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Instrumentos de análise dos dados qualitativos

No documento JORGE LIMA - dissertação (páginas 96-102)

CAPÍTULO IV: TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

4.7 ANÁLISE DOS DADOS

4.7.2 Instrumentos de análise dos dados qualitativos

Para fazer a análise dos dados coletados por meio das entrevistas, foi usado o método da Análise do Discurso (AD35). A escolha deste método se justifica pela possibilidade que o mesmo tem de ajudar o pesquisador a analisar os artifícios linguísticos usados pelos entrevistados e identificar os elementos teóricos presentes nos mesmos; estes artifícios são

34 Caracterizado como um programa de aplicação científica, o SPSS é um software que permite a análise e

comparação de várias informações, ao mesmo tempo, por meio do uso gráfico, tabela e códigos. Criado no final de 1960 e aplicado a grandes computadores no início da década 1970, o referido aplicativo se modernizou com a evolução digital e continua sendo, atualmente, o principal programa de computador usado para análise de dados quantitativos em pesquisas científicas.

35Análise do Discurso (AD) é um recurso de estudo dos campos da linguística, das ciências educacionais e da comunicação,

especializado em analisar construções ideológicas presentes em um texto ou linguagem, nas mais variadas formas em que os mesmos se apresentam. Dentro desta pesquisa, o uso da AD foi feito com base na perspectiva francesa, desenvolvida por Michel Pêcheux, devido à necessidade de divisão do trabalho intelectual, de forma reflexiva. Para o referido teórico, a linguagem possui uma relação como o meio exterior, o que fundamenta que tal recurso, no campo das ciências, constitui um elo entre a Linguística e Teoria do discurso.

também essenciais para que se percebam as construções ideológicas presentes nos discursos de cada indivíduo que faz uso dos mesmos (Gregolin & Foucault, 2004).

Tomamos também como base as referências feitas por Banister (1994), especificamente ao destacar que a entrevista tem sido um instrumento empregado em pesquisas qualitativas como meio de preencher lacunas e solucionar problemas de interpretação em estudos qualitativos de significados subjetivos e, ao mesmo tempo, compostos por tópicos demasiadamente complexos para que sejam pesquisados por apenas por instrumentos quantitativos, caso este em que se enquadra também a nossa pesquisa.

Utilizamos como o gravador recurso de coleta dos dados qualitativos e, posteriormente, fizemos a transcrição dos dados buscando preservar ao máximo os artifícios de oralidade presentes em cada discurso, como recomenda Spink (1995). Vale lembrar também que, tal qual recomendam Szymanski (2010), Banister (1994), Frigotto (2009), Noronha (2006), Barreto (2003) et all, todo este procedimento foi realizado empregando sempre o caráter de manter sigilo sobre a identidade dos educadores entrevistados e de alinhar pensamentos teórico às suas construções discursivas.

Entretanto, para que se tenha mais clareza de como este trabalho foi realizado e as razões de ter se optado por este instrumento dentro da análise de dados qualitativos, faz-se necessário entender com mais clareza o que é a Análise de Discurso e, para tanto, é necessário entender-se, a priori, o conceito de discurso.

Segundo Foucault (2005) o discurso poderia ser entendido como uma dispersão de objetos, tipos de enunciação, conceitos, temas e teorias cujas regras de construção determinam uma formação discursiva, ou seja, seria o conjunto de caminhos e canais comunicativos que são elaborados “por” e “para” a ação da linguagem. O referido autor destaca estas características do discurso, porém, sem ater-se às questões de natureza linguística; uma vez que o principal ponto conceitual deste, para ele, é possibilidade de se estabelecer elos entre os diversos aspectos que compõem a linguagem discursiva e as contradições que naturalmente surgem por meio do uso destes artifícios. Por conseguinte, ele acrescenta ainda que:

“O Discurso é o caminho de uma contradição à outra: se dá lugar às contradições que vemos, é que obedecem à que oculta. Analisar o discurso é fazer com que desapareçam e reapareçam as contradições, é mostrar o jogo que elas desempenham; é manifestar como ele pode exprimi-las, dar-lhes corpo, ou emprestar-lhes uma fugidia aparência (Foucalt, 2005, p.171).”

De acordo com Brandão (1991) esta teoria discursiva desenvolvida por Foucalt corrobora as várias abordagens elaboradas por Pêcheux (1969) que, apesar de não ter

especificamente usado um conceito para o discurso, refere-se ao mesmo como um conjunto de efeitos de sentido entre locutores capaz de transmitir ideologias por meio dos seus elementos. Ainda sob este mesmo prisma, porém de forma mais pontual, Orlandi (2005) busca na origem da palavra significados que situam o discurso como uma unidade que exprime o efeito de sentido, ao destacar que à referida palavra atribui-se, etimologicamente, a ideia de curso, de correr por, de movimento, ou seja, de um jogo articulado de linguagens em favor da expressão das ideias.

Por outro lado, no contexto do uso da língua e da análise das suas respectivas funções, as concepções de discurso destacadas pela pesquisadora Orlandi (2005), dentro do âmbito da análise do discurso, são reforças pelas contribuições de Koch (2002), quando destaca que o discurso nasce de variadas situações onde, segundo esta linguista, o processamento textual, como atividade interacional, passa a ser ponto de equilíbrio ou de contradição entre os seus instrumentos, o que faz deste uma atividade que envolve tanto elementos linguísticos como também sociocognitivos. Por fim ela destaca ainda que discurso pode ser também entendido como um conjunto de indícios (pistas) formado por elementos de diversos tipos que assumem neste contexto uma porção de sentido.

Com base neste ponto de vista, Mittmann (1999) destaca que o sentido não nasce, por sua vez, da vontade repentina do enunciador. Esta é uma das razões, segundo ela, que faz do discurso e, consequentemente da entrevista, um importante instrumento de coleta de dados qualitativos, pois ele nasce de um trabalho feito sobre outros discursos que o sujeito repete, modifica, reelabora, resignifica; ou seja, o discurso tem uma memória, um processo histórico que o fundamenta. Entretanto, afirma ela, esta reelaboração ou repetição não é necessariamente intencional, ou fruto de ações imediatas, pois, como também afirma Pêcheux (1997), ela pode ser inclusive oculta ao sujeito enunciador.

De acordo com Orlandi (2001), o discurso traz basicamente na sua produção características, tanto em um contexto amplo quanto em um contexto mais restrito, que revelam os aspectos particulares do sujeito e também sua visão a cerca dos discursos que fundamentam suas ideologias. Em decorrência de tal fato, o autor acredita que, nas condições em que os discursos são produzidos, existem influências decorrentes da análise de outros discursos, da situação em que eles são produzidos, da intencionalidade, informatividade e aceitabilidade; isso ocorre dentro de todos os espaços de produção do saber, como também afirma Terigi (2000), e é o discurso do sujeito que convive nestes espaços quem melhor oferece condições para que se perceba seus valores, saberes, aspirações e sentimentos.

Nesta pesquisa, a prática da AD foi aplicada por meio da técnica de analise dos elementos da oralidade e das construções ideológicas presentes nos discursos de seis professores de matemática do ensino médio de duas escolas públicas estaduais do município de Tacaratu – PE, sendo que três destes profissionais atuam na escola A e os outros três atuam na escola B. Vale destacar, para fins de esclarecimento, que estes professores compõem os 100% (cem por cento) do corpo docente de matemática das referidas escolas, fato este que corrobora ainda mais a importância do uso da Análise do Discurso dentro desta investigação.

Diante das referidas escolhas, Orlandi (2005) destaca ainda a importância de analisar tais aspectos, pois, segundo ele, o discurso é uma palavra em movimento, é a consolidação prática da linguagem. Como esta palavra está em movimento, por conseguinte, não há um ponto final nem ponto inicial definido para o discurso, pois cada dizer tem uma íntima relação com outros dizeres realizados, pensados, possíveis ou não de serem ditos. Sendo assim, como afirma Pêcheux (1988), no campo do discurso, até o silêncio pode trazer muitas informações e ideologias que as próprias palavras não conseguem expressar.

Por outro lado, o retromencionado autor alerta que a memória discursiva possui papel relevante tanto na análise do discurso quanto na sua própria elaboração. A apreciação dos elementos estruturantes desta memória pode ser, por conseguinte, a chave para a compreensão da mensagem emitida pelo anunciador. Sendo assim, o mesmo destaca que:

“A memória discursiva seria aquilo que, face a um texto que surge como acontecimento a ser lido, vem restabelecer os ‘implícitos’ (quer dizer, mais tecnicamente, os pré-construídos, elementos citados e relatados, discursos- transversos, etc.) de que sua leitura necessita: a condição do legível em relação ao próprio legível (Pêcheux, 1999, p.52).”

Desta forma, neste processo interpretativo no qual aplicamos a técnica da AD, optamos por considerar, na linha francesa, como já fora dito, este movimento de interpretação, procurando também explorar as contribuições externas que o discurso dos entrevistados traz, no que diz respeito às concepções que os mesmos defendem, não somente no instante em que as questões são apresentadas, mas também em todo o decorrer deste trabalho investigativo. Buscamos considerar toda forma de expressão utilizada para a análise, seja ela dita ou silenciada, porém não tomando isso como uma verdade totalmente pronta e acaba, mas sim como um terreno linguístico onde cabe muito estudo e reflexão, pois, como afirma Pêcheux (1997) a língua é um sistema passível de falhas e são estes conjuntos de fatores, empíricos ou

não, que interagem de melhor forma para que o pesquisador e pesquisado encontrem nesta prática os elementos que entrelaçam e justificam a ação do discurso.

CAPÍTULO V:

No documento JORGE LIMA - dissertação (páginas 96-102)