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A comemoração da páscoa nos dias de Jesus era feita com os elementos usados na primeira páscoa – o cordeiro e os pães asmos (sem fermento) – e mais quatro elementos:

a) Uma taça de água salgada, para relembrar as lágrimas derramadas no Egito e as águas salgadas do mar Vermelho, que os israelitas atravessaram de pés enxutos;

b) Várias ervas amargas, para recordara amargura da escravidão e o hissopo usado para borrifar o sangue do cordeiro nas ombreiras e na verga da porta da casa dos israelitas, quando Deus mandou a praga da morte dos primogênitos;

e)

Uma massa feita de maçã, romã, tâmara e nozes, chamada carosheth,

para recordar o bano que usavam no Egito para fazer tijolos; pedaços de casca de canela eram colocados na sopa para lembrara palha que usavam para secar e queimar os tijolos;

d)

Quatro copos de vinho, pua recordar-lhes as quatro promessas registradas em Êxodo 6.6,7: "Eu sou o SENHOR, e vos tirarei de debaixo das cargas do Egito, vos livrarei da sua servidão, e vos resgatarei com braço estendido e com grandes manifestações de julgamento. Tomar-vos-ei por meu povo e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas do Egito". Durante a celebração cantavam os Salmos 113 a 118 e, para encerrar, o Salmo 136.

Lucas registra que Jesus, aos doze anos de idade, participou da comemoração da páscoa, em Jerusalém, em companhia de seus pais (Lc 2.41-50). Provavelmente esta participação se repetiu durante toda a vida terrena, de Jesus.

Em uma quinta-feira, possivelmente no dia 6 de abril do ano 30, Jesus celebrou a páscoa pela última vez e instituiu a Santa Ceia. "Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, aberuçoandoo, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai,

comei; isto é o meu corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo

dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da (nova) aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados" (Mt

26.26-28).

A páscoa apontava, ao mesmo tempo, para o passado e para o futuro. Era a comemoração da saída do Egito e a prefiguração do sacrifício do Messias. O cordeiro pascal apontava para Jesus. Mas o futuro tinha chegado. Jesus seria sacrificado no dia seguinte, como "o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29). Seria estabelecida uma nova aliança entre Deus e seu povo, onde os laços de sangue seriam substituídos por laços de fé. Na antiga aliança, o povo de Deus era constituído pelos descendentes de Abraão; na nova aliança, é constituído por todos aqueles que recebem Jesus como

Salvador e Senhor (Jo 1.11,12; G1 3.7-9). Portanto, era

necessário substituir a páscoa por uma celebração que representasse a nova situação. E, por isto, Jesus instituiu a Santa Ceia.

"A Ceia do Senhor é o sacramento que comemora e proclama o sacrifício único, perfeito e completo que Cristo fez para a nossa redenção. Ela se caracteriza por apresentar uma ou mais verdades espirituais mediante sinais visíveis e externos. A Ceia do Senhor é uma representação simbólica da morte de Cristo (1 Co 11.23-26), um símbolo da nossa participação no sacrifício e na vitória de Cristo (Jo 6.53) e, também, um símbolo da união espiritual de todos os crentes (1 Co 10.17; 12.13). A Ceia do Senhor é um meio de graça, isto é, um meio que Deus usa para nos alimentar espiritualmente, promovendo o nosso crescimento espiritual"?

Os Elementos da Santa Ceia

Na Santa Ceia, os crentes reunidos comem juntos um pedaço de pão e bebem, também juntos, um cálice de vinho. O pão e o vinho (ou suco de uva) foram criados por Deus e são usados na celebração deste sacramento para nos comunicar uma

realidade que vai além deles, mas que não se choca com eles. Mas a Santa Ceia não é apenas pão e vinho; ela inclui também outros elementos. O Rev. Alfredo Borges Teixeira, em seu livro Dogmática Evangélica, afirma:

Para cumprira sua finalidade, a Ceia representa várias verdades espirituais por meio de sinais. Estes, afora os elementos materiais do pão e do vinho, incluem atos do ministro e do comungante. Diversas coisas são significadas, no simbolismo claro deste sacramento:

a) o pão e o vinho escolhidos por Jesus, para representar o seu corpo e o seu sangue, simbolizam adequadamente o seu sacrifício e o efeito do mesmo;

b) os atos do ministro que, imitando a Cristo (Mt 26.26), toma o pão, dá graças e

parte-o e depois toma o vinho e o derrama no cálice, simbolizam o sacrifício de Cristo – o seu corpo ferido na cruz e seu sangue ali derramado; e os atos seguintes do ministro dando o pão e, em seguida, o vinho aos crentes para que o comam e bebam, simbolizam a oferta que o Senhor faz ao seu povo dos benefícios da sua morte;

c) e os atos do comungante, estendendo a mão para receber o pão e o vinho e depois comendo um e bebendo o outro, simbolizam que ele reconhece a necessidade que tem de se alimentar espiritualmente do sacrificio de Cristo, do mesmo modo como o seu corpo precisa do alimento natural; simbolizam também que ele aceita o sacrifício que Jesus fez para o salvar e o recebe em sua alma do mesmo modo por que recebe em seu corpo os sinais daquele;

d) o efeito do pão e do vinho, como bons alimentos, fornecendo bem-estar e força ao corpo, simboliza a segurança e o gozo espiritual da fé em Cristo;

e) o fato de serem estes alimentos servidos na mesma mesa, e participados por todos os irmãos presentes, simboliza ainda a unidade da Igreja ("somos um só pão e

um só corpo", diz Paulo em 1 Corinfios 10.17), e o amor fraternal da comunidade cristã.°

Deus criou todas as coisas, por isso ele pode, segundo a sua vontade, escolher elementos da natureza para nos falar através deles. E é isso que ele faz através da Santa Ceia.

A Presença de Jesus nos Elementos da Ceia

interpretadas de quatro maneiras diferentes.

a) A Igreja Católica Romana afirma que, mediante a consagração dos elementos, pelo sacerdote, a substância do pão (hóstia) se transforma em corpo de Cristo, e a substância do vinho se transforma em sangue de Jesus. Por isso, esta doutrina é chamada transubstanciação.

b) Os luteranos e afins rejeitaram a transubstanciação. Eles entendem que o pão continua sendo pão e o vinho continua sendo vinho. Mas, junto com as substâncias do pão e do vinho, no ato da celebração, estão também as substâncias da carne e do sangue de Jesus. Por isso essa doutrina é chamada consubstanciação.

0 Z wín g l i o r e j e it o u a t r a n s u b s t a n c i a ç ã o e a consubstanciação. Para ele a Ceia é um memorial do que Cristo fez pelos pecadores e um ato de reafirmação de fé do participante. Esta doutrina chama-se memorial. É a doutrina adotada pela maioria das igrejas batistas e pentecostais.

d) Calvino, embora herdeiro do movimento de reforma iniciado por Zwínglio, não concordou com a interpretação memorial. Para ele o pão e o vinho não se transformam em outra substância, como afirma a transubstanciação. A substância do corpo e do sangue de Jesus não se soma à s u b s t â n c i a d o p ã o e d o v in h o , c o m o i n t e r p r e t a a consubstanciação. Mas, também, a Ceia não é um simples

memorial.Jesus está presente espiritualmente no pão e no vinho. Esta presença espiritual é tão real como o pão e o vinho. Por isto, ao participar do pão e do vinho, o crente participa espiritualmente do corpo e do sangue de Jesus. E assim como pão e vinho alimentam o corpo, a presença espiritual de Jesus na Ceia alimenta espiritualmente o participante. Esta é a doutrina aceita pela Igreja Presbiteriana.

Os Benefícios da Participação na Ceia

A doutrina da presença espiritual de Jesus nos elementos da Santa Ceia, que está intimamente ligada à concepção dos benefícios da participação na Ceia, foi resumida pelo teólogo Charles Hodge, da seguinte forma: "As virtudes e os efeitos do sacrifício do corpo do Redentor na cruz se lucra presentes no sacramento e, neste, são comunicados ao participante digno pelo poder do Espírito Santo, que utiliza o sacramento como seu instrumento, segundo sua vontade soberana".'

Reconhecemos que é muito mais cômodo adotar o ensino de Zwínglio de que a Santa Ceia é apenas um memorial. Mas, não é possível sustentar tal doutrina diante do ensino de Paulo em 1 Coríntios 11.23-32. Se a Ceia é apenas um memorial, como sustentar que

"aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor"? E que "quem come e bebe, sem discernir o corpo, come e bebe juizo para si"? E como entender que, em Corinto, havia muitas pessoas fracas e doentes, e algumas até tinham falecido, pelo fato de haverem participado da Santa Ceia de maneira indevida? Tudo isso evidencia que a Santa Ceia é mais do que um memorial do que Cristo fez pelos pecadores e um ato de reafirmação de fé do participante.

A Ceia do Senhor é um meio de graça, isto é, um meio que Deus usa para nos nutrir e fortalecer espiritualmente. Por isto, devemos participar dela regularmente. Na antiga aliança, o israelita que deixasse de participar da páscoa, serajustificativa, era eliminado do povo de Deus (Nm 9. 13). Na nova aliança, o crente que deixa de participar da Ceia do Senhor, sem justificativa, está fechando um canal de bênçãos pua a sua vida e se aniquilando espiritualmente.

Mas não basta participar, é necessário também que a participação seja correta. O apóstolo Paulo escreveu aos coríntios que a causa de existir entre eles "muitos fracos e doentes" (1 Co 11.30)

era a falta de discernimento na participação na Ceia do Senhor. O crente deve examinar-se a si mesmo, preparar-se e participar da Ceia do Senhor. Quem se examina e deixa de se preparar e de participar, está negando o Senhor Jesus Cristo; está dizendo "sim" ao pecado e "não" a Cristo.

"Qual é pois, a função da Santa Ceia? A de uma balança nas contas, a de uma limpeza na casa, a de um banho no corpo (_.).Isso tudo não pode ser adiado, segundo interesses pessoais, sem graves prejuízos.116

Conclusão

Os dois sacramentos instituídos por Jesus Cristo – o batismo e a Ceia do Senhor – são sinais e selos do pacto da graça. Eles são, também, o instrumento que Deus usa para fazer uma diferença visível entre os que pertencem à igreja e os de fora. Por isto, os que são de Cristo devem receber o batismo e participar regulamente da Ceia do Senhor.

Capítulo 26 ______________

o Cristão e a

Responsabilidade