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Capitulo 4. – Percurso metodológico

4.4. Instrumentos utilizados

A escolha dos métodos e técnicas a utilizar é sempre uma tarefa árdua, dado o leque existente (e em expansão) e as suas possíveis aplicações. A literatura demonstra que, no âmbito da problemática do consumo de drogas, a aplicação de questionários tem sido recorrente e tem sido realmente importante para o estudo de grandes grupos. As entrevistas também têm sido utilizadas, ainda que em menor grau, e sobretudo para o estudo de pequenos grupos, e a observação participante tem surgido mais ligada às abordagens de cariz etnográfico, mas exigem grande disponibilidade temporal.

Relacionando vários factores, como as características dos grupos a observar e o quadro teórico desenvolvido, optou-se pela realização de entrevistas semi- estruturadas, como técnica principal, para se conseguir obter dados de uma forma mais aprofundada. No entanto, decidiu-se também aplicar um pequeno questionário, sobretudo como meio complementar ou de auxílio nesta investigação. Foi feito

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intencionalmente curto (ocupando uma página), uma vez que as pessoas inquiridas têm sido constantemente sujeitas a estudos e à aplicação de questionários, o que poderia contribuir para a desmotivação no seu preenchimento. Tal constrangimento foi transmitido à equipa de investigação quer pelos indivíduos observados, quer pelas estruturas intermédias, de R.R.M.D., que colaboraram na passagem dos questionários, numa fase inicial da investigação. Para o grupo secundário, de jovens, procedeu-se à realização de entrevistas grupais.

4.4.1. A entrevista semi-estruturada e o questionário

A entrevista, que pode ser livre, semi-estruturada ou estruturada, numa gradação decrescente da liberdade de resposta dada ao inquirido, tem sido correntemente utilizada, sobretudo no âmbito de investigações de cariz mais qualitativo. Na entrevista semi-estruturada é elaborado um guião ou um conjunto de perguntas, cujos temas ou dimensões o investigador quer analisar. Esses temas são centrais e são os principais para o investigador, mas este tem uma certa margem de manobra, para obter mais (ou menos) do que o esperado. Alguns guiões formulam mesmo perguntas, outros apenas possuem alguns tópicos acerca dos temas, deixando espaço ao investigador para elaborar a pergunta da melhor forma, consoante a interacção com o entrevistado. As entrevistas procuram colher opiniões, factos, comportamentos ou outros itens relacionados com o grupo que se estuda. A grande diferença comummente apontada, por oposição ao questionário, prende-se com o grau de liberdade dado ao inquirido para responder. Assim, numa entrevista, o investigador pode inverter a ordem das questões, pode introduzir perguntas que não estavam previstas, se estas se revelarem pertinentes para a investigação ao longo da conversa, ou pode retirar questões e reformulá-las. Já o questionário engloba uma série de perguntas, que podem ser do tipo aberto ou fechado, mas que devem ser exaustivas acerca dos dados que o investigador quer recolher. O questionário exige respostas escritas a obter junto dos inquiridos e geralmente traduz as variáveis de forma mensurável (Fortin, 1999: 249). A entrevista permite a recolha de informação de uma forma mais aprofundada, mais adaptada à interacção estabelecida com o entrevistado, portanto a cada situação. No entanto, exige mais tempo, uma vez que a

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sua execução tem de ser feita de forma presencial, no mesmo espaço, ou de forma directa, por telefone. A riqueza está na diferenciação dos dados obtidos, mas também aí reside o seu principal problema. O tratamento analítico dos dados torna-se mais difícil e complexo, sem respostas tipificadas. Por isso as entrevistas têm sido maioritariamente utilizadas para a observação de pequenos grupos ou de um número reduzido de pessoas.

Em termos de amostragem ou representatividade, o ponto de saturação determina o número de entrevistas necessárias para o estudo e ocorre quando as variáveis estipuladas foram já todas observadas e quando as entrevistas deixaram de trazer informação nova relevante, sendo a sensibilidade e conhecimentos do investigador importantes também para a sua determinação. O questionário tem a vantagem de poder ser passado de forma indirecta, isto é, pode ser realizado pelo próprio investigador ou fornecido aos inquiridos para preenchimento, e não tem de ser preenchido de forma presencial ou sincrónica. Assim, pode ser passado com recurso a ferramentas da Internet, por exemplo, ou até ser solicitado a terceiros que passem os questionários à população alvo. Uma vez que as respostas obtidas estão melhor tipificadas, o seu tratamento torna-se mais fácil e permite ser utilizado para o estudo de um grande número de pessoas, ao contrário da entrevista. No entanto, não permite uma recolha tão aprofundada e diferenciada de dados, nem a mútua adaptação que a interacção directa permite, na entrevista (Rocher, 1979; Quivy e Campenhoudt, 1997; Fortin, 1999).

No que respeita à entrevista semi-estruturada grupal, ou seja à entrevista realizada a um grupo que reúne algumas características consideradas pertinentes para determinada investigação, ela pode ter em conta as interacções estabelecidas e pode proporcionar um ambiente mais descontraído, engajando os indivíduos no seu próprio mundo. A entrevista grupal é vantajosa para registar opiniões ou representações sobre determinados temas.

Todos os instrumentos de recolha de dados utilizados foram construídos para o efeito. Tal foi necessário tendo em conta os objectivos do estudo. As entrevistas semi- estruturadas e os questionários empregados na observação do grupo alvo de utilizadores de drogas apresentam questões ou temas semelhantes.

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A entrevista foi estruturada num guião por tópicos, com três componentes principais: droga, informação e representações. Primeiramente, numa lógica de aquecimento e contextualização, solicitou-se aos entrevistados para responderem a algumas perguntas sobre a temática das drogas. Que aspectos negativos e positivos vêm nas drogas; que drogas conhecem e que efeitos têm; quais consideram ser as drogas mais consumidas actualmente. Na parte dedicada à informação, efectuam-se questões acerca do percurso pessoal, do conhecimento e avaliação da R.R.M.D.; dos agentes que transmitem informação com mais impacto e de forma mais credível; da mudança de comportamentos por acesso à informação; dos factores que potenciaram a experimentação de drogas, bem como a paragem de consumos. E no último trecho, dedicado às representações sociais sobre a lei fazem-se perguntas acerca do regime legal em vigor sobre o consumo de drogas em Portugal; avaliação e sugestões de alteração; percepção da influência do regime legal na variação do consumo de drogas; conhecimento dos serviços existentes; e violência policial.

O questionário abarca a parte da informação e das representações, mas foi retirada a parte acerca do percurso pessoal. Salienta-se mais uma vez a intencionalidade e necessidade de construção de um questionário de reduzida dimensão.

A entrevista grupal, realizada ao grupo dos jovens contou apenas com perguntas sobre as representações sociais acerca do modelo de regulamentação legal português sobre o consumo de drogas. Enquanto consumidores recreativos, não possuem conhecimento suficiente sobre informação no âmbito da R.R.M.D. para sobre ela opinarem.