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vertente de Farmácia Comunitária: Farmácia São João (Covilhã)

6. INTERAÇÃO FARMACÊUTICO – MEDICAMENTO UTENTE

O aconselhamento ao utente é um dever de todos os farmacêuticos. As técnicas de aconselhamento e comunicação devem ser treinadas, principalmente no que toca à capacidade de escutar, questionar, ao estabelecimento de empatia, respeito e negociação com vista ao estabelecimento de uma relação de confiança com o farmacêutico e com o próprio medicamento. O atendimento deve passar por uma comunicação interativa nos dois sentidos, onde os participantes são convidados a responder e a obter as informações que ainda procuram. É dever do farmacêutico assegurar que o utente entende e aceita o tratamento (como e quando tomar cada medicamento e a importância da sua monitorização) e responder a qualquer dúvida ou questão que o preocupe (respeitante à medicação, ao seu estado de saúde e sua evolução).

Segundo a Farmacopeia Americana (USP) o aconselhamento farmacoterapêutico é uma abordagem que se deve focar no reforço da capacidade em resolver os problemas do utente com o objetivo de melhorar ou manter a sua saúde e qualidade de vida. É útil que o profissional de saúde respeite os comportamentos físicos, psicológicos, sócio-culturais, emocionais e intelectuais do utente bem como as suas crenças e valores; cabe ao profissional de saúde incentivar o doente a gerir a sua medicação de forma a ficar mais responsável pela sua saúde. Durante o aconselhamento, a quantidade e complexidade da informação cedida deve ser ajustada ao conhecimento e as capacidades de compreensão do utente, pelo que vocabulário específico da área medico-farmacêutica deve ser evitado, caso não seja percetível pelo utente. Devem adaptar-se as terminologias utilizadas à pessoa a quem nos dirigimos, mantendo um discurso simples e de fácil compreensão para evitar a confusão. Numa conversação presencial a mensagem é transmitida na maioria não-verbalmente através da expressão facial, linguagem corporal, contacto visual, voz e movimentos corporais. Como tal o sorriso é uma técnica que ajuda a que o utente se sinta menos intimidado e mais à

23 vontade. Em certas circunstâncias é necessário falar um pouco mais alto e mais devagar. Ao tentar aperceber se da personalidade do utente, o farmacêutico poderá aperceber-se igualmente dos seus sentimentos, o que permite adequar o aconselhamento e ser o que designamos de empático.

É importante mencionar que empatia e simpatia são conceitos distintos. A empatia consiste na capacidade de compreender o doente ao conseguir colocar-se no lugar do referido, percebendo os seus sentimentos, assim como a sua importância. Ao ser empático, em vez de simpático, o utente vai ver o farmacêutico como uma pessoa de confiança e mais facilmente falará com ele sobre a sua saúde e bem-estar. Depois do aconselhamento é importante deixar o utente à vontade para colocar qualquer questão. Existem perguntas que podem e devem ser colocadas: para quem é o medicamento; se tomou este medicamento antes ou não; se tem alguma alergia; se está grávida ou a amamentar; se está a tomar mais alguma coisa, como suplementos alimentares ou produtos naturais.

Em relação à medicação importa dizer que dentro das principais causas de abandono da terapêutica encontram-se as Reações Adversas ao Medicamento (RAM). Estas só devem ser mencionadas quando a probabilidade de se manifestarem for elevada. O mesmo se aplica em relação a possíveis interações, quer com outros medicamentos, quer com alimentos. Quando dispensa um fármaco que necessita de refrigeração o farmacêutico deve oferecer ao utente um saco isotérmico para conservar o produto. Informar o doente que os medicamentos que já não utiliza ou estão fora de prazo podem ser reencaminhados para o ValorMed. Não menos importante é a monitorização da terapêutica. Deve informar-se o utente quando e o que esperar que aconteça/sinta durante o tratamento que lhe foi indicado ou prescrito. Isto permite que o utente estabeleça objetivos terapêuticos realistas e fortalece a compliance (define-se como a medida da aceitação do doente) à terapêutica quando os resultados só se veem ao final de um longo período de tratamento. Sempre que adequado, entregar folhetos informativos e, caso o farmacêutico tenha dúvidas, deve consultar a informação científica dos medicamentos, informação essa que pode ser transposta para uma linguagem mais comum no sentido de fornecer esclarecimentos ao utente.

Considero que, sem espaço para dúvidas, o atendimento foi a tarefa mais apreciada ao longo do período de estágio, pela capacidade comunicativa que é possível criar com o utente que procura o ato farmacêutico, que permite estar a par dos seus problemas de saúde e tentar participar ativamente na resolução dos mesmos. É nesta etapa que deve mos aprimorar todo o conhecimento técnico científico sobre a farmacologia que aprende mos ao longo dos cinco anos que compõem o curso de Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas.

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6.1. VALORMED

A farmácia São João dispõe de um sistema de recolha de medicamentos, ValorMed, uma sociedade sem fins lucrativos que gere os resíduos de embalagens vazias e medicamentos fora de uso e validade. Os utentes são assim incentivados a devolver à farmácia os medicamentos que já não utilizam ou que passaram o prazo de validade. O material recolhido é colocado em contentores próprios e quando cheio é selado. Os contentores são recolhidos pelos fornecedores da farmácia, neste caso em concreto pela OCP. Na recolha é preenchida uma ficha com registo do código da farmácia, assinatura de quem verifica e peso do contentor. O original segue com o contentor e o duplicado fica para a farmácia. É permitido colocar neste contentor: folhetos informativos, cartonagens vazias, frascos, blisters, ampolas, bisnagas e todos os acessórios utilizados para facilitar a administração de medicamentos (colheres, seringas doseadoras, copos, conta-gotas) (12).

6.2. FARMACOVIGILÂNCIA

De acordo com a definição “A farmacovigilância é a atividade de saúde pública que tem por objetivo a identificação, quantificação, avaliação e prevenção dos riscos associados ao uso de medicamentos em comercialização, permitindo o seguimento dos possíveis efeitos adversos dos medicamentos.” (1)

O farmacêutico tem o dever de comunicar com a maior celeridade possível as suspeitas de reações adversas de que tenha conhecimento e que possam ter sido causadas por medicamentos. Quando detetada uma RAM esta deverá ser registada através do preenchimento de um formulário próprio a enviar às autoridades de saúde, de acordo com os procedimentos nacionais definido de farmacovigilância.

Importa referir que qualquer pessoa pode e deve notificar reações adversas aos medicamentos (RAMs) à Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (INFARMED), I.P. através do Portal do Sistema Nacional de Farmacovigilância (SNF) que foi criado para rececionar esta forma de notificações. No entanto, cabe sobretudo aos profissionais de saúde o dever de notificar todas as suspeitas de RAMs graves, mesmo as que estão descritas. Para isto, é necessário o preenchimento do formulário de Notificação para Profissionais de Saúde, que deve ser posteriormente enviado ao INFARMED, I.P (responsável pelo seu acompanhamento, coordenação e aplicação). Em cooperação com outros estados membros da União Europeia, colabora ainda na criação de uma rede informática que visa facilitar o intercâmbio de dados de farmacovigilância de medicamentos introduzidos no

25 mercado comunitário. Como os ensaios pré-clínicos e clínicos realizados antes da comercialização do medicamento apresentam várias limitações que não permitem a identificação de todas as RAM’s o perfil de segurança de um fármaco exige uma avaliação constante na fase de pós-comercialização (fase IV).