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Comunicação poética no espaço digital, aproximações com o teatro

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Academic year: 2017

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Comunicação

COMUNICAÇÃO POÉTICA NO ESPAÇO DIGITAL,

APROXIMAÇÕES COM O TEATRO

Brasília - DF

2013

(2)

RICARDO AUGUSTO PEREIRA

COMUNICAÇÃO POÉTICA NO ESPAÇO DIGITAL, APROXIMAÇÕES

COMO TEATRO.

Dissertação

apresentada

ao

Programa de Pós-Graduação Stricto

Sensu

em

Comunicação

da

Universidade Católica de Brasília,

como requisito parcial para a

obtenção do Título de Mestre em

Comunicação.

Orientação: Profª Drª Florence

Marie Dravet

(3)

12,5 cm

7,5 cm 7,5cm

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB 01/04/2013

P436c Pereira, Ricardo Augusto.

Comunicação poética no espaço digital aproximações com o teatro. / Ricardo Augusto Pereira – 2012.

97f; il.: 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2012. Orientação: Profa. Dra. Florence Marie Dravet.

1.Comunicação de massa. 2. Poética. 3. Redes de relações sociais. 4. Teatro (Literatura). I. Dravet, Florence Marie. II. Título.

(4)

Agradecimentos:

(5)

PEREIRA, Ricardo Augusto, Comunicação Poética no espaço digital, aproximações com o teatro, 2012, 97f. Mestrado em Comunicação, Universidade Católica de Brasília, Brasília-DF.

A pesquisa observa a importância da performance poética no cotidiano digital,

observando ações dentro da internet que buscam hábitos poéticos. O trabalha observa como a história do teatro, com seus processos criativos, pode iluminar nossa performance poética cotidiana, que vem cada vez mais se

estabelecendo no espaço digital. Nessa perspectiva de compreender a importância da linguagem poética na comunicação midiática, a pesquisa reflete a respeito dos conceitos de comunicação, performance, acontecimento,

indústria cultural, cultura de massa e espaço digital. Utilizando a teoria metapórica de Ciro Marcondes Filho, passando pelos filósofos da Escola de Frankfurt, mediados pela expressão teatral de mestres como Artaud, Brecht e Grotowski e por produções poéticas contemporâneas da internet, chegamos a proposta de aplicação, no universo digital, do conceito de leveza apresentado por Ítalo Calvino

(6)

PEREIRA, Ricardo Augusto, Poetic Communication in the digital space,

approaches to theater, 2012, 97f. Master in Communication, Catholic University of Brasília, Brasília-DF.

The research notes the importance of poetic performance in everyday digital observing actions within the internet seeking habits poetic. The work looks at how theater history, with their creative processes, can illuminate our everyday poetic performance, which is increasingly establishing itself in the digital space. This perspective to understand the importance of poetic language in communication media, the research reflects on the concepts of communication, performance, events, cultural industry, mass culture and the digital space. Using the theory of metapórica Ciro Marcondes Filho, going by the philosophers of the Frankfurt School, theatrical expression mediated by masters such as Artaud, Brecht and Grotowski and contemporary poetic productions of the internet, we proposed the application, in the digital world, the concept of lightness presented by Italo Calvino

(7)

SUMÁRIO

Introdução pg. 04

1. A poética como base da performance digital na efetivação do acontecimento

comunicacional

1.1 Comunicação poética pg. 15

1.2 Performance pg. 23

1.3 Acontecimento pg. 32

2. Redes sociais e suas possibilidades de expressão para efetivação da comunicação dentro do paradoxo padronização e identidade

2.1 Indústria Cultural e Cultura de Massa pg. 37

2.2 Interatividade e comunicação na rede social do Facebook pg. 44

2.3 Comunidade, amigo e curtir: novos conceitos no espaço digital pg. 48

3. Performances poéticas no espaço digital

3.1 A reutilização do palco italiano por Brecht e o novo espaço digital pg. 55

3.2 Teatro Digital pg. 61

3.3 Performances poéticas nas redes sociais digitais pg. 68

Considerações finais pg. 85

(8)

INTRODUÇÃO

A poesia é mais filosófica e de caráter mais elevado do que a história, porque a poesia permanece no universal e a história estuda apenas o particular (Aristóteles)

O presente trabalho tem como inspiração meu contato com o mestre de cultura popular Teodoro Freire, criador do centro de Tradições Populares de Sobradinho, onde, desde o primeiro aniversário de Brasília, realiza-se a festa do Bumba-meu-boi. Durante muito tempo como comunicador poético ligado ao teatro e as artes visuais, minha performance artística envolvia o teatro amador escolar e a

experiência acadêmica, ou seja, uma estética voltada mais ao teatro comercial. Assim, o encontro com o mestre Teodoro religou minha comunicação poética ao ritual, como palhaço do boi, minha função simbólica era ligar o sagrado e o profano ao espírito lúdico.

O estudo da performance poética sempre esteve presente em minha vida, a

própria vivência como palhaço Mateus, confronta minha performance de humor lírico

que parte da performance pessoal [rio de mim mesmo e não do outro], com a

performance de humoristas contemporâneos, que têm um caráter mais cínico,

partindo do outro, normalmente da crítica ao outro para a construção de sua

performance [vários humoristas possuem o hábito de escrachar, ridicularizar e até

humilhar pessoas, comunidades, classes sociais, etnias, povos e culturas].

Na comunicação teatral, a montagem de ações na elaboração da poética corporal, é um dos elementos que parte de um comportamento restaurado1 para instalar a ação performática e isso também acontece nas manifestações ritualísticas e nas práticas espetaculares populares, como o Bumba-meu-boi do Mestre Teodoro. Muitas dessas funções e ações se estruturam de modo hierárquico, cada figura [personagem] tem sua responsabilidade tanto simbolicamente durante a

performance como na organização do grupo e da festa. Todo esse conjunto de

ações vai criando o repertório pessoal do brincante, adquirido pela vivência de anos de atuação, criando assim, um repertório individual de textos, truques, piadas,

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críticas, versos, músicas e brincadeiras. Essa mesma repetição de ações definem sua identificação como máscara social [que geram personagem eternos como patrões, empregados e enamorados], todas elas somadas ao acontecimento, ao momento, em sua relação com o público presente, criando, assim, a performance

poética final. A pergunta que esse trabalho faz é como a história do teatro, seus processos criativos, podem iluminar nossa performance poética cotidiana que vem

cada vez mais se estabelecendo no espaço digital?

A pesquisa observa a importância da performance poética no cotidiano digital,

observando ações dentro da internet procuramos, dando um descanso para as velhas ações, buscar hábitos novos, hábitos poéticos. Esse olhar distante, de cima e de longe, rindo ou chorando de nós mesmos, é uma maneira de aprendermos muito a respeito daquilo que somos e como podemos agir em nossa vida cotidiana.

Diferentes das atuais performances humorísticas contemporâneas, assim como

aprendi em contado com mestres populares, ouvindo mestre Teodoro Freire e

vivenciando a prática com Mestre Zezito e Chico Simões2,os quais sempre

relacionam as piadas a si mesmos e aos estereótipos apresentados, ou seja, seu

humor é [era3] reflexo da sua performance, fruto da dilatação de sua comunicação

poética e ideológica. Toda essa vivência apresenta uma preocupação com a comunicação poética e agora pode se aliar ao mestrado em comunicação e a essa pesquisa em relação à comunicação poética e sua adaptação ao espaço digital [uma necessidade de nosso tempo].

Nos últimos anos, como resultado das modificações nas formas de

comunicação humana, proporcionadas pela “nova ordem” digital, a comunicação

artística também se desenvolveu e teve contornos diferentes agregados à sua prática. Como suporte e meio de comunicação, o espaço analógico carrega

estruturas textuais lineares; normalmente, seu alvo é um consumidor “passivo” e sua

comunicação realiza-se com baixa interatividade. Por sua vez, o espaço digital

carrega estruturas hipertextuais,seu alvo é um usuário colaborador e a comunicação

(10)

possui alta interatividade e interfaces eletrônicas associadas ao nosso dia a dia, as quais possibilitam a convergência entre diversos suportes.

Trata-se de uma “nova ordem”, segundo os pesquisadores André Barbosa

Filho e Cosette Castro (2004), porque a digitalização imprime maior velocidade ao

fluxo de informações, “seja do ponto de vista da transmissão, seja das capacidades

constantemente renovadas das plataformas preocupadas em trazer benefícios

agregados”4, os quais permitem aos usuários acesso à informação e à produção de

conteúdos ampliados, por meio da conjugação de tecnologias, muitas delas portáteis, como Palms, I-Pods e celulares com múltiplas funções e ferramentas.

Era da informação, era digital, independente do rótulo, a realidade é a mesma: vivemos uma grande transformação social impulsionada pelo meio digital. O universo elétrico, tão bem apresentado por Marshall McLuhan (2007), sofre uma nova revolução. A era digital se expande cada vez mais com ferramentas de comunicação que integram novas possibilidades em diversas áreas da sociedade. As mudanças são grandes e fazem parte do universo que exige constantes adaptações em ritmo frenético, no qual, quem dorme nativo de uma tecnologia, acorda estrangeiro de outra. As tecnologias avançam e, a cada dia, novos dispositivos eletrônicos intensificam a comunicação e modificam comportamentos. Em cada um desses suportes, o meio digital passa a fazer parte da narrativa, interfere na sua construção e carrega características próprias.

Os meios, como extensões de nossos sentidos estabelecem novos índices relacionais, não apenas entre os nossos sentidos particulares, como também entre si, na medida em que se inter-relacionam. O rádio alterou a forma das histórias noticiosas bem como a TV provocou mudanças drásticas na programação do rádio e na forma das radionovelas. (Mcluhan, 2007, p. 72).

Com a rápida evolução do meio digital como ferramenta de comunicação cotidiana e extensão de nossas relações sociais, quase todos os ambientes que frequentamos foram gradativamente se modificando. As transformações atingiram diversos âmbitos: econômico, social, político, educativo, as linguagens e, também, a divulgação cultural. Nessa nova ordem digital, a ação poética aparece em suporte digital e com modernas possibilidades líricas e técnicas, exigindo constantes adaptações do usuário.

4 Disponível em: <http://www.unisinos.br/_diversos/revistas/versoereverso/index.php?e=5&s=9&a=51>. Acesso

(11)

Nesse contexto, esta pesquisa propõe localizar alguns elementos poéticos envolvidos na comunicação desenvolvida no ambiente múltiplo da internet. Esse novo meio delimita relações e correspondências entre novos elementos, entre eles, a interatividade que pode transformar novamente a comunicação em

ação/performance, tomamos a comunicação no sentido apresentado por

MARCONDES FILHO (2010, p. 10).

(...) como um acontecimento, algo que pode ocorrer e não ocorrer, e que, de qualquer forma, quando ocorre, altera os padrões anteriores, violenta. A comunicação é o que pode transformar os homens, mas as investidas humanas na comunicação nem sempre são bem sucedidas. Na maioria das vezes, apenas entretêm, informam, dispersam, em suma, mantêm tudo como está.

Os objetivos da pesquisa são:

a) Observar uma produção contemporânea de comunicação poética

em postagens realizadas nas redes sociais,

b) Identificar padrões e características possibilitadas pelo universo

digital em relação às linguagens poéticas existentes dentro do espaço digital.

c) Proporcionar aos divulgadores produtores culturais, poetas,

estudiosos da comunicação com interesse em comunicação

poética, performance e comunidades digitais, uma reflexão acerca

das manifestações performáticas na web, procurando reconhecer o potencial comunicativo do sentido poético e elementos característicos desse novo espaço.

Na perspectiva de compreender a importância da linguagem poética na comunicação midiática, a pesquisa pretende, além de refletir a respeito dos conceitos de comunicação, performance, acontecimento, indústria cultural, cultura

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claro, para recuperar a comunicação transformadora dessa arte [muitas vezes sujeita a estética comercial].

Meu ingresso no mestrado em comunicação e o interesse pelas mídias que envolvem a comunicação contemporânea e, principalmente, seus elementos poéticos são frutos do meu exercício prático de criador e performer. Graduei-me em

artes cênicas em 1991 e venho trabalhando desde então com diversas áreas de comunicação poética [diretor de teatro, compositor, dramaturgo, palhaço popular]. De algum modo, como imigrante digital5, meu olhar focado no universo digital amplia

meu aprendizado e minha adaptação como artista e pesquisador da comunicação poética. Enquanto pesquisador do teatro e da comunicação poética, pretendo utilizar nesta pesquisa muitas referências que dizem respeito ao teatro, especialmente a teoria de Antonin Artaud, que buscava um acontecimento teatral transformador e ao trabalho de Bertolt Brecht e Augusto Boal, os quais associam arte a ação social resinificando o palco e o próprio conceito de teatro.

Observar o poético na comunicação dentro da rede social significa procurar os elementos que levam o poético a impulsionar o acontecimento, percebendo como se dá o impulso para o acontecimento a partir da desestruturação no ser que a experiência estética proporciona. Essa relação situa o pesquisador como objeto de pesquisa junto com o que é observado, sentindo no próprio corpo as reações externas do objeto, lendo o próprio comportamento e dando forma ao conceito.

Pesquisar aquilo que não se conhece, o que está sempre em movimento, um objeto que nos foge a todo momento, que nos escapa pelos dedos, pesquisar o transitório, esta é a estratégia matapórica. É um novo olhar para o evento comunicacional, é igualar-se em sua velocidade, é sentir e pensar, viver e trabalhar o vivido, ter a experiência do próprio corpo e dela extrair descrições, relatos, exposições, textos; transformar o vivido em depoimento, em testemunho vivencial. (MARCONDES FILHO, 2010, p. 263)

5Marc Prensky criou os termos “nativos digitais” e “imigrantes digitais" para diferenciar dois tipos de usuários do computador. Os “nativos” digitais são aqueles que nasceram imersos na cultura digital, com a tecnologia agregada a seu dia a dia e parte de sua comunicação associada ao fluxo eletrônico de dados. Como “imigrantes” digitais Prensky denominou todos aqueles que nasceram em um período anterior à internet e procuram

incorporar a tecnologia ao seu cotidiano, são identidades diferentes, rastros diferentes, como se o imigrante digital carregasse um sotaque analógico. Artigo Digital Natives, Digital Immigrants - From On the Horizon - MCB University Press. Disponível em:

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No sentido da razão durante6, é a performance pessoal do pesquisador, em

sua interação com o objeto de observação, que possibilita uma posterior análise científica e a delimitação da pesquisa. Como comunicólogo, procuro a sistematização de um caminho teórico para definir, não só o objeto de minha pesquisa, mas também a forma usada para pensá-la. O desenvolvimento do

metáporo passa, então, pela ação do comunicador. Nesse ponto, a pesquisa

científica metapórica seria pensar o que eu faço e onde fiz. “Não existem seres só

eventos”, MARCONDES FILHO (2010, p. 66) parte de Heráclito para explicar o

campo que envolve a pesquisa metapórica. Para o pesquisador, significa a troca de um olhar no processo por um olhar no acontecimento, além do desenvolvimento de um olhar para a subjetividade, na qual nasce a abertura para o não conhecido.

A pesquisa que apontou inicialmente para uma análise crítica acerca do meu trabalho de comunicador cultural, entretanto, após os estudos realizados nas disciplinas cursadas, as novas fontes bibliográficas e o encontro para a qualificação, obteve novas janelas abertas e o trabalho hoje aponta para uma reflexão acerca da

comunicação poética [performance poética] como ferramenta para a efetividade do

acontecimento comunicacional, conforme apresentado no princípio da razão

durante, de Marcondes Filho.

Para criar um espetáculo teatral, é preciso pensar a expressão artística não somente no que diz respeito ao momento do espetáculo, mas a todos os elementos que compõem seu processo de comunicação, partindo da imagem estampada na divulgação, as imagens e as palavras utilizadas, chegando à apresentação em si.

Relacionando o processo de comunicação digital à performance poética, pensamos

também na variedade de elementos envolvidos, por isso, a comunicação na arte é

entendida aqui como o espaço poético aberto por uma ação [performance] poética

realizada, por uma ação corporal, ou uma imagem, ou texto, ou poesia, ou desabafo,

assim, todas as ações na rede social são compreendidas como performance

poética. Nessa interação do usuário com a intenção poética no universo digital, a possível experiência estética proporciona uma abertura para a efetivação da comunicação, conforme MARCONDES FILHO (2010, p. 10).

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As comunicações triviais acomodam-se naquilo que já temos internamente assentado e funcionam antes como um mecanismo de conservação e de tranquilização. As formas comunicacionais mais expressivas, ao contrário, são aquelas que nos tiram disso, que nos incomodam, que mexem conosco, exatamente porque são associadas à expressão estética.

É precisamente uma mescla de elementos afetivos e cognitivos que possibilita a renovação da linguagem e dos conceitos e cria o quadro teórico. Compreendo a metodologia metapórica como um trabalho que vai se fazendo e sendo reorganizado no decorrer da relação com o objeto, o momento da escrita é aquele no qual as reflexões se formam e se transformam, para que velhas ideias se modifiquem continuamente. Escrever não é simplesmente redigir um texto a partir de um pensamento já cristalizado, pelo contrário, no momento da escrita, descobrimos. Escrevendo, chegamos ao momento no qual as reflexões se formam e se transformam, assim, novas ideias modificam continuamente a direção do trabalho já feito, proporcionando uma abertura constante para novas leituras que mostram novos horizontes de pesquisa e transformam continuamente o pensamento.

Não existe um discurso neutro. O próprio discurso possui características do pensamento apresentado, sem a separação da forma e do conteúdo. Nesse processo de reflexão teórica, escrever significa modificar o modo de ver o objeto, pois, dentro de cada conceito, estão nossos valores, nossas atitudes e nossas concepções de ser humano. A questão que se coloca é como não entender esses valores como absolutos, abrir a escuta do pesquisador para além do que ele conhece, para perceber que, na comunicação, os elementos objetivos se transformam em subjetivos, os quais têm tanta importância nos significados quanto os elementos racionais, porque os expande. O que posso ver dentro do objeto é separado, sublinhado, revelando uma parte escondida no todo, mas, limitando o próprio objeto. Separando o objeto, crio parâmetros para o olhar, entretanto, sem esquecer que a experiência estética, o olhar poético proporciona um caminho aberto, dialógico. O objeto deve ser compreendido como um campo de força e de tensão que aceita e rejeita classificações

As perguntas a serem investigadas partem das características das ações poéticas no processo de comunicação mediada por redes sociais e chegam a procurar o que legitima o poético como forma de comunicação efetiva, o que transforma o poético em importante elemento de comunicação no sentido do

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momento em que este acontece, durante seu movimento, é a proposta do princípio da razão durante. A pesquisa acontece como performance poética e, dentro dessa

experiência, brota a reflexão.

A comunicação digital carrega elementos de performance artística, por

combinar várias linguagens distintas como as artes visuais, a música, o vídeo e, sobretudo, a possibilidade de estabelecer uma relação de comunicação bidirecional com a transformação do conteúdo por parte do receptor, em tempo real. Esses dois caminhos do transmissor e do receptor fundidos e confundidos no universo digital produzem novas possibilidades de comunicação na divulgação cultural. É possível identificar ferramentas de comunicação que possibilitam novos usos para diferentes linguagens poéticas. Essas ferramentas expandem a possibilidade das relações humanas e podem efetivar o acontecimento comunicacional, no sentido de ser transformador em seu contato. Por ser uma ação pessoal, a interatividade, possibilitada pelo universo digital e pelas redes sociais, dinamiza a comunicação poética e envolve a performance pessoal do usuário.

Essa experiência poética do pesquisador, em sua performance pessoal na

rede social, proporciona análises e registros posteriores desse processo comunicativo. Como pesquisador, afino meu olhar para o poético não para a poesia em si, mas, sim, para uma identidade que nos iguala como humanos em nossas

paixões e experiências, efetivando a comunicação. Parte dessa identidade reside no imaginário e se revela de forma poética em imagens, símbolos, signos e mitos. Algumas dessas formas poéticas são tão poderosas que conseguem, nas mitologias religiosas, por exemplo, ser tomadas por realidade objetiva, por verdade absoluta. São significantes poderosos que se expressam poeticamente na forma de mitos e símbolos. Conforme JUNG (2000, p. 102),

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A poética aparece assim dando mobilidade à palavra que cria o sentido; surge como fronteira ou tradução do que é [o acontecimento] em mito, o que levaria o receptor a relacionar determinada qualidade com um efeito esperado não

determinado. Essa função de organização do discurso que seleciona “o como” é o

sentido da performance. Abrir a atenção ao acontecimento poético, funcionaria como

um sentido que liga os dois lados da comunicação à experiência estética. Aqui, o sentido do poético é agregado à vida, à performance do usuário da rede social.

Uma “epistemologia espontânea do saber comunicacional” (MARCONDES

FILHO, 2010, p. 263), como um caminho que se constrói no percurso da pesquisa, não procura uma linguagem comum para os estudos de comunicação ou se pauta em uma gramática básica de teorias já conhecidas. A própria característica das teorias da comunicação, por serem amplas e heterogêneas, prova da adequação do metáporo como ciência epistemológica para os estudos em comunicação. Um quadro básico das principais características das teorias da comunicação de massa aponta para paradigmas e matrizes teóricas que podem nortear a escolha de uma metodologia, um dicionário básico, entretanto, dentro da pesquisa aparecem para nortear esses conceitos na contemporaneidade e refletir sobre a comunicação no espaço digital.

Uma visão, um recorte somente abarca parte da complexidade do objeto. É como acontece na criação de um espetáculo coletivo; quando abordamos um tema, temos a possibilidade de observá-lo de vários ângulos. Quando definimos o espetáculo de teatro, de todo material coletado, utilizamos somente uma pequena parte dele. Essa linha é delimitada e não limitada. É fruto da vivência, da relação com o objeto e das escolhas metodológicas que ajudam na definição dessa fronteira, na qual o resultado final expressa o que foi vivenciado. A gramática desenvolvida na pesquisa metapórica é dinâmica e se modifica, seguindo uma linha de discurso que vai aos poucos desenhando paradigmas e conceitos que vão nortear a investigação.

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Procuro, assim, apresentar o percurso da mudança da perspectiva do trabalho do pesquisador, salientando a necessidade de um novo modo de pensar a comunicação, onde a incerteza e a instabilidade sejam consideradas instrumentos de investigação científica. Precisamos buscar o sentido da comunicação hoje, de acordo com as possibilidades desse filtro, ou véu, contemporâneo. Muitas vezes, é difícil compreender a realidade que está à nossa frente, por isso é importante pensar a pesquisa em movimento e interação. Nesse contexto, os conceitos que surgem me ajudam a refletir acerca da minha atuação de comunicador e comunicólogo, partindo dos caminhos apontados pelo teatro moderno e contemporâneo para o desenvolvimento do acontecimento poético e de uma comunicação transformadora. Trabalhando nas questões implicadas na construção da identidade contemporânea

dentro dessa nova ordem digital, já que a performance no espaço digital começa a

se impor como linguagem cotidiana e como espaço de expressão para artistas de diversas áreas.

A pesquisa apresenta-se em três capítulos: o primeiro traz uma reflexão a

respeito da poética na comunicação, na performance e como acontecimento,

partindo da fenomenologia e das reflexões de Heidegger e Vilém Flusser, os quais compreendem a própria realidade como poética, passando pelos conceitos da

performance art como ação deliberadamente poética que abre espaço ao

acontecimento, ou seja, à transformação do ser, ou, à efetivação da comunicação. Para o conceito de acontecimento, serão utilizadas as reflexões de Ciro Marcondes Filho, Gilles Deleuze, Félix Guattari e Antonin Artaud, principalmente em relação ao conceito de Corpo sem Órgãos, criado pelo teatrólogo e desenvolvido por Deleuze e Guattari.

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O terceiro capítulo traz uma avaliação de performances poéticas no universo

digital, divididas em experiências com o Teatro Digital, e outras poéticas digitais,

realizando uma análise das ações dos grupos “Coletivo Transverso” e “Coletivo

Palavra”, ações que buscam as potencialidades de comunicação dentro das

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Capítulo 1

A poética como base da performance digital na efetivação do acontecimento

comunicacional

Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e (minha alma) a lenha desse fogo.

(Fernando Pessoa)

1.1 Comunicação poética

Desde o tempo primitivo, o homem tem criado meios para apropriar-se de gestos, signos, sinais, palavras, desenhos, para viver processos de comunicação. Códigos cotidianos, como a linguagem oral e a escrita e códigos artísticos, como o teatro, a música e as artes visuais, todos eles carregando um infinito espaço de relações entre o emissor e o receptor. A utilização da forma poética dentro desses usos da comunicação tem sido uma forma efetiva de perpetuação de saberes tradicionais e experiências e serve como base tanto para um dos primeiros textos escritos encontrados pelo homem, a epopeia de Gilgamesh, como para as formas de comunicação midiáticas da contemporaneidade.

Nesse sentido, refletir a respeito da comunicação poética significa adentrar um vasto universo, porque o sentido poético trabalha implícita e explicitamente na comunicação cotidiana e na criação artística. Quando pensamos em elementos poéticos, esse conceito se expande para diversos aspectos, pois é possível identificar o poético em textos sacros, profanos, históricos utilizados no discurso emotivo, formal, político, fantasioso etc. Assim, podemos tratar, também, da função poética na comunicação, identificando alguns elementos que definem essa função. A

comunicação exerce função poéticacomo apontou JAKOBSON (1977, p. 123 a 129)

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é a base da pesquisa. O termo e sua análise podem ser aplicados a casos distintos e, neste trabalho, serão entendidos, principalmente, como um estado da mente, uma

performance para o olhar.

O poético que se encontra na arte, muitas vezes, é definido por regras

objetivas e alguns estudos, como a Poética de Aristóteles, que se preocuparam em

definir essas categorias estéticas, como a harmonia e a grandeza, por exemplo,

chegando a elaborar fórmulas: “A beleza consiste em unidade na variedade”

(SUASSUNA, 2005, p. 53). Como irmã pouco privilegiada nos festivais ao deus Dionísio da cidade de Atenas, a comédia prova que, dentro desse contexto,

devemos incluir também o “feio” como aponta SUASSUNA (2005, p. 55)

(...) Quando o grande grego tratou da comédia, como “imitação de homens inferiores e viciosos”, prova que, pelo menos implicitamente, Aristóteles admitia a desordem e a feiura como elementos aptos a estimular a criação da Beleza, através da arte.

Em qualquer uma dessas categorias, belo, feio, grandioso etc., a comunicação proporcionada pelas imagens produzidas pela arte ocorre e ecoa como produto direto da experiência poética. A dificuldade de colocar o poético e a imaginação no centro de uma pesquisa científica começa com a separação entre o científico e o poético [como se toda formulação de hipóteses não fosse um pensamento sensível]. A suposta oposição se relaciona ao empirismo, à passagem do mundo empírico [sensível] para o mundo científico [racional] acontece na abdicação do empirismo e na busca de um nivelamento do pensamento, de uma verdade. Minha existência e a existência de uma ideia nunca são determináveis, senão sensivelmente, ou seja, como existência de um fenômeno, de um acontecimento. Um encontro que, embora sofra constantemente bombardeios de pressupostos e preconceitos, pode abrir-se para novas possibilidades de conhecimento.

É o sentido figurado que prima o sentido próprio. Quer se queira quer não, a mitologia é primeira em relação não só a qualquer metafísica mas também a todo pensamento objetivo e é a metafísica e a ciência que são produzidas pelo recalcamento do lirismo mítico. (DURAND, 1997, p. 395).

Gilbert Durand, em seu livro Estruturas antropológicas do imaginário (1997),

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objetivas impostas no ambiente social. Se os mitos realizam a mediação entre o ser humano e o mundo, isso envolve, então, tanto o universo pessoal e subjetivo do eu quanto as pressões sociais e as imagens padronizadas. A imaginação poética ocupa, portanto, um lugar de destaque no alicerce profundo da psique, a base de tudo que é propriamente humano.

A força da cultura na criação e na definição da nossa realidade pessoal aparece também em outro pensador preocupado com o universo sensível, Vilém Flusser, o qual afirma, em seu livro Língua e realidade (2004, p. 34 grifo do autor), que “Conhecimento, realidade e verdade são aspectos da língua. Que ciência e

filosofia são pesquisas da língua. E que religião e arte são disciplinas criadoras de

língua.” Para o filósofo, a língua cria a realidade e a arte cria a língua, a criação da realidade é assim naturalmente poética, entretanto essa mesma realidade é determinada pela cultura e pelas possibilidades estruturais de cada língua.

Nosso discurso, então, segue carregando um conjunto de representações diretamente relacionadas aos estereótipos sociais e aos limites que cada meio de comunicação oferece. A maior parte desse sistema de signos conscientes é determinada pela pressão social e não por uma identidade pessoal; olhamos a partir da nossa cultura. Todos esses pressupostos definem a orientação de nosso olhar

em relação ao mundo, pensamos nossa percepção em vez de perceber, “vivemos a ideia da coisa e não a coisa em si”, observaria Antonin Artaud. Mostrando sua

preocupação com o sentido da expressão humana, o teatrólogo, em seu texto “Para

acabar com o julgamento de Deus”, coloca:

E de onde vem essa sórdida abjeção? Do fato de o mundo ainda não estar formado ou de o homem ter apenas uma vaga ideia do que seja o mundo querendo conservá-la eternamente? Deve-se ao fato de o homem ter um belo dia detido a ideia do mundo. Dois caminhos estavam diante dele: o do infinito de fora o do ínfimo de dentro. E ele escolheu o ínfimo de dentro.7

A desconfiança com a comunicação humana ocupou lugar de destaque na estética teatral moderna e muitos criadores questionaram esses padrões sociais como único modo de expressão. Cobertos por estereótipos em sua comunicação, os artistas modernos tentam reinventar a própria identidade ao invés de, simplesmente, reproduzir esses valores lineares. Com a popularização do cinema e da tevê, por exemplo, o teatro moderno vai praticamente abandonar o realismo e entrar no

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universo da metáfora, fora de uma estrutura linear, com espaços para o não dito, deixando o público deduzir e criar partes. Teatro do absurdo, épico, cruel, butoh, seja qual for a estética moderna, a desconfiança com a comunicação cotidiana é a mesma, especialmente com Artaud, que lutou contra a racionalidade e os significantes da língua, chegando a quebrar a lógica formal da palavra e buscando a sonoridade, as imagens e as sensações na escrita do texto [reche modo to edire de za tau dari do padera coco]; além desse tipo de glossolalia, o poeta da crueldade utilizava urros, gritos e metáforas explosivas. Poesia de um louco ou língua universal? O signo reutilizado constantemente assassina a comunicação, o uso livre proporcionado por Artaud liberta o significante.

Mesmo fora do campo da criação artística, entrando em nossa poética cotidiana, mesmo diante de um evento comunicacional que possibilite um encontro, normalmente ligamos ideias já conhecidas, velhos padrões são sempre associados, criamos cercas, fronteiras de pensamento que são repetidas sempre, tanto em nossas comunicações cotidianas como em nossas expressões artísticas. Dentro dos estudos da comunicação e da filosofia, diversos teóricos analisaram a banalidade das comunicações e seu modo de funcionamento, observando-a próxima ao de um mecanismo de conservação e tranquilização como observou Walter Benjamin8 A

obra de arte reproduzida torna-se cada vez mais a reprodução de uma obra de arte

que se assenta na reprodutibilidade”.

Se essa reflexão atinge a filosofia, a sociologia e a arte de modo tão essencial, refletindo sobre o ser, o que dizer, então, do universo digital? Se a percepção e a comunicação humana vêm sendo questionadas na dimensão do ser, se a teoria crítica expôs fortes argumentos da alienação causada pelos meios de comunicação de massa, no universo virtual da internet e das redes sociais, existe a possibilidade de comunicação poética?

Cobertos por estereótipos em suas expressões, não só os artistas, mas o próprio homem moderno tenta reinventar a própria identidade dentro de práticas e modelos comunicativos que definem nossas condutas. Convém lembrar, no entanto, que, dentro dessa contradição [identidade e modelos de ferramentas de expressão], somos nós produtores e produtos desta sociedade, não somos somente marionetes

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nesse jogo de forças, mas coautores em nosso silêncio ou nossa fala. Se criamos uma sociedade consumista, sem tempo para nada, sem narrativas, sem histórias para contar, na qual se vendem ideias, informações e ilusões por meio de um mundo midiático sem fronteiras, sem limites, que espalha uma rede de poder e de controle, podemos, então, criar outra sociedade.

Se a comunicação de massa (jornais, televisões, revistas) ainda é criticada, principalmente por ter, normalmente, a difusão unilateral, a comunicação digital aparece como a grande possibilidade para a interatividade. Em tempo real ou não, carregando diversas linguagens poéticas e híbridas, as novas plataformas digitais possibilitam novas formas de escrita [mesmo que dentro de modelos padronizados], novas poéticas que representam estados de espírito, emoções, retratam, muitas

vezes, aspectos fundamentais de nossa performance no mundo. Os meios de

comunicação em si não são bons ou maus, são extensões de nossos corpos. Assim diz GUATTARI (2000, p. 30):

As máquinas tecnológicas de informação e de comunicação operam no núcleo da subjetividade humana, não apenas no seio das suas memórias, da sua inteligência, mas também da sua sensibilidade, dos seus afetos, dos seus fantasmas inconscientes.

Nesse contexto, as estratégias saltam para além dos emissores dominantes e receptores dominados; as mensagens não carregam conflitos, não apresentam contradições, nem sedução ou resistência, e chegam às questões de mediações e reconhecimento, fruto da própria comunidade e dependente da ação do indivíduo. A interação aparece como palavra-chave; assim, mediados pela estrutura do imaginário, quando entramos em relação com o objeto, novos processos são instalados. Nosso imaginário tanto harmoniza contrários, percebendo os elementos históricos em relação à realidade social e à realidade subjetiva, como mantém essa dialética, impulsionando os significados do objeto. Conforme DURAND (1997, p.

368) “Cada nova percepção que se obtém encontra seu lugar na estrutura espacial

da memória. No cérebro, cada traço tem seu endereço, mas não data. A estrutura da

execução provém da interação dos traços que deixa dentro de nós”.

Quando reinventamos o que conhecemos, estamos no banho com Heráclito, nunca o mesmo rio, nunca o mesmo homem. Os velhos traços que vão ser reeditados podem levar-nos a compor novas imagens, um filme do passado nos

(24)

novos conteúdos, mudamos a relação de poder, modificamos os estereótipos, cada novo texto contribui de maneira distinta e valiosa para o todo, modificamos nossas velhas ações e partimos para a ação poética. Observamos aqui a grande possibilidade de se efetuar, partindo do poético, o conceito de comunicação

proposto por MARCONDES FILHO (2010, p. 15).

Comunicação é antes um processo, um acontecimento, um encontro feliz, o momento mágico entre duas intencionalidades, que se produz no “atrito dos corpos” (...) ela vem da criação de um ambiente comum em que os dois lados participam e extraem de sua participação algo novo, inesperado, que não estava em nenhum deles, e que altera o estatuto anterior de ambos, apesar de as diferenças individuais se manterem. Ela não funde duas pessoas numa só, pois é impossível que o outro me veja a partir do meu interior, mas é o fato de ambos participarem de um mesmo e único mundo no qual entram e que neles também entra.

A proposta deste texto é a utilização de uma performance poética na relação

com o objeto, considerando a metáfora possibilitada pelo poético como forma de

expandir nossa compreensão sobre o “todo”. Nessa relação de comunicação

criadora, o objeto nunca é visto de forma estática. Dentro do universo da metáfora, o objeto não obedece mais a esse trajeto, no qual sua representação se deixa prender de modo definitivo. As representações subjetivas impulsionam as representações sem perder a relação com o objeto. DURAND (1997, p.21) afirma que

“oanalogon que a imagem constitui não é nunca um signo arbitrariamente escolhido, é sempre intrinsecamente motivado, o que significa que é sempre símbolo”.

Pensar o objeto de pesquisa partindo de uma performance poética é um

exercício do olhar e do conceito dialógico. As imagens que a metáfora proporciona seguem em direção à definição do objeto por um atalho, o atalho da significação

mítica, pois os mitos estão em nossa realidade cotidiana. “A velocidade instantânea

da eletricidade confere dimensão mítica a todas as corriqueiras ações sociais e

industriais de hoje”, MCLUHAN (2007, p. 41).

É exatamente o aspecto mítico e mágico uma das condições apontadas por FLUSSER (2004, p. 35) para a compreensão do seu livro Língua e realidade, “O

conceito que será empregado neste trabalho deverá, entretanto, incluir este aspecto da língua pretendido pelos sábios, o qual poderia ser descrito por mágico ou santo.”

(25)

mágico em nosso dia a dia, religa a arte ao sentido mítico, o mesmo pretendido no bumba-meu-boi e ensinado por Mestre Teodoro.

Walter Benjamin também apontou que o grande acesso às obras de arte reproduzidas mecanicamente distanciaria a obra de sua característica ritualística, o

que seria mais um dos motivos que levariam à perda da sua “aura” ou mística.

É, pois, de importância decisiva que a forma de existência desta aura, na obra de arte nunca se desligue completamente da sua função ritual. Por outras palavras: o valor singular da obra de arte "autêntica" tem o seu fundamento no ritual em que adquiriu o seu valor de uso original e primeiro. Este, independentemente de como seja transmitido, mantém-se reconhecível, mesmo nas formas profanas do culto da beleza, enquanto ritual secularizado.9

Cada objeto traz incorporado em si a marca de quem vê. Embora seja também sua composição física ou sensorial, é o espírito humano que fez dele objeto, a imagem provocada pela metáfora trabalhada em todos os sentidos sem se preocupar com as contradições, quando caminha para o conceito, um conceito atemporal, que não se precipita nas classificações e nos sentidos fechados. Nesse sentido, o olhar poético se aproxima mais do objeto do que a descrição racional, porque abre possibilidades para o não visto; já que tudo que vejo é a ideia de algo, posso concluir, então, que tudo nasce do sentido figurado, a metáfora é a primeira que aparece em relação a todo pensamento.

Nesse processo de reflexão teórica, refletir acerca da comunicação poética significa modificar o modo de ver, pois, no interior dos conceitos, estão nossos valores, nossas atitudes e nossas concepções de mundo, limitados pela cultura. O que posso ver dentro do objeto sempre será separado, sublinhado, revelando uma parte escondida no todo, mas limitando o próprio objeto. Dentro do princípio da

razão durante, descubro parâmetros para o olhar, entretanto sem esquecer que o

objeto deve ser compreendido como um campo de força e de tensão que aceita e rejeita classificações; a experiência estética e o olhar poético proporcionam um caminho sempre aberto e dialógico e, como forma comunicacional expressiva, nos tira dele; de algum modo produz incômodo, mexe conosco.

9

BENJAMIN, Walter. A obra de arte no tempo de sua reprodutibilidade técnica. Disponível em:

(26)

Observamos até aqui alguns aspectos. Primeiro, que a existência de uma realidade objetiva é essencialmente pessoal, isso porque não é possível obter de outra pessoa nossa percepção do mundo. Segundo, são a nossa cultura e a realidade social que determinam diversos aspectos em nosso olhar. O mundo, ou seja, a percepção do outro em minha consciência, carrega traços do imaginário

social. Na construção do personagem no teatro de Bertolt Brecht10, o pensamento é

determinado pelo indivíduo, mas a sociedade é quem determina esse pensamento; em uma relação de causa e efeito sociais, o ator busca a fundamentação do personagem. Para compreender o objeto, é necessário ir além do preconceito do mundo objetivo e chegar a uma consciência que envolva o mundo vivido e no qual o corpo ocupa o papel principal, um corpo modelado, moldado. Minha existência e a existência de uma ideia não são nunca determináveis, se não sensivelmente, ou seja, como existência de um fenômeno, de um acontecimento. Um encontro que, embora sofra constantemente um bombardeio de pressupostos e preconceitos, procura se abrir para novas possibilidades de relação.

A questão que se coloca é como não entender nossos valores como absolutos, abrir nosso olhar para além do que conhecemos, procurando perceber que, na comunicação, os elementos objetivos se transformam em sinais, os quais possuem tanta importância nos significados, racionais e sensíveis, quanto as palavras. Procurando uma abordagem para esquecer o que já conhecemos e ir além de conceitos já estabelecidos, dentro dessa perspectiva, o corpo apresenta função principal. De acordo com MCLUHAN (2007, p. 81),

Começa a ficar evidente que “toque” e “contato” não referem apenas à pele, mas ao jogo recíproco dos sentidos: “manter contato” ou “estabelecer contato” é algo que resulta do encontro frutífero dos sentidos – a visão traduzida em som e o som em movimento, paladar e olfato. O senso comum por muitos séculos foi tido como o poder especificamente humano de traduzir a experiência de um sentido isolado para todos os demais sentidos, de modo a apresentar à mente uma imagem continuamente unificada da experiência. (grifos do autor).

Com o corpo envolvido intencionalmente em substância poética, modelamos o espaço à nossa volta, modelamos a comunicação. Partindo da epistemologia

metapórica e do envolvimento da performance poética do pesquisador no objeto de

estudo, a pesquisa, ao mesmo tempo, estuda e cria um mundo próprio.

(27)

1.2 Performance

Neste trabalho, procuro discutir alguns aspectos relevantes relativos à

comunicação e à poética, fundidos e analisados conjuntamente como performance,

modo de se apresentar, de viver, de ser o acontecimento comunicacional, procurando perceber que, na comunicação, o corpo e as sensações trazem tanta importância nos significados, racionais e sensíveis, quanto as palavras. Dentro dessa perspectiva, o corpo apresenta função principal. O mundo não é só aquilo que eu penso nem só aquilo que eu vivo, porque todo pensamento acerca do mundo é posterior ao próprio mundo. O papel do estudo da fenomenologia é romper com a separação entre sujeito e objeto, pois, em nós mesmos, encontramos a unidade da percepção e o seu sentido; de acordo com MERLEAU-PONTY (1999, p. 407),

“Tenho um corpo e estou, por este corpo, em posse de um mundo”. Nesse aspecto,

é importante romper a dicotomia a respeito do que é percebido e da experiência, somos nosso corpo. O mundo se mistura comigo, integro-me à realidade como parte

dela. Conforme diz MERLEAU-PONTY (1999, p. 465), “Assim como a natureza

penetra até no centro de minha vida pessoal e entrelaça-se a ela, os comportamentos também descem na natureza e depositam-se nela sob a forma de

um mundo cultural”.

A percepção poética normalmente é observada em análises subjetivas e isso ocorre em função da dicotomia sujeito/objeto. Alguns filósofos, como Aristóteles, deram prevalência ao segundo; outros, como Kant, deram prevalência ao primeiro.

Heidegger trouxe uma reflexão diferente, em seu texto A origem da obra de arte, na

qual trata a própria obra de arte como parte do ente. Nesse sentido, a “grande obra”

é uma reprodução das essências do ente, “O artista é a origem da obra. A obra é a

origem do artista. Nenhum é sem o outro”, HEIDEGGER (1990, p. 11). Como o Ser

não se reduz ao ente, a obra de arte (o poético) permite que o ser do ente se revele. A linguagem, nesse caso, não é vista como “útil” à comunicação, como ferramenta, “a própria linguagem é poesia em seu sentido essencial”, HEIDEGGER (1990, p.

(28)

conscientemente a percepção poética, estamos com o nosso corpo em performance

poética, agimos e observamos a partir desse prisma.

Performance, palavra de significado amplo, para a qual o computador sempre

solicita a mudança para desempenho. Pensar performance como desempenho está

relacionado à execução, à capacidade de realizar um trabalho [ação] com bom rendimento, com competência. Nos negócios, nos esportes ou no sexo, considera-se uma boa performance alcançar sucesso, possuir excelência. Depositar excelência

em um show, em um texto ou no cotidiano, de qualquer forma, compreende uma

relação, um encontro com o outro. Além de mostrar, apresentar algo, a performance

é um acontecimento, ocorre enquanto se mostra, parte de um “mostrar”, mas é uma

atividade de todos, necessita que coexista com outros, com o espaço e com o momento.

O conceito de performance no campo artístico começa a se definir depois da

Segunda Guerra Mundial, em diversas partes do mundo e com diversos artistas, apresentando processos de criação artística. Como uma ação predominantemente individualista, é no ambiental, onde a comunicação se processa [ambiental porque o ambiente também impulsiona o movimento, a dinâmica do acontecimento], o corpo passa a ser o motor da obra e a própria obra executada naquele instante. Se chegássemos dez minutos depois de Pollock realizar a sua action painting, diante de

seu quadro, resultado da performance, encontraríamos somente indícios da ação

performática, do que foi sua presença no momento de sua performance. Em pleno

acontecimento poético, qualquer pessoa que estivesse presente estaria efetivamente participando da performance. É o fim da tríade artista / obra / público. A

participação é fundamental na arte performática, o que a aproxima da comunicação digital.

O primeiro nome dado a essas ações foi live art. Live, principalmente porque

estava relacionada à noção de vida, ao dia a dia, ao cotidiano. Bertolt Brecht usava a palavra Event, Josefy Beuys preferia Aktion, Richard Schechner escolheu o termo performance. A segunda metade do século XX foi um período de grande

crescimento da performance art, onde se definiu seu conceito e grande parte de sua

prática dentro do campo artístico.

Os Estudos da Performance, um campo de estudos interdisciplinar, não

(29)

heterogênea e de difícil classificação. Como campo de estudo interdisciplinar, os “Estudos da Performance” não possuem e não procuram um corpus teórico único.

Performance é um meio, um intercampo. O conceito de performance poética aqui

utilizado relaciona-se às práticas estéticas cotidianas que envolvem comportamentos, maneiras de interagir no espaço digital, modos de inserir o corpo nesse espaço.

Os estudos da performance envolvem desde o das artes performáticas, até os

aspectos da vida cotidiana que estruturam identidades individuais e coletivas, inicialmente estudadas pela antropologia cultural e pela sociologia. A própria obra de Richard Schechner11 que é diretor de teatro, encontra-se em diálogo com a antropologia, a estética, a biologia, a psicanálise e a filosofia. Em função disso, performance não é mais fácil de definir, seu conceito de ampla estrutura se expande

por várias áreas étnicas e interculturais, estética e ritual, sociológica e política, mas,

principalmente, performance é um modo de comportamento, uma abordagem para

experimentar, vivenciar em jogo, na estética ou no espaço digital cotidiano.

A busca do desenvolvimento pessoal é um dos princípios centrais da arte da performance e da live art. Não se encara a atuação como uma profissão, mas como um palco de experiência ou de tomada de consciência para utilização na vida. Nele não vai existir separação rígida entre arte e vida. (COHEN, 2011, p. 104)

Partindo de uma ação repetida, comportamento restaurado, as performances

poéticas no espaço digital são narrativas que criam um tempo e um espaço poético, possibilitam interação, diálogos e troca de experiências que podem conduzir a uma ação reflexiva e estão relacionadas à própria apreensão da experiência; nesse

sentido, a performance tanto concede forma quanto é composta pela experiência. A

performance tem como principal constituinte a própria ação performática, é uma

ação que o sujeito assume, um comportamento que pode ser repetitivo sem ser redundante.

Nem a pintura, escultura ou escrita mostram o comportamento no momento em que acontece. Mas, milhares de anos antes dos filmes, os rituais eram feitos de sequências de comportamento restaurado: ação e conservação da ação coexistiam no mesmo acontecimento. Um grande conforto emanava das representações rituais. Pessoas, ancestrais e deuses se reuniam num “eu fui”, “eu sou” e “eu serei” simultâneos. Essas sequências de comportamento foram repetidas muitas vezes. Mecanismos mnemônicos asseguraram que as representações estavam “certas”– transmitidas através de muitas gerações com pequenas variações acidentais. Ainda hoje o terror da “estreia” não provém da presença do público, mas do fato de os

(30)

erros, desta vez, não serem mais perdoados. (SCHECHNER apud BARBA, 1995, p. 206).

A performance modifica o conhecimento, por isso deve ser exercida com

consciência, uma conduta assumida em relação à performance poética no espaço

digital, sendo necessário relacioná-la à prática da linguagem poética em ações repetidas dentro das comunidades virtuais, por exemplo. Ações simbólicas, comunicação poética, realizadas dentro do ambiente digital que transformam novamente o cotidiano em ritual, em comunicação estética. A repetição do comportamento físico [ou comportamento restaurado] é a forma com que o ator organiza esteticamente sua comunicação; nesse sentido, a organicidade da comunicação teatral é dada pela repetição, o treinamento físico confere ao corpo a fluência necessária que permite a ligação entre o gesto repetido e o espontâneo visto no espetáculo, o que garante a organicidade no espetáculo teatral é a organização e repetição de ações de comportamentos reconstruídos. No teatro, o gesto orgânico se relaciona à organização e à repetição do gesto, são ações treinadas, ensaiadas que podem ser armazenadas, transformadas e utilizadas a qualquer momento.

Embora na performance haja um destaque ao momento de sua realização, ao

instante presente, ela é criada a partir da consciência das ações envolvidas no

tempo real, mas criadas anteriormente. “O que caracteriza a passagem do happening para a performance é o aumento de preparação em detrimento do improviso e da espontaneidade” (COHEN, 2011, p.27). As ações repetidas e a participação da plateia caracterizam a ação performática como um rito, principalmente pela transformação do público de espectador a participante. A relação entre o espectador e o objeto artístico se desloca para uma relação mítica, ritualística, sem distanciamento entre o objeto e o espectador. Os gêneros performativos seriam exemplos vivos do ritual em ação.

Além de um preconceito em relação à ideia de que toda performance é livre e

sem preparação [característica mais ligada ao happening], a performance art tem

fama de ser uma ação e sem lógica, com seu significado restrito a quem realiza. Citações desconexas, referências arbitrárias, desprezo pelo sentido, confusão de linguagens e a produção de imagens agressivas; para muitas pessoas, esse é o

estereótipo da performance art. Em relação à comunicação contemporânea no

(31)

a qualquer construção de sentido não existe, a comunicação digital, normalmente é bem comportada, redundante e homogeneizada. Assim, uma subversão do discurso, a meu ver, seria bem-vinda e proporcionaria um novo uso dessa comunicação.

A partir das definições de performance expostas até aqui, é importante não

perder de vista o fato de que esta forma de expressão faz uso da linguagem poética, de que o corpo é o veículo que oferece forma ao que se quer comunicar e de que todo ato de performance é metapórico por natureza, por ser vivencial e ligado ao

acontecimento, cria uma experiência, ao mesmo tempo em que reflete sobre ela.

Poderíamos dizer, numa classificação topológica, que a performance se colocaria no limite das artes plásticas e das artes cênicas, sendo uma linguagem híbrida que guarda características da primeira enquanto origem e da segunda enquanto finalidade. (COHEN, 2011, p. 30)

A característica cênica [corpo em ação] define a performance enquanto

finalidade e dentro do contexto dessa pesquisa, estão os usos de ações poéticas onde estão envolvidas o uso cotidiano ou estético desse elemento. Além disso, a função poética trata da mensagem e propicia uma reflexão acerca dos processos envolvidos na construção da linguagem digital. No sentido amplo, o conceito de

performance transcende o próprio ato performático e analisa o homem em suas

várias formas de ação poética nas quais se conectam as artes, os rituais, as ações político-sociais etc. Essa associação de arte e ação social foi a principal razão do desenvolvimento da estética do teatro do oprimido e do teatro-fórum criados por Augusto Boal.

Mesmo quando inconscientes, as relações humanas são estruturadas em forma teatral: o uso do espaço, a linguagem do corpo, a escolha das palavras e a modulação das vozes, o confronto de ideias e paixões, tudo que fazemos no palco fazemos sempre em nossas vidas: nós somos teatro!12

Para compreender a performance como uma escolha comunicativa, uma

tomada de responsabilidade em relação à comunicação digital, é necessário o desenvolvimento de uma competência comunicativa poética. Ainda que a sua ênfase esteja no conteúdo (a poética na narrativa), por outro lado, a performance pressupõe

o envolvimento integral do performer no ato de narrar e possui fim bem definido, ou

12 Mensagem para o Dia Mundial do Teatro escrita por Augusto Boal, em 25 de março de 2009, quando o

(32)

seja, prioriza o olhar poético como fronteira para o acontecimento. Quanto mais poético, mais se intensifica a experiência estética, provocando deslocamentos na comunicação proporcionados pelas qualidades próprias do poético e atuando, mesmo no espaço digital, com o envolvimento integral do corpo [suas sensações,

reações] em todas as etapas da performance. Refletindo a respeito da natureza da

ação poética em situações cotidianas das redes sociais, derivamos conceitos e questões implicadas na construção da comunicação contemporânea dentro dessa

nova ordem digital, já que a performance no espaço digital começa a se impor como

linguagem cotidiana e como espaço de expressão para artistas de diversas áreas. Quando o artista é sujeito e objeto de sua arte, a ambiguidade artista-obra

desaparece [como na body art]. A ação performática é diferente do fazer cotidiano,

mas, em todo sentido, a performance está ligada a uma maneira de viver a arte, ou

seja, é não arte, é retirada de sua função unicamente estética e dá vida, por exemplo, a espaços cotidianos como os das redes sociais, onde, muitas vezes, vida e arte confundem-se. “O trabalho do artista de performance é basicamente um

trabalho humanista, visando libertar o homem de suas amarras condicionantes, e a

arte, dos lugares comuns impostos pelo sistema” (COHEN, 2011, p. 45). A ação performática proporciona que o acontecimento comunicacional envolva o próprio artista e o ambiente em um relacionamento vivo, o homem não é mais artista, ele é a

própria arte; temos novamente: “O artista é a origem da obra. A obra é a origem do

artista. Nenhum é sem o outro”, (HEIDEGGER, 1990) o conceito do filósofo alemão toma corpo na arte performática.

Nas reflexões de Heidegger, o cuidado com a linguagem é tão importante

quanto a trajetória do seu pensamento. Em seu texto “A caminho da linguagem”

(2003), quando analisa o poema de Georg Trakl, instala o próprio mundo, sua

performance poética, a filosofia e a poesia estão ligadas em sua escrita. Para o

filósofo alemão, por ser poesia, a linguagem proporciona a realização do Dasein13, e

o surgimento da verdade como acontecimento. O ser-aí, ser-com de HEIDEGGER (1990, p.25) já é comunicação no sentido exposto no “principio da razão durante”.

A obra de arte abre à sua maneira o ser do ente. Na obra acontece esse abrir, o desencobrir (Entbergen), a verdade do ente. Na obra de arte a verdade do ente se pôs em obra. A arte é o pôr-se-em-obra da verdade. O que é a verdade mesma, para que se suceda a si (sich ereignet) de tempos a tempos como arte? O que é este pôr-se-em-obra?

(33)

Desse modo, como centro de nossa performance poética, “a Poesia nunca é

propriamente apenas um modo (melos) mais elevado da linguagem cotidiana. Ao

contrário. É a fala cotidiana que consiste num poema esquecido e desgastado, que

quase não mais ressoa”, (HEIDEGGER, 2003, p. 24). A busca por esse aspecto

mágico do olhar poético coloca nosso intelecto em conversa em um campo expandido, longe das compreensões estereotipadas e cada mídia [meio] que realiza isso, de certa forma, faz uso do poético, isso vale também para a linguagem mediada por computadores. Esse pensamento também é compartilhado por LÉVY (1996, p. 43), quando afirma que o suporte digital mudou a maneira de se ler e escrever.

O suporte digital permite novos tipos de leituras (e de escritas) coletivas. Um continuum variado se estende assim entre a leitura individual de um texto preciso e a navegação em vastas redes digitais no interior das quais um grande número de pessoas anota, aumenta, conecta os textos uns aos outros por meio de ligações hipertextuais.

Procurando identificar como o aporte poético abre a possibilidade do acontecimento que efetiva a comunicação, mesmo no universo padronizado das redes sociais, construímos elementos para a efetivação do poético na linguagem cotidiana. Substâncias poéticas e novos meios, como o digital e suas redes sociais, podem desacomodar o sujeito, levando-o a novas formas de vivenciar a experiência comunicacional. Assim, o desenvolvimento da epistemologia metapórica passa por minha ação de consumidor e produtor cultural. Nesse ponto, essa pesquisa científica reflete sobre o que eu faço e o que recebo publicamente [já que a página é aberta] dentro do espaço digital. Nessa observação, participante, realizo e registro reflexões acerca da minha performance no espaço digital, observando os aspectos poéticos

dessa comunicação cotidiana e como esse aporte efetiva a comunicação, ou seja,

este trabalho parte de minha performance [meu olhar poético para as comunidades

virtuais] para refletir acerca de diversas performances que acontecem dentro das

comunidades digitais.

(34)

pensar e de intervir no mundo, para modificar os padrões e os conceitos

estabelecidos. Essa necessidade de destruir, “ressignificar”, verifica-se desde o início das civilizações. A própria tragédia grega é exemplo disso. Nietzsche, em seu livro O nascimento da tragédia no espírito da música – helenismo e pessimismo

(1992), explica que o espírito do trágico reside na realização dos lados negados da existência humana, na aceitação da condição contraditória, representada na loucura e na embriaguez do deus Dionísio. O autor afirma que o mundo grego, longe de ser perfeito e harmonioso, ou seja, espelho do deus Apolo, possuía também um caráter grotesco e destrutivo, representado no culto a Dionísio, que religa o homem à natureza e, a partir do êxtase, teria a capacidade de quebrar a estrutura do Logos14.

Para além das comunicações triviais, muitas vezes, mecanismos de

“conservação” e “tranquilização”, a comunicação deve incomodar, impulsionar o

individuo ao novo e, para isso, precisamos desestruturar o que sabemos. Nesse sentido, necessitamos do vazio/multiplicidade do caos. Segundo HESÍODO (1995), Caos é o mais velho dos deuses gregos, espaço vazio primordial, como força primitiva seria o oposto complementar de Eros. A Noite e a Escuridão eram suas filhas e nasceram a partir de pedaços do Caos, ou seja, o Caos gera a partir da separação dos seus elementos.

A complexidade da relação desordem/organização se verifica empiricamente em nossa vida diária, tanto nas relações simplistas, como na organização do próprio quarto, ou complexas, como no desafio de escrever uma dissertação, descobrir um conceito ou um paradigma. O pensamento complexo, segundo Edgar Morin, não afasta a incerteza ou a contradição. Na visão tradicional da ciência, isso seria um erro de raciocínio que levaria o pesquisador a rever seus postulados. No

pensamento complexo, o pressuposto nasce diferente: “Estamos condenados ao

pensamento inseguro, a um pensamento crivado de buracos, um pensamento que

não tem nenhum fundamento absoluto de certeza”, MORIN (1990, p. 101). Ainda

segundo MORIN (1990, p. 107).

O que disse, da ordem e da desordem, pode ser concebido em termos dialógicos. A ordem e a desordem são dois inimigos: uma suprime a outra, mas ao mesmo tempo, em certos casos, colaboram e produzem organização e complexidade. O princípio dialógico permite-nos manter a

Referências

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