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A.2 – UNIVERSO DE REFERÊNCIA

IV. 2 INTERACÇÃO E COMUNICAÇÃO TOTAL

Toda a problemática acima desenvolvida enfatiza a importância de se atingir ou melhorar a consciência corporal, capacidade tanto mais relevante que esta tem efeitos na comunicação. Mesmo se a primeira forma de linguagem humana é “corporal”, é possível que devido ao poder da abstracção acima mencionada, se perca, ao longo dos anos, “o diálogo corporal”.

Esta consciência contribuirá de alguma maneira para aumentar a capacidade de comunicar, assim como para interpretar as mensagens “não verbais”. De facto, é sabido que as posturas, as atitudes, os gestos, e sobretudo o olhar, exprimem melhor do que as palavras a complexidade da interioridade humana. Conforme já mencionado, a percentagem das mensagens através do uso das palavras é ínfima. Segundo Ribbens e Thomson é menos de 10% (Birdwhistell tinha considerado que eram 30%...), enquanto “o tom da voz é responsável por praticamente 40% da mensagem que transmitimos e a nossa postura e gestos por 50%206”. Quer a capacidade de utilizar o corpo total, com coerência, transparência e abertura, quer o facto de se conseguir interpretar o conteúdo da comunicação do outro exige, em primeiro lugar, um profundo conhecimento de si, este, e essencialmente este, permitindo captar a complexidade dos outros.

Após a precedente argumentação, não restam, certamente, dúvidas quanto à importância da libertação e aceitação da diversidade da expressão do corpo. Este factor é tanto mais relevante quando se considera que o facto de controlar o corpo, nomeadamente a expressão das emoções, pode traduzir-se num investimento na aparência (nas máscaras) como mecanismo de auto-defesa, e este pode ter efeitos perversos para si, e, consequentemente, para os outros207. Como é fácil depreender, na interacção pedagógica, esta questão atinge uma importância capital. Professores com máscaras dificilmente ajudarão seus alunos a descobrirem e aceitarem a complexidade de suas interioridades.

206

Ribbens, Geoff, Thomson, Richard, Understanding Body Language in a Week, Hodder & Stoughton, (2Rev Ed - 31 julho 2002)

207

Também se deduz que não existem nestas circunstâncias condições para sentir e expressar empatia208.

A chave para intuir os sentimentos dos outros (i.e. possuir empatia) reside justamente na habilidade em ler os canais não-verbais: o tom da voz, o gesto, a expressão facial, etc... Robert Rosenthal, psicólogo de Harvard, estudou esta capacidade criando para tal efeito um teste que permite avaliar a empatia, denominado PONS (Profile of Nonverbal Sensitivity - Perfil de Sensibilidade Não Verbal). Os resultados destes estudos permitiram concluir que 90% ou mais de uma mensagem emocional são não-verbais, sendo estas baseadas na ansiedade no tom da voz, na irritação, na brusquidão de um gesto, etc... Além disso, estas mensagens são quase sempre captadas inconscientemente, sem que seja dada uma atenção especial à sua natureza209.

Estas “descobertas” só vêm, na realidade, confirmar as afirmações de S. Freud relativamente à sua interpretação do processo interactivo e comunicacional. De facto, este estudioso da complexidade do ser humano referiu que o mais importante na comunicação não são as palavras mas sim os actos. Assim, ele coloca as palavras para um plano secundário na medida em que estas poderão esconder mais do que revelar.

Outro factor importante a ter em consideração na compreensão e eficiência da interacção é o bom uso do espaço visto que este pode influenciá-lo positiva ou negativamente. Um dos primeiros autores a referir este factor foi Edward T. Hall. No que diz respeito à temática deste estudo, a Educação, é certamente pertinente referir que segundo este autor a disposição das cadeiras influenciam a comunicação. Assim, o facto de estas estarem colocadas em fila corresponderia a uma visão militar210, o dialogo sendo mais favorável quando os indivíduos estão colocados numa disposição em diagonal…

208

“Na opinião de vários autores (Colangelo et al., 1982, Gordon, 1990, Hargie et al., 1995) a empatia – muitas vezes descrita como o “pôr-se no lugar do outro”, o “ver pelos olhos do outro” – é a dimensão mais importante no processo de ajuda e a que mais pressupõe ume aceitação incondicional do Outro”, Feliciano Henriques Veiga, Indisciplina e Violência na Escola – Práticas Comunicacionais para Professores e Pais, Almedina, 1999, p. 36

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Ibid. p. 119 210

Edward T. Hall, LA DIMENSION CACHÉE, (titlo original The Hidden Dimension, 1996), Ed. Seuil, Coll. Points, 1997, p. 138

Outro aspecto referido neste âmbito é à distância que delimitam os interactantes. Hediger classificou-a em: fuga, crítica, pessoal e social. Já S. Hall211 classifica-a em zona íntima, pessoal, social e pública, cada uma comportando dois modos: a próxima e a distante.

Basicamente a ideia que está subjacente a estas noções é o conceito de território, visto que «toute chose vivante possède une limite physique qui la sépare de l’environnement extérieur212». A este limite, S. Hall atribui-lhe a designação de « bulle » ou seja o território pessoal onde se consegue adquirir « sa place, son chez soi, cette sorte de bulle à l’intérieur de laquelle on évolue et dont le diamètre varie selon certains paramètres qu’il revient à la proxémique d’étudier 213» .

211

Ibid. p. 143 212

Edward T. Hall, Le langage silencieux, Ed du Seuil coll. Points, p. 187 213

Catherine Kerbrat-Orecchioni, Les interactions Verbales, Tome I, 1/ Approche interactionnelle et structure des conversations, Armand Colin, 1990, 3ème édition 1998, p.168

“La bulle” personnelle est une autre forme de territoire. Chacun de nous vit dans une « bulle » invisible ou plus exactement dans une série de « bulles » dont l’accès est interdit ou, dans le meilleur des cas, restreint et limité dans le temps. Le volume de la « bulle » peut varier en fonction de la personne, de son humeur, du moment, de ses relations avec l’Autre, et, bien entendu elle varie aussi en fonction de la culture locale. Une intrusion dans cette « bulle » - en raison des conditions de logement, d’une promiscuité, de mouvements de foule, etc… est vivement ressentie et provoque hostilité et agressivité » S. Hall, citado por Catherine Kerbrat-Orecchioni, Les interactions Verbales, Tome I, 1/ Approche interactionnelle et structure des conversations, Armand Colin, 1990, 3ème édition 1998, p.168