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3. ENTRE MERCADO E SOCIEDADE CIVIL: A DISCUSSÃO SOBRE AGROTÓXICOS E OS

4.2. FORMAS DE INTERVENÇÃO DO ESTADO NO MERCADO DE AGROTÓXICOS

4.2.3. Instrumentos Econômicos

Conforme preceituam Nogueira e Pereira317, “os instrumentos econômicos de gestão ambiental buscam alcançar metas ambientais através de incentivos e desincentivos via sistema de preços”. Entre os instrumentos econômicos mais utilizados destacam-se:

_ Tributação e Imposição de Multas, que consiste na imposição ao agente econômico de custo sobre o uso de um bem ambiental, mediante um tributo e uma multa punitiva, com o intuito de reduzir a degradação ambiental318;

_ Subsídios319 são incentivos governamentais (redução ou isenção de impostos, reserva de mercado para produtos, créditos com juros baixos ou negativos) que objetivam auxiliar os agentes econômicos a suportarem os custos de controle da poluição quando houver dificuldades para que as externalidades320 sejam internalizadas;

317Ibidem, p.5.

318Note-se que a tributação não pode ser imputada sobre um ato ilícito, visto que o tributo não pode constituir sanção de ato ilícito, tal como dispõe o artigo 3º, do Código Tributário Nacional – “Art. 3º. Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”.

319Os subsídios são limitados a período e transações bem definidas e empregados sob a condição de não causarem grandes distorções nos mercados e nos investimentos. OCDE, “Evaluating Economic Instruments for Environmental Policy”, Paris: Organization for Economic Co-operation and Development – PECD, 1997)

320Externalidades existem quando o bem-estar de um indivíduo é afetado não só por suas atividades de consumo mas também pelas atividades de outros indivíduos, vale dizer, quando o agente decisório quanto à produção e/ou ao consumo não arca com todos os custos ou benefícios de suas decisões que afetam o bem-estar de terceiros. A meta fundamental da maioria dos sistemas de regulamentação ambiental é reduzir as externalidades negativas. MOTTA, Ronaldo Seroa da; RUITENBEEK, Jack; HUBER, Richard. “Uso de Instrumentos Econômicos na Gestão Ambiental da América Latina e Caribe: Lições e Recomendações”. Texto para Discussão nº. 440. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Rio de Janeiro, 1998, pp. 1/61.

102 _ Licenças Comercializáveis, a qual consiste na determinação de direitos do poluidor/usuário, de acordo com um nível total desejado de uso ou poluição, de acordo com um nível total desejado de uso ou poluição321;

_ Depósito Reembolsável, refere-se à sobretaxa colocada no preço de um produto potencialmente poluidor, a qual é posteriormente reembolsada ao consumidor na medida em que a poluição é evitada através do retorno do produto ou de parte de seus resíduos para um sistema de coleta322.

A aplicação dos instrumentos econômicos no mercado de agrotóxicos é essencial tanto para desestimular a produção, a comercialização e o uso de agrotóxicos no cultivo de alimentos, como para estimular a produção agrícola pautada em mecanismos sustentáveis.

A tributação e o subsídio, por exemplo, podem ser utilizados mediante a aplicação de alíquotas altas para a comercialização de agrotóxicos e afins e a isenção das operações de circulação de embalagens vazias, além da criação de créditos com juros reduzidos ou zero para os agricultores que não utilizam o agrotóxico no seu modo de produção.

O que é inviável, e vai de encontro aos princípios que regem a ordem econômica e a política ambiental, é a concessão de benefícios fiscais à comercialização de agrotóxicos, bem como os incentivos creditórios aos produtores, aos comerciantes em geral e aos usuários de agrotóxicos, quando se espera uma atuação do Estado diametralmente oposta, que, por meio dos instrumentos econômicos, visa reduzir e até mesmo coibir o uso dos agrotóxicos, em razão de seus malefícios ao ser humano e ao meio ambiente, bem como estimular a utilização de outros meios (alternativos aos agrotóxicos) na agricultura.

A gestão ambiental brasileira está aquém da eficiência na aplicação dos recursos públicos disponíveis para incentivar condutas sustentáveis e desestimular condutas degradantes ao meio ambiente e maléficas aos seres humanos. Nesse sentido, importa destacar a conclusão de Nogueira e Pereira323 no tocante à intervenção do Estado brasileiro na economia mediante a utilização de instrumentos de gestão ambiental:

“Estruturada em apenas alguns poucos instrumentos de persuasão (educação ambiental) e de comando e controle (EIA, licenciamentos, zoneamento e controle direto), a gestão

321In MOTTA, Ronaldo Seroa da; RUITENBEEK, Jack; HUBER, Richard. “Uso de Instrumentos Econômicos

na Gestão Ambiental da América Latina e Caribe: Lições e Recomendações”. Texto para Discussão nº. 440. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Rio de Janeiro, 1998, p. 23.

322In NOGUEIRA, Jorge M. e PEREIRA, Romilson R., “Critérios e Análise Econômicos na Escolha de

Políticas Ambientais.” ECO-NEPAMA, Brasília. 1999, p. 6.

103 ambiental brasileira alcança, ao final da década de 1990, o patamar que os norte- americanos e os europeus alcançaram há quase trinta anos. Instrumentos econômicos são praticamente inexistentes no cenário de nossa política pública ambiental, exceto pelo uso das multas. Mesmo essas são utilizadas de maneira distorcida: transformaram-se em fonte de incremento de receita de órgãos ambientais e deixaram de ser uma maneira de reduzir a degradação ambiental.

(...) No Brasil, constata-se uma excessiva (ou quase exclusiva) regulamentação sem, contudo, o uso de instrumentos adequados de implementação.”

Existem problemas de implementação dos instrumentos econômicos no Brasil decorrente da questão da equidade, isto é, da necessidade de estabelecimento de critérios objetivos e fundamentados de seleção dos instrumentos de gestão ambiental. Portanto, além da necessidade de rever os instrumentos de intervenção do Estado no mercado de agrotóxicos e preciso rever os critérios e a própria infraestrutura para a criação e a aplicação de novos instrumentos, sob pena de ineficiência.

4.3. PODER EXECUTIVO E O PAPEL DA ANVISA NA REGULAÇÃO DO MERCADO