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A institucionalização do Complexo Industrial Portuário de Suape pelo governo de Pernambuco como pólo de desenvolvimento regional (1970-1990)

CAPÍTULO 3 ORIGEM DO COMPLEXO INDUSTRIAL PORTUÁRIO SUAPE E OS SEUS MOMENTOS DE IMPLEMENTAÇÃO (1955-2014)

3.2. A institucionalização do Complexo Industrial Portuário de Suape pelo governo de Pernambuco como pólo de desenvolvimento regional (1970-1990)

A partir do decreto nº 2845, assinado pelo governador de Pernambuco Eraldo Gueiros Leite, publicado no Diário Oficial de 1973, declarou-se pública a desapropriação das terras, benfeitorias, a área de 33.000 ha. em que foi implantado o Complexo Industrial Portuário de Suape. No mesmo ano, foi aberta a licitação para concorrência da elaboração do plano diretor de Suape, vencido pela proposta da TRANSCON S/A CONSULTORIA TÉCNICA (BARBALHO, 1974, p. 23).

Em 1976, foi criado um grupo interministerial responsável por elaborar a viabilidade técnica, econômica e financeira do projeto. Esse grupo de trabalho entrou em ação com a construção das obras de infraestrutura portuária, sistema viário interno, abastecimento de água, energia elétrica e telecomunicações. Finalmente, em 1978, foi institucionalizado o Complexo Industrial Portuário de Suape, por intermédio da lei estadual nº 7.763, com a finalidade de administrar a implantação deste complexo (SUAPE/GOVERNO PERNAMBUCO, 2012).

O Complexo Industrial Portuário de Suape foi formalizado como projeto e três documentos foram imprescindíveis para esse processo: 1) Suape: ideia de um porto industrial para o Nordeste e para Amazônia, de 1974; 2) Suape; complexo industrial

portuário, de 1978, do Governo do Estado de Pernambuco; e 3) O Complexo Industrial Portuário de SUAPE relações interindustriais e oportunidades de investimento, de 1982, produzido pela Secretaria Extraordinária para Assuntos Relativos à implantação do Complexo Industrial Portuário de Suape (SEAS) e pelo Instituto de Desenvolvimento de Pernambuco (CONDEPE), no qual foram divulgadas as oportunidades de investimento no complexo em busca da atração de recursos.

O documento Suape: ideia de um porto industrial para o Nordeste e para Amazônia foi formulado por Edison Rodrigues Barbalho e auxiliado pela Secretaria de Coordenação Geral de Recife, em 1974. A formalização do projeto de Suape surgiu da influência do Porto Europort du SUD na França (a 50 km de Marseille) e do Porto Kashima no Japão (concluído em 1975). Os objetivos iniciais da instalação do Porto de Suape estavam claros para o referido documento, redução do custo de transporte de mercadorias40, no sentido interior do Brasil para fora, por meio de exportações, bem como no sentido contrário, as importações. A demanda gerada nesse complexo ofereceria condições para a instalação de um parque industrial, complementar as suas atividades (BARBALHO, 1974).

Idealizamos, o que chamamos PORTO ESCAVADO, uma concepção moderna em matéria de portos, baseada principalmente no sentido de conservá-lo sempre atualizado, no que diz respeito ao seu uso. Sabemos que um porto fica obsoleto dentro de um período de 40 a 100 anos. O que pensamos possa ser construído em SUAPE, graças a sua forma em T, jamais ficaria obsoleto, pois restaria a opção de prolongamento de sua parte central. Por outro lado, idealizamos, também que um porto deste porte e nesta situação geográfica encravado em um distrito industrial teria que possuir indústrias implantadas com frente para o próprio ancoradouro, ou seja a distância zero (0) do ponto de embarque como mais um atrativo para sua implantação e pelo seu menor custo, visto que cada indústria disporá, convenientemente, de suas próprias instalações portuárias (BARBALHO, 1974, p. 30).

No projeto inicial de Suape dois pontos foram apresentados, mesmo que marginalmente pelo autor, a educação seria uma consequência da instalação de

40 A partir de 1974, a tonelagem média dos grandes navios transportadores no comércio internacional aumentou de 65 mil para 150 mil toneladas e tornou-se a nova tendência mundial, o que exigiu que os portos ampliassem a sua profundidade para atender a essa medida.

indústrias complementares à demanda do porto. Em outras palavras, a qualificação da mão de obra viria a reboque da construção do setor da construção naval, petroquímica, siderúrgica, infraestrutura (ferrovia, aeroporto, rodovias) e energia elétrica. A qualificação dos trabalhadores nordestinos seria uma alternativa para gerar empregos e reduzir o fluxo de migração em direção ao Sudeste (BARBALHO, 1974).

Neste documento, o porto funcionaria como um facilitador para a importação de petróleo do Golfo Pérsico, por meio de navios com capacidade para 500.000 toneladas, o que reduziria os custos de transporte e consequentemente o valor dessa matéria prima. (BARBALHO, 1974).

Segundo Barbalho (1974), o objetivo central do Porto era promover efeitos multiplicadores com impacto no aumento do emprego para os municípios do seu entorno, o que solucionaria o problema da evasão de mão de obra para o Centro Sul do país (Rio de Janeiro e São Paulo).

O documento Suape: complexo industrial portuário, produzido pela Secretária Extraordinária para Assuntos de Suape (SEAS) e sob a supervisão do governo do estado de Pernambuco, em 1978, apresentou o primeiro plano diretor do Complexo Industrial Portuário de Suape - PE. A justificativa para a instalação dessa obra obedeceu a alguns pontos importantes: a localização geográfica em relação às grandes rotas de navegação; o ótimo posicionamento entre a região metropolitana de Recife e a infraestrutura disponível, em termos de mobilidade (aeroportos, rodovias, ferrovia, sistema de distribuição de energia elétrica); os diversos incentivos fiscais federais e estaduais seriam aplicados no empreendimento; a grande contingência de mão de obra para a oferta de vagas nos segmentos industriais; e o apoio dos centros de formação e qualificação profissional nesse setor, através do SENAC e SENAI.

O documento Suape; complexo industrial portuário propôs o planejamento para a ocupação do território e a disposição das indústrias em três escalas, denominadas de Zona Industrial. A primeira Zona Industrial (ZI-1) seria responsável por acomodar as indústrias que dependeriam dos terminais portuários para receberem matérias-primas utilizadas para a produção de seus produtos. Na segunda Zona Industrial (ZI-2), seriam localizadas as indústrias que derivariam das da ZI-1. E, na terceira Zona Industrial (ZI- 3), por fim, seriam implantadas as indústrias periféricas e independentes atraídas pela dinâmica econômica do Porto de Suape (SEAS, 1980).

A primeira etapa de instalação do Complexo Industrial Portuário de Suape foi prevista para ser concluída em 1985, sendo as suas premissas os investimentos em unidades industriais nos seguintes segmentos: fertilizantes, cimento, alumínio metálico, unidade siderúrgica, transferência de derivados de petróleo do terminal portuário de Recife, sucroquímicas, construção de um estaleiro naval e de um terminal pesqueiro (SEAS, 1980).

Os empreendimentos industriais ou agrícolas projetados pelo Plano Diretor do Complexo Industrial Portuário de Suape foram amparados pelos incentivos fiscais provenientes da Sudene, por intermédio do mecanismo de investimento FINOR, do BNDE e do BNB. No âmbito estadual, o governo de Pernambuco ofereceu aos empresários estímulos fiscais e dedução do Imposto sobre a Circulação de Mercadoria (ICM), que foram concedidos pelo Banco do Estado de Pernambuco (BANDEPE), através de suas carteiras de Crédito Geral, Industrial e Rural (SEAS, 1980).

Em 1982, foi produzido o documento O Complexo Industrial Portuário de SUAPE relações interindustriais e oportunidades de investimento pela Secretaria Extraordinária para Assuntos Relativos à implantação do Complexo Industrial Portuário de Suape (SEAS), em parceria com a Secretaria de Planejamento de Pernambuco (SEPLAN) e com o Instituto de Desenvolvimento de Pernambuco (CONDEPE). A extensão desse esforço conjunto entre essas instituições de planejamento resultou na identificação de oportunidades para investimento da iniciativa privada nos segmentos que poderiam proporcionar maior dinamismo no complexo portuário.

De acordo com o plano diretor do Complexo Industrial Portuário de Suape, organizado pelas empresas TRANSCON e APL, em 1973 e 1974, foram priorizados investimentos setoriais e estratégicos. Os segmentos industriais com maior oportunidade de propulsão foram os que receberam centralidade pelo planejamento das diretrizes dele. Seu objetivo foi providenciar recursos para equilibrar a balança comercial, segundo a estratégia que conciliaria exportação como gerador de divisas e substituição de importações (SEAS/CONDEPE, 1982).

Baseado nos critérios e restrições mencionadas, o Plano Diretor apontava oportunidade de investimento nos setores de fertilizantes, minerais não metálicos, sucroquímico, metalurgia, mecânica, petroquímico e material elétrico e de comunicações. Recomendava,

por último, a utilização do Porto de Suape para abrigar tancagens para álcool, melaço e produtos químicos líquidos, além da implantação de sistemas para recepção de trigo e açúcar, que abasteceriam o Nordeste Setentrional Oriental região de influência direta de Suape (SEAS/CONDEPE, 1982, p. 16).

A conjuntura internacional da década de 1970, que resultou das crises do petróleo de 1973 e 1979, modificou o planejamento inicial formulado pelo plano diretor de Suape e o seu redirecionamento para uma nova política energética. A principal alteração foi o abandono do projeto que previa a implantação da refinaria de petróleo, em Suape. Em contrapartida, a ideia era incentivar uma política energética calcada no aproveitamento de recursos minerais, como o carvão, o xisto betuminoso, e na condição do estado de Pernambuco de maior produtor de açúcar e álcool, por intermédio do setor sucroalcoolquímico (SEAS/CONDEPE, 1982).

As oportunidades de investimento em Suape recomendadas pela SEAS e CONDEPE (1982) foram na direção de incentivar pontos estratégicos com poder de germinação para a economia regional. Entre eles, foram destacados: 1) metalurgia e mecânica, para atender à demanda que existe e que poderia ser gerada por conta de Suape, em empreendimentos industriais nos subsetores de fundição, forjaria, caldeiraria pesada e central de laminação; 2) material elétrico, eletrônico e de comunicações, com a construção de hidrelétricas para aumentar a oferta de geração, transmissão e transformação de energia; 3) minerais não metálicos, para a elaboração de estudos que viabilizassem a utilização de derivados da gipsita natural, proveniente da região do Araripe, o que abriria oportunidades para a sua aplicação na indústria química; e 4) sucroquímica, setor que oferece aplicações em segmentos dele derivados, tais como sacarose e melaço.

O processo de instalação do Complexo Industrial Portuário de Suape foi questionado por intelectuais através do Manifesto contra o Complexo de Suape, sob a liderança de Clovis Cavalcanti, em 197541.

41 O grupo de intelectuais foi formado por Clóvis Cavalcanti, diretor do Departamento de Economia do Inst. Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais; Renato S. Duarte, Professor do Mestrado em Economia e da Faculdade de Ciências Econômicas da UFPE; Roberto M. Martins, Coordenador do Curso de Mestrado em Sociologia da UFPE; Nelson Chaves, Professor Titular da Faculdade de Medicina da UFPE; José Antônio Gonsalves de Mello, Professor Titular de História da UFPE; Renato Carneiro Campos, Diretor do Departamento de Sociologia do Inst. Joaquim Nabuco de

Esse manifesto42 apontou os impactos que poderiam ser gerados no território de Suape pela instalação do complexo industrial portuário. Cavalcanti apresentou uma critíca ao estilo de desenvolvimento defendido pelo Estado, de ampliação da renda per capita através de grandes projetos, não mensurando outros aspectos além dos econômicos. As instituições em conjunto com o Estado se reuniram e definiram as diretrizes da instalação do complexo sem a participação dos cidadãos. Para o teórico supracitado, os estudos de base formulados pelo consórcio responsável TRANSCON e DIPER foram limitados, pois pouco produziram no sentido de avaliar o real impacto do complexo no território (CAVALCANTI, 1975).

Cavalcanti (1975), em conjunto com outros intelectuais que participaram do manifesto, alertou para uma questão pouco explorada até então pelos planos e programas de desenvolvimento econômico, a questão ambiental. A maior preocupação desse grupo de intelectuais é referente à organização das zonas industriais aliada ao descuido das autoridades responsáveis em relação aos impactos que poderiam ser gerados no meio ambiente

Não é só Suape que pagará, em termos de mutilação do meio ambiente e de deterioração da qualidade da vida, por conta do complexo que se deseja irrefletidamente, no sentido aqui comentado, instalar ali. Todo um conjunto de recantos preferidos por uma população que se descobre asfixiada no ambiente despojado de locais de finalidade recreativa do Recife serão também sacrificados, numa proporção cujos contornos certamente se ignoram no momento (CAVALCANTI, 1975,

p. 5, disponível em http://cloviscavalcanti.blogspot.com.br/p/manifesto-suape.html.

Consultado em jan/2015).

Pesquisas Sociais; e João de Vasconcelos Sobrinho, Chefe da Estação Ecológica de Tapacurá e Titular da Disciplina de Ecologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

42 Disponível em http://cloviscavalcanti.blogspot.com.br/p/manifesto-suape.html. Consultado em jan/2015).

3.3 A ascensão do Complexo Industrial Portuário Suape como polo estratégico do

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