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Instalação da dualidade: o modelo ideal e o real da profissão

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.2 Análise da socialização profissional de mulheres policiais federais

5.2.2 Instalação da dualidade: o modelo ideal e o real da profissão

A segunda fase do processo de socialização profissional, de acordo com Hughes (1958, 2016), trata-se da instalação da dualidade. A fim de entender de que forma ocorre essa fase da socialização das policiais, foi determinado o segundo objetivo deste trabalho: Perceber como a mulher policial federal entende sua profissão, a partir do modelo ideal e o real da profissão.

Para Hughes (1958, 2016), a fase de instalação da dualidade acontece quando a cultura leiga e os estereótipos envoltos do ofício confrontam-se com a realidade da profissão, com suas dificuldades e incômodos, reproduzindo conflitos e desconforto. Por isto, objetivou-se identificar quais eram as idealizações das policiais acerca da profissão e qual foi a realidade encontrada por elas, bem como suas dificuldades e incômodos.

sejam: modelo idealizado, modelo real e dificuldades/incômodos.

Com o intuito de perceber o modelo profissional idealizado pelas policiais, foram feitas duas indagações: “Antes de se tornar policial federal, como você imaginava que seria a prática da profissão?” e “Você já tinha algum contato prévio com a profissão? Havia alguém de seu círculo familiar ou acadêmico que era policial?”. A figura 6 demonstra as unidades de registro obtidas para esta unidade de contexto:

Figura 6 – Modelo idealizado

Fonte: Dados da pesquisa (2019)

Na unidade de contexto modelo idealizado, o fator mais citado pelas policiais como aquilo que elas imaginavam que seria a profissão foi a glamourização, com 7 menções, em que elas disseram achar que era uma coisa linda, bem operacional e super estruturado, conforme relatos: “Eu imaginava que seria uma coisa bonita, porque assim, tinha status, e o

pessoal admira.” (P8); “É aquela coisa, né?! Você acaba idealizando aquela coisa de filme. Mas na prática é bem diferente.” (P10).

Eu entrei na Polícia Federal na época em que as grandes operações começaram a aparecer na mídia, eram muitas operações na mídia. E, por isso, o meu imaginário era só daquelas grandes investigações, de poder participar de tudo aquilo da forma como aparecia na tv, era nesse sentido, de grandes investigações, prisões de pessoas importantes, isso era o que eu imaginava (P1).

Eu conheci ser policial federal só quando eu fui para Academia de Polícia. E aí a gente tem aquela fantasia, aquele negócio que é fantasioso, não é bem realidade não. A gente só aprende o que é ser polícia quando tá trabalhando. A minha visão era da academia. Era um glamour né?! Você sai da academia querendo ir pra rua, e não é bem assim não, vai saber que as coisas tem uns empecilhos né, bem complicado (P7).

Outra unidade de registro identificada foi a maior assistência, citada pela policial 5, em que ela achava que os servidores eram melhor assistidos pela instituição:

Mas eu achava que seria mais fácil, não dia a dia, o nosso dia a dia eu acho muito tranquilo, mas as coisas assim dentro da polícia são muito complicadas. Existe uma coisa, parece que é meio assim, uma coisa de dificultar sua vida, se puder complicar, complica, tá entendendo?! É aquela coisa assim de não olhar para o servidor nesse sentido. O que é que ele precisa para estar bem? Para fazer o trabalho dele bem, entendeu?! Então assim, a impressão que dá é que as pessoas não tão muito preocupadas com isso, de que isso vai refletir no seu trabalho. A minha impressão é essa, eu achei só que fosse ser talvez mais fácil, que houvesse uma preocupação maior nesse sentido com servidor, que não tem muito, não tem (P5).

Por fim, a última unidade de registro encontrada pertencente a unidade de contexto modelo idealizado foi profissão já conhecida, termo que simboliza a experiência de seis policiais que disseram já conhecer a profissão, devido terem vindo da Polícia Civil ou em razão de algum familiar ser policial, e sabiam exatamente o que esperar, logo, não construíram idealizações, visto que, já conheciam a realidade:

Eu tomei posse na Polícia Civil com 23 anos, então eu já tinha uma boa ideia do que seria o trabalho. Então eu fui indo, fui seguindo o fluxo. Eu já não tinha aquela idealização, aquela visão ingênua do que é a polícia. Então eu não tinha essa glamourização que as pessoas fazem. Eu já sabia como seria a prática (P4).

Eu sempre tive muito meu pé no chão, eu nunca sonhei ou idealizei uma coisa que não existia. Eu já sabia o que era, né?! Meu marido na época ele já era policial federal. Aliás, a gente estudou junto na verdade, né?! Nós estudamos juntos para o concurso e passamos juntos, só que ele foi primeiro em 2005 e eu fui acompanha-lo. Demorou uns três anos pra eu ser chamada. Deu pra ter uma boa noção do que seria a prática policial (P9).

Na unidade de contexto modelo real, objetivando descobrir a percepção das entrevistadas sobre a realidade encontrada nas atividades referentes à profissão, foram feitas as seguintes perguntas: “Descreva suas atividades de trabalho como policial federal.” e “Existem atividades de atribuição da polícia federal que não gostaria de realizar? Quais?”. Como resultados, foram encontradas as unidades de registro: viagens, com doze citações, serviço administrativo, com quatro citações, atividades burocráticas, com quatro citações e atividades específicas, com 5 citações, em consoante com a figura a seguir:

Figura 7- Modelo real

Fonte: Dados da pesquisa (2019)

Quando pedido para as policiais descreverem suas atividades de trabalho, a unidade viagens foi a que mais apareceu, sendo mencionada 12 vezes. As viagens para compor equipes de outros estados, para operações ou participação em grandes eventos e segurança de dignitários fazem parte da rotina de todos os cargos, conforme discursos:

Tem a parte das operações especiais, onde nós somos escalados para prestar apoio nas investigações de outros colegas, que vão realizar prisões, cumprimento de mandados de busca, análise de material apreendido, e isso pode ser na sua unidade ou você tem que viajar para fazer em outras unidades da Federação. Tem também as viagens para fazer segurança de dignitários e os eventos importantes que a Polícia Federal trabalha, como Copa do Mundo, Copa das Confederações e Olimpíadas, todas elas eu trabalhei. As viagens as vezes até incomodam, porque as viagens para a operação chegam sem nenhum aviso prévio, as viagens mais longas você até sabe com antecedência, mas a viagem para operação chega sem nenhum planejamento prévio, então, muitas vezes você está com viagem agendada com a família, programação para fazer com a família, e você é escalada para uma viagem e tem que ir e não importa a data (P1).

O tempo inteiro a gente tá viajando. Seja para instruir inquérito no interior, seja pra operação, para dar suporte à operação de outros estados, de outras cidades, a gente é acionado com muito constância, às vezes em cima da hora, às vezes um dia antes, às vezes uma semana antes. Então assim, geralmente a gente tem que tá disponível. Se não tiver com algum impedimento legal, tipo férias, licença, ou qualquer outra coisa que justifique, você tem de tá sempre disponível pra qualquer acionamento (P4).

Então assim, todos esses grandes eventos que a Polícia Federal acompanha e faz a segurança, em praticamente todos desde quando eu entrei, eu trabalhei. Como eu trabalho no setor operacional, a gente trabalha com segurança de dignitários também, aí estamos sempre nesses eventos. E também em operações e trabalhos em outros estados. E alguns períodos específicos, como o eleitoral, que tem que ir para os interiores e não tem escolha. E as vezes é ruim porque as viagens mais curtas as vezes são de surpresa (P6).

E assim, eu já participei de vários grandes eventos, como a Copa do Mundo, as Olimpíadas, a vinda do Papa, a Copa América, todos esses eventos já participei. Porque as vezes as pessoas pensam que o escrivão é só sentar e digitar, mas não é. É muito vasto. As vezes precisa viajar, agora final do ano eu fui pra segurança do Bolsonaro, na posse. Você pode fazer muitas coisas (P10).

Outra unidade de registro mencionada pelas policiais foi a serviço administrativo, com 4 citações. Segundo elas, principalmente entre as delegadas que assumem chefia ou já assumiram, o trabalho administrativo demanda muito tempo e acaba atrapalhando a atividade fim:

Das atividades administrativas, como chefe, a gente não tem uma estrutura de trabalho, o ideal é que nós tivéssemos, para que ficássemos apenas naquele patamar de decisão, mas não, a gente acaba ficando no patamar de operacionalizar tudo, desde o recebimento de documento e encaminhamento. Então, isso demora muito tempo. Isso são vários sistemas, a gente não trabalha com sistemas unificados. Muitas vezes a gente vai ter de tratar um mesmo documento em sistemas diferentes, os sistemas não conversam (P2).

Como eu estou na chefia, a parte administrativa é horrorosa, responder ofício, eu que distribuo os expedientes para todo mundo, férias, tudo passa pela chefia, isso é muito chato, e como só a fazendária daqui é maior que a superintendência regional todinha de Natal, então assim é muita coisa de administrativo. Tanto que eu divido, metade do meu dia eu faço coisa administrativa e aí a outra metade eu faço meus inquéritos (P3).

Então, na verdade é que a gente tem muita coisa pra fazer em pouco tempo. Então se tirasse essa parte administrativa, tudo seria bem mais tranquilo, porque a parte de instrução de inquérito já requer bastante tempo. Na Delegacia que eu tô, a pauta da manhã é lotada, então não sobra muito tempo para fazer outras coisas. A gente passa a manhã fazendo audiência, então se tivesse alguém pra auxiliar nessa parte, seria bem mais tranquilo (P4).

O fator atividades burocráticas, também teve 4 menções. Para elas, o excesso de burocracia acaba por dificultar e atrasar alguns processos, conforme discursos a seguir: “Não gosto muito de fazer flagrante, porque é muito burocrático, trava muito. Você tem a impressão que as coisas não andam.” (P10).

Assim eu acho que a gente é muito submetido à burocracia, tem burocracia demais, além do que precisa, eu acho que muitas coisas poderiam ser resolvidas mais rapidamente. E principalmente dentro da nossa demanda aqui que é muito grande. Algumas coisas poderiam ser desburocratizadas, sim. Mas tem coisas que a gente sabe que também são necessárias, entendeu?! Mas assim, a burocracia é muito grande (P5). Tem muita coisa que eu não gosto, do inquérito mesmo, eu acho que é tudo muito engessado, muito burocrático, tem um carimbo de data, um carimbo disso, daquilo, eu detesto. Eu detesto os carimbos (risos), eles não vão impactar no resultado final da investigação, se eu fiz o carimbo de conclusão e de data. Então, eu fico muito aborrecida com esse tipo de coisa (P11).

Por fim, na unidade atividades específicas, mencionada por 5 vezes, foram agrupadas outras atividades realizadas pelas profissionais, que, no entanto, elas não gostariam de fazê- las, tais como: eleitoral (P1), transportar preso (P6), entregar intimação (P7), acompanhar preso (P8) e passaporte (P9).

Ainda com o intuito de entender a percepção das policiais sobre sua profissão, elas foram indagadas a respeito das dificuldades e incômodos que enfrentaram e ainda enfrentam no exercício de sua profissão. A fim de analisar a unidade de contexto dificuldades/incômodos foram feitas as seguintes perguntas: “Você enfrentou ou enfrenta alguma dificuldade no exercício de sua profissão? Se sim, quais?”, “Como foi e como é sua relação com os colegas policiais homens? Como você foi e como é vista e tratada por eles?”, “Percebe alguma diferença na forma como é vista pelos investigados, presos, advogados, testemunhas e o público em geral atendido, em relação aos policiais homens?”, “Você pensou em desistir da profissão? Se sim, por quê? ” e “O que mais lhe incomodava ou incomoda na sua rotina como policial federal?”. Como respostas às indagações foram identificadas onze unidades de registro, conforme figura a seguir:

Figura 8- Dificuldades/incômodos

Fonte: Dados da pesquisa (2019)

A unidade mais expressiva, que obteve treze menções ao longo do discurso das policiais, foi o machismo. Segundo as entrevistadas, há diversas situações machistas enfrentadas por elas no decorrer da prática profissional, as quais geram desconforto e dificuldades, tais como: desconfiança ou piadas por parte dos colegas homens, assédio e falta de respeito com a autoridade feminina. Conforme observado pelos seguintes discursos:

[...] e o que eu percebo é que nos trabalhos mais operacionais há uma certa desconfiança da sua capacidade por ser mulher, nos trabalhos mais burocráticos nós não percebemos tanto isso, mas nos trabalhos mais operacionais sim. É como se primeiro você tivesse que mostrar que sabe ou que é boa naquilo para que os colegas sintam confiança e passem a confiar no seu trabalho. As delegacias mais operacionais só têm uma ou duas mulheres no máximo. É nítido que as mulheres são designadas para os trabalhos mais burocráticos. Já passei por uma situação que me deixaram responsável por organizar o almoço, eu não era substituta da chefia, não

era responsável, era porque eu era mulher e organizar almoço era coisa de mulher. Eu até brinquei no dia que não tinha nem feito concurso pra promoter. E eu vi uma outra situação também, de uma colega recém ingressa na polícia, querendo fazer trabalho operacional, ser obrigada a ser lotada no setor de estrangeiro porque lá tinha atendimento ao público (P1).

[...] eu tava em Salgueiro, que são as ilhas de plantação de maconha, e aí tinha uma amiga minha que é muito amiga, ai iam dois policiais para cada ilha, a gente ia de helicóptero e ia deixar lá, né?! Aí eu disse que ia eu e a outra colega e disseram que não poderia ir duas mulheres. Ai foi uma confusão, perguntei porque não poderia ir duas mulheres, se estávamos indo todas duas com arma longa e falei que eles não estavam mandando suas mães irem e sim, duas policiais preparadas. Foi a única vez na vida que eu arrumei barraco, não queriam deixar porque acharam perigoso. Na verdade, eu acho que é uma forma de machismo, o protecionismo (P3).

Relatos estes que corroboram com os estudos de Capelle e Melo (2010) e Souza (2014) com policiais militares, em que as mulheres são postas em atividades menos operacionais e mais de atendimento ao público, burocráticas e administrativas, em razão de ligarem a imagem feminina a fragilidade e devido ao machismo presente nesses ambientes.

O machismo muitas vezes aparece em forma de piada ou implicância, conforme policiais: “Quando eu entrei aqui fui bem recebida e tal, mas tinha aquelas piadinhas, de tipo dizer que minha arma era o batom, sabe?! Existia mais antes, mas hoje ainda tem umas cabecinhas antigas.” (P10).

Teve também uma situação que foi em uma reunião em que os servidores enumeravam para o chefe da delegacia algumas coisas que estavam faltando. Eu e uma outra colega, mencionamos sobre a necessidade de informar junto à SR a compra de coletes femininos, pois na delegacia só tinha um e toda vez que tinha operação, era uma correria das mulheres para pegar esse único colete. E aí o chefe olhou para nossa cara e perguntou se precisava de colete rosa, eu não contei pipoca, disse na lata que não precisava, que bastava caber meus peitos. Ele mudou de assunto na hora. A PF só distribuiu coletes femininos em 2016, salvo engano. Antes que tínhamos que pegar os menores masculinos. (P1)

Olha para tu ter ideia como o povo aqui é tão machista, porque assim, quando eu fui removida para cá, eu tinha um bebê e o pessoal que escolhia as escalas, só me colocavam em feriado e final de semana eu, fui reclamar recebi piada. É, o povo é muito machista. (P7)

Ainda no âmbito do machismo, algumas entrevistadas afirmaram ter sofrido assédio, conforme relatos: “Existe o assédio, mas você tenta contornar e eles acabam se acostumando com aquela situação.” (P10); “Quando eu tomei posse, logo no início, eu fui bastante assediada, mas assim, nada demais. O assédio no sentido da cantada.” (P13).

[...] eu tive problema uma única vez, mas não foi aqui, foi em Brasília. A gente estava numa vigilância. Éramos quatro policiais e a gente se hospedou num hotel. E a gente se hospedou dois casais e de noite o colega tentou passar a mão, sabe? Eu acordei com a mão dele em cima de mim. Mas assim, não passou disso. Eu dei um pincel nele e eu era a chefe dele. E relatei pro chefe, pro meu superior, o que tinha

acontecido, só que isso nunca foi adiante, né?! Mas também foi só essa vez, a gente continuei dividindo o mesmo quarto e ele não fez mais nada, mas eu dormia com a arma debaixo do travesseiro (risos). Dormia tensa, a noite seguinte eu dormi menos (P2).

O machismo se faz presente também em situações que a autoridade e posição da mulher não é reconhecida e ela sente a necessidade de se provar, conforme discursos a seguir: “Já ouvi falar de colegas que assumiram cargos de chefia e os subordinados do sexo masculino as vezes não gostam muito de estar subordinado a uma mulher e tudo mais.” (P4); “A mulher tem que se impor mais do que o homem para mostrar sua competência, né?! Triste, mas é a verdade, numa época dessas.” (P7).

Eu percebo que nós mulheres quando estamos no lugar de fala somos mais interrompidas do que um homem. Eu realmente nunca consegui observar muitos colegas fazendo oitivas na presença de advogados, mas o que eu percebo é que assim, a maioria dos desrespeitos dos advogados ou quando passam do ponto e interrompem, acontece mais com mulheres, pelo que eu já percebi. As minhas oitivas então, se eu não me posicionar e der uma cortada mesmo valendo, vários deles acham que podem interromper e fazer tipo a oitiva no meu lugar (P1).

E já aconteceu de chegar uma pessoa pra fazer uma denúncia e quando viu que era eu a delegada, chegar a perguntar pelo delegado. Ai quando informei que a delegada era eu e era comigo que ele teria que falar, ele disse que não falava com mulher. Então só falei que se ele quisesse falar era comigo mesmo e que não tinha negócio de homem e mulher, que éramos todos policiais. Ele ainda reclamou porque queria falar com um homem, mas no final acabou falando comigo. Isso já aconteceu várias vezes (P2).

Já enfrentei muita dificuldade, porque é um mundo muito machista, ne?! A gente sempre fica pra trás, pra você se sobressair, pra ser reconhecida, você tem que ser dez vezes melhor que eles. E nós somos melhores. Esse lado tem mais dificuldade. Tem também os conflitos porque tudo a gente tem que brigar pra ser reconhecida, é um mundo muito machista, ainda hoje é (P8).

Os discursos acima confirmam os estudos de Haarr e Morash (2013), com mulheres policiais nos Estados Unidos, em que a maioria delas afirmaram sentir a necessidade de se provar constantemente e têm que trabalhar mais que os outros para serem reconhecidas.

O relato da policial 4 evidencia as afirmações de Fogaça e Almeida (2014), que alguns homens policiais federais possuem um preconceito velado e se recusam a trabalhar com mulheres ou subordinados a elas. E corrobora com os estudos de Lombardi (2006) feito com engenheiros, em que os homens tem dificuldade de aceitar a liderança feminina.

Durante a análise das dificuldades e incômodos enfrentados pelas policiais, outra unidade de registro obteve inúmeras menções, sendo 12 no total: o sobreaviso. Conforme relatos a seguir:

A questão dos sobreavisos, né? O incomodo não é por tirar os sobreavisos, mas a forma como a gestão de recursos humanos trata o sobreaviso, ao contrário de quase todas as outras categorias, na Polícia Federal, o sobreaviso se você não for acionado é tido como hora de folga, então, no sobreaviso você fica presa em casa, você tem que atender os telefonemas todos, você não pode beber, você não pode sair da cidade, e na Polícia Federal não há nenhum tipo de remuneração, nem de compensação (P1).

O sobreaviso pra mim é uma dificuldade e incômodo também, não pela quantidade, mas porque é um tempo dedicado, não remunerado. É outra coisa que incomoda, porque a gente recebe um salário como qualquer trabalhador, por determinadas horas semanais e a gente trabalha muito mais que isso, no sobreaviso são 24 horas dedicadas, né?! Você não viaja, não se diverte nesse período, você não descansa, eu não consigo nem me desligar do telefone, eu tenho que ficar atenta ao telefone, porque se me ligar eu não ouvir, entendeu?! É complicado. Então, isso é muito ruim (P2).

O sobreaviso é muito ruim, quem é que não vai achar ruim, né?! Você passar a noite inteira pensando se vão te ligar e se te ligarem você vai ter que ir. Então, você reza pra ninguém fazer nada de errado, pra não ter que vir pra cá e cuidar do flagrante. E

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