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Fluxograma 1 Análise dos pareceres emitidos pelo Conselho de Educação do Distrito

3.3 INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS

É interessante considerar que a pesquisa qualitativa busca entender um fenômeno específico em profundidade. Nesse sentido, esta investigação buscou a coleta de dados qualitativos a partir de um estudo de caso, tendo o CEDF como caso a ser analisado. Conforme Lüdke e André (1986, p. 43):

São cinco as características básicas da pesquisa qualitativa, chamada, às vezes, também de naturalística: a) A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento; b) os dados coletados são predominantemente descritivos; c) a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; d) o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador; e e) a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo.

Para possibilitar a análise deste caso, foram utilizadas como estratégias de verificação dos dados a observação de sessões do CEDF e a análise dos pareceres emitidos ao longo dos anos de 2011 e 2012. A demarcação temporal escolhida para esta pesquisa tem uma razão conceitual: os pareceres emitidos nesses dois anos estão vinculados a um período de transição governamental; com isso, ainda é forte no CEDF, nesse período, uma perspectiva de acomodação política, o que influencia nas decisões tomadas.

Portanto, analisar dados qualitativos não é tarefa simplista ou inferior à análise de dados quantitativos, ao contrário, é fundamental que o pesquisador se cerque de todo um rigor

metodológico a fim de não deixar os dados caírem na fragilidade do senso comum. Adotando uma postura ética, séria e, sobretudo, mantendo a devida distância dos dados analisados o pesquisador conseguirá transmitir a credibilidade necessária para que seu trabalho seja levado em consideração no meio acadêmico.

3.3.1 A observação

De acordo com Borg (1967 apud VIANNA, 2007), as técnicas de observação em pesquisa mostram-se abordagens disponíveis para o estudo de comportamentos complexos. Em razão disso, a observação pode apresentar alguns problemas, que seriam a identificação de fatores de pouca relevância e o grau de influência que a presença do observador pode causar nos observados. Por conta dessas questões, a observação deve se apoiar em fundamentos teóricos consistentes, não bastando ao observador apenas ‘olhar’ a realidade; ele deve saber ver, identificar e descrever o que observou. Desse modo, exige mais tempo e maior observação pessoal do pesquisador.

Flick (2009) apresenta cinco dimensões da observação: a) observação oculta versus observação aberta;

b) observação não participante versus observação participante; c) observação sistemática versus observação não sistemática; d) observação naturalista versus observação de situações artificiais; e) auto-observação versus observação dos outros.

As observações totalmente estruturadas ocorrem em laboratório e, em geral, partem da pré-construção de hipóteses. Elas procuram testar hipóteses, o que exige instrumentos próprios e padronizados. O controle é maior. Por sua vez, as observações de campo são semiestruturadas, têm lugar em um contexto natural e não buscam dados quantificáveis. O pesquisador ‘vê o mundo’ por intermédio da perspectiva dos sujeitos da observação.

Para o alcance de bons resultados, Vianna (2007) define nove fases que balizam o trabalho com o emprego da observação, a saber:

1) Definir os objetivos do estudo.

2) Decidir sobre o grupo de sujeitos a observar. 3) Legitimar sua presença no grupo a observar. 4) Obter a confiança dos sujeitos a observar.

5) Observar e registrar notas de campo durante semanas.

6) Gerenciar possíveis crises que possam ocorrer entre os sujeitos e o observador. 7) Saber retirar-se do campo de observação.

8) Analisar os dados.

9) Elaborar um relatório sobre os elementos obtidos.

A observação é superior a outros instrumentos para a coleta de dados de comportamento não verbal, pois possibilita a análise do comportamento em um meio natural. Além disso, o pesquisador pode observar mais longamente os acontecimentos, determinando suas tendências.

Todavia, como toda técnica qualitativa, a observação apresenta suas limitações (VIANNA, 2007). Uma delas seria o fato de o meio natural nem sempre permitir que o observador controle certas variáveis irrelevantes para a situação e que podem afetar os dados. Outro ponto seria o fato de as observações oferecerem grande quantidade de dados, e quando se quer codificar ou classificar de forma sistemática tais dados, as dificuldades aparecem. Também não se pode perder de vista que um estudo observacional longo pode perder sua confiabilidade. Por fim, existem as limitações impostas por terceiros à prática do observador.

Nesta investigação, a observação pretendeu analisar de que modo as categorias ‘participação social’, ‘cidadania’ e ‘qualidade na educação’ compareceram nas decisões dos conselheiros. Para isso, foram observados os participantes do CEDF, durante a realização das sessões plenárias. Essa etapa mostrou-se fundamental, pois possibilitou a análise das discussões e decisões tomadas pelos indivíduos no cenário de atuação desses participantes. As observações foram anotadas em um diário de campo (GIL, 2006).

3.3.2 A análise de conteúdo

A escolha da metodologia é uma etapa muito importante da pesquisa, pois nessa fase do estudo o pesquisador deve delinear seu problema e determinar seus objetivos específicos para, então, selecionar a forma como esse problema será investigado. Com relação a essa difícil escolha, Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2004) salientam que não existe metodologia boa ou ruim, mas sim adequada ou inadequada para tratar um determinado problema. Em toda e qualquer pesquisa deverá sempre haver uma adequação do paradigma adotado aos objetivos do estudo.

Neste estudo, a análise dos pareceres emitidos pelo CEDF em 2011 e 2012 representa instrumento capital para a compreensão dos conceitos debatidos até aqui. Nesse sentido, a análise de conteúdo apresentou-se como um método adequado para esse tipo de investigação, pois “[...] é considerada uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema” (VERGARA, 2005, p. 15).

A análise dos conteúdos dos discursos trabalha tradicionalmente com materiais textuais escritos e tem a mensagem como ponto de partida. Esse método propõe que os dados sejam subdivididos em unidades e categorias para que possam ser analisados (VERGARA, 2005).

Bardin (2011, p. 42) conceitua a análise de conteúdo como um conjunto

de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens (quantitativos ou não), dados que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Ainda segundo Bardin (2011, p. 117), a categorização é definida como “[...] sendo uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com critérios previamente definidos”.

Minayo (2003, p. 74) enfatiza que a análise de conteúdo visa a verificar hipóteses e/ ou a descobrir o que está por trás de cada conteúdo manifesto: “O que está escrito, falado, mapeado, figurativamente desenhado e/ou simbolicamente explicitado sempre será o ponto de partida para a identificação do conteúdo manifesto (seja ele explícito e/ou latente)”.

Para isso, buscou-se pesquisar no site do CEDF todos os pareceres emitidos ao longo dos anos de 2011 e 2012. A partir disso, realizou-se a leitura desses pareceres, dando-se atenção especial ao embasamento de cada decisão, pois é justamente nesse trecho de cada documento que é possível a apreensão de signos que remetam às categorias analisadas nesta pesquisa: democracia, participação social, cidadania e qualidade na educação. A análise de conteúdo, aliada à observação, permite a manifestação, no plano do discurso, das concepções do CEDF – como entidade de representação – acerca dos temas propostos.

Franco (2008) ilumina que na análise de conteúdo é necessário que se coordene o processo de organização dessa análise e se definam as categorias que serão objeto de construção após a análise. Para isso, é necessário que sejam seguidos alguns passos metodológicos para o processo de análise. O primeiro deles é a pré-análise.

A pré-análise é a fase em que se organiza a análise em si. Para isso, escolhem-se os documentos que serão objeto de interpretação e são elaborados indicadores que servirão de fundamento para a interpretação final dos dados (BARDIN, 2011). Nessa pré-análise, de acordo com Franco (2008), será realizada uma leitura flutuante na qual o pesquisador estabelece o primeiro contato com os documentos objeto de análise e se imbui das primeiras impressões acerca desse material. A escolha desses documentos pode ser feita a priori ou a

posteriori. No caso desta investigação, optou-se pela escolha a priori dos pareceres emitidos

pelo CEDF nos anos de 2011 e 2012.

De acordo com Bardin (2011), o universo de escolha dos documentos analisados deve constituir um corpus que sirva ao processo de análise a ser empreendido. Para a definição desse corpus podem ser aplicadas regras de exaustividade (em que se consideram todos os elementos que constituem o corpus); regras de representatividade (nas quais uma amostra do material é selecionada para a análise); regras de homogeneidade (em que se leva em questão a obediência a critérios precisos de escolha que não extrapolem os objetivos definidos).

Além disso, a pré-análise deve ‘desaguar’ na elaboração dos indicadores. De acordo com a frequência de um determinado signo em um corpus textual é possível a construção de um indicador relacionado àquele signo. No entanto, deve-se ressaltar que muitas vezes aquilo que está no plano do ‘não dito’ (como um gesto, uma palavra ausente) também pode se constituir em elemento fundamental para a construção de um indicador e sua posterior análise (FRANCO, 2008). Em razão disso, nesta investigação optou-se pela utilização da observação das reuniões dos conselheiros como instrumento complementar na análise dos pareceres emitidos pelo CEDF.

Após as definições das unidades de análise, torna-se possível a definição das categorias, processo que pode ser elaborado utilizando-se procedimentos sintáticos, lexicais ou expressivos. Independentemente do processo adotado, o mais importante é que na análise de conteúdo as categorias podem ser criadas a priori ou podem emergir com base no conteúdo presente no discurso analisado. Nesta pesquisa, partiu-se da definição de categorias a priori, explicitadas no título da investigação em questão. Embora se corra o risco de, na categorização a priori, advir uma simplificação e fragmentação do conteúdo manifesto (FRANCO, 2008), a natureza desta investigação – calcada na análise de pareceres – não dá margem à análise de processos muito abertos.

Na definição das categorias desta pesquisa, buscou-se o atendimento às seguintes características: pertinência, objetividade e fidedignidade. Com isso se tornou possível uma análise o mais isenta possível dos documentos produzidos pelo CEDF.