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Como em qualquer tradução, o processo não é limitado ao tradutor. Na legendagem mais especificamente, vários participantes contribuem e até alteram o resultado final. O processo de legendagem se inicia quando o filme chega ao país onde será exibido e termina quando o espectador entra em contato com o resultado final. No entanto, o processo apresentado, a seguir, é considerado ideal e nem sempre todas as etapas descritas são respeitadas.

Pode-se dizer que o primeiro participante do processo é a distribuidora (cliente), que compra os direitos de exploração do filme e é responsável por distribuir o produto nos diversos meios de comunicação. Normalmente, o cliente recebe uma cópia do filme matriz, juntamente com o roteiro na língua original. O marcador fica responsável por marcar as entradas e saídas de cada legenda, utilizando o time code, e converte a transcrição com os tempos para um arquivo de texto. A distribuidora, então, contrata um laboratório de legendagem e o tradutor que fará a tradução de todos os elementos verbais orais e, algumas vezes, escritos do filme.

traduzido e um exemplar do roteiro na língua original ou a transcrição dos diálogos com o timing. Caso tais marcações ou a transcrição não tenham sido feitas, caberá ao tradutor fazê- las. Vale lembrar que os textos audiovisuais estão inseparavelmente ligados ao conteúdo visual, o que pode gerar dúvidas ao tradutor caso não tenha consigo cópia do filme. Por esse motivo, a palavra aqui é subordinada à imagem, ou seja, o trabalho do tradutor mediado pelas imagens do filme. Conclui-se, portanto, que as traduções devam ser feitas a partir das imagens dos filmes e não pelo roteiro escrito apenas. O tradutor, ao iniciar o seu processo de tradução, compara se o que está no roteiro é o que o realmente aparece no filme, dessa forma há como identificar possíveis omissões, acréscimos e alterações dos diálogos. É de responsabilidade de o tradutor entregar inclusive os fragmentos que não aparecem no roteiro. Cabe ao tradutor também reunir o maior número de informações para solucionar, na tradução, eventuais problemas de ambigüidade, terminologia, gírias, variedades estilísticas e lingüísticas, etc. O tradutor, então, após observar todos esses cuidados, elabora as legendas, adequando-as às normas de legendagem (número e tamanho de caracteres, cor da legenda, etc.), em um editor de textos para então ser devolvido ao cliente (distribuidora). Alvarenga (apud FORNER e GAZETA, 2007) caracteriza o tradutor como sendo “legendista” e afirma também que ele deve ter habilidade nas línguas portuguesa e estrangeira, domínio cultural e percepção para articular os conteúdos fundamentais e inseri-los à legenda.

O revisor compara as traduções com os conteúdos dos filmes e repassa para o legendador – termo também utilizado por Alvarenga (2000) – quem irá inserir as legendas ao filme e concluir o processo de legendagem para ser encaminhado ao mercado e seu receptor.

1.2.4 Processos

Os processos de legendagem exercem grande influência no resultado final do filme traduzido devido também ao número de pessoas envolvidas. Cabe lembrar que esses processos não são uniformizados e nem iguais, mas, como dito, em condições ideais, deveriam seguir basicamente o mesmo percurso até chegar ao espectador. Carvalho (2005)

relembra, citando Catrysse (2001), que o processo de produção de um conteúdo audiovisual pode ser dividido em três estágios: a) pré-produção (planejamento); b) produção (execução); c) pós-produção (finalização). A tradução, e no caso que enfocamos aqui a legendagem, ocorre no momento de pós-produção quando o filme, cujos direitos de exploração foram adquiridos por uma distribuidora cinematográfica ou cadeia televisiva (cliente), alcança, por algum meio de comunicação (cinema, canal aberto televisivo, canal fechado – TV por assinatura, DVD), o país em que será exibido.

Adentrando no processo de legendagem propriamente dito, suas principais etapas podem ser divididas, mesclando aqui Nobre (2002) e Forner15, em:

a) comparação do roteiro escrito com a fita matriz;

b) gravação de cópia do filme com TCR (Time Code Reader);

c) marcação;

d) tradução;

e) revisão;

f) aprovação pelo cliente;

g) inserção das legendas;

h) transmissão.

Na primeira etapa, o tradutor compara o roteiro escrito com a fita matriz e, se necessário, corrigido. Caso o roteiro não seja disponibilizado, todo o conteúdo do filme deverá de ser transcrito, exigindo muito mais habilidade auditiva e máximo entendimento por

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parte do tradutor, pois ele provavelmente se deparará com problemas no áudio, velocidade das falas, termos técnicos, nomes próprios, falas com má dicção ou até mesmo sotaques que dificultam, algumas vezes, o entendimento de imediato. Após essa etapa de comparação, é feita a gravação do filme em uma fita com Time Code Reader (TCR), um marcador de minutos e segundos que facilitará a inserção das legendas nos momentos exatos de entrada e saída. É nesse momento que ocorre a etapa seguinte – marcação - segundo Nobre (2002). Para Forner, esta só ocorre após a etapa de tradução, quando o marcador converte o arquivo traduzido para um software de legendagem. Ele divide ainda esse momento em duas etapas: indicação do tempo de entrada e saída de cada legenda, respeitando sempre o sincronismo com as falas do original; verificação do filme para assegurar a qualidade das marcações.

Na fase de tradução, segundo Nobre (2002) e influenciada por Luyken et al (1991), ocorrem três procedimentos simultâneos e distintos:

a) a tradução do texto do audiovisual de uma língua para outra, levando em conta o contexto e demais elementos normalmente considerados em uma tradução literária convencional;

b) a conversão do texto do modo oral para o escrito; e

c) a composição das legendas, levando-se em conta a necessidade da redução textual decorrente das restrições de tempo, espaço na tela e número de caracteres permitidos, a conveniência de supressão ou acréscimo de informações, definições quanto ao alinhamento, fonte e local de cada legenda na tela, etc.

Após a tradução e a marcação, os conteúdos são levados para a revisão para análise e possíveis correções. Em seguida, o filme é apresentado para o cliente para sua aprovação e encaminhado para o centro de masterização, onde são feitas a inserção das legendas e a gravação final da nova fita matriz. Seguindo, são feitas cópias para a comercialização legal do filme e sua transmissão.

vinculado ou no público receptor, novas traduções deverão ser feitas, respeitando as diversas finalidades e normas que cada meio e modalidade de tradução exigem. Curiosamente, há ainda uma prática mais recente conhecida como pivot translation definida como traduções produzidas não do original, mas de traduções pré-existentes em outras línguas. Utilizam-se as mesmas marcações do primeiro processo de legendagem, substituindo-se apenas a língua das legendas. Como compara Gottlieb (1994, p. 127):

As legendas, nestes idiomas, são criadas, então, escrevendo elaboradamente as falas principais, ou [...] simplesmente apagando essas falas e acrescentando “vinho novo em garrafas velhas”, ajustando falas ‘estrangeiras' na segmentação de diálogo e no tempo de marcação. 16 [tradução própria]

Normalmente, esse tipo de tradução é muito utilizado em filmes passados em canais por assinatura com mais de uma opção de idiomas em tradução, pois o custo de se produzir diversas versões de um mesmo filme é muito elevado, principalmente se considerarmos a prática de dublagem. Contudo, para que haja utilização dessa moderna vertente de legendagem, temos de contar com alta tecnologia digital – denominada de teletexto (teletext). Com essa tecnologia o espectador opta por diferentes idiomas e por estilos e níveis de legendagem, ou seja, poderá assistir a um filme ou programa de televisão sem legendas, legendas com velocidade rápida ou lenta, closed captions para aqueles com deficiências auditivas ou aprendizes de uma língua estrangeira, etc. Testemunhamos um momento de avanço no que concerne à transferência de linguagem e esperamos que essa tecnologia também se encontre em breve disponível em canais abertos no Brasil.

Retornando ao processo de legendagem, este não se dá apenas pelo trabalho do tradutor. Como vimos acima nas etapas descritas, contamos com o trabalho de profissionais que participam da construção do conteúdo audiovisual traduzido que será transmitido para o espectador.

16The subtitles in these languages are then created by simply overwriting the pivot subtitles, or […] by deleting the pivot subtitles and then putting new wine into old bottles, by fitting ‘local’ titles into ‘foreign’ dialog segmentation and time cuing.