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5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS POR CATEGORIAS

5.3 Análise das Entrevistas e do Diário de Campo

5.3.3 Motivação

5.3.3.2 Interesse em aprender e se desenvolver

Apenas para o grupo dos assistentes em administração foi feita a seguinte pergunta “Sente-se motivado para aprender e contribuir para o aperfeiçoamento do processo de trabalho e desenvolvimento das atividades?”. Nessa questão, dez dos respondentes afirmaram que estão dispostos a aprender e adquirir novos conhecimentos, quatro deles relacionando essa motivação ao fato de gostarem do trabalho que desenvolvem, como nos exemplos:

Sim, porque eu gosto daqui, eu gosto do setor [...] eu me interesso pela atividade. (A7)

Sim. Eu gosto do que eu faço. O pessoal até brinca que eu não vou aposentar que eles vão ter que me tirar daqui [...] aqui a gente não para, toda hora tem alguma coisa diferente. (A2)

A fala acima ainda revela ter sido criado um vínculo do servidor com a Universidade, havendo um sentimento de pertencimento e identificação com a instituição, o que, segundo Kramer e Faria (2007), faz com que o individuo se comprometa com o desempenho e com os resultados a serem alcançados. O fato de o trabalho ser dinâmico e desafiante também foi considerado como estímulo para o aprendizado.

A predileção por um trabalho mais dinâmico e menos automatizado, monótono, tedioso e repetitivo também pode ser percebida no depoimento da (dezoito) meses. O incentivo à qualificação é concedido ao servidor que possui educação formal superior ao exigido para o cargo de que é titular, com maior percentual pela aquisição de título em área de conhecimento com relação direta ao ambiente organizacional de atuação do servidor.

Assistente 1, que declara que não se sente motivada para aprender a lidar com novos sistemas informatizados e tecnologias.

Sim. Só não sinto motivada para aprender coisas ligadas a tecnologia, sistemas. Mas tenho motivação para aprender coisas novas, que não sejam automatizadas. (A1)

Houve quem relacionasse a motivação para o trabalho e para o aprendizado à gratificação pelo trabalho, à garantia de seu sustento e sobrevivência:

A gente tem esse sentimento de que o fruto do meu trabalho é meu ganha pão. Então eu procuro fazer da melhor forma possível e a incentivar as pessoas também a realizarem um bom trabalho, porque eu me sinto grato pelo que eu faço e a retribuição que eu tenho. (A6)

Para Zarifian (2011) a questão da motivação está intimamente associada à questão do sentido que o individuo dá a sua atividade profissional, sentido este ligado à realização de um trabalho bem feito, cuja utilidade é percebida por ele, pela sociedade e pelos destinatários do trabalho. Essa perspectiva pode ser constatada no seguinte depoimento, vinculando a motivação para o aprendizado ao sentimento de realizar um trabalho bem feito, resultando na realização pessoal e profissional.

A minha motivação é essa, vir gostando do que eu desenvolvo. Ver o processo sendo finalizado com sucesso, dentro do prazo e conseguir atender as demandas que surgirem. Isso em minha opinião é realização profissional mesmo. Não é porque sou servidora pública estável que agora faço de qualquer jeito. É questão mesmo de me sentir útil, proativa. (A5)

Um dos entrevistados justificou a sua motivação em razão do bom relacionamento com os membros da equipe de trabalho, em razão de um clima de trabalho agradável e em razão da possibilidade de ser recompensado financeiramente por meio do incentivo à qualificação. Nesse caso, a motivação foi atribuída às condições e estímulos externos.

Hoje sim, porque o governo criou o incentivo de qualificação [...] A equipe também facilita, quando tem uma equipe boa

para trabalhar, alegre, gostosa de trabalhar você sente motivado. (A4)

O baixo grau de abertura à participação nas decisões do setor foi indicado por uma assistente como um aspecto negativo para o querer aprender, o que reforça o entendimento de Le Boterf (2003). Como já mencionado anteriormente, os servidores não têm representação nas reuniões dos colegiados de curso da Unidade, com exceção do curso de graduação em Gestão de Serviços de Saúde.

Na próxima fala fica evidente que a motivação para o servidor se dá de forma interna, e não por estímulos da instituição. O interesse pelo aprendizado e desenvolvimento advém de sua vocação para o trabalho, apesar de não sentir que ele seja valorizado pelos superiores.

Eu gosto do trabalho [...] Não tem motivação da Diretoria para comigo pelas atividades que eu desenvolvo. Você não tem um braço ali para apoiar [...] Eu quero aprender, mesmo eu estando para aposentar, quanto mais eu aprender para mim é melhor. (A13)

Dos treze servidores entrevistados, três responderam que não se sentem motivados para novos aprendizados. A ausência de perspectiva de mudanças, inclusive de atitudes, e um sentimento de inércia e impotência foram citados por uma assistente como responsáveis por sua falta de motivação. Se por um lado a Universidade é responsável pela geração de conhecimento e inovação, por outro se mostra uma instituição resistente a mudanças, retardatária em relação aos avanços, apresentando estruturas organizacionais extremamente burocráticas com um excesso de normas, como afirma Vieira e Vieira (2004).

Ultimamente, eu vou ser sincera, não. Porque algumas coisas eu queria que fossem diferentes e eu não vejo uma mudança, até na atitude de algumas pessoas [...] Tem coisas que são problemas que se arrastam durante anos e não resolve. (A3)

A Assistente 10 relaciona a sua falta de motivação a certas decisões autoritárias e inadequadas em relação ao funcionamento do setor. Situação essa que pode resultar em um distanciamento do servidor em relação à

instituição e na redução do esforço para alcançar um melhor desempenho de suas atribuições.

Eu sentia, agora não sinto mais. Por causa de decisões erradas da administração em relação ao setor. A gente se sente frustrado quando é tolhido no seu trabalho. (A10)

Para a Assistente 9, a Universidade é apática em relação ao desenvolvimento dos seus servidores e ela acredita que a instituição não realiza investimentos nessa área e, por isso, ela não tem motivação. A partir de um olhar mais profundo é possível notar que a servidora não reconhece o incentivo à qualificação, a progressão por capacitação e os programas de bolsas como uma condição motivacional gerada pela organização.

Nem um pouco. Porque a Universidade não investe no funcionário, eu sinto que não tem interesse em ver o funcionário evoluir, crescer, melhorar; então a gente acaba ficando desmotivado. (A9)

Constata-se que os incentivos e as condições oferecidas pela Universidade para estimular os servidores ou permitir que eles cheguem aos objetivos de satisfação interior foram pouco lembrados pelos entrevistados, que acreditam que a motivação é gerada por fatores pessoais, como o gosto pelo trabalho, a identificação com a organização, o sentimento de utilidade e realização profissional ou por fatores do ambiente, como os relacionamentos interpessoais. Somente um servidor reconheceu o incentivo à qualificação oferecido pelo governo federal como uma condição de motivação. Como bem explanado por Bergamini (2003), a motivação nasce das necessidades interiores, e não de fatores externos, sendo que alguns depoimentos sugerem que há uma dificuldade de percepção, por parte dos gestores em relação ao tipo de necessidade de cada indivíduo, além de uma dificuldade de trabalhar a favor do potencial de motivação de cada um dos servidores.