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Interatividade e comunicação nas redes sociais

Internet, tevê digital, câmera no celular, telas interativas; a multimídia e a realidade virtual estão em toda parte e a interatividade mediada pela tecnologia é exigência do mundo moderno. A criação de espaços de diálogo e interação dentro das comunidades virtuais produz, a cada momento, possibilidades de encontros e associações dentro da internet, a interatividade tecnológica possibilita interatividades cognitivas e culturais dentro do espaço digital. Pessoas que, a partir da interatividade proporcionada pelo universo digital, realizam encontros e trocas, que envolvem interesses temporários em comum e são mediados pela internet.

O Facebook é um exemplo de sucesso dentro dessa imensa rede. Fundado em fevereiro de 2004 [Facebook Inc.] por Mark Zuckerberg, Eduardo Saverin, Dustin Moskovitz e Chris Hughes, inicialmente criado para os estudantes da Universidade de Harvard, foi logo expandido para outras faculdades, não parando de crescer. Em fevereiro de 2012, possuía mais de 845 milhões17 de usuários. Apesar de ter aberto espaço para outros públicos, o objetivo inicial se manteve: permitir o compartilhamento de dados e imagens entre as pessoas da forma mais rápida possível. Como em outras redes sociais, no facebook, esse relacionamento pode acontecer por meio de textos escritos, sons, fotos e vídeos.

O conceito dessa rede social é simples: depois de devidamente registrado no site, podemos convidar amigos, inscritos ou não, a fazerem parte da nossa rede. Assim, vão surgindo pequenas redes, dentro da rede central que abarca todos os usuários. Com esses amigos, podemos partilhar, coletiva ou individualmente, fotografias, vídeos, mensagens, convites para eventos, ou realizar uma conversa por meio do “bate-papo” (chat). O facebook, como uma das redes sociais mais utilizadas no momento, tem interferido nos processos de participação do usuário na internet, chegando a promover debates e ações públicas [como na organização de manifestações públicas apartidárias: a marcha das vadias18 e o movimento contra a corrupção19]. Até certo ponto, isso demonstra que a internet pode constituir-se, também, como importante meio de promoção de uma conduta mais ativa do cidadão.

Comunidades virtuais são grupos que não exigem muitas negociações para alguém fazer parte. Nelas, a pessoa simplesmente decide que quer fazer parte, basta ter acesso à internet. O que mantém uma comunidade unida é a existência de uma ideia e, no caso das redes sociais, uma ideia ou afinidade em comum, mediada por um site. O uso da internet, e mais especificamente do Facebook, parte da necessidade de cada utilizador estar conectado [ativo] com a rede e, por isso, é necessária uma ação, uma vontade de participação. Sem qualquer tipo de contrato [a única exigência é ter acesso à internet e, no caso do facebook, ter mais de 13 anos], as pessoas que participam o fazem de livre e espontânea vontade, são parte

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Disponível em: <http://www.zdnet.com/blog/facebook/facebook-has-over-845-million-users/8332>. Acesso em: 02 abr. 2012.

18 Disponível em: <http://www.facebook.com/marchadasvadiasdf?fref=ts>. Acesso em: 10\09\2012 19 Disponível em: <http://www.facebook.com/groups/porumbrasilmelhor/?fref=ts>. Acesso em: 10\09\2012

dessa rede, pela própria escolha ou necessidade, e dependem somente do seu acesso e sua participação. Conforme MCLUHAN (2007, p.19),

A velocidade elétrica, aglutinando todas as funções sociais e políticas numa súbita implosão, elevou a consciência humana de responsabilidade a um grau dos mais intensos. É este fator implosivo que altera a posição do negro, do adolescente e de outros grupos. Eles não podem mais ser

contidos, no sentido político de associação limitada. Eles agora estão envolvidos em nossas vidas, como nós nas deles – graças aos meios

elétricos.

Comunidades imaginadas, virtuais, não são ficção; possuem processo sócio histórico, vínculos afetivos; produzem conhecimento e, muitas vezes; formam redes paralelas de conhecimentos compartilhados. As diversas identidades vividas em rede não possuem, necessariamente, caráter de ficção. Ficção, nesse caso, é diferente de mentira, o faz de conta traz seu componente de verdade. Convém compreender o digital como a mídia e o virtual como a “matéria” existente em qualquer relação imagética. O virtual não se opõe ao real. Partindo da ideia de que toda comunicação é baseada na produção e no consumo de sinais, nesse sentido, não há separação entre realidade e representação simbólica. A realidade sempre se inicia no virtual, pois é percebida por símbolo; o espaço novo do sistema digital de comunicação não é a indução à realidade virtual, no sentido tecnológico, mas a construção da realidade na virtualidade digital, no sentido antropológico. De acordo com HALL (2002, p. 13),

A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente.

Já que o meio é construído por elementos técnicos e ideológicos, seu uso [interação] pode tanto estar comprometido pela técnica, como revelar e apoiar novas formas de uso e ideologias. Poderemos alcançar, assim, uma abertura, partindo da noção de que nosso discurso, dentro da web, é resultado infinito da ação da incompletude do sentido. A incompletude está sempre presente na comunicação digital, porque o texto digital é aberto à interferência do outro, aproxima-se, assim, a diversidade [vazio, caos] do “objeto” e dele faz emergir o surpreendente [novo], nessa eterna dança dialógica entre o todo e a parte, a informação [o conceito, a mensagem] aparece em movimento.

Nossas várias identidades [nacional, profissional, familiar] podem ser modificadas constantemente no espaço digital e “real”, entretanto a cobrança do espaço digital é muito menor e acontece, normalmente, sem confrontos. Além disso, uma comunidade na qual podemos nos expressar leva-nos a uma dimensão importante de valorização da nossa autoimagem, gerando confiança e maior utilização do meio. Essa ilusão de segurança gera um novo conceito de comunidade que trataremos logo a seguir.

A própria necessidade da interação possibilita o uso e a criação das redes, porque estas são montadas pelas escolhas e pelas intenções dos atores sociais. Isso implica nos laços sociais serem mais seletivos, formados de acordo com os interesses das pessoas e em constante movimento. Minha identidade está em constante modificação em relação a outras “mesmidentidades” [identidades compartilhadas].

Embora a interatividade seja uma característica do meio digital, não é uma realidade absoluta, pois depende dos usos e das relações comunicativas. Nessa construção, a interação é classificada pelo modo como se utiliza o meio. Nesse sentido, meu discurso interessa pouco, o que importa é a sua multiplicação, a participação do outro em meu discurso. A comunicação [no sentido apresentado no primeiro capítulo] possui o objetivo de “agir” sobre alguém, então, vejo a rede como canal que possibilita esse encontro. Na interatividade com meu “seguidor”, posso modificar meus comportamentos.

A dependência entre identidades [nesse caso, “mesmidentidades”] segue presente no universo digital, os eus virtuais desse universo existem em diálogo com os outros e, a partir dessa relação, vamos nos definindo pela aceitação e pela percepção dos valores em comum com outros, sem o envolvimento corporal, sem as sutilezas do contato e, sim, “seguros”, mediados pela máquina. Nossa identidade aparece como um conjunto de significados partilhados e se constrói por nossas escolhas e nossos abandonos dentro das redes e no uso da ferramenta digital. Ainda segundo HALL (2002, p. 7),

A assim chamada “crise de identidade” é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social.

As identidades [mesmidades] formam o que chamamos de grupo, de comunidade, desse modo, nos definimos em relação a eles. Funciona como uma

máscara compartilhada, o paradoxo é que elas podem ser modificadas com liberdade, mas geralmente carregam a marca fixa de cada cultura. Dentro dessa ideia, para se alcançar a expressão, é preciso redefinir e largar essas marcas culturais e sociais que são geralmente estereotipadas, buscando uma identidade não absoluta, em movimento e com base poética.

Cremos, sim, que a identidade do homem deva situar-se não mais no opaco das camadas de representação pertencentes a diversos agrupamentos de humanos que se comportam como comerciantes de palavras e sentidos, mas na transparência da linguagem do coração que oferece caminhos, vias de acesso ao Aberto, esse círculo maior onde se fundamenta todas as coisas. Lá onde reside o desconhecido. (DRAVET, 2007, pg.81).

O espaço aberto na comunicação é uma marca do espaço digital e, dentro da interatividade digital, o “seguidor”, então, não é um destinatário passivo com a função de compreender o outro “interlocutor”. É exatamente uma resposta que o emissor espera na comunicação digital. É a resposta do outro que nos faz existir dentro da rede digital e pode nos desestruturar e levar ao desconhecido. Desse modo, também, nosso discurso vai se modificando, sofrendo avaliações e interferências de outros, assim, vamos construindo nossas identidades na rede. Se, dentro de uma comunidade digital, podemos alternar os sujeitos da fala, estamos no diálogo, um momento raro na comunicação contemporânea. Talvez, sem a presença física dos interlocutores, fique mais fácil emergir o acontecimento comunicacional.

Desse modo, o processo da comunicação contemporânea no meio digital torna-se o da mediação generalizada, da produção simultânea de sujeito e conteúdo, onde ser sujeito significa ser digital em fusão com o objeto, cada um funcionando como o meio [extensão] do outro. Os avanços tecnológicos, com seus artefatos dotados de larga capacidade de processamento de informação, multiplicam os fluxos de informação e comunicação, impondo à sociedade contemporânea um campo [espaço] de interação cujo centro é a própria tecnologia.