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3.4. AÇOS INOXIDÁVEIS APLICADOS A PRODUTOS PARA SAÚDE

3.4.1. Instrumental Cirúrgico e Odontológico de Aço Inoxidável

Os aços inoxidáveis utilizados na fabricação de instrumentos cirúrgicos e odontológicos são especificados pela ISO - International Organization for Standardization e pela ABNT na norma NBR ISO 7153-1 – Instrumental Cirúrgico – Materiais Metálicos Parte 1. Nesta norma, além de descritos, classificados e especificados quais os materiais metálicos devem ser utilizados na fabricação de instrumentos médicos, cirúrgicos e odontológicos, é fornecida uma lista de indicações de uso para cada tipo de produto.

A norma brasileira ABNT NBR 13911:2010 – Instrumental cirúrgico – Material metálico – Especificação para aços inoxidáveis conformados - indica que a funcionalidade do instrumental cirúrgico de aço inoxidável está diretamente relacionada à correta escolha do material a ser usado na sua fabricação, bem como do cumprimento de boas práticas de produção. A norma em questão ainda classifica os materiais. Assim, os aços inoxidáveis para produção de instrumentos cirúrgicos devem pertencer a uma das seguintes classes:

• Classe 3 – aço inoxidável austenítico; • Classe 4 – aço inoxidável martensíticos;

• Classe 5 – aço inoxidável endurecido por precipitação; • Classe 6 – aço inoxidável ferrítico.

Na seleção do tipo de aço que deve ser empregado em cada tipo de instrumento, a norma NBR ISO 7153-1, divide os tipos de aço para a aplicação em três grupos:

• Instrumentos cortantes.

• Preferencialmente usado para instrumentos não cortantes. • Peças para montagem e outros acessórios.

Os aços inoxidáveis austeníticos de forma geral são empregados em produtos médicos onde são necessárias características de boa resistência à corrosão e uma resistência mecânica moderada para conformação mecânica (ABNT, 2006; ABNT, 2010a). Produtos como esterilizadores de vapor, armários de armazenamento e superfícies de trabalho e em

instrumentos classificados nos três grupos, instrumentos cortantes, não cortantes, peças e acessórios, como por exemplo:

• Cânulas: para irrigar, drenar e/ou aspirar. • Afastadores: para separar/afastar tecidos.

• Pinças e clamps: para segurar/prender tecidos ou apanhar tecido ou material. • Passadores de tendão e ganchos para a pele.

• Martelos, macetes e alavancas. • Espéculos, réguas e parafusos.

Os aços inoxidáveis martensíticos são utilizados amplamente na fabricação de instrumentos cirúrgicos e odontológicos, uma vez que podem ser endurecidos e temperados por tratamento térmico. Desta forma são capazes de desenvolver uma vasta gama de propriedades mecânicas, que contemplam dureza elevada na aplicação em instrumentos de corte e também menor dureza com tenacidade aumentada para aplicações de carga. Alguns produtos fabricados a partir de aços inoxidáveis martensíticos são as curetas ósseas, cinzéis, goivas, brocas dentárias, formões, pinças hemostáticas, alicates ortodônticos, e bisturis (ABNT, 2006; ABNT, 2010a).

Os aços inoxidáveis ferríticos também são utilizados em aplicações na área médica, mas em menor escala. Alguns produtos que utilizam os aços inoxidáveis ferríticos são pegas sólidas para instrumentos, pinos guias e fixadores (Newson, 2002; ABNT, 2006; ABNT, 2010a).

Em relação a sua composição química, as classes de aços inoxidáveis são organizadas em tabelas de referência com a indicação da composição química para a seleção do material de acordo com a norma NBR ISO 7153-1. Na tabela III.1, está indicada a composição química dos aços inoxidáveis austeníticos que devem ser empregados.

Tabela III.1. Indicação da composição química dos aços inoxidáveis austeníticos, Classe 3, % (ABNT, 2010a).

Em relação ao acabamento superficial das peças, a norma ABNT NBR 13916, indica que a preparação da superfície – acabamento e tratamento superficial do aço inoxidável é um procedimento de especial importância no estabelecimento da qualidade dos instrumentos cirúrgicos e odontológicos, estando ligados à vida útil, à aplicabilidade e à segurança destes produtos no âmbito cirúrgico. De acordo com a norma ABNT NBR 13916, o acabamento da superfície deve atender no mínimo a uma das seguintes especificações:

• Polimento espelhado;

• Reflexo reduzido, como por exemplo, acabamento fosco;

• Um revestimento de superfície aplicado, por exemplo, com propósito de isolamento elétrico.

No entanto, Newson (2002) salienta que, áreas serrilhadas ou recartilhadas são muitas vezes utilizadas em instrumentos odontológicos e cirúrgicos para aumentar a aderência à mão.

A modificação da superfície em instrumentos médicos não é incomum. Alguns materiais e revestimentos comerciais são empregados para finalidades diversas, principalmente para aumentar a resistência à corrosão e ao desgaste. Existem também revestimentos de coloração para identificação, classificação e rastreabilidade. Como por exemplo de revestimento

empregado em instrumentos médicos, é possível citar o BALINIT®, da empresa Oerlikon Balzers, um revestimento com espessuras típicas entre 0.5µm e 4µm. Os revestimentos de carbono BALINIT® C e BALINIT® DLC melhoram a lubrificação entre peças móveis, evitam a deformação e protegem os componentes da corrosão durante a esterilização. Nos instrumentos para cirurgia ocular, o revestimento BALINIT® A apresentado na Figura 3.10, se destaca pela sua cor amarelo-dourado, que serve como característica contrastante aos instrumentos não revestidos.

Figura 3.10. Revestimento BALINIT® A (Oerlikon Balzers, 2012).

Novos revestimentos para a modificação da superfície de instrumentos médicos têm surgido, como os de filmes nanométricos de dióxido de titânio (TiO2) que possuem propriedades bactericidas ativadas quando na presença da luz ultravioleta (UV), existente em câmaras próprias com esse tipo de radiação, ou mesmo na presença de luz solar. Além de destruir a parede celular das bactérias, esse sistema elimina também os fungos e toda a matéria orgânica (Vaz, 2007).

A modificação da superfície para a identificação e a coloração de instrumentos também é utilizada, como a douração de peças, que consiste na deposição de uma camada com espessura de alguns micra de ouro puro, diretamente sobre o metal e com variação de cores.

A coloração como forma de organização e rastreabilidade é aplicada atualmente por algumas empresas do segmento médico. A coloração é utilizada para facilitar as etapas de separação e organização dos jogos de instrumentos, que se torna mais rápida, requerendo menor número de colaboradores nesta tarefa. Neste caso a identificação por cores é composta pela aplicação de um sistema à base de resina epóxi curada termicamente, formando uma camada sobre o instrumento como visto na Figura 3.11.

Figura 3.11. Revestimento colorido de resina epóxi sobre instrumental

Neste caso, é indicado que a película de resina epóxi não possui microporosidade, o que não permitiria a infiltração de qualquer espécie de bactérias, vírus ou esporos entre a película e o metal.

Esta identificação por cores para a separação e organização dos instrumentos também é empregada pelas Centrais de Material Esterilizado (CME) e nas salas de cirurgia utilizando tintas plásticas (poliamida 11 ou poliamida 12) ou fitas adesivas, apresentadas na Figura 3.12.

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