• Nenhum resultado encontrado

PARTE III ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO DE ALTA INTENSIDADE E DO MILITANTISMO ENTRE OS FILIADOS

CAPÍTULO 4 QUEM SÃO OS FILIADOS DE BASE DO PT NO BRASIL?

4.4 INTENSIDADE DE PARTICIPAÇÃO DOS PETISTAS

A intensidade da participação dos filiados de base no PT é o conceito-chave desta tese e será também a variável dependente nas análises que serão desenvolvidas posteriormente a esse capítulo.

Nesse sentido, é importante relembrar Heidar (2006) que explica que os filiados têm um papel ativo no interior dos partidos, na disputa de cargos de direção, na escolha de candidatos, nos debates, na tomada de decisões e na participação em eventos. Aos partidos interessa a participação dos filiados para ajudar nas campanhas eleitorais, para obter legitimidade e financiamento, para recrutar novos candidatos, para propagar suas ideias na sociedade, para sustentar opinião pública e para desenvolver novas políticas. Individualmente, os filiados querem ser membros para ter influência, obter favores materiais, ter acesso a informações, benefícios sociais e satisfação ou por razões sociais como tradição familiar, valores sociais ou ideologia.

No modelo dos círculos concêntricos, Duverger (1980 [1951]) define as categorias de membros simpatizantes e militantes de acordo com o grau de participação. Os simpatizantes são aqueles que declaram o seu voto, que acompanham regularmente a imprensa, que comparecem às manifestações e reuniões públicas (comícios), que contribuem financeiramente e que se envolvem em atividades de propaganda. Os militantes são adeptos ativos que participam de reuniões regulares, difundem palavras de ordem, apoiam a organização e fazem propaganda, preparam as campanhas eleitorais e trabalham para o partido.

Contudo, Whiteley e Seyd (2002) tratam do conceito de alta e baixa intensidade de participação a partir do engajamento em um conjunto de atividades que demandam mais ou menos recursos de tempo e esforço de participação dos filiados. Assim, tratam da hipótese de que há um declínio na intensidade de participação dos indivíduos nos partidos políticos, mesmo quando há um aumento quantitativo nas filiações, como foi o caso do Partido Trabalhista inglês, especialmente a partir de 1994.

No estudo realizado por esses autores, com base nos partidos Trabalhista e Conservador na Inglaterra, foram selecionadas nove variáveis para medir a intensidade da participação: colar cartaz, assinar

petição, fazer contato com políticos ou doar dinheiro foram classificadas como atividades de baixa intensidade, pois não exigem muito tempo e esforço; participar em reuniões, ocupar cargos no partido, participar da organização partidária, participar de comícios, ajudar nas eleições e no escrutínio, foram consideradas de alta intensidade pois demandam alto custo de tempo e de esforço.

Para a construção da escala de intensidade da participação dos filiados do PT, tomou-se como referência Whiteley e Seyd (2002) que apresentam uma lista de atividades (com respostas de múltipla escolha) classificadas numa escala de custo de participação com base nas dimensões de tempo e esforço despendido, resultando em nove variáveis apresentadas anteriormente. Aqui, buscou-se adequar o survey para um repertório de seis variáveis capazes de medir a intensidade de participação dos petistas, que ficaram assim distribuídas: alta intensidade (participar da organização partidária; participar em reuniões; participar de atividades em campanha eleitorais); baixa intensidade (doar dinheiro para o partido; fazer contato com políticos; assinar petições). Num primeiro momento, a distribuição dos dados para cada variável resultou nos seguintes percentuais:

Gráfico 15 - Frequência de participação em atividades de diferentes intensidades

Fonte: Survey “Filiados de Base do PT” (2014).

Dentre as opções com maior percentual de participação dos petistas estão dois tipos de atividades consideradas de alta intensidade de participação: as campanhas eleitorais, das quais mais de dois terço dos filiados se engajam (76%); seguido de reuniões com mais de metade dos filiados (55,7%). Depois vêm as opções consideradas de baixa intensidade em ordem decrescente na escala: assinar abaixo-assinado (42,2%), contato com políticos (35%), doar dinheiro para as campanhas

eleitorais (24%). Em último lugar ficou a opção que, de acordo com esta seleção, exige maior esforço e dedicação de tempo, que é a participação na organização partidária, com apenas 23,8% dos filiados envolvidos.

Por outro lado, como as respostas são de múltipla escolha, o mesmo filiado pode estar em mais de um ponto, ou seja, em mais de uma das atividades. Assim, apresenta-se a distribuição dos filiados numa escala de participação de seis pontos tendo-se a seguinte distribuição: Gráfico 16 - Escala da frequência de participação por quantidade de atividade

Fonte: Survey “Filiados de Base do PT” (2014).

Os resultados do gráfico anterior demonstram que os menores percentuais de filiados se encontram nos extremos da escala, ou seja, 12,8% dos petistas participam de apenas uma dentre as opções de atividades perguntadas e, ao mesmo tempo, 12,5% participam de todas as seis opções apresentadas. Portanto, ainda que os valores pareçam semelhantes, pode-se considerar baixo o percentual dos filiados que participam de apenas uma atividade, pois a ampla maioria participa de mais de uma atividade militante, enquanto que o índice de 12,5% para os militantes que participam de todas as seis atividades propostas pode ser considerado alto, já que exige uma atuação intensa de participação e de engajamento.

Como já foi ressaltado, há uma dificuldade de comparação deste resultado com outros países, pela diferença de contexto. Há uma impossibilidade de comparação com o próprio PT pela falta de pesquisas empíricas anteriores e também é inviável a comparação com outros partidos no Brasil, salvo o survey aplicado no Estado de São Paulo com militantes dos dez maiores partidos no ano de 2014, o qual conclui que

os petistas são fortemente engajados na militância partidária e em múltiplas atividades e os define como militantes partidários com alta intensidade de participação, como uma característica que os destaca e os diferencia no sistema partidário brasileiro (P. RIBEIRO, 2014a). Portanto, o foco desta tese é explorar os determinantes da participação e verificar a hipótese de diferentes intensidades influenciadas pelas variáveis de idade e tempo de filiação, ou seja, em decorrência do processo de socialização.

Considerações

De forma ainda exploratória, foram apresentados os resultados da pesquisa quantitativa aplicada junto à base de filiados do PT no Brasil que apontam algumas novidades, reafirmam algumas conclusões já apontadas em outros estudos e levantam outro conjunto de questionamentos que são importantes de serem aprofundados, mas, acima de tudo, contribuem para se conhecer melhor esse sujeito coletivo, pertencentes ao círculo concêntrico que Duverger (1980 [1951]) define como: “os militantes são aqueles que têm importância interna e no funcionamento dos partidos”.

Analisando os resultados, com base na literatura mobilizada até aqui, pode-se afirmar que a coleta do banco de dados foi uma amostra simples que conseguiu atender a expectativa de distribuição por cotas incluída como critério para fortalecer a consistência do survey. Nesse sentido, o perfil dos entrevistados também foi importante porque mais de 80% foram filiados de base, ou seja, não pertencem a nenhuma instância partidária, o que diferencia essa pesquisa dos demais bancos de dados disponíveis sobre o tema.

Em síntese, pode-se afirmar que há um padrão de perfil dos filiados do PT com pequenas diferenças geracionais, ou seja, em relação ao tempo de filiação (velhos e novos filiados), que pode ser resumido nas seguintes características: o petista é um tipo de eleitor sofisticado (acima da média nacional correspondente às condições socioeconômicas, tempo livre e recursos cognitivos); tem trajetórias de socialização marcadas pelo engajamento em movimentos sociais (multimilitantismo); identifica-se com um estilo de partido de frente de massa, basista e mais com o petismo (projeto político) do que com o lulismo (líder carismático); valoriza o contato direto com o partido (sociabilidade); mobiliza-se por incentivos de missão (benefícios coletivos, incentivos expressivos e tem alto senso de eficácia política subjetiva em relação à política de modo geral, porém mais forte ainda em relação ao próprio

partido); ideologicamente se autoposiciona à esquerda do próprio partido e dos governos petistas, ainda que se constate a disparidade curvilínea em relação aos delegados partidários; e, finalmente, apresenta uma participação de alta intensidade comparando com a hipótese geral do declínio dessa característica nos partidos em nível global (WHITELEY & SEYD, 2002) e comparando-os com as poucas pesquisas empíricas que estabelecem paralelos com outros partidos brasileiros (P. RIBEIRO, 2014b).

Ao mesmo tempo se percebem algumas diferenciações a partir do cruzamento dessas variáveis pelo tempo de filiação e idade que precisam ser melhor exploradas do ponto de vista desta pesquisa, através de uma análise de regressão linear, tomando a intensidade de participação como variável dependente em relação a questões de recursos socioeconômicos (renda, escolaridade, tempo livre); questões de socialização (tipos de recrutamento e socialização em movimentos sociais); em relação a alguns incentivos à participação e identidade dos petistas com o petismo ou lulismo.

Pode-se lançar alguns desafios: repetir outras pesquisas dessa natureza com a base do PT para produzir uma série histórica a exemplo do trabalho realizado pela FPA junto aos delegados petistas (1991/2010); produzir pesquisas comparativas com as bases nacionais dos principais partidos dos brasileiros; estender essa base comparativa com partidos da América Latina. Pesquisas dessa natureza poderão contribuir com a lacuna sobre o engajamento político dos filiados, geralmente negligenciada quando se estuda os partidos por dentro e se prioriza as elites (dirigentes ou quem tem mandato) ou os eleitores de modo geral. O tipo de militante partidário também nos diz bastante sobre o perfil do militante dos movimentos sociais, portanto, compreendê-lo é também contribuir com o debate da participação social em geral.

CAPÍTULO 5 - OS DETERMINANTES DA PARTICIPAÇÃO DE