• Nenhum resultado encontrado

PARTE III ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO DE ALTA INTENSIDADE E DO MILITANTISMO ENTRE OS FILIADOS

CAPÍTULO 5 OS DETERMINANTES DA PARTICIPAÇÃO DE ALTA INTENSIDADE

30. E você, influencia na política em geral?

( ) influi muito ( ) influi um pouco ( ) não influi ( ) não sabe

Fonte: Questionário do survey construído pelo autor (2014).

As opções de resposta foram dadas numa escala crescente de três pontos: (0) não influi; (1) influi pouco; e (2) influi muito. Em seguida, as respostas foram recodificadas de forma dicotômica entre os que consideram que não influi (0) e a soma dos que consideram que influi pouco ou muito (1). Considerando que os filiados aos partidos políticos possuem, em geral, altos sentimentos de eficácia política espera-se que esta variável apresente significância estatística e efeito positivo em relação à intensidade da participação.

Sexo

O fundamento para inclusão de tal variável está relacionado à teoria do voluntarismo cívico. Além disso, as desigualdades de gênero na política são bastante conhecidas e amplamente documentadas nos estudos sobre participação (VERBA, SCHOLOZMAN & BRADY, 1995, RIBEIRO & BORBA, 2015).

O debate sobre a necessidade de ampliação da participação feminina na política se justifica por razões de déficit histórico, primeiro pelo movimento sufragista e atualmente pelas políticas de cotas. No entanto, as cotas promovem a inclusão da presença feminina, mas não garantem a superação das diferenças estruturais e simbólicas (público e privado), da divisão do trabalho político como um espaço masculinizado, com habitus próprio do campo, que resulta na participação das mulheres com signos subalternizados (MIGUEL, 2010). Embora o PT tenha se destacado na proposição e implementação de políticas de cotas e paridade de gênero nas direções partidárias e ainda que tenha aumentado significativamente o percentual de mulheres filiadas (análise descritiva), acredita-se que não houve uma superação das assimetrias entre a participação política de homens e mulheres.

A pergunta que deu origem a esta variável foi direcionada de forma a obter uma única resposta, conforme quadro a seguir:

Quadro 7 - Pergunta utilizada no survey sobre Sexo dos filiados 2.Sexo: ( ) masculino ( ) feminino

Fonte: Questionário do survey construído pelo autor (2014).

Esta variável foi operacionalizada de forma dicotômica, considerando (1) presença do atributo masculino e (0) ausência dele. Assim, espera-se que ser homem ainda representa maior tendência a elevar a intensidade da participação no PT.

Escolaridade

A variável de escolaridade foi operacionalizada com base na seguinte pergunta:

Quadro 8 - Questão utilizada no survey sobre Escolaridade dos filiados 52.Até que ano da escola você estudou?

( ) nunca fui à escola

( ) 1ª a 3ª série – primário incompleto ( ) 5ª a 7ª série – ginásio incompleto ( ) 4ª série – primário completo ( ) 8ª série – fundamental completo ( ) 2º grau (médio) incompleto ( ) 2º grau (médio) completo ( ) superior incompleto ( ) superior completo

( ) especialização completa ou incompleta ( ) mestrado completo ou incompleto ( ) doutorado completo, incompleto ou mais

Fonte: Questionário do survey construído pelo autor (2014).

Como havia dez opções para uma única resposta, desde (1) nenhum ano de estudo até (10) doutorado completo ou incompleto, no entanto, as respostas foram recodificadas em quatro níveis de escolaridade: (1) nenhuma escolaridade; (2) nível fundamental; (3) nível médio; (4) nível superior. Portanto, foi construída uma escala crescente por níveis de escolaridade.

No modelo do voluntarismo cívico de Verba, Schlozman e Brady (1995), a escolaridade é um atributo fortemente associado ao desenvolvimento de habilidades cívicas, de onde seria possível derivar a expectativa de encontrar maior engajamento político entre os eleitores de maior escolaridade. No entanto, considerando-se o perfil da amostra (que encontrou filiados com alto nível de escolarização distribuídos de forma relativamente homogênea entre os petistas), espera-se que seus efeitos sobre a IP sejam reduzidos.

Renda

Em relação à renda, a expectativa relacionada com o modelo do voluntarismo cívico é a mesma que a variável anterior, ou seja, quanto maior a renda mais recursos os indivíduos dispõem para a sua participação. Porém, Pizzorno, Kaplan e Castells (1975) questionam o modelo de centralidade em que a participação política está relacionada diretamente com a posição social e apontam níveis intermediários subculturais baseados na identidade de grupos homogêneos como importantes fatores para uma participação intensa dos indivíduos.

Fillieule (2001) também analisa o processo de engajamento, permanência e desengajamento através de experiências de vida, evitando assim o determinismo da posição de origem dos indivíduos considerando outros fatores que estabelecem os laços interpessoais preexistentes para além de classe e posição social, como por exemplo, socialização, identidade, disposição psicológica e afetiva.

Quanto à operacionalização para a variável que mensurou o nível de renda, em vez de uma escala de seis faixas de renda anual, conforme o modelo de Whiteley e Seyd (2002), optou-se por sete faixas de renda familiar mensal, convertidas em valores de salários mínimos da época (considerando-se também os sem renda), que por sua é mais usual nos surveys aplicados no Brasil, conforme quadro abaixo:

Quadro 9 - Questão utilizada no survey sobre Renda dos filiados 53. De quanto foi aproximadamente a sua renda familiar no mês passado? ( ) até R$ 678,00 ( ) mais de R$ 678,00 até R$ 1.356,00 ( ) mais de R$ 1.356,00 até R$ 2.710,00 ( ) mais de R$ 2.710,00 até R$ 6.780,00 ( ) mais de R$ 6.780,00 até R$ 13.560,00 ( ) mais de R$ 13.560,00

( ) não tive renda ( ) não sabe

( ) não quero informar

Fonte: Questionário do survey construído pelo autor (2014).

Os valores apresentados nas opções de respostas correspondia às faixas salariais da época, ou seja, tomando como base o valor de um salário mínimo (seiscentos e setenta e oito reais) e multiplicando de acordo com a posterior codificação, que ficou assim definida: (0) sem renda, (1) até um salário mínimo, (2) de um a dois salários mínimos, (3) de dois até cinco salários mínimos, (4) de cinco até dez salários mínimos; (5) entre dez e vinte salários mínimos e finalmente (6) para os

que têm renda familiar mensal acima de vinte salários mínimos. As opções de respostas “não sabe” e “não quero responder” foram considerados missings.

A expectativa quanto aos efeitos da renda na explicação da intensidade da participação é semelhante aqueles esperados para a variável de escolaridade.

Tempo Livre

Essa é mais uma variável relacionada ao modelo do voluntarismo cívico e seu fundamento é que a disponibilidade de tempo se constitui em um recurso individual que pode ser utilizado no engajamento político. Ela indica a disponibilidade do indivíduo para se engajar politicamente ou, ao contrário, quanto mais ocupado profissionalmente menos tempo de participar politicamente.

Sua operacionalização se deu com base na seguinte pergunta: Quadro 10 -. Questão utilizada no survey para mensurar a variável de Tempo Livre

Em relação ao seu trabalho profissional remunerado, quanto tempo você se ocupa com ele?

( ) tempo integral ( ) tempo parcial

( ) não tenho trabalho remunerado

Fonte: Questionário do survey construído pelo autor (2014).

As respostas foram codificadas em uma escala crescente de tempo livre, dividida em três pontos: (0) trabalha tempo integral, em que se espera que disponha de poucas condições de participação; (1) trabalha em tempo parcial, que disporia de um pouco mais de condições de engajamento; e (2) não tem trabalho remunerado41, haveria maior

disponibilidade para o ativismo político. Optou-se por essa escala de três pontos por entender que no contexto brasileiro há militantes que buscam atividades públicas ou autônomas como opção de vida, a fim de reservar parte do seu tempo para a militância política42.

41 Nesse grupo dos que não têm trabalho remunerado estão incluídos os jovens

que não possuem independência financeira, os aposentados que têm remuneração mas dispõem de maior tempo livre do trabalho remunerado imediato e também os desempregados, que, neste caso, não têm remuneração, porém podem estar ocupados com a procura de emprego, mas dificilmente poderiam ser considerados num dos grupos anteriores.

42 HNSE (homem, novo filiado, do sudeste), 18 anos, estudante, disse: “Estou

Whiteley (2011) avalia que a condição de falta de tempo livre não é impeditivo à participação, ao contrário do consumo de internet, ou seja, quanto maior o envolvimento com as mídias eletrônicas menor a disposição dos indivíduos ao engajamento político partidário, porém, mesmo os que não têm tempo livre podem participar na mesma proporção daqueles que dispõem desse recurso.

O declínio da participação partidária tem relação com as transformações estruturais exógenas e endógenas aos partidos, a mudança de valores (pós-materialistas) que se reflete em alterações de comportamentos (INGLEHART, 2009) e evolução de modalidades não convencionais de participação política (TEORELL, TORCAL & MONTERO, 2007), consequentemente, os partidos políticos não representam mais uma opção de ocupação para os indivíduos que dispõem de maior tempo livre, então, espera-se que a variável não seja significante para a intensidade de participação dos filiados do PT. Variáveis com base nas dimensões sobre Tipo de Recrutamento

As variáveis que correspondem à dimensão de recrutamento indicam a influência da socialização e das redes de contato sociais que contribuem para a entrada do indivíduo no partido político. Tal variável tem relação com a teoria do voluntarismo cívico ao destacar as redes de socialização como capazes de ofertar habilidades cívicas que são mobilizadas para a participação, mas também com a sociologia do militantismo, pois Fillieule (2001) considera as experiências de vida observando os laços interpessoais preexistentes (socialização, identidade, classe e posição social, disposição psicológica e afetiva) e a noção de carreira como um processo diacrônico de socializações múltiplas.

A dimensão do recrutamento foi mensurada a partir do seguinte questionamento:

Quadro 11 - Questão utilizada no survey para mensurar o Tipo de Recrutamento 7. O que levou você a se filiar no PT?

(VOCÊ PODE ASSINALAR MAIS DE UMA OPÇÃO)

( ) fui procurado por algum dirigente do PT através de telefone ou pessoalmente em minha casa;

( ) me senti convidado pelo programa do partido na TV; ( ) vi algum anúncio em jornais ou outdoor;

( ) recebi uma carta de algum diretório do PT;

quero para a minha formação, para minha vida, no sentido de conseguir combinar as questões pessoais, a questão profissional e a militância”.

( ) fui influenciado no sindicato, associação, movimento social ou igreja; ( ) fui influenciado pelo movimento estudantil;

( ) fui influenciado por alguém da família;

( ) fui influenciado por algum amigo ou contato social; ( ) fui influenciado por alguém no local de trabalho; ( ) sempre gostei das ideias do PT;

( ) outros ____________________________________________________ Fonte: Questionário do survey construído pelo autor (2014).

Na operacionalização dessa dimensão, foram construídas três variáveis, considerando a fundamentação teórica e os testes empíricos realizados. Para verificar a possibilidade de agrupamento das variáveis, utilizamos a técnica da análise fatorial por componentes principais (Apêndice3). Dessa forma, chegou-se às seguintes modalidades de recrutamento: a) a primeira chamou-se de “recrutamento afetivo”, ou seja, aquele composto pela soma das opções de rede de relacionamento social (família, amigos + contato social); b) o segundo tipo chamou-se de “recrutamento em movimentos sociais”, considerando-se o engajamento prévio em sindicatos, associações, movimentos sociais ou igrejas, somados a influência de colegas em local de trabalho; e, finalmente, um terceiro, o tipo de “recrutamento ideológico”, que considera o engajamento dos indivíduos com base na identidade com as ideias do PT43.

Com isso, em relação ao recrutamento afetivo e o recrutamento em movimentos sociais foram somadas as duas questões e considerando apenas os indivíduos que não participaram de nenhuma das opções como zero (0), chegamos a uma escala de dois pontos para ambas as variáveis. Como a variável de recrutamento ideológico é individual, esta foi operacionalizada como dicotômica.

Sobre a influência do tipo de identificação coletiva ou disposição que levou os indivíduos a se filiarem ao PT e em relação à intensidade de participação, espera-se que os indivíduos que tiveram experiência prévia de engajamento em algum tipo de movimento social, e os indivíduos que se filiaram motivados pelas ideias tenham uma participação mais intensa, ao contrário dos filiados movidos por relações afetivas.

43 Esse segundo tipo de recrutamento permite também estabelecer um diálogo

com a teoria do militantismo, no que se refere às fases da trajetória militante (FILLIEULE, 2001).

Variáveis com base nas dimensões sobre Incentivos ou Retribuições à Participação

A dimensão de incentivos ou retribuições à participação será representada através de um conjunto de variáveis que estão relacionadas à sociologia do militantismo.

Gaxie (1977; 2005) não desconsidera a disposição altruísta dos militantes, mas entende que os indivíduos se sentem motivados ao engajamento quando há expectativa por retribuições, simbólicas ou materiais, que vão desde a oportunidade de ter acesso à informação e assim sentir-se socialmente aceito até a possibilidade de fazer carreira pública ou ser dirigente dentro do partido, portanto, obter benefícios financeiros e materiais44, ou ainda motivados por razões ideológicas.

A dimensão da retribuição foi verificada a partir do seguinte questionamento:

Quadro 12 - Questão utilizada no survey para mensurar os Tipos de Incentivos ou Retribuições à Participação