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5. MÉTODO

5.2. Processo de coleta de informações

5.2.2. Instrumentos

Caracterização socioeconômica

Criamos um instrumento para realizar uma caracterização socioeconômica dos dois grupos de sujeitos que escolhemos, a fim de verificar se eles se enquadravam nos perfis de camadas sociais que buscávamos em nossa pesquisa. (APÊNDICE A). Escolhemos as seguintes informações como importantes: idade, sexo, grau de escolarização dos pais, ocupação deles, se o sujeito trabalha ou já trabalhou e, em caso afirmativo, em que ocupação o faz ou o fez.

Redações sobre projetos de futuro

Nossos instrumentos principais foram duas redações sobre projetos de futuro (APÊNDICE A). A primeira delas é um instrumento já validado por pesquisas anteriores (LIEBESNY, 1998; BOCK; LIEBESNY, 2003). Seu objetivo é apreender os sentidos subjetivos que os jovens constroem sobre seu próprio futuro, evidenciando os temas que aparecem.

O enunciado dessa primeira redação segue abaixo:

Hoje é dia 25 de setembro de 2022.

Você está pensando no que foi e no que tem sido a sua vida nesses últimos 10 anos.

Coloque-se nessa situação e conte essa história com detalhes.

A segunda redação é um instrumento novo, elaborado especificamente para esta pesquisa. Seu enunciado solicita ao jovem rico que imagine o futuro de um jovem pobre, e vice-versa. Seu objetivo é apreender os sentidos subjetivos que os jovens constroem sobre esse outro em condição socioeconômica desigual à sua e sobre a sua relação com ele.

O enunciado da segunda redação segue abaixo:

Hoje é dia 25 de setembro de 2022.

Pense em um jovem (um personagem fictício) que se formou no ensino médio, em 2012, em uma escola pública de um bairro pobre/ em uma escola particular de um bairro rico. O que foi e o que tem sido a vida dele nesses últimos 10 anos? Conte a

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Consideramos que a criação desse segundo instrumento nos permite realizar uma análise de como os projetos de futuro de cada grupo de sujeitos estão atravessados por sua condição socioeconômica. Apoiados no referencial teórico da Psicologia Sócio-Histórica, consideramos que sujeitos constituídos em camadas sociais diferentes, com acesso desigual a bens materiais e culturais, significam/sentem também de maneiras diferentes. Assim, ao buscarmos as redações desse dois grupos de sujeitos, que estão em situações socioeconômicas desiguais, pretendemos dar visibilidade a esses diferentes modos de ser, de sentir/significar.

As redações produzidas pelos jovens são meios para, a partir de suas falas escritas, acessarmos, em um processo construtivo-interpretativo, as significações – os sentidos subjetivos e os significados – desses sujeitos sobre si mesmos, sobre um outro em condição socioeconômica desigual e sobre suas relações, em uma sociedade marcada pela desigualdade social.

As duas redações, nesse sentido, são recursos metodológicos para acessarmos a dimensão subjetiva da desigualdade social. A comparação entre as duas redações de cada sujeito e entre o conjunto de redações dos dois grupos dá visibilidade à forma como os sujeitos de camadas socioeconômicas desiguais significam/sentem aqueles que estão em um lugar desigual ao seu na sociedade, ao modo como se relacionam e à forma como, assim, vão criando e caracterizando a realidade social desigual – e sendo, ao mesmo tempo, constituídos por ela.

5.2.3. A coleta de informações

Nas duas escolas, solicitou-se à direção que selecionasse 20 alunos para a participação na pesquisa, da forma como fosse melhor para a instituição. A participação dos jovens foi voluntária.

No dia da coleta, foram dadas aos participantes explicações sobre os procedimentos éticos da pesquisa, garantindo o anonimato e o caráter voluntário da participação. Na escola pública, alguns jovens saíram após a explicação, alegando que sua turma tinha uma aula naquele horário que eles não queriam perder. Na escola particular, uma jovem desistiu de participar, justificando para a pesquisadora que pensar sobre o futuro mobilizava muitas angústias e que ela preferia não fazer as redações.

Após as explicações iniciais sobre a pesquisa, foram entregues as redações em duas partes: primeiro, entregaram-se grampeados o Termo de Assentimento (APÊNDICE B), as questões sobre dados pessoais/socioeconômicos e a primeira redação. Os alunos foram

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instruídos a chamar a pesquisadora quando terminassem a primeira redação, para receber a segunda – a fim de evitar que escrevessem a redação sobre o seu futuro já tendo em vista a comparação com um jovem de classe socioeconômica desigual. Ao final, eles entregaram as duas redações juntas, unidas por um clipe.

Na escola pública, a coleta de informações foi feita com alunos que cursam o turno da manhã, durante um intervalo de aulas. A sala disponibilizada pela instituição era mobiliada com uma mesa redonda grande, que, no entanto, não comportou todos os alunos. Alguns jovens fizeram a redação sentados em cadeiras separadas. Pela disposição dos sujeitos em torno de uma grande mesa, observaram-se algumas conversas entre eles, que foram, na medida do possível, interrompidas pela pesquisadora. Estava presente durante toda a coleta uma professora que ocupa a função de mediadora na escola e estiveram presentes, em alguns momentos, outras duas professoras.

Na escola particular, a coleta de informações foi realizada com alunos que cursam o turno da manhã, em um momento após o término das suas aulas, depois do almoço. Alguns alunos chegaram em momentos posteriores à explicação geral e receberam instruções individuais. A sala disponibilizada pela instituição continha carteiras enfileiradas, o que evitou que os alunos se comunicassem enquanto faziam as redações. A pesquisadora esteve sozinha com os alunos durante toda a coleta.

5.2.4. Considerações éticas

Inicialmente, escrevemos uma carta de apresentação às escolas (APÊNDICE C), que entregamos ao diretor de cada uma, junto a um modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE D), a um modelo do Termo de Assentimento (APÊNDICE B) e a um modelo dos instrumentos (APÊNDICE A). Após obtida a autorização, cada diretor assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O Termo de Assentimento foi assinado por todos os jovens, como forma de se responsabilizarem por sua participação na pesquisa.

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética da PUC-SP, via Plataforma Brasil, e foi aprovado, recebendo parecer favorável à sua realização (Parecer número 89.826).

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5.3. Processo de análise

5.3.1. Caracterização socioeconômica

Trabalhamos separadamente com o grupo de jovens ricos e com o grupo de jovens pobres.

Para fins de organização, os sujeitos de cada grupo foram agrupados por sexo. Em seguida, foi selecionado, de forma aleatória, um código para designar cada um na pesquisa, preservando o sigilo das identidades dos participantes. Para o grupo de jovens pobres, foram usadas letras e, para o grupo de jovens ricos, foram usados números.

Tabulamos as informações socioeconômicas fornecidas por cada sujeito em uma tabela geral de seu grupo, a qual usamos para proceder à análise de cada variável: sexo, idade, ocupação dos sujeitos, escolaridade dos pais e ocupação desses (APÊNDICE E). Produzimos, assim, dados caracterizando cada grupo em um perfil socioeconômico.

Em seguida, procedemos a uma análise comparativa entre os dados dos dois grupos.

5.3.2. Redações

A primeira etapa da análise das redações considerou as produções de cada sujeito separadamente. As duas redações de cada jovem foram lidas mais de uma vez: a primeira leitura com finalidade de apropriação de seus conteúdos e a segunda para que pudéssemos destacar, em cada uma delas, os temas que apareciam– por exemplo, trabalho, família, ensino superior. Produzimos, para cada sujeito, uma folha com o registro desses temas, do conteúdo que aparecia em cada um e também com anotações sobre contrastes que apareciam entre o próprio futuro e o do outro. Um modelo dessa folha de registro se encontra no Apêndice F.

A segunda etapa da análise das redações consistiu em selecionar os temas que se repetiam para um grande número de sujeitos e transformar esses temas em categorias gerais. As categorias produzidas foram as mesmas para os sujeitos pobres e os ricos, de modo a permitir uma comparação entre os dois grupos. No entanto, as análises foram realizadas separadamente para cada grupo.

Em cada grupo, criamos uma tabela para cada categoria. Nessa tabela, foram inseridas todas as respostas dos sujeitos daquele grupo sobre aquele tema. Consideramos como uma

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resposta um trecho da fala de um sujeito particular, no qual aparece um conteúdo singular1 sobre o tema em questão. Quando, ao longo de uma mesma redação, houve mais de um trecho apontando para um mesmo conteúdo, desconsideramos as repetições, elegendo apenas o trecho que melhor o apresentou.

Cada categoria foi separada em uma seção diferente do capítulo. Nomeamos cada seção à moda do que Aguiar e Ozella (2006) propõem para os núcleos de significação: buscamos frases que explicitassem a significação básica daquele grupo de sujeitos a respeito do tema trazido na categoria. Tais significações foram comentadas abaixo de cada tabela.

Transcrevemos as frases do sujeito tal como ele as escreveu, mantendo quaisquer incorreções quanto ao uso da norma culta do português. Eventualmente, inserimos entre colchetes algumas informações explicativas, formuladas pela pesquisadora com base na totalidade das redações, por julgá-las essenciais para a compreensão do sentido de determinados trechos.

Ao final, foi produzida uma tabela geral, em que se registrou o número de respostas que aquele grupo de jovens produziu em cada categoria. Os conteúdos menos frequentes, que não chegaram a configurar categorias gerais para os dois grupos, também foram registrados nessa tabela geral.

Consideramos que, nesse processo de análise, partimos das falas de cada sujeito sobre determinado tema e nos aproximamos dos sentidos subjetivos constituídos sobre si, sobre o outro e sobre sua relação na sociedade. Por sua vez, ao produzirmos categorias gerais para todos os sujeitos, obtivemos como síntese os significados, partilhados por aquele coletivo de jovens, sobre os jovens de sua camada socioeconômica e sobre suas relações com sujeitos de classes sociais desiguais em nossa sociedade.

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Optamos pela expressão “conteúdo singular”, em vez de usar a categoria sentido subjetivo, porque não foi sempre que cada resposta trouxe um sentido subjetivo diferente. Às vezes, um sentido subjetivo se configurou por um conjunto de respostas.

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6. ANÁLISE