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2 Género – Uma breve incursão histórica

6. A posição das mulheres no mundo político

“…o acesso das mulheres aos direitos no contexto do Estado-Providência é balizada por normas e discursos que relegam a mulher em papéis delimitados por uma lógica de subordinação…” (Seidler, 1994 cit. in Santos 2003)

A ideia baseada na diferença biológica entre homens e mulheres que se expande para a dimensão psicológica continua a persistir, apesar das evoluções que tem havido no campo da investigação nas ciências sociais e humanas. Desta forma, tal como no mercado de trabalho no mundo político, as diferenças entre géneros estão bem patentes, bastando para tal recorrer ao exemplo da lei da paridade em Portugal nº3/2006 de 21 de Agosto de 2006 que assegura a representação mínima de 33% de cada um dos sexos nas listas para a Assembleia da República, para o Parlamento Europeu e para as autarquias locais. Esta lei, apesar de ser considerada uma mudança legal que à partida apresenta um carácter de positividade, tem no entanto encoberto alguns aspectos negativos, já que dissimula os mecanismos de desigualdade, ao “obrigar” a um mínimo de mulheres, para que as diferenças entre géneros não sejam tão flagrantes. Segundo estatísticas de 2002, as mulheres representavam 19,6% dos deputados, o que é ainda um valor muito baixo face às directivas que tem saído da administração da União Europeia. Para além do cenário apresentado acima, há ainda a necessidade de ter a presença feminina, como forma de aceitação do sistema de valores instituído, já que elas acabam por o legitimar aprovando as regras e normas do seu funcionamento.

Alguns movimentos de estudos femininistas têm tentado perceber o impacto das mulheres no poder a utilidade destas para a mudança, tomando para tal duas posições, a primeira segundo Boaventura Sousa Santos, igualando a ideia que referimos anteriormente vê na participação das mulheres uma forma de ocultar a permanência das desigualdades e o movimento feminista mostra-se sem capacidade de se afirmar autonomamente.

A segunda posição prende-se com a masculinização do poder por parte das mulheres que acedem a cargos políticos. Gorman (cit. in Santos, 2003) reafirma a necessidade de se lutar contra esta tendência e fomentar as características inerentes às mulheres, como forma salutar de estarem no poder. A razão que está por detrás do fenómeno da masculinização do

poder deve-se à constante pressão a que as mulheres se encontram sujeitas no seio do mundo político para se igualarem à prestação dos seus pares do género masculino e submeter-se às hierarquias internas.

No entanto, a entrada das mulheres na política, trouxe também algumas mudanças positivas e contribuiu para a redefinição do espaço político. Através da análise de três dimensões percepcionamos as mudanças que vão surgindo: a primeira dimensão encontra-se mais ligada ao lado da influência familiar, as mulheres acabam por levar algumas das características (obediência, submissão, etc.) da sua socialização na família para o seu trabalho político; a segunda dimensão tem haver com a compreensão dos direitos legais das mulheres e o impacto que estes têm na vida política, já que implicam por parte tanto de homens como mulheres a uma nova percepção do papel da mulher na política; finalmente a terceira dimensão, existe por parte da mulher uma predisposição para o trabalho social e para o diálogo, que de certa forma vem completar o “vazio” que existia na política, no que toca ao social.

Contudo, nos partidos a visão paternalista é permanente, e as mulheres que exercem funções políticas são tidas como o garante para a ordem e bem-estar “familiar” das organizações ou partidos políticos.

A desvantagem está sempre do lado das mulheres, porque o mundo político foi construído segundo os padrões masculinizados, para que os homens estejam sempre em maioria no poder e nas tomadas de decisões importantes. Assim sendo, grande parte das mulheres que entra na política concentram-se na faixa etária entre os trinta e cinco e os quarenta anos e são na sua maior parte viúvas, solteiras ou divorciadas, o que implica mais tempo disponível para se dedicarem na totalidade à política, o que de outra forma, seria mais problemático, pois muitas vezes são os próprios homens que optam por dificultar a entrada das mulheres na política, optando por “mecanismos de pressão”, como por exemplo reuniões em horários nocturnos e outros aspectos que se tornam por si só um obstáculo.

Depois do que vimos acerca da concentração do poder no género masculino, partimos da hipótese que, O género define a distribuição hierárquica dos associados pelos cargos nos órgãos executivos das associações juvenis, ou seja, os homens tendem sempre a ocupar os lugares de maior destaque na sociedade, apoiando-se algumas vezes em estratégias de desigualdade de géneros.

Estas diferenças entre géneros provêm da socialização e do habitus, que destina as funções do homem e da mulher. O homem é aquele que nasce com o poder e a mulher é aquela que é excluída dos círculos de poder. A opção de se modelar segundo os parâmetros do habitus cabe a cada um dos géneros, no caso das mulheres ao romperem com tudo o que lhes foi ensinado geram conflito. A gerência do conflito, se atinge proporções de maior ou menor escala, está também padronizada, por isso temos três grupos de mulheres: o primeiro grupo são as mulheres que se adaptam às regras e estrutura política conformando-se com a superioridade masculina; o segundo grupo apresenta um discurso profundamente masculinizado e consideram as relações sociais de género já resolvidas a priori. As mulheres que pertencem a esta última tipologia são respeitadas pelos seus pares masculinos, no entanto, essa mesma faceta masculina leva-as a serem excluídas (face à condição feminina), por não respeitarem o estereótipo que a sociedade tem do género feminino (obediência, trabalho doméstico, generosidade, etc.).

Por fim, o terceiro grupo de mulheres são aquelas que se revoltam em relação às estratégias de dominação e procuram novas formas e espaços de afirmação, este grupo tem vindo a adquirir mais peso, já que através de organizações não governamentais e de partidos políticos mais à margem das grandes massas políticas conseguem impor a sua forma de ser e ver o seu trabalho aprovado.