• Nenhum resultado encontrado

4. MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 ANÁLISE DA GOVERNANÇA DA NANOTECNOLOGIA NO MCTI

5.1.2. Instância Consultiva

Com o objetivo auxiliar a CGNT na definição de áreas prioritárias, diretrizes, alocação de recursos, metas a serem alcançadas, avaliação das políticas públicas para nanotecnologia foi estabelecido um colegiado formado por representantes do próprio MCTI, das agências de fomento, da comunidade científica e do setor produtivo.

Este colegiado, o CCNANO, é instituído por portaria do MCTI, ficando a critério do Coordenador-Geral, em conjunto com o Secretário ou Diretor, a escolha de seus membros. Desde a criação da CGNT, foram criados quatro CCNANO – em 2007115, 2008116, 2011117 e, o ainda vigente, em 2014118. Em nenhuma composição houve a representação de entidade ou sindicato de classe dos trabalhadores ou da sociedade civil organizada, como a de proteção dos consumidores ou trabalhadores.

A constituição deste colegiado teve como principal motivação evitar uma possível verticalização nas tomadas de decisão nas políticas públicas para nanotecnologia. De certa forma, isto é alcançado quando o Coordenador-Geral da CGNT lança as bases das políticas para nanotecnologia com apoio e anuência do CCNANO, que, em tese, é a representação da comunidade (nano)científica e da sociedade, uma vez que a conformação deste Comitê, supostamente, se pretende congregar diferentes discursos. Ressalte-se que a sociedade civil representada no CCNANO restringe-se ao setor produtivo.

A seguir, é apresentado QUADRO 9 com composição do CCNANO nas suas quatro versões.

(continua)

Quadro 12 - Comitês Consultivos para a área de Nanotecnologia

Instituição Formação CCNANO - 2007 MCTI Economia CNPq Física Finep Economia Inmetro Física

(continuação)

Quadro 13 - Comitês Consultivos para a área de Nanotecnologia

Instituição Formação

Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES/PETROBRÁS)

Engenharia civil

EMBRAER S.A. Engenharia

Confederação Nacional da Indústria (CNI) Farmácia/Bioquímica

UNICAMP Química UFPE Química UNICAMP Química UFES Física CCNANO - 2008 MCTI Agronomia CNPq Física Finep Indefinido Inmetro Física UNICAMP Química UFPE Química UNICAMP Química UFRGS Química CCNANO - 2011 MCTI Física

Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (CETENE)

Química

Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) Física

Inmetro Física

Associação Nacional de P&D das Empresas Inovadoras (ANPEI)

Indefinido

Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)

Engenharia de materiais (Química)

UFMG Física

UNICAMP Química

Confederação Nacional da Indústria (CNI) Economia

Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) Física

(conclusão)

Quadro 14 - Comitês Consultivos para a área de Nanotecnologia CCNANO - 2014

MCTI Física

Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (CETENE)

Química

Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) Física

Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) Física

EMBRAPA Engenharia de materiais (Química)

Inmetro Odontologia (Doutorado em Química)

Instituição Formação

Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)

Indefinido

Confederação Nacional da Indústria (CNI) Indefinido

USP Química

UNICAMP Química

PUC-Rio Física

UFMG Engenharia elétrica (Doutorado em Física)

UFV Engenharia de alimentos

UFC Física

UFRGS Química

UnB Biomedicina

UFPR Antropologia

Fonte: Portarias de nomeação do MCTI; Plataforma Lattes. Indefinido – Não foi possível encontrar a formação do membro. ND – Não disponível. Elaborado pelo autor.

Afora representantes do governo como MCTI, CNPq, Finep e BNDES - que devem ter assento no CCNANO, já que é o poder público o responsável pelas políticas públicas e principal financiador das pesquisas em nanotecnologia no Brasil - e da comunidade (nano)científica, o setor produtivo representado pelas confederações e associações patronais como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Associação Nacional de P&D das Empresas Inovadoras (ANPEI) tem garantido assento em três das quatro composições do Comitê até o momento. No entanto, entidades representativas de trabalhadores e/ou consumidores não foram chamadas a constituir o CCNANO.

Em relação à comunidade (nano)científica representada no Comitê, deve-se ressaltar que o prefixo “nano” tem sido a voz dominante em suas reuniões e, consequentemente, em suas decisões. Outros membros da comunidade científica,

como sociólogos, filósofos ou bioeticistas, não têm sido convocados a compor os Comitês, o que evita discussões sob óticas diferentes, que não o financiamento inexorável das pesquisas nanotecnológicas e a importância do setor empresarial na transformação do conhecimento acadêmico em produto.

É importante notar também que a formação acadêmica de 18 dos 22 representantes da comunidade científica é em física ou química. Outras áreas como farmácia, biomedicina, engenharia de alimentos e antropologia tiveram apenas um representante nos Comitês.

Na última composição, de 2014, pode-se dizer que dos 17 membros 15 são representantes da comunidade científica, já que o representante do MCTI provem também da universidade e é professor-pesquisador. Destes, 14 são nanotecnocientistas com formação em ciências duras como física, química, biomedicina, engenharias e odontologia, sendo que aqueles com formação nas duas últimas áreas possuem seus doutoramentos em física ou química. Somente um representante da comunidade científica tem formação diversa – em antropologia e cujas linhas de pesquisa enfocam as políticas de ciência e tecnologia e as implicações sociais da nanotecnologia. Esta conformação demonstra o notório desequilíbrio de vozes em um colegiado que tem a tarefa de auxiliar o governo a definir as políticas públicas para nanotecnologia no país e que se pretende plural nos discursos. Ao contrário, o que se nota é uma certa homogeneização e predominância de representatividade da comunidade (nano)científica, principalmente, de físicos e químicos.

Ainda é controversa entre os estudiosos a classificação que se dá à nanotecnologia: se ela tem características de uma disciplina ou se é multi-, inter- ou transdisciplinar. Segundo publicação da World Commission on the Ethics of

Scientific Knowledge and Technology – órgão consultivo da Unesco119, a

nanotecnologia possui dimensões interdisciplinares, já que o termo faz referência a diversas ciências e tecnologias em interação. Além disso, a nanotecnologia modifica a divisão tradicional entre as disciplinas científicas por tornar cada vez menos perceptível a linha que separa as ciências da vida e as ciências humanas. Na mesma linha, Mirkin et. al.120 afirmam que a nanotecnologia eliminou as barreiras existentes entre campos científicos clássicos, estabelecendo-se como uma nova ciência interdisciplinar. Schummer121, ao utilizar métodos de mensuração da

interdisciplinaridade, como títulos de artigos científicos, co-autorias, palavras-chave, filiação dos autores e citações, reforçou a concepção interdisciplinar da nanotecnologia.

O que tem se tentado fazer ao formar o corpo dos CCNANOs é diversificar, dentro das nanotecnologias, os ramos de atuação de cada membro da comunidade (nano)científica – por exemplo, nanotecnologia aplicada à saúde, ao meio ambiente, à energia, à eletrônica, entre outras aplicações, excluindo conhecimentos sociais, éticos e antropológicos.