente” (E2) e a

opinião das outras coordenadoras tende para a situação de que “as pessoas

também complicam às vezes as suas próprias coisas e acabam por entravar o processo”. (E3). No agrupamento Poente, um coordenador considera que “são pessoas com muitas competências, para além de darem aulas fazem coisas que são muito interessantes, portanto, acho que são pessoas dinâmicas” (E5) e

outro considera que “são docentes muito bem preparados, muito bem

qualificados do ponto de vista académico” (E8). Neste agrupamento salienta-se que é dificil trabalhar com professores que têm “formações distintas e têm gostos distintos” (E7) e ainda é referido um constrangimento à colaboração entre docentes ao nível do departamento, pela constituição do mega- agrupamento, uma vez que na sua opinião “isto surgiu como uma imposição e então os colegas vêm-se obrigados a serem integrados nesta escola, nós por outro lado vimo-nos obrigados a recebê-los. Não houve preparação de qualquer um dos lados para que haja essa junção”. (E6)

A constituição de agrupamentos veio modificar toda a dinâmica das escolas, inicialmente pensados de forma horizontal, foram evoluíndo verticalmente, até que com a extensão da educação obrigatória para 12 anos e a necessidade de considerar, também, a integração do pré-escolar, “obrigou” as escolas a assegurararem todo o percurso educativo das crianças desde o início até ao fim. Com estas orientações, nomeadamente, a partir do Decreto –

lei nº 75/2008 de 22 de abril, as escolas começaram a agrupar-se em “mega- agrupamentos”, com a junção de escolas com diferentes identidades mas respeitando as condições estabelecidas nos normativos legais. Esta situação originou que, num espaço de tempo, relativamente curto, as escolas e, nomeadamente, os docentes tivessem que reorganizar a sua forma de trabalhar para poderem responder às solicitações emanadas pelos órgãos hierarquicamente superiores; daí surgiram constrangimentos para os quais os docentes ainda procuram encontrar resposta, uma vez que ainda estão em processo de adaptação, não só a novas dinâmicas, mas também a novas organizações do trabalho e a novas exigências resultantes destas reorganizações.

No que concerne ao apoio por parte do órgão diretivo, em ambos os agrupamentos os coordenadores de departamento curricular sentem-se apoiados pelo órgão diretivo. No agrupamento nascente esse apoio é sentido de forma inequívoca e reconhecido através de expressões, tais como, “sinto- me completamente apoiada pela direção, há um trabalho muito próximo e cooperante e funciona bem” (E1) e “absolutamente” (E4). No agrupamento Poente, a maioria dos coordenadores tende a considerar que o apoio é sentido através da “disponibilidade” (E6), da “preocupação” (E7), da compreensão e colaboração (E8), mas para um coordenador existiu “algumas pequenas falhas ao nível da comunicação e organização”. (E6)

A este respeito salienta-se que os estudos apontam para a importância de uma liderança forte na dinâmica das organizações, através da orientação, da motivação, da adaptação às situações, da enfatização dos esforços e da promoção da coesão do grupo, entre outros, pelo que a proximidade e a cooperação com a direção, enquanto liderança de topo nas organizações escolares, é fundamental para cimentar as lideranças intermédias. (Bass, 1988; Bilhim, 2006; Castanheira e Costa, 2007; Gomes e Cruz, 2007; Silva, 2010)

Em função das respostas dos coordenadores de departamento é possível constatar várias semelhanças e poucas diferenças na perceção destes sobre a escola (Quadro 23). Consideraram-se semelhanças a repetição de ideias em ambos os agrupamentos e consideram-se diferenças, opiniões distintas que possam ser comparáveis entre si ou que alterem a perceção em relação às semelhanças.

Quadro 23 – Semelhanças e diferenças ao nível das perceções dos coordenadores de departamento curricular dos agrupamentos Nascente e Poente sobre a escola

Itens Semelhanças Diferenças

Pontos fortes

- Liderança da direção; - Estabilidade do corpo docente;

- Colaboração;

- Envolvimento da comunidade escolar.

- Não consideradas.

Aspetos menos positivos

- Número reduzido de funcionários para o número de alunos;

- A atitude e postura dos alunos em relação à escola e aos estudos;

- Algumas dificuldades no trabalho colaborativo.

- Não consideradas.

Identificação com a escola

- Total identificação;

- Gostam do ambiente. - Não consideradas.

Caraterização do corpo docente que

coordena

- Variedade de formações académicas; - Interessado;

- Dinâmico;

- Colaboradores em grupo disciplinar; - Dificuldade na colaboração como grupo alargado.

- Não consideradas.

Apoio por parte do órgão

diretivo

- Sentem apoio.

- No agrupamento Nascente a opinião é unânime no apoio a

todos os níveis; - No agrupamento Poente a opinião não é expressa por todos

da mesma forma.

Da análise efetuada, sobre as perceções dos coordenadores acerca da escola onde exercem funções, salienta-se o reconhecimento da liderança (50%) como sendo um ponto forte em ambos os agrupamentos, o que pode contribuir para “melhorar as escolas” (Sergiovanni, 2004) e para a criação de escolas “onde é bom estudar, ensinar e trabalhar” (Alarcão e Tavares, 2003).

Neste âmbito é importante referir que a literatura sobre liderança aponta a importância de um ambiente que propocione satisfação, que inspire os intervenientes e os encoraje a agir de acordo com os objetivos comuns partilhados, como condições necessárias para a eficácia das escolas (Shamir, 1993; Kouzes e Posner, 2003; Gomes e Cruz, 2007). Também neste sentido vão as opiniões dos coordenadores que afirmam ao identificarem-se com a escola que isso deve-se, no dizer dos mesmos:

“Pela atenção que dá aos alunos, pela forma como a direção tem lidado com os professores, ouvindo-os e procurando resolver assertivamente os problemas que vão surgindo”. (E1)

“É uma escola em que se dá valor ao desempenho de quem cá trabalha … até agora, o clima entre colegas tem sido bom,”. (E2)

“Gosto do clima que aqui se vive …preocupamo-nos mesmo com o aspecto educativo dos miúdos, se estão bem se não estão, tentamos resolver as situações”. (E3)

“Sinto que é a minha escola, eu gosto da escola e envolvo-me com tudo o que posso … tento que seja uma escola melhor a todos os níveis”. (E4)

“Não há distanciamento entre a direção e a equipa dos professores, dos alunos … quase como uma família”. (E6)

“O meu gosto em estar nesta escola, cada vez que entro nesta escola penso que poderei fazer alguma coisa por estes alunos porque são os meus alunos”. (E7)

“A qualidade do ensino e depois também o aspeto humano”. (E8)