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A gradativa reforma do Estado brasileiro, com conseqüente modernização no setor público e ampliação das bases democráticas de tomada de decisão, ensejou o reconhecimento na própria Constituição, e posteriormente nas diversas leis ordinárias, de um necessário arcabouço institucional que valorize os colegiados, com participação da sociedade.

No entender de Thame (2002), desta maneira consolida-se a democracia participativa, em que os diversos setores da sociedade civil organizada passam a ter direito não apenas a discutir, mas também a definir as soluções dos problemas que lhes são afetos.

Os colegiados visam, na pureza de sua conceituação, incentivar as opiniões de setores que têm interesse na matéria a ser tratada. Colhem-se idéias e informações, confrontado-se as mesmas em busca da formação de uma posição comum ou, pelo menos, de uma posição majoritária (MACHADO, 2001).

Nas áreas de meio ambiente e de recursos hídricos esta nova visão está contemplada nas respectivas leis de política.

A lei da PNMA instituiu o Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA, como o órgão nacional de caráter consultivo e deliberativo. O CONAMA tem por finalidade assessorar, estudar e propor diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente. Ao mesmo tempo tem competência para, entre outros: estabelecer normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; decidir, em última instância administrativa, sobre as multas e demais penalidades impostas pelo IBAMA; estabelecer normas, critérios e padrões nacionais de qualidade do meio ambiente; monitorar e avaliar a implementação e execução de política e normas ambientais; e deliberar por meio de resoluções, visando o cumprimento dos objetivos da PNMA.

O CONAMA é composto por Plenário, Câmaras Técnicas e Grupos de Trabalho, sendo presidido pelo Ministro do Meio Ambiente. Este Conselho é um colegiado, representativo dos atores sociais interessados na área ambiental nos níveis governamental, empresarial e da sociedade civil organizada. O Plenário tem a seguinte composição: o Ministro de Estado do Meio Ambiente; o Secretário Executivo do Ministério do Meio Ambiente; um representante do IBAMA; um representante da Agência Nacional das Águas ANA; um representante de cada um dos Ministérios, das Secretarias da Presidência da República e dos Comandos Militares do Ministério da Defesa; um representante de cada um dos Governos Estaduais e do Distrito Federal; oito representantes dos Governos Municipais que possuam órgão ambiental estruturado e Conselho de Meio Ambiente, com caráter deliberativo; vinte e dois representantes de entidades de trabalhadores e da sociedade civil; oito representantes de entidades empresariais; e um membro honorário indicado pela Presidência da República.

Por sua vez, a lei da PNRH instituiu o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, onde o Conselho Nacional de Recursos Hídricos CNRH ocupa a instância mais alta na hierarquia do sistema.

O CNRH tem como competência, dentre outras: analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos; estabelecer diretrizes para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos; promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos

recursos hídricos; deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos cujas repercussões extrapolam o âmbito dos estados em que serão implantados; aprovar propostas de instituição de comitês de bacia hidrográfica; estabelecer critérios gerais para a outorga de direito de uso de recursos hídricos e para a cobrança por seu uso; e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e acompanhar sua execução.

Também presidido pelo Ministro do Meio Ambiente, o CNRH é composto por representantes de Ministérios e Secretarias Especiais da Presidência da República; Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos; usuários de recursos hídricos (irrigantes, indústrias, concessionárias de geração de energia hidrelétrica; pescadores e usuários da água para lazer e turismo); prestadores de serviço público de abastecimento de água e esgotamento sanitário; e representantes de organizações civis de recursos hídricos (consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas, e organizações não- governamentais). Atualmente, são 57 conselheiros com mandato de três anos. O número de representantes do Poder Executivo Federal não pode exceder à metade mais um do total de membros.

No âmbito dos Estados, desempenham papéis equivalentes ao CONAMA os Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, também inseridos na estrutura do SISNAMA. O mesmo acontece em relação aos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, equivalentes do CNRH, também inseridos no SNRH. A mesma lógica se dá em determinados municípios, em que é criado o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (mais freqüente) e o Conselho Municipal de Recursos Hídricos (mais raro).

Com relação às bacias hidrográficas, está em consolidação a gestão ambiental através dos Comitês de Bacia Hidrográfica CBHs. Estes são órgãos colegiados com atribuições normativas, deliberativas e consultivas, a serem exercidas na bacia ou na sub-bacia hidrográfica de sua jurisdição. Os CBHs devem adequar a gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais de suas áreas de abrangência. Em função da dominialidade, os comitês estaduais e federais, reportam-se respectivamente, aos Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados ou ao Federal (CNRH, 2000).

De acordo com a legislação federal, os Comitês de Bacia federais devem ter composição tripartite, entre representantes do poder público (40%), de usuários da água (40%) e da sociedade civil (20%). Porém, alguns estados não seguem esta relação de proporcionalidade na composição. É o caso do Estado de São Paulo, onde os representantes do governo estadual, dos municípios e da sociedade civil ocupam 1/3 das cadeiras, levando o poder público a ficar com a maioria, ou 2/3 dos membros.

Segundo Carjulli (2001), certamente um dos maiores desafios é concretizar, através dos Comitês de Bacia e demais organismos colegiados, a gestão participativa da água, pois esta estratégia irá se contrapor a práticas historicamente estabelecidas, tais como: a simples construção de obras hídricas sem o seu devido gerenciamento, as decisões governamentais tomadas de forma centralizada, o desinteresse e a ausência de iniciativa dos usuários e da sociedade na busca de alternativas para a gestão sustentável dos recursos hídricos.

Os Conselhos e Comitês devem, contudo, reconhecer e até estimular outras instâncias de decisão colegiada, que possam estar neles representadas, ou mesmo que caminhem em paralelo, como elos da teia social democrática, ajudando a mobilizar a comunidade e até fiscalizar as estruturas formais constituídas. Fazem parte desse conjunto, os Fóruns e Redes regionais ou setoriais, as Associações e os Movimentos, desde que possuam condutas transparentes e decisões colegiadas.

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APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS NA BACIA DO