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SEUS PARADIGMAS

3.1 INSERÇÃO TARDIA: o espaço para análise econômica

Depois de fazer um breve levantamento das principais correntes que discute o desenvolvimento rural no Brasil, está na hora de inserir o espaço e avançar sobre o entendimento do desenvolvimento territorial, deste modo, o presente capítulo tem o objetivo de dar continuidade na análise do capítulo anterior, buscando referenciar o espaço e partir daí buscar o entendimento do território em que interessa a dissertação.

Diante do exposto, as ciências econômicas, desde muito tempo, trabalha com a relação tempo e espaço na suas análises, pois, como já foi colocado por Lopes (2001) “nada existe que não se localize muito concreta e precisamente no tempo e no espaço”. Contudo a inserção do espaço para análise foi feita de forma tardia e por muito tempo incompleta, já que foi analisada apenas de forma parcial, como por exemplo em relação às suas distâncias.

De acordo com Lopes (2001) as análises econômicas vêm passando pelo processo de desagregação de variáveis, e essa desagregação ocorreu sem discussão teórica da variável espaço e suas implicações, os quais foram reconhecidos apenas por uma unidade estática de localização. Desse modo Lopes (2001) appud Ponsard (1955) já alertava que os postulados e análises eram feitos sem a preocupação de explorar de forma mais realista as dimensões espaciais, mesmo quando essas poderiam gerar efeitos significativos nas suas análises, apenas as distâncias importavam.

Essa tradição de negligenciar o espaço na teoria econômica é bem destacada nas análises de alguns dos principais autores da teoria econômica, como Marshall (1961) e Hicks (1939), reforçada pela escola neoclássica. Na análise marshalliana é perceptível a preocupação com o tempo, criando desse modo os “tempos lógicos”, como o curto e longo prazo marshalianos que até hoje possuem grande utilização na economia, o qual remete a possibilidade de ampliação da capacidade produtiva. Apesar de na análise o próprio Marshall colocar que o tempo e o espaço são variáveis importantes para caracterizar os mercados, o referido autor reconhece que o tempo é a mais importante delas, e não destacando como o espaço poderia interferir nos mercados. (LOPES, 2001)

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Já na análise de Hicks (1939) constata-se que quando a economia lida com problemas envolvendo uma série de variáveis, a maior parte deles (inclusive os problemas que envolvem o espaço) é resolvida pela a inter-relação dos mercados, ou seja, pelo equilíbrio geral, que tem como um dos principais processos a arbitragem, que tende a “dissolver” os problemas espaciais na teoria econômica. (LOPES, 2001)

A Teoria do Equilíbrio Geral, uma das bases para a microeconomia neoclássica, também na sua formulação negligenciou a variável espaço. De acordo com Lopes (2001) coloca que esse é um resultado da influência marshalliana, já que absorveu a noção de curto e longo prazos presente nos estudos desenvolvidos sob esta perspectiva, e não fez nenhuma referência ao espaço, já que o mercado pela proposição da Teoria do Equilíbrio Geral é um lócus de encontro entre oferta e demanda, não importando o espaço onde está inserido. Portanto, há uma explicação para três aspectos que fizeram com que a variável espaço entrasse de forma tardia nas análises econômicas: a preocupação inicial com o tempo, a hegemonia da escola marginalista e as hipóteses da economia Clássica. (LOPES 2001 appud RICHARDSON 1969)

A análise econômica surgiu, então, baseada num mundo sem existência de relação entre tempo e espaço, portanto estático e sem dimensões. No entanto, a variável tempo recebeu atenção especial por estar mais relacionada com o crescimento e estabilização das economias nacionais. O espaço e a distribuição dos seus recursos foram considerados variáveis exógenas, o que reforçou o adiamento da inserção da variável espaço nas explicações econômicas. (LOPES 2001 appud RICHARDSON 1969)

A hegemonia da escola marginalista também contribuiu por um longo tempo para a inserção tardia da variável espaço, uma vez que não pode aceitar a continuidade desta variável já dada sua forma linear, constituída apenas por pontos isolados num plano cartesiano, e dessa forma somente a distribuição dos pontos interessavam. (LOPES 2001 appud RICHARDSON 1969)

Deste modo, as hipóteses tradicionais da economia clássica negligenciam o espaço, uma vez que as diferenças entre salários, preços e custos contidos em diferentes espaços tendem a se acabar, pelo processo de arbitragem da Teoria do Equilíbrio Geral que tem com uma das hipóteses fundamentais a interdependência dos mercados. (LOPES 2001 appud RICHARDSON 1969)

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Contudo como propõe Reis (2005) os territórios12 começam a ganhar mais importância a partir da metade do século XX por três motivos: a importância da variável espaço na economia (pressuposto); a busca de equidade socioeconômica (objetivo); e a avaliação do papel dos territórios na formação das estruturas e dinâmicas sociais (ambição interpretativa).

Apesar da sua inserção no roll das análises econômicas ser tardia, há atualmente uma clara compreensão de que o espaço é tão fundamental quanto o tempo para a explicação do desenvolvimento econômico, e por isso há uma tentativa de superação da falha teórica, que alijou o espaço das análises econômicas. Mediante a este ponto, o reconhecimento de que a “diversidade espacial” tanto explica, como é explicada pelos fenômenos sociais, tendo, portanto uma relação de causa-efeito mutua. (REIS, 2005)

O objetivo de estudar os territórios perpassa pelas desigualdades, as quais começaram a ser analisadas a partir da década de 1950 dentro das economias subdesenvolvidas como o Nordeste do Brasil e a Patagônia na Argentina. Porém, também persistia nos países de economias mais avançadas, como é o caso dos estudos sobre o Vale do Tennessee, nos Estados Unidos, e, na França, com o que ficou conhecido de “Paris é o deserto Francês”. Percebeu-se que os estudos a respeito dos territórios eram de fundamental importância para entender as desigualdades socioeconômicas presentes nessas nações. (REIS, 2005)

O terceiro movimento que de acordo com Reis (2005) culminou com a inserção do território nas análises foi à ambição interpretativa que é entender como os territórios influenciam nas dinâmicas socioeconômicas das sociedades. Esta tentativa de compreensão da variável território e suas implicações empíricas e teóricas passou por duas abordagens teóricas, sendo a primeira concentrando suas investigações sobre o que é o da mobilidade dos fatores de produção e a outra acerca da genealogia dos processos, a qual será explorada de forma mais detalhada no decorrer do texto.

Sendo assim, percebemos que a inserção da variável espaço na teoria econômica é algo recente se comparado ao tempo, e que seus efeitos ainda não são totalmente compreendidos, por isso continua na fronteira do conhecimento entender de que forma os territórios contribuem (ou não) com o desenvolvimento.