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3 SOCIALIZAÇÃO PROFISSIONAL

3.1 Socialização e construção de identidade

O processo de socialização se dá pela interação entre os indivíduos. É por meio deste, que se adquire uma personalidade, aprende-se a viver em sociedade e a planejar a vida. Portanto, é um processo fundamental tanto para o ser humano quanto para sociedade (TURNER, 2000).

De acordo com Dubar (2005), a socialização não é apenas propagação de valores, regras e normas, mas um processo de construção de identidade, em que as vivências de cada um e a forma com que são interpretadas fazem parte desse processo, podendo ser reconstruídas ao longo do tempo. Socializar-se é assumir ser parte de grupos de referência.

Segundo Berger e Luckmann (2014, p. 167), “[...] o indivíduo não nasce membro da sociedade. Nasce com uma predisposição para a sociabilidade e torna-se membro da sociedade”. De acordo com os autores, essa sociedade tem que ser compreendida como um processo dialético constituído de três momentos: exteriorização, objetivação e interiorização. Apenas após concretizado esse grau de interiorização é que o indivíduo se torna parte da sociedade.

Logo no início da vida, as pessoas são inseridas em seus primeiros núcleos sociais, como a família, pré-escola ou orfanato, por exemplo. E essas relações, além de assegurar a supervivência, ajudam a delinear os valores sociais de cada um. Enquanto adultos são inúmeros os processos de socialização, e destes, advém os desafios, crescimentos e realizações. Essas interações entre indivíduos são constantes durante toda a vida e transformam as instituições humanas no decorrer da história (SPUDEIT; CUNHA, 2016).

A primeira forma de socialização, introduzida ainda na infância, é chamada de socialização primária. É nela que a criança assimila comportamentos e os interioriza. O processo posterior a essa primeira etapa, é chamado de socialização secundária, em que há a

inserção de um sujeito já antes socializado, em novos ambientes. Sendo a primeira, base para a segunda (BERGER; LUCKMAN, 2014).

O ciclo biológico dos seres humanos engloba o nascimento, crescimento e morte. No entanto, na sociedade, esse ciclo é medido por meio das fases de estudo e trabalho, como a pré-escola, escola, trabalho e aposentadoria. E é por meio deste que o indivíduo constitui sua identidade (HUGHES, 1958, 2016).

A fase adulta faz parte do ciclo vital e mesmo pessoas de faixa etária similar podem possuir características identitárias muito diferentes, pois estas advêm de vivências pessoais, considerando o ambiente social de cada um. A construção da identidade pessoal e social é fundamentada por meio dos papéis sociais assumidos pelos adultos, como o profissional, por exemplo (ANDRADE, 2016).

Sob essa ótica, cada indivíduo é composto por dois seres, o ser individual e o ser social. E apesar de estarem ligados, possuem conceitos que diferem entre si. Dessa maneira, o primeiro é constituído pelas características que dizem respeito somente a si mesmo e as vivências de cunho pessoal. O segundo é uma demonstração dos grupos aos quais fazem parte, como os preceitos religiosos, as tradições, as crenças morais e opiniões diversas (DURKHEIM, 2011).

A identidade de um sujeito é o que ele tem de mais relevante, e sua perda, é sinônimo, para Dubar (2005, p.125), “[...] de alienação, sofrimento, angústia e morte”. Ainda segundo o autor, essa identidade não é entregue ao nascimento, é formada quando criança, e, a partir de então, renovada no transcorrer do tempo. O indivíduo não a concebe só, ele necessita da opinião alheia. Ela é fruto das consecutivas socializações.

Segundo Berger e Luckmann (2014), a identidade é constituída por processos sociais. E quando consolidada, é conservada ou alterada pelas relações sociais. Esses processos são definidos pelo sistema social. De acordo com os autores:

A identidade é um fenômeno que deriva da dialética entre um indivíduo e a sociedade. Os tipos de identidade, por outro lado, são produtos sociais tout court, elementos relativamente estáveis da realidade social objetiva (sendo o grau de estabilidade evidentemente determinado socialmente, por sua vez). Assim sendo, são o tema de alguma forma de teorização em uma sociedade, mesmo quando são estáveis e a formação das identidades individuais é relativamente desprovida de problemas (BERGER; LUCKMAN, 2014, p. 222).

Machado (2003) identifica quatro tipos de identidade: a identidade pessoal, identidade social, identidade no trabalho e identidade organizacional. Conforme Santos (2005, p.123) “A identidade, enquanto característica singular de um indivíduo que o distingue do outro,

implica, paradoxalmente, uma dualidade: a identidade pessoal (ou a identidade para si) e a identidade para os outros”.

A estruturação da identidade é um processo ativo entre os traços individuais e as percepções de cada um e a influência do contexto externo social. A identidade pessoal é, então, a forma com que o sujeito recebe e assimila os estímulos sociais, culturais e psicológicos de diferentes ambientes (SANTOS, 2005). De acordo com Dubar (2005), entre os fatos mais importantes no processo de construção da identidade social está o egresso do ensino escolar e o ingresso no mercado de trabalho, considerando-se que as escolhas realizadas durante o período escolar, exprimem uma antecipação relevante do futuro status social.

A construção da identidade engloba um processo de atenção e análise que acontece em todos os graus do trabalho psíquico, pelo qual o sujeito julga a si próprio de acordo com o que percebe ser a forma que os outros julgam e conjectura também, o modo de julgamento dos demais em relação a si, baseando-se no jeito que se percebe em comparação com os demais e com os quais considera significativo (ERIKSON, 1976).

Portanto, esse processo de construção identitário, ocorre ao longo de toda a vida. Tendo início na socialização primária, na infância, dentro do núcleo familiar, posteriormente, passando pela socialização secundária, no ambiente escolar e outros grupos sociais, chegando, por fim, na socialização profissional. Em cada ciclo, o espaço social influencia os sujeitos e é influenciado por eles. E a identidade é construída por meio dessas influências (BOULART; LANZA, 2007).

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