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4. MATERIAIS E MÉTODOS

5.2 ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

5.2.1 Políticas Industriais

5.2.1.1 2004-2008 Política Industrial, Tecnológica E De Comércio Exterior (PITCE)

Em 2004, foi lançada a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), com vigência até 2008. Os resultados a serem alcançados pela PITCE foram resumidos no desenvolvimento da indústria nacional e o aumento de sua capacidade competitiva na economia globalizada, por meio da inserção do componente inovador traduzido a partir das pesquisas científico-tecnológicas, seja em interação com grupos de pesquisa externos às indústrias, seja em atividades de pesquisa no interior das indústrias. Para isso, algumas ações foram empreendidas para encorajar a integração de todo esse sistema, como, por exemplo, incentivos fiscais e creditícios às empresas, eliminação de barreiras legais à aproximação entre universidades e empresas, formação de recursos humanos especializados, entre outros.

Os três setores que receberam incentivos para agregar valor e transmitirem ganhos de produtividade a outros setores e de alavancar as exportações e competir

internacionalmente foram os setores de bens de capital, de semicondutores e de software.

Na PITCE, a nanotecnologia, juntamente com a biotecnologia, foi considerada área portadora de futuro, por ser considerada uma tecnociência capaz de introduzir inovação radical em processos e produto (bens e serviços) industriais e, assim, colocá-los em nível internacional de competitividade. De acordo com o Manual de Oslo126, a radicalização da inovação refere-se ao impacto que a novidade pode provocar na estrutura econômica da própria empresa e do mercado, como modificação ou criação de novos mercados e a obsolescência de produtos.

Vê-se, portanto, que as atividades da pesquisa nanotecnológica, por sua natureza inovadora, passaram definitivamente a servir, em grande parte, à nova tentativa de industrialização brasileira, já que outras tentativas de desenvolver a indústria nacional fracassaram, como no caso da política de substituição de importações da década de 1950, que, em vez de proporcionar a transferência tecnológica ao país, criou um parque industrial dependente da tecnologia exógena127; das políticas industrias das décadas de 1960 e 1970, que tiveram como foco o desenvolvimento da infraestrutura fabril, sem olhar para a competitividade internacional128; e dos discursos sobre competitividade internacional desconectados das políticas industriais da década de 1990128.

Como bem coloca Dagnino129:

As pesquisa científicas – assim como as tecnológicas -, por serem atividades que se dão no interior de uma sociedade regida por parâmetros de maximização do lucro, estariam então orientadas numa direção coerente com estes. Parece então se fechar uma cadeia: as necessidades do processo produtivo, determinadas em função desses parâmetros, são satisfeitas através da geração de tecnologias com eles compatíveis, o que, por sua vez, exige a produção de conhecimentos científicos com particularidades bem definidas129(p. 147).

5.2.1.2 2008-2010 Política De Desenvolvimento Produtivo (PDP)

A PDP substitui a PITCE, abrangendo, agora, incentivo a 25 setores industriais com chances de se tornarem líderes no mercado globalizado.

Em 2008, juntamente com o PPA 2008-2011, foi lançada a PDP em meio a um cenário nacional onde havia o risco de a demanda por produtos e serviços superar a oferta, devido à melhor distribuição de renda e, consequente, expansão do consumo interno130.

Apesar do crescimento industrial contínuo e para evitar o descompasso entre oferta e consumo, o governo, por meio da PDP, colocou em práticas ações voltadas para a manutenção do crescimento sustentável do chamado ciclo de expansão por que passava o país e para enfrentar a crise financeira de 2008, deflagrada nos Estados Unidos e que afetou a economia mundial.

Basta olhar para os parceiros que elaboraram a PDP (MDIC, Ministério da Fazenda-MF, MCTI e BNDES) para perceber o viés que tomaram objetivos, ações e metas da Política. O MDIC, encarregado de mobilizar o setor produtivo e de sua inserção no comércio exterior; o MCTI, encarregado de incentivar pesquisas orientadas aos interesses da indústria para promover nesta a inovação e o MF e BNDES, encarregados de criarem o quadro institucional financeiro adequado aos objetivos da PDP.

A PDP foi elaborada contendo diversos níveis de atuação, de acordo com o objetivo proposto. A nanotecnologia era um dos seis programas do eixo “Programas Mobilizadores em Áreas Estratégicas”, por entender, o governo, que a competitividade industrial estava atrelada à superação dos desafios científico- tecnológicos.

Dessa forma, o PACTI e, consequentemente, a política para nanotecnologia alinharam- se à PDP. A política para a nanotecnologia, com o lançamento da PDP, teve um viés econômico muito mais intenso, com a criação de um fundo de investimento em empresas emergentes em nanotecnologia e ampliação do

orçamento para projetos em setores estratégicos pelo BNDES; formação de uma rede de inovação de nanocosméticos, com o fim de gerar e transformar conhecimentos científicos e tecnológicos em produtos com viabilidade comercial; redução da taxa de apoio à inovação nanotecnológica cobrada pela Finep às empresas; divulgação da nanotecnologia nacional na indústria e no exterior; desenvolvimento da base produtiva e de apoio à pesquisa, desenvolvimento e inovação em nanotecnologia, com a implantação dos institutos nacionais de ciência e tecnologia voltados à pesquisa nanotecnológica; ampliação de pós-graduandos (mestrado e doutorado) em nanotecnologia e apoio à contratação de pesquisadores em empresas, por meio de seleção via edital e com recursos públicos.

Como pode ser observado, as principais instâncias da política econômica, industrial, científica e tecnológica concertaram-se em torno de objetivos aparentemente capitalistas - produção de capital e inserção competitiva no mercado globalizado – com o discurso de chegar a metas aparentemente socialistas – desenvolvimento, distribuição de renda e justiça social.

5.2.1.3 2011-2014 Plano Brasil Maior (PBM)

Finalizada a vigência da PDP, o governo lança o PBM, em 2011, para alavancar o crescimento e a expansão de 19 setores da indústria, por meio de três principais objetivos: a) redução dos custos dos fatores de produção e oferta de crédito para investimentos; b) desenvolvimento das cadeias produtivas, indução do desenvolvimento tecnológico e qualificação profissional; e c) promoção das exportações e defesa do mercado interno.

Todo este esforço foi uma tentativa de afastar os efeitos da crise de 2008, que valorizaram as moedas dos países do Norte em relação aos países do Sul, incluindo o Brasil, e que acirraram a competição global nos mercados internacionais e interno.

O Plano, então, lançou medidas para estimular o mercado interno. A defasagem tecnológica em vários setores é grande. Por isso, a capacidade científica e tecnológica instalada no país possui papel estruturante na industrialização:

Entretanto, é possível afirmar que o grande mérito da política industrial foi, lato sensu, contribuir para o esforço anticíclico do governo e impedir uma recessão no Brasil, garantindo o crescimento do emprego de qualidade e da renda da população brasileira131(p. 63).

As principais medidas foram desoneração da folha de pagamento e de investimentos, oferta de crédito, estímulo ao desenvolvimento produtivo e tecnológico, uso do poder de compra governamental preferencialmente de produtos e serviços nacionais que incorporem inovação, promoção das exportações e defesa do mercado interno.

Com esta mais recente tentativa de “salvar” a industrialização, via inovação, o governo federal reforça que seu entendimento sobre “progresso” se deve à capacidade industrial de absorver, produzir e vender inovação embarcada em sua produção para dar conta da competição internacional acirrada, principalmente, com países do Norte.

É um discurso governamental pró-indústria que demonstra a fragilidade da competitividade dos empresários nacionais a ponto de o governo ter de servir como catalisador tanto do crescimento industrial, quanto da sinergia com a comunidade científica, a fim de prover a produção de características inovadoras, não únicas, mas importantes em um mercado globalizado.

Além disso, outro resultado importante, a ser alcançado por meio de políticas públicas regulatórias como as três últimas políticas industriais, é a desconcentração do desenvolvimento econômico para redução das iniquidades regionais.