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Capitulo 4. – Percurso metodológico

4.2. Tipo de investigação

Duas escolas de pensamento, uma mais positivista e outra mais naturalista, originaram dois tipos principais de investigação: a investigação de cariz quantitativo e a investigação de cariz qualitativo. De uma forma bastante simplista, pode-se dizer que a primeira procura sobretudo a recolha e quantificação de dados facilmente observáveis, como sejam aqueles que são externos ao investigador. Geralmente os objectos ou populações observadas são em grande número de forma a permitir

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generalizações. A teoria e revisão bibliográfica serve de enquadramento para a aplicação da mesma a uma situação concreta, de modo dedutivo. Já a investigação de cariz qualitativo procura a compreensão de fenómenos mais circunscritos, por vezes interligados com o investigador, de forma também a melhor poder aprofundá-los, em termos de compreensão e significado. Por vezes acontece a revisão bibliográfica ser realizada numa parte mais final da investigação, de modo indutivo, podendo ser mesmo gerada uma nova teoria (Fortin, 1999).

Tendo em conta os objectivos da investigação e o estado de arte, optou-se desde cedo por uma abordagem mais qualitativa, ainda que com total abertura para a realização de miscelagens metodológicas, se estas se revelassem preferíveis. A abordagem escolhida inclui algumas nuances fenomenológicas e etnográficas. Por um lado interessa perceber a opinião e a visão das pessoas que utilizam drogas, pelo lado da experiência pessoal e de vida, por outro perceber este grupo de pessoas enquanto participantes numa determinada cultura ou sub-cultura do uso de drogas. Para a escolha de uma abordagem mais qualitativa pesou ainda o facto de se considerar a relação sujeito-objecto entrelaçada pela intersubjectividade, com consequências na interacção e interpretação dos fenómenos (Fortin, 1999).

Algumas críticas são apontadas aos dois tipos de investigação. Aos métodos do tipo quantitativo são anotadas limitações no controlo das variáveis e na validade interna e externa dos resultados, que se prendem por exemplo, com a superficialidade das informações obtidas ou com a ausência da análise das redes e das relações sociais (Quivy e Campenhoudt, 1997). As principais críticas apontadas aos métodos do tipo qualitativo prendem-se sobretudo com o reduzido tamanho das amostras populacionais, não sendo possível serem estatisticamente representativas e dar por isso uso a generalizações do conhecimento, potenciando falhas na fidelidade e validade dos dados obtidos. No entanto, dada a quantidade de dados colhidos com os tipos de instrumentos de recolha qualitativos, as amostras não podem ser de grande dimensão. Formas de minimizar estes constrangimentos passam por tentar obter uma amostra saturada. A saturação é o termo utilizado para determinar o término de realização de entrevistas, por exemplo. Sabe-se que se atingiu o grau de saturação da amostra quando a realização de novas entrevistas não determina a angariação de novas informações relevantes. Se o grupo observado for relativamente homogéneo, a

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saturação atinge-se mais rapidamente que nos casos de grupos muito heterogéneos. Ainda que possa não ser atingida a saturação, é preferível procurar uma amostra verdadeiramente rica, variada, com casos diferentes, para que, apesar de esta não poder ainda assim ser representativa, poder ao menos dar uma visão mais global do grupo e do fenómeno estudado. Apesar destas críticas, o caminho percorrido pelos investigadores da área qualitativa tem sido frutuoso. A investigação tem sido aprimorada e aperfeiçoada, sendo cada vez mais reconhecida em termos de sistematização e cientificidade, recorrendo-se por exemplo a procedimentos como o

duplo check ou como a triangulação (Fortin, 1999).

De referir que a repetição de uma regularidade, quer no âmbito quantitativo, quer no âmbito qualitativo, constatada na literatura, ainda que em contextos, espaços ou grupos diferentes, traduz-se numa maior fiabilidade dos resultados da investigação (Gil, 2002). Por exemplo, se uma investigação referir que em França o impacto da informação sanitária, no âmbito das intervenções de R.R.M.D. tem impacto na alteração de comportamentos, e uma pesquisa posterior em Portugal observar o mesmo, os resultados terão maior consistência.

Esta investigação assume também algumas características do tipo descritivo. Procura-se expor características do grupo de pessoas observadas, como sejam algumas características sócio-demográficas, opiniões e representações. Procura-se ainda estabelecer alguma relação entre diferentes variáveis, ainda que o número de pessoas estudadas e o tipo de amostra construída não permita realizar qualquer tipo de generalização e extrapolação dos resultados. Apesar de não se ousar falar de uma investigação explicativa, pretende-se dar alguns contributos que ajudem na compreensão do fenómeno do consumo de drogas, em especial na alteração dos comportamentos no âmbito das intervenções da R.R.M.D. e no âmbito das representações acerca do modelo de regulamentação português, no grupo observado – utilizadores de drogas. O método interrogativo foi o utilizado para aceder às representações acerca do modelo de regulamentação legal português (Abric, 1994).

Apesar de as investigações explicativas serem bem mais fáceis na área das ciências naturais, no campo das ciências sociais também se podem verificar avanços, com as devidas contextualizações e constrangimentos inerentes, dada a complexidade dos objectos de cariz humano e social (Gil, 2002).

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“Os investigadores interessados em estudar o comportamento das pessoas não têm muitas opções na forma de colher dados: ou pedem aos sujeitos que digam o que fazem numa dada situação, por meio da observação ligada à entrevista, ou observam o que os sujeitos fazem por meio da observação directa” (Fortin, 1999: 241).

Está mais do que assente que a escolha da metodologia, dos métodos e técnicas de recolha de dados devem ser aqueles que melhor se adequam aos objectivos e âmbitos da investigação. Realizando uma ponderação sobre as vantagens e desvantagens dos diferentes métodos e técnicas, e tendo em atenção a revisão da literatura, decidiu-se optar pela utilização da entrevista semi-estruturada e pelo inquérito por questionário para observação da população alvo. Procurou-se ter ainda em conta os recursos disponíveis, os recursos humanos, limitados, os recursos financeiros e temporais, bastante limitados.