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SUMÁRIO INTRODUÇÃO

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

4.5. Instrumentos e técnicas de coleta de dados

A tabela 1 mostra a descrição dos objetos de estudo, variáveis e instrumentos construídos e utilizados nesta pesquisa, assim como o momento previsto para a coleta de dados através dos respectivos instrumentos e os estudos aos quais estão inseridos.

Tabela 1. Descrição de temáticas, variáveis, instrumentos e fases dos estudos.

Temáticas Variáveis Instrumento Estudo

Características

sócio-demográficas Sexo, idade, escolaridade, condição sócio-econômica. Entrevista, questionário

e grupo

focal

1, 2 e 3

Rede social Situação conjugal, pessoas com quem reside e com quem tem contato.

Entrevista, questionário e grupo focal 1, 2 e 3 Representações sociais do envelhecimento, idoso e rejuvenescimento Conteúdo, estrutura, organização e dinâmica das representações sociais. Questionário , entrevista, rede associativa. 1 e 3

Percepção das fases

da vida Percepção das fases da vida Questionário 1 Atitudes e

estereótipos etários Atitudes relacionadas a estereótipos etários positivos e negativos, e estereótipos do idoso. Escala de atitudes e estereótipos etários (EAEE) e grupo focal 1 e 2

Alguns estudos afirmam a necessidade de diversificar as técnicas utilizadas para buscar atingir os vários níveis do pensamento social (Contarello, 2005; Doise, 2001; Jodelet, 2001; Moreira, Camargo, Jesuíno & Nóbrega, 2005; Menin, 2006; Nascimento-Schulze & Camargo, 2000; Vala, 2004). Neste estudo são utilizados os seguintes instrumentos e técnicas: (a) questionário com escala de atitudes, (b) grupos focais com uso de material gráfico e cartões de palavras, (c) entrevistas e redes associativas.

(a) Questionário e Escala de Atitudes e Estereótipos Etários (EAEE)

Baseando-se nos estudos brasileiros sobre representações sociais do envelhecimento (Eiras, 1982; Martins, 2002; Teixeira, Settembre & Leal, 2007; Veloz, Nascimento-Schulze & Camargo, 1999; Wachelke, Camargo, Hazan, Soares, Oliveira & Reynaud, 2008), nas escalas que foram desenvolvidas e adaptadas ao Brasil para medir atitudes de jovens e adultos em relação à velhice (Neri, 1986; Neri, 1991), e outras que foram adaptadas para avaliar o idadismo - Escala de Idadismo de Fabroni (UIF) (The Fabroni Scale of Ageism – FSA) (Neto, 2004), além da revisão de literatura científica realizada sobre a temática, desenvolveu-se um questionário semi-dirigido constituído por questões de múltipla escolha e uma Escala de Atitudes e Estereótipos Etários (EAEE).

• Escala de Atitudes e Estereótipos Etários (EAEE)

A escala de atitudes desenvolvida foi do tipo Likert de cinco pontos, que variava suas respostas de “discordo totalmente” até “concordo totalmente”, considerando que quanto mais o escore numérico do participante se aproximava do número 5, mais favorável ao envelhecimento era o posicionamento dos mesmos. O objetivo da escala foi fornecer escores que permitissem a comparação entre os participantes através da obtenção do posicionamento atitudinal dos mesmos utilizando, para tanto, estereótipos etários positivos e negativos. A escala foi submetida a todos os processos de validade, precisão e fidedignidade (Pasquali, 1999).

Inicialmente foram desenvolvidos 50 itens que correspondiam a três fatores (físico, psicológico e social do envelhecimento) com duas dimensões em cada um deles. Os mesmos foram submetidos à análise de juízes, sendo seis experts (especialistas e estudiosos da área de gerontologia) e quatro técnicos, os mesmos avaliaram as características do construto e a semântica do instrumento, respectivamente. A partir desta avaliação, 30 itens foram considerados com unanimidade, como mais adequados, sendo os demais avaliados como não adequados para aplicação com idosos, sendo os mesmos retirados. A descrição dos itens e a avaliação dos juízes encontram-se no Apêndice 2.

Após análise dos juízes, a escala passou por 10 pré-testes para detectar falhas despercebidas na elaboração, tais como ambigüidades, possibilidade de respostas não previstas, questões que dificultam a

compreensão pela ordem inversa ou negativa e para estimar uma média de tempo de aplicação do instrumento (Goetz, Torres & Cruz, 2010). Após a aplicação dos pré-testes verificou-se que nove itens ainda apresentavam problemas de entendimento ou se repetiam quanto ao seu conteúdo em outros itens, sendo os mesmos retirados da versão utilizada para o teste piloto.

Ao término das duas primeiras etapas de validação do instrumento (análise de juízes e pré-teste), foi possível perceber diferenças no tempo necessário ao preenchimento do questionário para adolescentes, adultos e idosos, além de considerar a variável escolaridade como um fator que interferia na forma de aplicação. Sendo assim, os idosos participantes com menos escolaridade, por exigirem maior tempo para o preenchimento da escala, continuaram com a auto- aplicação coletiva do questionário, mas em grupos menores.

Depois dos procedimentos de validade de face, interna e de conteúdo, a escala que anteriormente possuía 50 itens foi restringida para 21 itens (Apêndice 3). O número de itens utilizado não foi o mais adequado uma vez que de acordo com Pasquali (1999) ao final da validação a escala deve ser composta por cerca de vinte itens e que para tanto, pelo menos o dobro deve ser utilizado no teste piloto. No entanto, no caso do presente estudo, dois aspectos interferiram para que o número de itens da escala fosse mais restrito: (1) esta pesquisa integrava uma outra pesquisa10 tornando inviável a aplicação de um questionário muito extenso e (2) as pessoas idosas, especialmente aquelas com pouca escolaridade haviam apresentado problemas quanto ao preenchimento dos muitos itens no pré-teste, exigindo uma adaptação do pesquisador para que os dados fossem acessados sem prejuízo.

Após o processo inicial de validação, o instrumento com 21 itens foi aplicado através de um estudo piloto para 300 participantes com características semelhantes aos critérios de inclusão estabelecidos, também pareados por sexo e grupo etário. As repostas dos participantes foram analisadas separadamente considerando o grupo etário ao qual pertenciam. Salienta-se a importância de se considerar a construção de um instrumento como tipicamente direcionado a um tipo de população. Nesse sentido é importante determinar para qual faixa etária o instrumento foi elaborado, para qual nível sócio-econômico e de escolaridade, ou seja, quais as características bio-sócio-demográficas do

10 Este estudo fez parte da pesquisa intitulada “Aspectos comportamentais de homens com relação à atenção e cuidado com sua saúde: um estudo intergeracional” edital MCT/ CNPq/MS 026/2006.

indivíduo que constitui a população-alvo do instrumento (Goetz, Torres & Cruz, 2010; Haguette, 2000; Pasquali, 1999).

Os resultados advindos do estudo piloto foram submetidos à análise de consistência interna através do teste Alfa de Crombach. Considerando-se que valores iguais ou superiores a 0,75 são considerados suficientes (Barbetta, 2005), a escala mostrou-se consistente em 15 itens para os adolescentes (α= 0,77) e 16 itens para os adultos (α= 0,76), não se mostrando adequada para medir estereótipos etários entre idosos (α= 0,65). Além da análise de consistência os resultados da escala também foram submetidos à análise fatorial, dessa tarefa de fatorização resultou uma matriz contendo a saturação de cada variável em cada fator, utilizando para tanto a normalização de Kaiser. Dois fatores principais foram apresentados tanto para adolescentes quanto para adultos, que juntos contribuíram com 35,51% (24,59% para o fator 1 e 10,92% para o fator 2) e 34,38% (24,83% para o fator 1 e 9,55% para o fator 2) da variância, respectivamente. Os resultados desses procedimentos estatísticos realizados anteriormente justificam a opção pelo método de rotação Varimax, cujo objetivo é maximizar as altas correlações e minimizar as baixas (Dancey & Reidy, 2006), o referido método apresenta análise fatorial com a indicação de diagramas de declividade que demonstram a estabilidade dos itens nos fatores (Apêndice 4).

O primeiro fator se relacionou com as características da velhice e do idoso, e, o segundo fator com a discriminação do idoso. Após a análise fatorial foram excluídos ainda os itens que apresentaram saturação em mais de um fator, e também os três itens relacionados ao segundo fator, diante disso, o número de fatores e dimensões foi diminuído na tentativa de tornar a escala unidimensional. Através dos métodos de extração e rotação, os itens saturaram (>0,40) no fator 1. Ao final do processo de validação a EAEE apresentou 10 itens válidos para os adolescentes e 12 itens válidos para os adultos como mostra a tabela 2.

Tabela 2. Saturação por fatores para cada item da EAEE.

EAEE Adolescente Adulto

F1 F1

1. Hoje em dia os idosos são mais

independentes da família - 0,44

2. Quem é ativo não envelhece 0,51 0,60

3. Á medida que se envelhece pode-se

constatar que vale a pena viver. - 0,51

4. As pessoas idosas são mais solitárias 0,62 0,40 5. No trabalho os mais velhos não podem

competir com os mais jovens 0,45 -

6. Os idosos são pessoas sábias e experientes 0,55 0,55 7. Os idosos são pessoas interessantes 0,62 0,41 8. Acredito que me sentirei bem comigo

mesmo independente da idade que eu tenha 0,59 0,63 9. Depois da aposentadoria a vida se torna

chata e desinteressante

0,55 0,43

10. Acredito que quem tem uma mente jovem,

nunca envelhece. 0,52 0,56

11. Quando envelhecemos passamos a

depender da ajuda das outras pessoas. 0,48 0,43 12. Com o envelhecimento ficamos mais

tranqüilos e dificilmente nos irritamos. - 0,45 13. As mulheres idosas são tão bonitas quanto

as jovens 0,58 0,58

• Questionário

As questões envolveram aspectos de características sócio- demográficas dos participantes, da rede social dos mesmos, além de questões fechadas e abertas sobre a percepção das fases de desenvolvimento humano e representações sociais do envelhecimento (Apêndice 5).

O questionário foi composto por questões referentes à caracterização do participante (idade, sexo, escolaridade); rede social do mesmo (situação conjugal, com quem reside, contato freqüente); agrupamento de palavras a partir da escolha de palavras com maior e menor relação com a palavra indutora “envelhecimento”; percepção

sobre as fases da vida e por fim a Escala de Atitudes e Estereótipos Etários, explanada no item anterior.

A questão de agrupamento de palavras baseou-se em estudos anteriores sobre representação social do envelhecimento (Eiras, 1982; Martins, 2002; Teixeira, Settembre & Leal, 2007; Veloz, Nascimento- Schulze & Camargo, 1999; Wachelke, Camargo, Hazan, Soares, Oliveira & Reynaud, 2008) e buscou confirmar quais elementos eram mais centrais, qual a relação entre os mesmos e se havia diferenças nas representações sociais do envelhecimento conforme o grupo etário e sexo dos participantes. A questão foi desenvolvida com base nos indicativos do manual do programa SIMI 2000 (Vergès, Junique, Barbry, Scano & Zeliger, 2002). A questão foi composta por 20 palavras onde os participantes deveriam selecionar cinco palavras que mais se relacionavam com o “envelhecimento” e outras cinco que menos se relacionavam com a referida temática. As palavras utilizadas na questão foram: solidão, sabedoria, incapacidade, sexo, aposentadoria, trabalho, doença, atividade, experiência, amigos, declínio, utilidade, família, capacidade, tristeza, saúde, dependência, limitação, morte e tempo livre. Na questão sobre a percepção das fases da vida, os participantes deveriam responder quando se iniciavam as fases da adolescência, fase adulta e velhice, além de escolherem qual seria, na opinião dos mesmos, a melhor fase da vida. Esta questão foi inspirada numa série de estudos realizados sobre percepção da velhice e que utilizaram questionamentos semelhantes (Neto, 2004; Neri, 1991). Isto porque a idade cronológica pode ser um indício tanto para o posicionamento das pessoas, quanto para os comportamentos diferenciados emitidos (Neri, 1991).

(b) Grupo focal: material projetivo gráfico e cartões de palavras

O grupo focal é conceituado de acordo com Gaskell (2002) como um debate sobre um assunto comum ao grupo. Este debate é uma troca de idéias e experiências, sem privilegiar indivíduos ou posições. O grupo focal pode utilizar a associação livre para compreender conceitos e idéias sobre um determinado fenômeno, e para tanto, o moderador pode utilizar cartões de palavras ou fotografias com o objetivo de facilitar a exposição de estereótipos.

O material projetivo gráfico foi composto por doze fotografias11 de pessoas, onde se visualizava parte da face (Greenwald, McGhee &

11 As fotografias encontravam-se acessíveis na internet e foram selecionadas através do site de busca Google imagens.

Schwartz, 1998, Greenwald, Banaji, Rudman, Farnham, Nosek et al., 2002). As fotografias eram monocromáticas e ilustravam pessoas de diferentes etnias (negros e brancos), gêneros (feminino e masculino) e faixas etárias (jovens e idosos) (Apêndice 6). O referido material foi inspirado no Teste de Associação Implícita (Implicit Association Test - IAT) desenvolvido na Universidade de Harvard, que utiliza um software12 caracterizado por uma área específica sobre envelhecimento. As fotografias foram utilizadas na intenção de estimular de forma cognitiva associações implícitas relacionadas aos fenômenos velhice e idoso, além de verificar como o grupo participante utilizava categorias primitivas para realizar categorizações.

Além das fotografias também foram utilizados 70 cartões de palavras (Apêndice 7) com adjetivos divididos por antônimos (35 positivos e 35 negativos) baseados em estudos sobre estereótipos do idoso (Brewer, Dull & Lui, 1981; Galinsky & Moskowitz, 2000; Liu, NG, Loong, Gee & Weatherall, 2003). As palavras foram submetidas ao teste de 10 juízes para avaliar se havia concordância na atribuição de que as mesmas constituíam-se como antônimos. Embora tenha sido realizada a avaliação de juízes, a classificação das palavras em positivas e negativas foi atribuída ao final do grupo pelos próprios participantes. A utilização de materiais gráficos, como fotografias ou cartões de palavras, não é recente na psicologia social e nos estudos sobre estereótipos de grupos, alguns estudos utilizaram este recurso para acessarem essas informações (Berndsen, Spears, McGarty & Van der Pligt, 1998; Camino, Silva & Machado, 2004; Moliner & Vidal, 2003; Nascimento-Shulze, 1996).

(c) Entrevista semi-estruturada e redes associativas

O roteiro de entrevista (Apêndice 8) foi composto pelos dados sócio-demográficos, seguindo-se por questões amplas sobre envelhecimento e rejuvenescimento. A entrevista foi realizada individualmente, com roteiro semi-estruturado e posicionamento não- diretivo do entrevistador, o que quer dizer que o entrevistador utilizou técnicas para estimular a fala do entrevistado de forma livre, mas relacionada com as temáticas.

A técnica da rede associativa tem papel mediador entre os métodos quantitativos e qualitativos, produz dados textuais e permite liberdade de expressão considerável, mas simultaneamente deixa os

dados permeáveis às técnicas de processamento estatístico multidimensional. Utiliza-se de instrumentos associativos, através de códigos comunicativos lingüístico-verbais. A rede associativa tem o objetivo de investigar componentes latentes e avaliativos das representações sociais, permitindo captar elementos avaliativos profundos das representações devido à sua natureza projetiva, diminuindo o uso do filtro utilizado pelos participantes para orientar suas respostas, de acordo com os critérios de desejabilidade social (De Rosa, 2005). A rede associativa possui vantagem quando comparada com outras técnicas de evocações porque permite que os próprios participantes estruturem o seu campo semântico através de ligações entre as palavras associadas à palavra-estímulo. Os participantes descrevem a ordem de evocação das palavras, a ordem de importância das mesmas, qual a ligação entre as palavras ou grupos de palavras e ainda atribuem às palavras uma valência positiva, negativa ou neutra.

Neste estudo a rede associativa foi apresentada na forma horizontal, formato paisagem, composta por duas palavras-estímulo (envelhecimento e rejuvenescimento) de forma emparelhada13 e centralizada, apresentadas dentro de uma figura circular com 20 conectores, numa caracterização imagética de ramificações. Cada ramificação interliga a palavra-estímulo a termos (adjetivos e palavras), atribuídas mentalmente e escritas na figura pelo respondente (Apêndice 9).