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INTERATIVIDADE: A AMBIÊNCIA COMUNICACIONAL DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

As mudanças no cenário sociotécnico têm provocado inegáveis e irreversíveis mudanças na gestão da comunicação, levando indivíduos e sociedades em todo o planeta a uma nova ambiência cultural denominada “cibercultura” (LEMOS; LÉVY, 2010; LÉVY, 1999; SILVA, 2008). Nesse contexto, a cultura da transmissão e sua lógica audiovisual, sustentada pelos tradicionais meios de massa (impresso, rádio e tv) e pelos sistemas de

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Amante, L. & Oliveira, I. (Coord.) (2016). Avaliação das Aprendizagens: Perspetivas, contextos e práticas. Lisboa: Universidade Aberta. CC BY-NC-ND

ensino, perde terreno quando emerge a valorização da interatividade, entendida como interlocução da emissão e da recepção na cocriação da comunicação, da participação, da colaboração e do conhecimento (SILVA, 2005; 2014). Pode-se dizer que no cenário sociotécnico está em curso a transição da modalidade unidirecional para modalidade interativa (quadro a seguir).

Modalidade unidirecional Modalidade interativa Mensagem Fechada, imutável, linear, sequencial;

de autoria do emissor que tem o controle do conteúdo e da emissão.

“Viva”, modificável, em mutação na medida em que responde às solicitações do interator que opera com ela. Emissor Narrador que atrai o receptor (de

maneira mais ou menos sedutora e/ou por imposição) para o seu universo mental, seu imaginário, sua récita; contenta-se com a transmissão e com a repetição da mensagem de sua autoria.

Proponente que disponibiliza uma rede (não uma rota) e define um conjunto de territórios a explorar; não oferece uma história a ouvir, mas um conjunto intrincado de percursos abertos a navegações e dispostos a modificações.

Receptor Assimilador, ainda que não passivo; não dispõe de autoria física (somente imaginal) para intervir e modificar a mensagem.

Interator, participador; dispõe de recursos para intervenção física na mensagem como autor, coautor, cocriador, verdadeiro conceptor.

Os gestores das mídias de massa mais atentos ao espírito do tempo vêm se dando conta de que é preciso encontrar alternativas à modalidade unidirecional. Eles procuram agregar valor à distribuição de informação incluindo disposições da web que permitem alguma reciprocidade com o público. Os professores, por sua vez, não têm a mesma inquietação e raramente se dão conta de que também precisam atentar para a dinâmica comunicacional emergente e com ela modificar a ambiência de aprendizagem da sua sala de aula e, inclusive, a avaliação.

Em tese, muitos professores sabem que é preciso investir em relações de reciprocidade para a construção do conhecimento. Aprenderam isso pelo menos com o construtivismo e com o sociointeracionismo, que ganharam forte adesão em escolas e cursos de

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Amante, L. & Oliveira, I. (Coord.) (2016). Avaliação das Aprendizagens: Perspetivas, contextos e práticas. Lisboa: Universidade Aberta. CC BY-NC-ND

formação docente em todo o mundo, destacando o papel central das interações como fundamento da aprendizagem. Perceberam que a aprendizagem é um processo de construção do discente que elabora os saberes graças e através das interações com outrem, entretanto, não construíram em sua prática docente a necessária mudança paradigmática para além da modalidade unidirecional. E, para isso, precisarão colocar em questão a prevalência do falar-ditar e promover a morte do mestre narcisicamente investido de poder. Ao mesmo tempo, deverão se aculturar na cibercultura, onde o social e o tecnológico se apresentam imbricados e com perfis irreversivelmente distanciados do espectador forjado na cultura do audiovisual (SILVA, 2005; 2014).

 Social. Há um novo espectador, menos passivo diante da mensagem mais aberta a sua intervenção, que migra do controle remoto da tv para a tela tátil, imersiva e em rede conversacional, que lhe permite adentramento, autoria, colaboração e o gesto instaurador que cria alimenta a sua experiência comunicacional.  Tecnológico. A tela do tablet, laptop e celular não é espaço de transmissão, mas

ambiente de imersão, manipulação e interlocução, com janelas, ícones e aplicativos móveis, abertos a múltiplas conexões off e online, que permitem intervenções e modificações, autorais e colaborativas, nos conteúdos e na comunicação.

Aculturar-se na cibercultura a ponto de modificar a docência e a avaliação da aprendizagem, requer mais do que apropriação teórica do construtivismo e do sociointeracionismo. Requer modificação radical no esquema clássico da informação baseado na ligação unilateral emissor-mensagem-receptor. A educação ganha com essa mudança. Sua função social de sociabilizar o cidadão ganha com o impulso do novo cenário sociotécnico, no qual o professor (emissor) muda de papel, o conteúdo de aprendizagem (mensagem) muda de natureza e o aluno (receptor) muda de status (SILVA, 2005; 2014).

 O professor não emite mais o que se entende habitualmente como uma mensagem fechada. Ele oferece um leque de elementos e possibilidades para manipulação e operatividade criativa do aprendiz.

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Amante, L. & Oliveira, I. (Coord.) (2016). Avaliação das Aprendizagens: Perspetivas, contextos e práticas. Lisboa: Universidade Aberta. CC BY-NC-ND

 A mensagem não é mais “emitida”, não é mais um mundo fechado, paralisado, imutável, intocável, sagrado a ser reproduzido. É um mundo aberto, modificável na medida em que responde às solicitações daquele que opera com ela.

 O aluno não está mais em posição de recepção clássica. Ele é o novo espectador convidado à livre criação. A mensagem do professor ganha sentido sob sua intervenção autoral e colaborativa.

Essa mudança de papel, natureza e status resulta na ambiência comunicacional capaz de sustentar a sala de aula interativa, presencial e online. Docência, aprendizagem e avaliação estarão aí baseadas na disponibilização consciente de um plus comunicacional de modo expressamente complexo, presente no conteúdo de aprendizagem e previsto pelo docente, que abre ao aprendiz possibilidades de responder ao sistema de expressão e de dialogar com ele. Em síntese, os fundamentos da interatividade (SILVA, 2005; 2014) podem ser assim sintetizados:

 Participação. O emissor pressupõe a participação-intervenção do receptor: participar é muito mais que responder “sim” ou “não”, é muito mais que escolher uma opção dada; participar é modificar, é interferir na mensagem.

 Bidirecionalidade. Comunicar pressupõe recursão da emissão e recepção. A comunicação é produção conjunta da emissão e da recepção. O emissor é receptor em potencial e o receptor é emissor em potencial; os dois polos codificam e decodificam.

 Multiplicidade. O emissor disponibiliza a possibilidade de múltiplas redes articulatórias. Ele não propõe uma mensagem fechada. Ao contrário, oferece informações em redes de conexões permitindo ao receptor ampla liberdade de associações e de significações.

Nessa ambiência comunicacional, a avaliação pode estar sintonizada com a mediação docente construcionista que opera com relações horizontais abertas à coautoria. Na dinâmica todos-todos das interfaces da plataforma de e-learning – fórum, chat, wiki, blog e redes sociais –, o docente é um proponente da formação e, juntamente com os cursistas, promove a cocriação da comunicação, da aprendizagem e da avaliação.

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Amante, L. & Oliveira, I. (Coord.) (2016). Avaliação das Aprendizagens: Perspetivas, contextos e práticas. Lisboa: Universidade Aberta. CC BY-NC-ND

AVALIAÇÃO NA SALA DE AULA PRESENCIAL: A ABORDAGEM DE