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Parte III – CONTEXTOS DE PRÁTICA PEDAGÓGICA

Capítulo 4 – Intervenção Pedagógica em Contexto de 1º Ciclo

4.1 A Escola Básica do 1º Ciclo com pré-escolar da Ladeira (Prática Pedagógica

4.1.4.2. b) O texto Instrucional

✓ Atividades interdisciplinares.

Com o objetivo de promover atividades diferenciadas aos alunos do 3º B, e sempre visando o trabalho colaborativo e a partilha de conhecimentos em grande grupo foi proposta uma sequência de atividades interdisciplinares ligadas à compreensão do texto instrucional que faz parte dos conteúdos programáticos da área curricular de português. O ponto de partida foi a diversificação de atividades, partindo do ensino experimental das ciências, passando à criação de um texto em português e finalizando com cálculos matemáticos de valores utilizados anteriormente nas áreas de conteúdo do estudo do meio e português, ou seja, o mesmo tema englobou as três áreas de conhecimento, formalizando aprendizagens mais significativas e globalizantes.

Descrito na planificação do dia 19 de maio de 2015, o desenvolvimento desta proposta ocupou toda uma manhã de aulas, desde as 8:30h até às 13.30h, sendo que se iniciou através da área de conteúdo do estudo do meio. Comecei por orientar a leitura de um texto correspondente às instruções de uma atividade experimental: “As imagens são iguais em todos os espelhos?”, de modo a trabalhar ao mesmo tempo o texto instrucional como conteúdo de português e a atividade experimental numa lógica de ensino experimental das ciências no estudo do meio.

Orientei, portanto, a exploração do texto, fomentando o diálogo entre os alunos e solicitando a estes que pesquisassem no dicionário as palavras mais complicadas. Posto isto, passámos à reflexão e registo, em conjunto, sobre a temática em estudo: “O que é um texto instrucional?”. Esta atividade veio desenvolver ao mesmo tempo a área do português, nos conteúdos programáticos relacionados com a Oralidade, Leitura e Escrita e Educação Literária, e a área do estudo do meio, através da abordagem ao bloco 5: “À descoberta dos materiais e objetos”, que refere a realização de Experiências com a Luz.

Naturalmente, como em qualquer atividade, o ponto de partida é a fomentação da curiosidade sobre o tema, nos alunos, que neste caso foi feita através da exploração das imagens presentes no início deste capítulo, no manual de estudo do meio. Foi depois, solicitada, aos alunos, a leitura e exploração dos conteúdos, bem como o seu registo do tema: A Luz. Posto isto, mediei a realização da atividade experimental – “As imagens são iguais em todos os espelhos?”, em que os alunos tiveram de observar o ambiente em redor através de diferentes tipos de espelhos (concavo, convexo e linear), ao mesmo tempo que fui ajudando-os na realização dos registos experimentais. Para realizar esta atividade

experimental os alunos disponibilizaram de um guião experimental orientador, como se observa seguidamente:

Figura 22. Guião da Atividade Experimental “As imagens são iguais em todos os espelhos?”.

Após a realização desta atividade experimental em grande grupo, passou-se ao diálogo e à identificação dos pontos caraterizadores de um texto instrucional, numa forma de ligação com a segunda atividade nesta sequência relacionada com o texto instrucional: a criação de um texto instrucional que correspondia a uma receita culinária, através da observação de imagens facultadas aos alunos.

Foi entregue a cada aluno um conjunto de imagens baralhadas, que representavam as fases de uma receita para se fazer brigadeiro de chocolate. Esta proposta consistia na organização por ordem, por parte dos alunos, das imagens distribuídas, para que o resultado final fosse uma receita correta para a execução culinária do doce apresentado, ou seja, cada aluno tinha de criar um texto instrucional, através de imagens referentes a uma receita, como é possível observar na imagem abaixo. Foi dado apoio aos alunos que o foram solicitando, e foi dada liberdade de interajuda entre pares na execução da atividade, sempre numa lógica de cooperação. Finalmente, passou-se à discussão e diálogo coletivo sobre a atividade, bem como à correção.

A terceira e última atividade proposta nesta sequência interdisciplinar ligava as quantidades dos ingredientes definidas na receita anteriormente trabalhada na área cur- ricular de português, à realização de operações matemáticas com estes mesmos valores, abordando conteúdos matemáticos relacionados com os Números Naturais, a Represen- tação decimal de números naturais, a Adição e Subtração de números naturais, a Multi- plicação de números naturais, a Divisão inteira, a abordagem aos Números racionais não negativos, a Adição e subtração de números racionais não negativos representados por frações, a Representação decimal de números racionais não negativos e, naturalmente as Medidas e a Representação e tratamento de dados. Assim, os alunos do 3º B passaram à resolução de alguns exercícios propostos, relacionando os conteúdos presentes no texto instrucional, nomeadamente os ingredientes da receita culinária, em que tinham de efetuar variados cálculos (adição, subtração, divisão e multiplicação) de ingredientes dessa mesma receita.

De facto, verifiquei que o planeamento e realização destas atividades interdisciplinares são mais fáceis e intuitivas do que aquilo que se possa pensar. Muitas vezes os saberes são fragmentados e as áreas de conteúdo no 1º ciclo encontram-se, frequentemente, compartimentadas e separadas umas das outras, dando a ilusão ao professor de que assim será mais fácil realizar o seu papel. A verdade é que faz muito mais sentido proporcionar aos alunos aprendizagens articuladas entre si, com sequencialidade e transversalidade entre áreas de conteúdo, por um lado porque é mais significativo para os alunos aprender e compreender os conteúdos desta forma, e por outro Figura 23. Conjunto de Imagens facultadas aos alunos para construção de um Texto Instrucional correspondente a uma Receita Culinária, por parte dos mesmos.

lado, acaba por exigir muito menos esforço por parte do professor na planificação de atividades, uma vez que o vínculo entre saberes ocorre de uma forma natural.

Estas atividades interdisciplinares vieram mostrar-me a importância deste tipo de abordagem ao serviço de uma educação de qualidade e que proporciona aprendizagens mais reais aos alunos, pois aproxima os conteúdos abstratos à sua realidade quotidiana, apresentando-se como um todo e não como várias partes isoladas. Ao interligar as áreas do português, matemática e estudo do meio, tornou-se mais fácil motivar os alunos do 3ºB, mantendo-os interessados nas atividades, o que veio, de certa forma, dissolver as suas inibições, por não haver a distinção e especificação de áreas («agora vamos trabalhar matemática», ou «passemos à área do português»). Considero, até, que todos os professores deveriam tentar este tipo de abordagem estratégica, e tentar ver as planificações interdisciplinares como algo normal e frequente, não como algo pontual. As potencialidades são enormes e por isso os resultados foram visíveis: os alunos do 3ºB revelaram ter percebido em que consiste o texto instrucional, ao mesmo tempo que perceberam que se pode encontrar este tipo de texto em variadas situações do nosso quotidiano e que, por sua vez, o enunciado para a realização de uma atividade experimental em estudo do meio consiste exatamente num texto instrucional. Claro que, inerente a isto, os alunos aprenderam conteúdos específicos de estudo do meio relacionados com a física dos materiais, e até tiveram a oportunidade de realizar cálculos matemáticos e é precisamente isto que se pretende quando se planifica com flexibilidade e interdisciplinaridade.