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1 Caracterização do Objecto de Estudo

3. Inquérito por Questionário

Atendendo aos objectivos deste trabalho de investigação o método que se nos afigurou como o mais adequado foi o método de pesquisa quantitativa, pois este permite aferir opiniões, relações de sociabilidade, hábitos e atitudes através de uma amostra representativa da população, de forma estatisticamente comprovada. O objectivo da investigação quantitativa é desenvolver e aplicar modelos matemáticos, teorias e hipóteses, para a realização deste estudo foi utilizado o método estatístico recorrendo a uma base informática de análise de dados, o SPSS, permitindo estabelecer conexões entre eles.

A técnica quantitativa de recolha de informação foi o inquérito por questionário, administrado aos elementos do género feminino pertencentes ao órgão executivo. Assim sendo, a base do inquérito por questionário são as questões estruturadas e padronizadas, com vista a reduzir possíveis enviesamentos da informação e do entendimento das questões por parte dos inquiridos. Esta técnica permite assegurar a confiança, generalidade e validade da informação.

Inicialmente o inquérito começou por ser um instrumento político utilizado para controlar a população, denominado de censos populacionais, já na época do império romano existia para servir esses objectivos. No final do século XIX, surgiu com o nome de “Inquéritos Sociais” na Europa (Pinto e Silva, pág.166, 2005), estes serviam para descrever as camadas populacionais mais desfavorecidas e as condições sociais e económicas em que viviam. Com os resultados obtidos podiam pedir reformas sociais e económicas com base em informações mais fidedignas.

Finalmente, nos Estados Unidos da América, nas primeiras décadas do século XX, com o nome de Inquéritos de Atitudes e Opiniões, as ciências sociais começam a enquadrar esta técnica de recolha quantitativa de dados, para estudar as opções populacionais e as suas atitudes face a vários temas da vida social quotidiana. A adopção desta técnica de recolha de dados, o Inquérito por questionário ficou a dever-se principalmente à perda de prestígio dos métodos de recolha de dados qualitativos introduzidos nas ciências sociais pela Escola de Chicago. Com o acentuar da crise económica na Europa e nos Estados Unidos nos anos 30, as ciências sociais e o Estado associam-se e o inquérito por questionário passa a ser um

instrumento fundamental para a recolha de dados sobre a população e as suas condições de vida, de forma a administrar mais facilmente o sistema do Welfare State.

Até aos dias de hoje, o inquérito por questionário tem sido a principal ferramenta de investigação sociológica, devido ao seu carácter extremamente preciso e objectivo.

Neste estudo de investigação optamos inicialmente pelo questionário de “administração directa”, onde é o próprio inquiridor que o preenche. Esta opção prende-se com a necessidade não existirem enviesamentos, ou más interpretações das questões e do sistema de respostas muitas vezes fechado que os questionários apresentam. Assim sendo, para obter respostas o mais precisas possível, optamos por este método de aplicação de questionário.

Todavia, com o prosseguimento da investigação e da aplicação dos questionário, vimo- nos obrigados a seguir as duas vertentes de administração dos inquéritos, tanto a “directa”, quando visitávamos as associações, e os questionários eram preenchidos in loco, ou no caso dos contactos telefónicos estabelecidos para tal efeito. Como a via “indirecta”, através do envio do questionário por e-mail para as dirigentes associativas, sendo que por este meio eram as próprias inquiridas que tinham de compreender as questões apresentadas.

A escolha deste método deveu-se também a um já longo conhecimento da realidade estudada, o associativismo juvenil, tanto a nível profissional, em outros trabalhos de investigação sociológica, como a nível pessoal, pertencendo ao número de jovens portuenses que são associados de uma associação juvenil. De forma, a obter uma imagem mais concreta sobre o número de jovens do género feminino nos órgãos executivos das associações juvenis portuenses e as suas percepções sobre a ocupação de cargos de poder dentro das associações pelo género feminino a um nível mais geral, o inquérito por questionário mostrou a ser técnica mais eficaz para tal efeito. Num universo de 35 associações juvenis portuenses inscritas no RNAJ em 2008, a nossa amostra foi a população total de jovens do género feminino com cargos em associações que tivessem direcções mistas, ou seja, membros do género feminino e masculino.

Contudo, apenas 28 das 35 associações juvenis possuíam direcções mistas, sendo que o número reduziu para 15, já que grande parte delas encontravam-se encerradas, ou por falta de associados e recursos económicos, ou por indisponibilidade da Direcção em prosseguir com os projectos. A opção de escolha das associações juvenis portuenses prendeu-se com o pequeno

número de associações na cidade e que por essa mesma razão faz com que o número de pessoas no órgão executivo seja fácil de abordar, sem elevados custos financeiros ou de tempo. Poderíamos ter optado por a entrevista semi-estruturada, mas o pretendido é construir um perfil mais amplo das percepções sobre a ocupação de cargos no órgão executivo, isto é um órgão com poder político e uma grande visibilidade social, por parte do género feminino. O recurso a técnicas qualitativas, não nos iriam permitir uma análise objectiva da população em estudo, mas apenas percepções individuais.

Relativamente, à aplicação dos questionários, a totalidade destes foi aplicada pelo próprio inquiridor e investigador, ou seja, não houve recurso ao trabalho de inquiridores exteriores ao projecto de investigação. Ao fazermos a aplicação directa dos questionários, controlamos mais a condução do inquérito, fazendo coincidir as respostas dos inquiridos com as categorias sociológicas e estatística que pretendemos analisar. Ainda no decorrer da análise e tratamento dos dados estatísticos recolhidos, a mesma e única pessoa do investigador trabalhou sozinho nos mesmos, o que poderá ser uma vantagem, já que como Augusto Santos Silva alertava “O elevado número de inquéritos feito obriga o(s) investigador (es) a recorrer ao trabalho de inquiridores (…). Efectivamente, desde o momento em que o inquiridor enuncia a pergunta e anota a resposta (…), até ao momento em que o cientista se depara com um conjunto de distribuições estatísticas, (…) desenrola-se um sem número de operações, sendo certo que se vai “perdendo” informação e, mais grave ainda, “acrescentando outra” ao longo de cada uma delas.” (Santos e Silva, pág.171, 2005).

No decorrer do processo de construção dos questionários, tivemos em conta aspectos, como a formulação das perguntas, já que estas são o mecanismo mais importante neste método de recolha de dados, pois é através delas, segundo Augusto Santos Silva que se obtêm respostas que descrevem e avaliam uma certa realidade. Uma grande parte das questões colocadas é fechada, ou seja, pré-categorizada, de forma a evitar o mais possível a influência do senso comum nas respostas dadas pelo inquirido. Durante a elaboração do formulário para o questionário, tivemos sempre presente as características da população à qual iríamos aplicar o inquérito posteriormente. A população alvo, como já referimos em pontos anteriores, era constituída exclusivamente por elementos do género feminino pertencentes a órgãos executivos de associações juvenis portuenses inscritas no RNAJ, e com idades compreendidas

maioritariamente entre os 15 e os 35 anos, cujo nível de habilitações escolar esperado seria médio/superior.

Contudo, estivemos sempre cientes que esta técnica não tem só vantagens, apresenta também limitações, que tivemos sempre cuidado de evitar. Assinalamos desde já uma, que é incontornável: “a individualização dos entrevistados, que são considerados independentemente das suas redes de relações sociais” (Quivy, 1998, pág.190), isto é, os inquéritos acabam sempre por centrar-se apenas nas percepções individuais de cada um dos inquiridos sem compreender o meio onde estes estão inseridos. Daí a necessidade de colmatar esta limitação com a pesquisa e observação directa no terreno.

Outra das limitações pode ser a “superficialidade das respostas…” “Quivy, 1998, pág. 189), que por si só não deixam compreender a evolução do fenómeno a ser estudado. Finalmente, tivemos sempre em conta que as principais dificuldades provêem tal como Quivy referia dos próprios entrevistados, já que estes muitas vezes evitam responder aos questionários, por falta de motivação, ou simplesmente porque se sentem constrangidos perante questões que podem invadir um pouco o seu espaço pessoal.