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Parte III – CONTEXTOS DE PRÁTICA PEDAGÓGICA

Capítulo 3 – Intervenção Pedagógica em Contexto de Pré-escolar

3.1. A Escola Básica do 1º Ciclo com pré-escolar da Nazaré: Anexo Pré-Escolar da

3.1.4. Contextualização da Prática Pedagógica e Momentos de Aprendizagem

3.1.4.3. b) “A Natureza num jardim”

Com o objetivo de promover atividades diferenciadas às crianças do grupo da sala das borboletas, e sempre visando o trabalho colaborativo, no projeto “A Natureza num jardim” inicialmente definido, surgiu a ideia da criação de uma horta pedagógica. As instalações da escola não possuíam nenhum jardim para cultivo nem grandes possibilidades para a formação de hortas por isso pensei em alternativas para desenvolver

Figura 9. Exposição das abóboras e trabalhos de Halloween das crianças da Sala das Borboletas na sala.

com as crianças. Considerei que a construção de um jardim seria algo extremamente interessante para fazer com as crianças, o que iria possibilitar a exploração de inúmeras competências e a realização de diversas atividades, não só de construção da horta em si, de plantação e, posteriormente, de manutenção, como também de exploração de outras variadas atividades partindo deste feito como motivação.

Ao construir algo com as suas próprias mãos, a criança está a transformar o seu conhecimento em algo concreto e significativo, modificando o seu ser, logo, parti do pressuposto que todo este trabalho de criação viria possibilitar inúmeras vias de desenvolvimento para as crianças, e assim foi. Falámos sobre a construção de um jardim/ horta pedagógica com vários tipos de plantas, evidenciando quais iriam ser as etapas e as fases de jardinagem. É importante salientar que a construção da horta pedagógica consistiu numa sucessão de atividades planificadas ao longo de vários dias.

Orientei o grupo no sentido de os fazer perceber quais seriam os objetivos do desenvolvimento deste projeto, evidenciando a grande responsabilidade que cada criança teria na manutenção e cuidado do jardim, diariamente. Naturalmente, todos eles ficaram empolgadíssimos com a ideia e colocaram logo diversas questões. Todos quiseram falar um pouco sobre os seus jardins, sobre jardins que conhecem e sobre a importância das plantas no nosso planeta. Observei a sua motivação e senti-me realmente feliz.

As crianças começaram, então, a refletir sobre algumas importantes questões de partida:

❖ Como iremos construir uma horta/ jardim, se não temos um terreno próprio?

❖ Que materiais poderemos usar? ❖ Que tipo de plantas iremos cultivar? ❖ Como se cultivam estas plantas?

Conversámos sobre o assunto durante alguns momentos e as crianças expressaram as suas ideias. Seguidamente passou-se à construção de alguns materiais que serviram como recipientes/ vasos para o cultivo das plantações. As crianças organizaram-se em pequenos grupos que trabalharam com diferentes materiais e executaram diferentes tarefas. Foram utilizados garrafões de 5l e garrafas de plástico de água vazias; latas usadas de conservas em metal; vasos de plástico; copos de iogurte; tabuleiros de plástico e metal; caixas de madeira e cestos, para criar os vasos de plantação. Foram feitos pequenos furos nas suas bases a fim de deixar passar a água e depois as crianças puderam decorar estes

mesmos vasos à sua maneira. Algumas crianças pintaram os recipientes com uma mistura de cola branca e tinta, outras crianças utilizaram cola branca e pequenos bocados de papel seda.

Figura 10. Construção e decoração dos vasos para a horta pedagógica.

No dia seguinte à construção dos recipientes por parte das crianças, prosseguimos para a escolha das sementes e plantas para cultivo no nosso jardim, abordando as caraterísticas de cada uma delas e o seu método de cultivo. Algumas crianças trouxeram sementes de casa e, assim sendo, partilharam no grupo como é que as iríamos plantar. Enquanto explicavam, todas as outras crianças escutavam atentamente, depois dialogavam entre si, motivadas e desejosas por começar. Falaram sobre o ciclo de vida das plantas, mais concretamente sobre qual será o progresso das plantas a partir do momento da sua plantação no jardim: «O que se espera que aconteça?».

Após a seleção das espécies, seguiu-se a plantação das mesmas nos vasos. Utilizámos substrato próprio e as crianças, divididas em grupos, puderam colocar as sementes na terra, com a minha ajuda e com a ajuda da técnica auxiliar.

Figura 11. Plantação de sementes e plantas nos vasos para construção da horta pedagógica.

Figura 12. Plantação de sementes e plantas nos vasos para construção da horta pedagógica.

Depois de plantarmos as plantas e sementes nos respetivos vasos, passámos à identificação das mesmas através de etiquetas. Assim, as crianças ficavam a saber a que vaso correspondia cada uma das espécies quando as estivessem a regar (pois em algumas apenas se conseguia ver o substrato), e assim o nosso jardim nasceu!

Até ao final da minha prática pedagógica, em dezembro, todos os dias eram atribuídas às crianças diversas tarefas e responsabilidades para com o seu jardim. Regavam, observavam o crescimento e qualquer anomalia. A manutenção do jardim ficava à responsabilidade das crianças. Este foi um trabalho de continuidade que foi prolongando-se mesmo após o fim do meu estágio, pela educadora regente.

Arrisco afirmar que, ao longo de todo o meu percurso académico e pessoal, esta foi a atividade mais bem-sucedida que tive a oportunidade de colocar em prática, não só pelo grau de motivação e curiosidade que fui capaz de despertar nas crianças, como pela visível aprendizagem de cada uma das crianças nos seus diferentes ritmos, trabalhando em cooperação com os colegas num projeto conjunto, mas que se apresentou como parte de cada uma delas. Este tipo de atividades é de extrema importância para o desenvolvimento infantil porque desperta aquilo que faz crescer a criança: a sua curiosidade. São este tipo de atividades que nos dão a nós, educadores, margem de manobra para a utilização de estratégias diferenciadas, porque a criança é única desde o momento em que nasce, não só quando ingressa no 1º ciclo. A diferenciação pedagógica pode e deve fazer parte do pré-escolar, não de uma forma pura e estruturada, mas de uma forma subtil que obtenha o bem da criança. O meu conselho é que se tente sempre despertar a curiosidade na criança e que nunca nos esqueçamos que o elemento mais básico é o mais importante: a motivação. É dela que devem partir todas as atividades. Assim, as palavras-chave que resumem esta sequência de atividades são a diferenciação de atividades adaptadas às crianças, numa lógica estratégica cooperativa, sobretudo que fomente a curiosidade, gerando a motivação.