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Inserção em regime de semiliberdade

Esta medida está prevista no artigo 120 do ECA, e, é uma modalidade de privação de liberdade. A semiliberdade pode ser determinada desde o início, para cumprimento, ou, esperar até a sentença judicial.

Segundo D’Andrea (apud GOBBO; MULLER, p. 180):

Os autores são quase unânimes ao afirmar que a inserção em regime de semiliberdade se caracteriza simplesmente por atividades externas durante o dia e recolhimento à entidade de atendimento à noite, onde ocorre o acompanhamento de técnicos no desenvolvimento do adolescente.

Pode haver a transição da medida para o meio aberto, no decorrer das atividades. Também, essa medida obriga o adolescente na escolarização e profissionalização. Nesse aspecto, revela-se interessantes aqueles adolescentes em conflito com a lei, tendo a chance de, muitas vezes, voltar a estudar ou estudar frequentemente e profissionalizar-se naquilo que deseja, para que retorne a sociedade com uma perspectiva melhor e com possibilidades de emprego.

Ramidoff (2012, p. 41-42) aduz sobre a escolarização e profissionalização:

A educação, capacitação, aprendizagem e todas as outras atividades que se destinam à formação da personalidade do adolescente devem ser preferencialmente desenvolvidas fora da entidade de atendimento, com o intuito de se evitarem os efeitos deletérios da institucionalização, ainda que adequada ao perfil sociopedagógico.

Importante, que as regras da instituição onde o adolescente esteja cumprindo a medida, proporcione uma reflexão acerca do seu potencial e desperte nesse jovem uma perspectiva de conhecimento e aprendizagem, fazendo com que este tenha interesse de prosperar. Assim, mencionam Borges e Carvalho (apud RAMIDOFF, 2012, p. 42):

O protagonismo do adolescente, o desenvolvimento de suas potencialidades, a tomada de decisões e a consideração pelos interesses do coletivo além dos individuais, a construção de projetos de vida a curto, médio e longo prazo.

Importante frisar que esta medida não possui prazo determinado para cumprimento, aplicando-se, no que couber, a medida de internação.

A semiliberdade é determinada em casos mais graves e demonstra um impacto negativo, pois o adolescente é privado de estar com a família e fazendo aquilo que gostaria naquele momento. O adolescente pode mudar com a imposição da medida ou revoltar-se ainda mais, pois a privação de liberdade soa um tanto quanto punitiva e sancionatória.

Nesse sentido, relata Konzen (2005, p. 50):

Todas as instituições, das piores à melhor, todas, indistintamente, tendem a fazer prevalecer, nesse regime, assim como em qualquer outro, as regras da instituição sobre a vontade do institucionalizado. O modo de vida institucional equivale à perda da individualidade, porque as crenças e valores de cada um passam a ser substituídos pela ética ditada pela instituição. Constitui-se a institucionalização em fenômeno oficial e proposital de exclusão, tudo em nome da paz social e da segurança da sociedade.

Assim, a liberdade que é muito valiosa por todos, constitui-se em verdadeiro bem essencial. Desse modo, as medidas que restringem a liberdade, semiliberdade e internação, devem ser de caráter excepcional e transitória. Conclui-se que a privação de liberdade é medida que causa extremo sofrimento aos infratores.

Ademais, para que a semiliberdade tenha os efeitos desejados, necessário que o Estado e as instituições estejam prontos para receber os jovens, com boa infraestrutura, equipe interdisciplinar adequada e tratamento acolhedor, para que se tenha bons resultados.

Ocorre, segundo D’Andrea (apud GOBBO; MULLER, p. 180), que é uma medida com pouca aplicabilidade no teor da norma, senão vejamos: “É uma medida benéfica, mas de pouca aplicação, haja vista a falta de estabelecimentos adequados para execução da referida medida. Quando aplicada é feita normalmente por estabelecimento responsável pela internação”.

Superada as questões pertinentes a medida de semiliberdade, tem-se outra modalidade da mesma medida, qual seja: semiliberdade invertida.

Esta modalidade de medida é concedida a adolescentes que possuem bom desempenho nas atividades de escolarização, profissionalização, reinserção e comprometimento na medida de semiliberdade. Quando a equipe técnica percebe que esses fatores foram alcançados, é possibilitado ao jovem a semiliberdade invertida.

Para Ramidoff (2012, p. 42), a semiliberdade invertida:

Realiza-se pela inversão do período de permanência do adolescente na unidade de atendimento socioeducativo, facultando-se, assim, a adequação do cumprimento da medida socioeducativa às suas reais necessidades pessoais, familiares e comunitárias.

Outrossim, a semiliberdade invertida pode ser aplicada quando facilita ao adolescente no cumprimento de suas tarefas, tais como na capacitação da escolarização e cursos técnicos.

Essa medida pode resultar em bons avanços, se o adolescente se compromete com a finalidade desta e ainda possui a oportunidade de ficar mais próximo da família, nesse momento de readequação de conceitos.

Para que esta medida seja possível, é necessário que a família do infrator tenha uma residência fixa, para que, caso os orientadores da medida precisem entrar em contato com o adolescente, sabem onde encontrá-lo.

Assim, caso o adolescente esteja apresentando bom comportamento, atendendo aos requisitos legais do programa e se ressocializando, poderá ser concedida a semiliberdade invertida, pelos orientadores da instituição, pais ou responsáveis, Defensor ou pelo Ministério Público, podendo pernoitar com sua família, ou, progredir para uma medida em meio aberto.

Contudo, caso o adolescente descumpra reiteradamente e injustificadamente os requisitos da semiliberdade invertida, poderá perder essa modalidade de medida ou ir para outra medida ainda mais rigorosa. Com tudo, durante todo esse processo de adequação da medida, são feitos atendimentos com equipes interdisciplinares, para acompanhamento da evolução do infrator.

Nesse viés, Ramidoff (2012, p. 44) aduz que:

É o que se encontra disposto no art. 43 da Lei 12.594/2012 (SINASE), o qual, mutatis mutandis, determina que, a qualquer tempo, a (re)avaliação da manutenção, da substituição ou da suspensão da medida socioeducativa e do plano individual de atendimento poderá ser requerida.

De outro modo, caso a semiliberdade invertida surta seus efeitos, dará possibilidades de outros jovens serem atendidos pelo programa, já que há poucas instituições para essa medida.

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