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2.6.1 Questionários

Foram utilizados três questionários que buscaram avaliar a opinião e as dificuldades enfrentadas pelos receptores quando expostos a conteúdos audiovisuais, obtendo assim noções gerais da reação e do comportamento dos participantes. , em relação ao objeto de estudo, em dois momentos distintos: a dependência parcial da legenda quando esta traduz filme de língua estrangeira familiar, no caso a língua inglesa; e a dependência total da legenda quando constitui o único meio de acesso ao conteúdo verbal do filme de língua estrangeira, quando esta não é do domínio do expectador.

O primeiro questionário (vide Anexo II) – “Questionário prévio”, que antecedeu à exposição do filme e composto por 20 perguntas - foi dividido de acordo com aspectos técnicos e cognitivos relacionados às legendas e o modo como elas se relacionam com os espectadores. Os aspectos técnicos (perguntas de 1 a 8) procuraram analisar a preferência de modalidade de tradução audiovisual, a coerência da legenda com a fala do filme original, absorção de aspectos culturais, possíveis perdas de imagem, de som e da própria legenda e barreiras encontradas na percepção de filmes legendados, como cor, tamanho e número de caracteres, velocidade das legendas, etc. Para os aspectos cognitivos (perguntas de 9 a 17), foram questionadas questões quanto ao papel da legenda como incentivadora da leitura, à conferência e aperfeiçoamento de habilidades em idioma estrangeiro, à dependência da legenda quando do desconhecimento da língua original do filme, à ambientação lingüística original e ao papel social desempenhado pela legendagem quando comparada com a dublagem. Neste questionário, avaliou-se também se a leitura do livro ou contato com o filme previamente interfiram no entendimento do filme (perguntas 18 a 20).

O segundo questionário (vide Anexo III) – “Questionário geral sobre o filme” – relacionavam 8 questões a respeito do enredo do filme, após sua exposição. Esse questionário apresentou-se pouco relevante para os estudos acerca das legendas. O questionário serviu, no entanto, para demonstrar o entendimento global do filme legendado, o

que poderia ter sido feito, incorporando perguntas mais gerais no questionário seguinte, já que alguns participantes aparentaram cansaço devido à extensão dos questionários, apesar de cada etapa ter ocorrido em dias distintos.

O questionário 3 (vide Anexo IV), “Questionário de partes específicas do filme”, analisou, em 8 perguntas, aspectos pontuais quanto às legendas e sua recepção por parte dos espectadores. Este questionário abordou trechos específicos do filme, que foram apresentados previa e seriadamente às perguntas. Ou seja, os trechos relacionados eram apresentados e posteriormente a pergunta era lançada. As questões procuraram identificar em quais momentos a tradução por meio das legendas eram realmente necessárias ou quando elas traziam desconforto para quem assistia ao filme. Por se tratar de filme em idioma pouco desconhecido (pashto) e na busca pela manutenção de características culturais, o tradutor, em alguns momentos, optou pela legendação, sem tradução, de termos afegãos. Os participantes foram também questionados quanto à necessidade de legendação para todas as falas, mesmo quando essas forem curtas e recorrentes, ou quando de cenas carregadas de informação visual. Foi observado, ainda, se a leitura das legendas atrapalharia de alguma forma na absorção das imagens.

Não foi necessário compilar os dados dos questionários de maneira quantitativa; os dados foram utilizados para traçar os perfis dos participantes, descritos anteriormente, e também para triangular os dados quanto aos aspectos da legendagem e da recepção, juntamente com a entrevista – detalhada a seguir.

2.6.2 Entrevistas

As entrevistas, com duração média de 30 minutos cada, tiveram, nesta pesquisa, o intuito de esclarecer possíveis pendências ou dúvidas encontradas no questionário e em contatos prévios, utilizando para isso a triangulação de métodos. Entende-se por triangulação o uso de ferramentas investigativas diferentes para responder a uma pergunta de pesquisa, com o objetivo de assegurar a validade da mesma, compensando o efeito de contribuições incompletas, falsas ou ambíguas dos participantes geradas por uma ferramenta.

Segundo estudos da investigação qualitativa, as entrevistas podem ser classificadas de diversas maneiras, sendo escolhida aqui a classificação de Rosa e Arnoldi (2006) em: estruturada, semi-estruturada e livre. Para o presente trabalho, utiliza-se a entrevista semi-estruturada por causa de sua natureza.

A entrevista estruturada trabalha com questões formalmente elaboradas, com linguagem sistematizada e de preferência fechada para que se obtenham respostas curtas e concisas. O pesquisador elabora um roteiro de forma a avaliar igualmente todos os sujeitos e, normalmente, os dados obtidos são submetidos a uma análise quantitativa. Na entrevista semi-estruturada, o pesquisador formula questões abertas com tópicos pré-selecionados, de forma flexível e a sequência da entrevista fica a cargo dos sujeitos. Assim os sujeitos ganham espaço para opinar e discorrer a respeito de seus pensamentos, tendências e reflexões naturalmente. Para esse tipo de entrevista, tem-se uma relação de confiabilidade, pois os sujeitos devem estar familiarizados com o pesquisador para que este obtenha, satisfatoriamente, as informações almejadas. Já nas entrevistas livres, não há nem mesmo uma lista de perguntas abertas a serem feitas. Por meio de um relato oral dos sujeitos, as informações são obtidas e, dessa forma, não há uma estratégia única a ser seguida, tendo como resultado dados muito subjetivos.

Há também outras formas de classificação, relacionadas à entrevista semi- estruturada, julgadas interessantes que devem ser abordadas de maneira geral e complementar. A entrevista focalizada, considerada uma entrevista qualitativa, é feita a partir da “análise do conteúdo e hipóteses previamente levantadas”, com o intuito de “averiguar as respostas e os efeitos antecipados” (ROSA e ARNOLDI, 2006, p. 34). Outra forma de classificação, feita por Miller, Crute e Hargie29 (apud ROSA e ARNOLDI, 2006, p. 35), é de entrevista de investigação, “conhecida como técnica de obtenção de informação relevante para todos os objetivos de um estudo, podendo adotar formatos e estilos variados”. Esta categoria de entrevista de investigação está inserida em uma categoria maior denominada de entrevistas profissionais cujos procedimentos mantêm certos vínculos, ou seja, estabelecem um “relacionamento afetivo, ocasionado naturalmente, proporcionado por vários contatos até que a confiabilidade se instale; e a partir daí, os dados fluiriam, com certeza, com muita precisão” (ROSA e ARNOLDI, 2006, p. 38).

2.6.3 Gravações

As gravações foram feitas de modo a adquirir a totalidade do que foi dito na entrevista; contudo, era necessário que o entrevistado tivesse consciência e conforto em relação ao registro de suas informações. É por isto que a gravação só deve ser feita após o estabelecimento do vínculo de confiabilidade entre entrevistador/entrevistado. Caso contrário, não se deve utilizar tal mecanismo, optando por outra forma de registro de informações, como o “tomar notas”. Por ser um processo muito complexo, toda a preparação tanto física quanto psicológica do entrevistado, bem como o ambiente, condições de tempo e lugar de realização, deve ser muito bem elaborada.

Após a fase de registro de dados, tem-se a transcrição das fitas gravadas nas entrevistas (vide Anexo V), mantendo-se sempre a fidelidade àquilo que foi dito pelo entrevistado. Esse processo de análise qualitativa se baseia na saturação dos dados obtidos pelo pesquisador e, portanto, exigindo muito tempo.