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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.3 Instruções & Visualizações Dinâmicas

Uma mudança de perspectiva foi observada a partir de uma observação longitudinal das pesquisas da revisão, e auxiliada por relatos de pesquisadores que acompanharam estas mudanças. Os primeiros esforços neste segmento, ainda na década de 1990, examinavam de forma comparativa diferenças entre apresentações dinâmicas e estáticas. Na primeira década de 2000, uma segunda geração de estudos se configurou com a intenção de ir além da distinção e comparação entre o uso de recursos estáticos ou dinâmicos, potencialmente influenciada pelos resultados inconclusivos das investigações comparativas.

As pesquisas iniciais neste segmento objetivavam determinar se alunos aprendiam melhor com uma mídia quando comparada a outra (Mayer & Moreno, 2002; p.88). A expectativa de que formas animadas seriam mais eficientes diante de um objetivo instrutivo/educativo guiavam os estudos deste período. Segundo (Krahmer & van Hooijdonk, 2008; p.51) as pesquisas buscavam demonstrar as vantagens das dinâmicas, como benefícios e possível facilitação do aprendizado. Diante da capacidade de retratar ações de forma explícita, se formou a suposição de que deveriam ajudar os alunos a desenvolver o entendimento, contornando a necessidade de reconstruir a dinâmica de gráficos estáticos através de animação mental (Fischer et al, 2008).

Apesar do apelo intuitivo e entusiasmo em utilizar representações dinâmicas na reprodução de sequências de comandos (Hegarty, 2004; p. 344), os experimentos conduzidos apresentaram resultados inconsistentes e ambíguos, e não foram capazes de demonstrar o potencial atribuído. Após numerosos estudos não existia a evidência empírica suficiente “para indicar que o uso generalizado de visualizações dinâmicas resultaria em qualquer benefício substancial para os aprendizes” (Chandler, 2004; p. 354). Aos poucos ficou claro que a oferta de instruções na forma de representações dinâmicas, não era garantia de que o aprendiz seria capaz de extrair os aspectos principais ou as informações essenciais para compreensão da mesma (Lowe, 1999, 2004).

Algumas meta-análises buscaram investigar este período, entre elas, a revisão conduzida por Tversky, Morrison & Bétrancourt (2002) se destacou ao fornecer um excelente panorama destes primeiros achados. As pesquisadoras revisaram mais de 20 estudos, evidenciando que a maioria não foi capaz de aferir/demonstrar vantagens resultantes do uso de gráficos animados, e apenas um número pequeno obteve sucesso em identificar vantagens no processo de aprendizado. Além disso, a pesquisa foi capaz de identificar fatores

aparentemente responsáveis pelas inconsistências nos resultados, entre eles: graves problemas metodológicos resultantes de uma falta de controle na condução dos experimentos invalidavam uma comparação sobre os efeitos no aprendizado. Por exemplo, foi identificado que em alguns casos o conteúdo das instruções empregadas nos experimentos comparativos não eram equivalentes à nível informacional, assim como, a alta complexidade das animações utilizadas nos experimentos e a velocidade das animações instrutivas poderiam ter influenciado as desvantagens aferidas. A partir do aprendizado possibilitado pelas primeiras investigações que compararam displays estáticos versus dinâmicos, ficou evidente que não existia uma simples vantagem das mídias dinâmicas sobre as estáticas. E como consequência, alertas foram direcionados ao entusiasmo inicial que concedeu superioridade cega às mídias dinâmicas e elevando o controle no desenvolvimento de experimentos para neutralizar os fatores que invalidaram as pesquisas anteriores.

Os estudos seguintes passaram a abordar possíveis desafios e vantagens do aprendizado, e uma das características das pesquisas neste segundo período foi “um cuidado de não inferir superioridade ou um maior valor educativo nas mídias dinâmicas sobre as estáticas” (Hegarty, 2004). Apesar do potencial atrelado ao uso de mídias dinâmicas para a instrução e treinamento não ter sido desconsiderado por completo, observou-se uma maior aceitação e compreensão de que a adoção de visualizações dinâmicas não seria uma solução universal.

Alunos aprendem mais a partir de animações do que com outros modos de apresentação? Segundo Mayer & Moreno (2002) estas questões advêm de uma clássica tradição de pesquisas sobre o uso de mídias, que há tempos, foram percebidas como inapropriadas e improdutivas. Nos estudos mais recentes, não se observa uma busca generalizada por efeitos advindos das mídias, e em seu lugar, o interesse em identificar as condições que precisam existir para criar ferramentas úteis no processo de aprendizagem (Mayer & Moreno, 2002; p. 88). Ao invés de unicamente comparar o uso de diferentes mídias, as pesquisas passaram a investigar isoladamente questões mais sutis e específicas, analisando fatores ou aspectos potencialmente responsáveis por efeitos relativos à facilitação do aprendizado (Tversky et Al, 2002, p. 250).

Por fim, como resultado da leitura de diferentes artigos durante a composição desta revisão, houve diferentes observações importantes que serão sintetizadas e pontuadas a seguir: § Os estudos analisados abrangem a investigação dos efeitos de diferentes fatores na

Lowe & Schnotz, 2008; Spinillo, 2010), na flexibilidade de controle dos vídeos/animações (Souza, 2008; 2011), níveis de interação permitida (Schwan & Riempp, 2004), uso e combinações de mídias (Michas & Berry, 2000); satisfação derivada do uso (Souza, 2008);

§ Os efeitos resultantes do uso de instruções são influenciados por diversos fatores, tanto na concepção do material instrutivo, quanto na própria avaliação das visualizações dinâmicas nos experimentos.

§ Os resultados destes estudos indicaram que a efetividade de uma instrução pode ser influenciada pelo tipo de conteúdo instrucional e perfil dos usuários, e por isso, instruções precisam ser projetadas com sensibilidade às condições e situações que serão utilizadas. § Nos estudos internacionais, as pesquisas são prioritariamente advindas da psicologia e da

educação, enquanto que no Brasil, a produção científica nesse segmento é desenvolvida prioritariamente por pesquisadores da área do design da informação e ergonomia informacional.

§ A maior parte das investigações no domínio das representações dinâmicas foram conduzidas com foco na animação, fazendo dela a forma mais estudada nos últimos anos, em âmbito nacional e internacional.

§ Em âmbito nacional e internacional, a maioria dos estudos encontrados no segmento instrucional, quase que prioritariamente investigando a eficácia das instruções a partir de medidas de desempenho: tempo gasto estudando o material e executando a tarefa; número de tentativas e erros, capacidade de compreensão e transferência da instrução. § O número limitado de estudos nacionais sobre conteúdos instrucionais dinâmicos permite

inferir que este ainda é um assunto pouco investigado no Brasil, mas que já desperta o interesse de pesquisadores da área do design da informação, enormemente influenciados e guiados pelos insights e cuidados prescritos pelas investigações internacionais.