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4. MATERIAIS E MÉTODOS

5.2 ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

5.2.3. Análise Das Políticas Do MCTI Para Nanotecnologia

5.2.3.2 Programa De Desenvolvimento Da Nanociência E Da Nanotecnologia (PDNN)

A versão final do documento-base forneceu os rumos do primeiro programa de nanotecnologia a ser apoiado de forma programática no planejamento governamental.

O PDNN, como passou a ser chamado, foi incorporado ao Plano Plurianualiii 2004-2007, dentro do “Mega objetivo II - Crescimento com geração de trabalho,

iii Plano Plurianual (PPA) - instrumento previsto no art. 165 da Constituição Federal destinado a

organizar e viabilizar a ação pública, com vistas a cumprir os fundamentos e os objetivos da República. Por meio dele, é declarado o conjunto das políticas públicas do governo para um período de quatro anos e os caminhos trilhados para viabilizar as metas previstas, construindo um Brasil melhor. O PPA orienta o Estado e a sociedade no sentido de viabilizar os objetivos da República. O

emprego e renda, ambientalmente sustentável e redutor das desigualdades sociais.”159(Anexo I, p. 25)

O objetivo específico do PDNN era “Desenvolver novos produtos e processos em nanotecnologia visando o aumento da competitividade da indústria nacional”159(Anexo II, p. 364). Os indicadoresiv do PDNN possuíam um caráter economicista da nanociência e da nanotecnologia, como índice de patentes, índice exportação de (nano)produtos e (nano)processos e índices de empresas nacionais que detenham produtos ou processos nanotecnológicos.

Para isso, o Programa foi pensado de forma a garantir uma infraestrutura adequada à pesquisa nanocientífica e nanotecnológica, por meio da construção e reestruturação de laboratórios, e incentivar a interação entre a comunidade (nano)científica e o setor produtivo, por meio de apoio financeiro à pesquisa cooperativa.

5.2.3.3 Programa Nacional De Nanotecnologia (PNN)

O tom do discurso presidencial de lançamento do Programa Nacional de Nanotecnologia (PNN)160, em 2005, nada mais é que uma reformulação do PDNN quanto ao financiamento das atividades de pesquisa nanotecnológica e adequação à PITCE.

No discurso160, o Presidente da República declarou que a ciência e a tecnologia são essenciais para o desenvolvimento econômico e social de qualquer

Plano apresenta a visão de futuro para o País, macro desafios e valores que guiam o comportamento para o conjunto da Administração Pública Federal. Por meio dele o governo declara e organiza sua atuação, a fim de elaborar e executar políticas públicas necessárias. O Plano permite também, que a sociedade tenha um maior controle sobre as ações concluídas pelo governo. Fonte: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

iv Indicadores - instrumentos que permitem identificar e medir aspectos relacionados a um

determinado conceito, fenômeno, problema ou resultado de uma intervenção na realidade. A principal finalidade de um indicador é traduzir, de forma mensurável, determinado aspecto de uma realidade dada (situação social) ou construída (ação de governo), de maneira a tornar operacional a sua observação e avaliação. Fonte: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

país, mas que para isso seria preciso o envolvimento das empresas na aquisição desse conhecimento gerado no interior da comunidade científica e sua consequente transformação em produtos e processos inovadores.

Citou a Coreia do Sul e Taiwan como exemplos de países bem sucedidos na geração de empregos e riqueza por meio do investimento em tecnologia. Disse também que países que detêm conhecimento técnico-científico são “mais capazes de decidir sobre o seu destino, de soberanamente defender seus interesses nas mesas de negociação internacionais e de melhor buscar a justiça social”160.

E que “por todas essas razões, a nanotecnologia é extremamente importante para o Brasil. E este é o grande desafio que temos diante de nós.”160.

Depreende-se do discurso presidencial que o investimento em ciência e tecnologia, por meio da nanotecnologia, inexoravelmente desenvolverá a indústria nacional, que produzirá mais e com qualidade, gerará empregos e riqueza, revestirá de poder o país (qual poder? Fica a dúvida!) e tudo isto possibilitará que se chegue à justiça social. Em nenhum momento do discurso presidencial, os riscos à saúde, ao meio ambiente, à empregabilidade são citados. O discurso presidencial é outro: a nanotecnologia é boa.

É a denominada visão linear do desenvolvimento científico e tecnológico e que deu origem ao modelo institucional do ofertismo linear da ciência e tecnologia gerado nos países do Norte127, em especial nos Estados Unidos e tendo seu principal precursor o Relatório Bush, apresentado ao presidente norte-americano em 1945 para dar os novos rumos que as pesquisas científico-tecnológicas deveriam seguir terminada a Segunda Grande Guerra, à qual o Estado e a comunidade científica dedicaram especial atenção.

O Relatório expõe, em resumo, que o Estado deve ser o maior financiador da pesquisa científica, pois ela levará ao progresso tecnológico, refletido em segurança da nação, saúde, empregos, prosperidade, qualidade de vida, progresso cultural, entre outros161:

A pesquisa básica leva a novos conhecimentos. Ela cria a base a partir da qual as aplicações práticas do conhecimento são concebidas. ... A nação

que depende das outras [nações] para [obter] seu novo conhecimento científico básico será lenta no seu progresso industrial e fraca na sua posição competitiva no mercado mundial 161(p. 19, tradução nossa).

Segundo abordagem feita pela corrente latino-americana dos ECTS, na perspectiva de Dagnino129, a visão linear pode ser subdividida em duas variantes: a) neutralidade da ciência e tecnologia e b) determinismo da ciência e tecnologia. A neutralidade diria que desenvolvimento científico e tecnológico e estrutura social não se tocariam nem se influenciariam, ou seja, ciência e tecnologia, de um lado e sociedade, de outro, seguiria cada uma o seu próprio destino, independentemente uma da outra.

A variante que domina o discurso presidencial em relação à nanotecnologia é a do determinismo tecnológico. Segundo esta variante, existe uma barreira que impede que o desenvolvimento da ciência e tecnologia sofra influência ou interferência provocada pela estrutura social. No entanto, o sentido contrário não é verdadeiro, isto é, o desenvolvimento científico e tecnológico teria o poder de determinar (como o próprio nome diz) mudanças na estrutura social, seja no campo político, econômico, ambiental.