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Os canteiros: o caminho da pesquisa

2 OS CANTEIROS: O CAMINHO DA PESQUISA

2.1 Instrumental da pesquisa

Como já exposto, nossa pesquisa configura-se como qualitativa. Gil (2006) classificaram os métodos de acordo com a abordagem do problema em qualitativo e quantitativo. A abordagem qualitativa volta-se aos aspectos da realidade que não podem ser quantificados, ou seja, foca na interpretação e explicação das relações sociais e, por conseguinte, o pesquisador utiliza-se da variação e descrição (LAKATOS; MARCONI, 2010).

A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento-chave. Com apoio teórico na fenomenologia, é essencialmente descritiva e os resultados surgem numa totalidade que tem como base a percepção de um fenômeno; por isso se utiliza de narrações, ilustrações, fotografias, fragmentos e descrição, que buscam explicar a origem das relações.

Com relação aos procedimentos, nossa pesquisa enquadra-se como bibliográfica e documental e ainda, segundo Gil (2006), ela é explicativa, pois procuramos aprofundar o conhecimento da realidade.

i) Levantamento documental e levantamento fotográfico; ii) Entrevistas;

iii) Diário de campo, observação;

Na etapa de levantamentos procedeu-se pesquisa em sites internacionais e sergipanos referentes à imagem e como ―o mundo‖ divulgou a Jornada Mundial da Juventude. Foram selecionados seis jornais internacionalmente renomados: os jornais franceses Le Monde e Le Fígaro, o jornal inglês The Guardian, o espanhol El País, o norte-americano The New York Times e o italiano Corriere Della Sera. Foi elaborado um quadro composto por título, resumo da matéria, site e nome do jornalista. Sua consecução contribuiu para verificar como a imprensa internacional divulgou esse evento e a imagem do Brasil. Também procedemos a pesquisa documental em sites de Sergipe, no Jornal da Cidade e em outros jornais digitais. O levantamento consistiu no fichamento de todas as matérias veiculadas no período de 22/12/2011 a 04/09/2013 no Jornal da Cidade, e nos sites com informações locais sobre os peregrinos sergipanos que se deslocaram para Jornada Mundial da Juventude.

Todas as referências bibliográficas utilizadas serviram para dialogar e alinhar as formas de experiência: a narrativa traduziu os acontecimentos do evento; a construída evidenciou os territórios itinerantes, que se fez e se desfez, e a discutida que traduziu a revisão bibliográfica e os resultados encontrados.

Utilizamos a fotografia como instrumento metodológico no levantamento das imagens e na descrição do ritual durante todo o período do evento:

Cada foto é um momento privilegiado, convertido em um objeto diminuto que as pessoas podem guardar e olhar outras vezes. (...) Se olhada com cuidado, se trata de uma imagem repleta de significações e boa para pensar (SONTAG, 2004, p. 28).

Em nossa pesquisa contamos com um rico acervo de fotos captadas em campo durante o período do evento por outros participantes que cederam generosamente, além da busca na internet. As fotos serviram para enriquecer e visualizar os detalhes, os fatos e os rituais ocorrentes na JMJ: ―Trata-se de um diálogo mudo, subliminar, sensível e inteligente, que, diante de uma foto ou de um conjunto de fotos, é gestado entre o nosso olhar e a nossa mente‖ (KOSSOY, 2007, p. 147-148).

A entrevista foi outro instrumento importante para a investigação e a interligação com as categorias escolhidas. Sobre a importância da entrevista destaca-se:

(...) a entrevista face a face é uma situação de interação humana, em que estão em jogo percepções do outro e de si, expectativas, sentimentos, preconceitos e interpretações para os protagonistas: entrevistador e entrevistado (SZYMANSKI, 2002, p. 12).

Por meio deste instrumento (Apêndice A), pudemos observar as diferentes experiências e a percepção dos sujeitos. Como nos evidencia Ferrari (1982), o campo possibilita intuir sobre determinada comunidade, sociedade, instituição e grupo social, o que oferece uma representação mais completa e mais real dos fatos que tendem a caracterizar o problema.

O tipo de entrevista escolhido foi a entrevista estruturada, uma das mais utilizadas para levantamentos sociais, segundo Gil (1994), por possibilitar também o tratamento quantitativo dos dados. A entrevista, composta de 17 questões, foi sistematizada de acordo com o um roteiro de evento religioso, com perguntas abertas e semi-estruturadas. Colognese e Mélo (1998) conceituam entrevista como ―(...) uma técnica de obtenção de informações realizada por meio de uma ‗conversação interesseira‖‘, através dela podemos, fazer novos direcionamentos, e conhecer sujeitos e seus comportamentos‖.

As questões do roteiro foram subdividida em quatro conteúdos com características distintas e que foram analisada à luz da abordagem de conteúdo desenvolvida por Bardin (2011). Compõe o roteiro de entrevista:

i. perfil;

ii. motivações para a Jornada e os espaços frequentados; iii. os territórios ―sagrados‖ e a participação como turistas;

iv. sensações, religiosidade, apreensão, cidadania, solidariedade, trocas.

A realização das entrevistas compreendeu a etapa do trabalho que dispensou maior tempo e dedicação. O espaço de aplicação dos questionários foi diversificado e os mais significativos foram os eventos como congresso da renovação, carnaval, DNJ, Comunidade Canção Nova, Comunidade Schalom, Universidade, praças, casa dos peregrinos, Paróquia Senhor do Bomfim e Sagrada Família, biblioteca, escolas, calçadas, praças, restaurante, ou onde avistasse um peregrino com a mochila nas costas. As entrevistas realizadas foram transcritas,

considerando os que participaram da JMJ e dois que receberam peregrinos franceses em Poço Redondo/SE enviados pela Diocese de Propriá; ressalta-se, entretanto, que esses dois sergipanos que receberam os estrangeiros não se deslocaram para o Rio de Janeiro.

As entrevistas após transcritas foram enviadas via e-mail para avaliação do entrevistado. Dez responderam dizendo que não tinha nada acrescentar; três pediram para acrescentar algumas informções; os outros não se manifestaram. Houve uma tentativa pelas redes sociais e correio eletrônico de entrevistar pessoas da JMJ do Rio de Janeiro que receberam peregrinos estrangeiros; a moradora que escolhi tinha recebido uma peregrina da Croácia. Ela se disponibilizou para responder o roteiro de entrevista, mas o envio das respostas não aconteceu. Após a quarta cobraça das respostas desistimos. Houve também a tentativa de entrevistar peregrinos estrangeiros, mas as respostas não foram enviadas. Reconsiderando os pressupostos da pesquisa qualitativa e as especificidades do objeto de estudo, a unidade de referência nessa pesquisa considerou o que denominamos de sujeitos da amostra. Apreende-se como sujeito:

Àquele a que se investiga em qualquer empreeendimento em que o ser humano é o objeto de estudo numa acepção filosófica no qual sujeito significa (...) o ‗eu‘ enquanto realidade pensante, em contraposição ao objeto pensante, em contraposição ao objeto pensado (TURATO, 2003, p.353/356).

A escolha pelo termo sujeito nesta concepção justifica-se em função das proposiçõs teóricas que fundamentam esse trabalho e sua relação com o processo de composição dos territórios da JMJ (simbólicos e religiosos) e, da conformação dos espaços sagrados que se constituiram durante o período de sua realização. A amostra da pesquisa em questão configura-se como proposital, intencional ou deliberada, conforme nos esclarece Turato (2003, p.356):

É escolhida como aquela de escolha deliberada de respondentes, sujeitos ou ambientes, oposta a amostragem estatística, preocupada com a representatividade de uma amostra em relação a população total. O autor do projeto delibera quem são os sujeitos que comporão seu estudo, segundo seus pressupostos de trabalho.

A inserção dos sujeitos foi definida em função de serem peregrinos sergipanos identificados pelas variáveis como sexo, idade, religião, comunidades religiosas e participantes da organização do evento.

Ainda segundo Turato (2003), mesmo com uma diversidade de identidades biodemográficas ou psiculturais, os indivíduos se encontram reunidos pelo que o

autor chama de homogeneidade fundamental, ou seja ―(...) pelo menos uma determinada característica ou variavel é comum a todos os sujeitos da amostragem: a característica chave que os une é o próprio tema do trabalho‖. Nesse sentido, os peregrinos sergipanos estabeleceu a homogeneidade fundamental dessa amostra.

Em relação ao diário de campo, este foi elaborado com a observação que ocorreu em todo o período de pesquisa: desde o reconhecimento do campo no período da pré-missão, passando pelo período de realização do evento e após o seu término, com vários eventos como as festas dos padroeiros de Sergipe e a comemoração de 1 ano da Jornada, o Dia Nacional da Juventude.

Triviños (1987) expõe que observar não é simplesmente olhar, mas, sim destacar algo específico num conjunto (objeto, pessoas), aferindo atenção a suas características (cor, tamanho, entre outras). A observação permite que a dimensão singular seja estudada em seus atos, atividades, significados e relações para captar a essência. Esses foram os balizamentos para a construção de nosso diário de campo construído nas etapas que já participamos, ou seja, antes, durante e após a JMJ.

Ainda sobre a observação, Silva e Mendes (2013) asseveram que ela se baseia no registro das experiências vivenciadas pelo pesquisador, em que são utilizados os sentidos para obter as informações acerca da realidade pesquisada, tornando-se indispensável em nossa pesquisa.

Outro recurso que utilizamos foram as tirinhas e as charges para as narrativas dos peregrinos que reforçaram a territorialidade e deram oportunidade para evidenciar conflitos, narrar as histórias e partilhar as vivências.

As tirinhas buscam representar as cenas que narram de maneira estática, cristalizando no papel, através de imagens e textos, as ações, gestos, emoções, falas, entonações etc. que a compõem. Para produzir todos esses efeitos de sentido, o autor se utiliza de recursos visuais como a fonte, [...] os traços que marcam tempo e movimento, os balões etc.(MAIA; PESSOA, 2012. p.10).

Com esse recurso, dinamizamos a leitura e valorizamos as histórias narradas, com o simples traço e formas voltamos aos cenários narrados pelos peregrinos, que partilharam de suas territorialidades. Foi utilizada a charge em dois momentos relacionados aos conflitos e problemas ocorridos durante a JMJ. Tratando-se da Geografia, abre-se muitas possibilidades para os recursos visuais devido ao

apanhado de temas sociais e críticos apresentados no evento. ―O gênero charge articula as duas linguagens – a verbal e a não verbal. Ela demonstra que o sentido da comunicação é construído na oscilação entre o que se sabe, ou seja, o conhecimento público e divulgado e os aspectos subentendidos‖(ALVES, 2013, p 420). Nesse sentido, utilizamo-nos da charge para revelar melhor os fatos narrados pelos peregrinos sergipanos que sedimentaram nosso entendimento sobre os conflitos e as vivências.