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Supremo Tribunal Federal (STF)

Os casos que serão analisados agora, serão os do STF, assim, passaremos direto ao primeiro caso.

Ementa: HABEAS CORPUS. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO ROUBO QUALIFICADO. AUSÊNCIA DE REITERAÇÃO NO COMETIMENTO DE ATOS INFRACIONAIS GRAVES. IMPOSIÇÃO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. MOTIVAÇÃO INIDÔNEA. SUPERAÇÃO DA SÚMULA 691/STF. CONFIGURAÇÃO DE FLAGRANTE ILEGALIDADE. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. I – Apesar de tratar-se de caso que se enquadra na Súmula 691/STF, patente a ilegalidade flagrante apta a justificar a superação do mencionado enunciado. II - Os arts. 121 e 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente impõem que a internação seja aplicada somente em casos excepcionais, não sendo suficiente que a infração seja cometida mediante grave ameaça ou violência à pessoa, devendo ficar demonstrado, com elementos concretos nos autos, que não existe outra medida mais adequada. III – Na situação sob exame, o juízo de piso aplicou a medida de internação, que, como se sabe, deve ser a ultima ratio, sem apoiar-se em elementos concretos, tais como laudos ou situações que demonstrem a real necessidade do afastamento do menor do convívio social, que é primário. IV – Ordem concedida de ofício para anular a imposição da medida socioeducativa de internação nos moldes em que assentada, bem como para determinar ao juízo de primeiro grau que aplique justificadamente a medida que entender adequada, observado o disposto no art. 122, § 2º, do ECA.

Trata-se de habeas corpus n° 120.433, interposto no STF, 2ª Turma, sendo o Ministro Relator Ricardo Lewandowski, o paciente V. Q. B. B., o impetrante a Defensoria Pública do Estado de São Paulo e coator, o relator do HC n° 282.699 do STJ.

O caso é sobre o adolescente V. Q. B. B., que praticou ato infracional a crime análogo ao roubo qualificado.

O STJ decidiu pelo cumprimento da medida socioeducativa de internação, pela gravidade do delito e por ter sido cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa, conforme dispõe o art. 122 do ECA.

Dessa decisão, a defesa do paciente recorreu, impetrando habeas corpus no STF. Apesar da súmula 691/STF, aduzir que não cabe a esta instância reconhecer habeas corpus de foi indeferido em instância superior.

Ocorre, que entendeu o relator, que trata-se de flagrante ilegal, pois, muito embora o crime tenha sido cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa, o adolescente é primário e não foi analisado elementos concretos, tais como laudos sobre o convívio social, para retirá-lo do meio familiar. Assim, foi concedida por unanimidade a ordem de ofício para anular a imposição da medida de internação, bem como para determinar ao juízo de primeiro grau que aplique a medida que entender mais adequada, segundo o art. 122, §2°, do ECA.

O segundo caso trata-se de um habeas corpus n° 126.754, interposto no STF, 2ª Turma, sendo o Ministro relator Gilmar Mendes, o paciente C. H. S. S, o impetrante a Defensoria Pública do Estado de São Paulo e coator, o relator do HC n° 312.723 do STJ.

Habeas corpus. 2. Ato infracional equiparado a tráfico ilícito de entorpecentes (art. 33 da Lei 11.343/2006). 3. Imposição de medida socioeducativa de internação. 4. Ausência de prévia manifestação das instâncias precedentes. Dupla supressão de instância. Superação. 5. Conduta que não se amolda a nenhuma das situações descritas no art. 122 do ECA. Ausência de violência, grave ameaça ou reiteração. 6. Concessão ex officio da ordem confirmando a liminar para substituir a internação por liberdade assistida.

O STJ decidiu em aplicar medida de internação ao adolescente que foi representado pelo crime análogo ao tráfico de drogas (art. 33, caput, da Lei 11.343/06).

O STF entendeu por unanimidade que não há motivos para o cumprimento da medida socioeducativa de internação, uma vez que não foram comprovados nos autos violência, grave ameaça ou reiteração delitiva.

Dessa forma, concedeu de ordem a substituição da medida aplicada, para que o adolescente passe a cumprir em liberdade assistida.

O terceiro caso trata-se de recurso ordinário em habeas corpus n° 118.434, Primeira Turma, sendo o Ministro relator Luiz Fux, o recorrente D. H. F. S., a defesa é o Defensor Público-Geral Federal, o recorrido o Ministério Público Federal.

Ementa: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. ATOS INFRACIONAIS EQUIPARADOS AOS CRIMES DE LESÃO CORPORAL E AMEAÇA (ARTS. 129 E 147 DO CP). ACÓRDÃO DENEGATÓRIO DE HC PROLATADO POR TRIBUNAL ESTADUAL. IMPETRAÇÃO DE NOVO WRIT NO STJ EM SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO CABÍVEL. VEDAÇÃO. ATOS INFRACIONAIS PRATICADOS COM VIOLÊNCIA E GRAVE AMEAÇA. DESCUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA ANTERIORMENTE IMPOSTA. APLICAÇÃO DA MEDIDA DE INTERNAÇÃO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. ART. 122, I e III, DO ECA. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O artigo 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei 8.069/90) estabelece, taxativamente, as hipóteses que autorizam a aplicação da medida socioeducativa de internação, permitindo, em seus incisos I e II, a aplicação desta medida quando o ato infracional for cometido mediante violência ou grave ameaça à pessoa e quando houver o descumprimento reiterado e injustificado de medida anteriormente imposta. Precedentes: HC 112.248, Segunda Turma, Relator o Ministro Teori Zavascki, DJe de 13.05.13; HC 107.712, Primeira Turma, Relator o Ministro Luiz Fux, DJe de 14.02.12; HC 97.183, Primeira Turma, Relator a Ministra Cármen Lúcia, DJe de 22.05.09 e HC 98.225, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJe 11.09.09. 2. In casu, o recorrente, de forma reiterada, agrediu, física e verbalmente, seus genitores, bem como ameaçou esfaquear sua mãe por não ter lavado um short. O juiz singular destacou que, além de ter descumprido medida socioeducativa anterior, o recorrente é um “adolescente problema, cujo comportamento independente tem levado ao caminho da delinquência habitual, a ponto de tornar impossível o seu retorno à convivência familiar e comunitária, ao menos momentaneamente”. Destarte, a imposição da medida socioeducativa de internação justifica-se em razão dos atos infracionais – equiparados aos crimes de lesão corporal e ameaça – terem sido praticados mediante violência e grave ameaça, bem como em razão do descumprimento de medida anteriormente imposta. 3. O recurso cabível contra acórdão denegatório de habeas corpus prolatado pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais de Justiça dos Estados ou do Distrito Federal e Territórios, é o recurso ordinário, a ser apreciado pelo Superior Tribunal de Justiça, nos termos do artigo 105, inciso II, alínea a, da Constituição Federal. 4. “A impetração de novo habeas corpus em caráter substitutivo escamoteia o instituto recursal próprio, em manifesta burla ao preceito constitucional” (HC 116.481-AgR, Primeira Turma, Relatora a Ministra Rosa Weber, DJe de 1º.08.13). 5. Ademais, “não há nenhuma ilegalidade no acórdão do Superior Tribunal de Justiça que, embora assente que não conhece de habeas corpus porque impetrado em substituição ao recurso ordinariamente previsto, examina as questões postas com o fito de verificar a existência de constrangimento ilegal apto a justificar a concessão da ordem de ofício” (HC 116.389, Segunda Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 14.05.13). 6. O Superior Tribunal de Justiça, inobstante não ter conhecido do habeas corpus lá impetrado, sob o fundamento de que o writ é substitutivo de recurso ordinário, tendo em vista ter sido manejado contra decisão denegatória de HC na Corte Estadual – analisou a possibilidade da concessão da ordem de ofício, tendo concluído que, no caso sub examine, não há flagrante ilegalidade que justifique a adoção desta medida. 7. Recurso ordinário em habeas corpus a que se nega provimento.

O fato jurídico gerador é sobre o adolescente infrator D H F DA S, que foi representado pelos crimes análogos a lesão corporal e ameaça (arts. 129 e 147, caput, do CP), devido, “de forma reiterada, agredir, física e verbalmente, seus genitores, bem como ameaçar esfaquear sua mãe por não ter lavado um short”.

Em primeiro grau, o juiz singular decidiu pelo cumprimento de medida socioeducativa de internação, pois descumpriu medida anterior, os crimes telados foram cometidos com violência e grave ameaça e pelo comportamento agressivo e antissocial com seus genitores, evidenciando, que o infrator não está preparado para conviver em sociedade neste momento.

Em segundo grau, a defesa interpôs um habeas corpus, sendo este denegado.

O STJ não conheceu o habeas corpus, pois o recurso cabível era o ordinário, uma vez que já havia decisão denegatória de HC em segundo grau, conforme fundamentação do art. 105, II, ‘a’, da CF, contudo, analisou a possível concessão de ordem, todavia, não encontrou flagrante ilegalidade no caso.

No STF, foi analisado o recurso ordinário em habeas corpus e negado provimento por unanimidade, fundamentando que a decisão proferida pelo magistrado em primeiro grau está integralmente correto.

CONCLUSÃO

A delinquência no nosso país, assim como no mundo, está se propagando muito rápido e com diversas consequências, tanto a quem sofre a violência como a quem faz acontecer.

No caso em tela, está a se falar de jovens, que por diversas razões cometem atos infracionais. Seja porque não possuem famílias estruturadas, por medo, por terem sofrido algum tipo de violência, pelo desemprego, pobreza, desigualdade social, enfim, muitos são os motivos que levam os adolescentes a percorrerem caminhos tortuosos e muitas vezes sem volta.

Possuímos serviço interdisciplinar, que deve amparar os jovens que estão em vulnerabilidade/risco, contudo, por vezes, as famílias e os próprios adolescentes, só são descobertos pelos seus problemas, quando estes cometem algum delito.

O ECA disciplina direitos e deveres e possui uma redação protetiva. Assim, mesmo aqueles jovens que cometem algum ato infracional, é proporcionado a sua reinserção no meio em que vivem.

Responsabilizar esses jovens pelos atos praticados é uma forma de torna-los melhores, como seres humanos. A medida socioeducativa proporciona muitas vezes, o que o adolescente não possui dentro de casa, ou seja, educação, respeito, cuidado e dignidade.

O trabalho em tela busca evidenciar aspectos importantes das medidas socioeducativas e como é feito para escolher a medida mais adequada a cada jovem e o local de cumprimento destas.

A importância dos princípios basilares enquanto orientadores da norma.

Enfatiza-se, que se a finalidade pedagógica e ressocializadora das medidas, não estiverem presentes, em vão será pensar que o adolescente em conflito com a lei mudará de hábitos, pois a punição, por si só, não educa ninguém.

Por fim, analisou-se os casos práticos, de cada tribunal, que ajudou a entender como as medidas são propostas, com mais clareza. Ocorreu algumas divergências de entendimento de uma instância para outra, mas cada fundamentação trazida, agregou conhecimento e entendimento sobre o tema.

Importante pensar e refletir que através da evolução das normas, da conscientização da finalidade ressocializadora, de acreditar na justiça restaurativa, é que propiciaremos uma sociedade melhor e mais justa.

REFERÊNCIAS

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