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2 APONTAMENTOS SOBRE O CONTEXTO DA PESQUISA

2.3 INTERESSE E MOTIVAÇÃO NA SALA DE AULA

Nesse contexto de pesquisa, motivação e interesse emergem como conceitos importantes por dois motivos: primeiro porque o interesse é um dos pilares da Modelagem na perspectiva de Burak (2004); segundo porque esses aspectos também se evidenciaram na questão da transição do 5° para o 6° ano, sendo também, um dos pontos que levam os estudantes a apresentarem dificuldades com matemática e até serem encaminhados para a SAA.

A questão da motivação, destacada por Melin (2013) e Reis, França e Silva (2015) tem se mostrado relevante nas discussões sobre aprendizagem. De acordo com Bzuneck (2009, p. 09), a motivação no contexto escolar aparece com um objeto altamente complexo dentro da 3VLFRORJLD SHOD GLYHUVLGDGH GH WHRULDV H DERUGDJHQV 'H PDQHLUD JHQpULFD ³D PRWLYDomR RX R PRWLYR p DTXLOR TXH PRYH XPD SHVVRD RX TXH D S}H HP DomR RX D TXH ID] PXGDU R FXUVR ´ (BZUNECK, 2009, p. 09).

6HJXQGR %HUQDUGLQR S ³D PRWLYDomR p DTXLOR TXH LPSXOVLRQD XPD SHVVRD a fazer algo, aquilo que a põe em movimento em direção aos seus objetivos. É o que a faz mobilizar esforços e utilizar estratégias que a levem a alcaQoDU WDLV REMHWLYRV ´

Para Bzuneck (2009, p. 09), a motivação como fator psicológico ou como processo, OHYD D XPD HVFROKD LQVWLJD ID] ³LQLFLDU XP FRPSRUWDPHQWR GLUHFLRQDGR D XP REMHWLYR FRPR R GH SUHVWDU DWHQomR RX ID]HU R GHYHU GH FDVD ´ $OpP GLVVR D motivação assegura persistência no comportamento. Nesse sentido, a motivação pode levar o estudante a se dedicar, envolver- se com as atividades e ter outras atitudes que contribuam com a sua aprendizagem, ou pode levá-lo a não se permitir aprender, a evitar qualquer ação de envolvimento com as disciplinas escolares.

De acordo com %]XQHFN S ³WRGD SHVVRD GLVS}H GH FHUWRV UHFXUVRV pessoais, que são tempo, energia, talentos, conhecimentos e habilidades, que poderão ser investidos numa certa atividDGH ´ 'HVVH PRGR FRPSUHHQGHPRV TXH R HVWXGDQWH SRGH HVFROKHU utilizar seus recursos pessoais nas atividades escolares, assim como, pode escolher não utilizar. Portanto denomina-VH GHVPRWLYDGR R HVWXGDQWH ³TXH QmR DSOLFDU HVIRUoR ID]HQGR apenas o mínimo, ou se desistir facilmente quando as tarefas lhe pareceram um pouco mais H[LJHQWH ´ %=81(&. S (VVD SRVWXUD p FRPXPHQWH UHFRQKHFLGD QRV HVWXGDQWHV que são encaminhados para a SAA.

Moraes e Varela (2007, p. 03) afirmam que podemos analisar a motivação desde a LQIkQFLD H TXH ³Wornar-VH FRPSHWHQWH HP VHX PHLR VRFLDO OHYD D FULDQoD j PRWLYDomR ´ $OpP disso:

O reforço externo, relativo à performance das habilidades adquiridas vindo dos pais e conhecidos, possibilita o incentivo a motivação. Se a performance for percebida pela criança, ao adquirir um aperfeiçoamento, então, poderá levá-la a uma boa auto- estima, e também à motivação intrínseca ou interna. Por outro lado, a criança que pouco percebe as suas competências, necessita de maior estímulo externo, possui baixa auto-estima e demonstra-se ansiosa, e ainda, enxerga pouca perspectiva de melhora em suas habilidades. (MORAES; VARELA, 2007, p. 04).

Nessa perspectiva, ao chegar na escola, os fracassos, as demonstrações de baixa habilidade com matemática ou a falta de estímulo e incentivo podem levar os estudantes a se perceberem como incapazes, com baixa autoestima e desmotivados para se esforçar a aprender.

Apesar de muitas vezes motivação e interesse serem utilizados como sinônimos, para Oliveira (196 S ³D PRWLYDomR p DOJR PDLV SURIXQGR GR TXH XP VLPSOHV LQWHUHVVH ´ 3DUD D DXWRUD D PRWLYDomR WHP ³SRGHU GH GLQDPL]DU D SHUVRQDOLGDGH OHYDQGR-a a atuar para atingir R REMHWLYR RX VDWLVID]HU R PRWLYR H[LVWHQWH GHQWUR GR LQGLYtGXR ´ 2/,9(,5$ p. 20). Moraes e Varela (2007, p. 06) afirmam que existe uma diferença entre interesse e motivação, na visão deles, o interesse é capaz de atrair a atenção, mas a motivação é a responsável por conduzir a ação:

As coisas que interessam, e por isso prendem a atenção, podem ser várias, mas talvez nenhuma possua a força suficiente para conduzir à ação, a qual exige esforço de um motivo determinante da nossa vontade. O interesse mantém a atenção, no sentido de um valor que deseja. O motivo, porém, se tem energia suficiente, vence as resistências que dificultam a execução do ato.

Melin (2013, p. 18) comenta que, no processo ensino-aprendizagem, a motivação é diferente da motivação aplicada nas atividades em geral, argumentando que, conforme Bzuneck (2009), em sala de aula, a execução das atividades é de natureza cognitiva, por esta razão, os princípios da motivação no contexto educacional se diferem da motivação humana em geral por contemplar e integrar componentes próprios.

A MM na perspectiva de Burak (2004) tem o interesse como ponto de partida, de DFRUGR FRP R GLFLRQiULR GH OtQJXD SRUWXJXHVD LQWHUHVVH VLJQLILFD ³GHVHMR GH VH LQIRUPDU RX GH saber mais sobre alguém ou alguma coisa; curiosidade; [...] qualidade de algo que chama a atenção por ser considerado importante ou relevante; vulto; [...] envolvimento ou participação OHJDO JHUDOPHQWH OLJDGR D QHJyFLRV RX SRVVHV ´ 0,&+$(/,6

Interesse (lat. interesse).

1. Em sentido genérico, aquilo que desperta e orienta à vontade ou desejo de alguma coisa. Finalidade ou objetivo prático que temos em relação a algo. Valor que atribuímos a alguma coisa. Ex.: Meu interesse pela filosofia é antigo; Tenho todo o interesse em descobrir a verdade sobre o que ocorreu.

2. Na metafísica clássica (Platão, Aristóteles), o conhecimento, como atividade da razão, é considerado como algo inferior, devendo ser relegado à esfera da ação da prática. Assim, para Aristóteles, a sabedoria é superior à arte ou à técnica, porque constitui o conhecimento pelo conhecimento, puro e desinteressado, sem fins práticos que a condicionariam, enquanto que a arte ou a técnica tem uma finalidade ou interesse, um objetivo prático que a define.

3. Conceito fundamental da ética kantiana, segundo o qual é o interesse que faz com TXH D UD]mR VHMD µSUiWLFD¶ FRQVWLWXLQGR DVVLP XUQD GHWHUPLQDomR GD YRQWDGH 2 LQWHUHVVH p R TXH QRV µPRYH¶ D UHDOL]DU DOJR 3DUD +DEHUPDV R FRQKHFLPHQWR humano é sempre dirigido por um interesse µ&KDPR GH LQWHUHVVHV DV RULHQWDo}HV básicas que aderem a certas condições fundamentais da reprodução e da autoconstituição possíveis da espécie humana: trabalho e interação. (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2001, p. 106).

Compreendemos o interesse como aquilo que move o estudante para uma ação intencional, que desperta a vontade de realizar as atividades propostas e se envolver na aula. Esse interesse pode ser pela disciplina, pelo tema, pelo professor, enfim, o interesse é o que chama a atenção do estudante, que direciona seu pensamento e lhe dá condições de aprender.

Para discutir essa questão, Herminio e Borba (2010) tomam como base a teoria de 'HZH\ 'H DFRUGR FRP R GLFLRQiULR GH ILORVRILD ³'HZH\ LQYHQWRX D HVFROD DWLYD H RV métodos ativos. Sua essência consiste em lançar mão das motivações e dos interesses espontâneos da criança para a descoberta, pela experiência pessoal, das informações úteis a VHUHP DVVLPLODGDV ´ -$3,$66Ò 0$5&21'(6 S 1HVVD SHUVSHFWLYD R LQWHUHVVH GHYH VHU FRQFHELGR FRPR ³XPD Dtividade em marcha dentro de cada um de nós, a fim de DWLQJLU XP REMHWR QR VHX MXOJDPHQWR GH YDORU ´ '(:(< S apud HEMINIO; BORBA, 2010, p. 118).

Na preocupação em como despertar o interesse dos estudantes para as atividades de sala de aula, DeZH\ ³HP 9LGD H (GXFDomR DSUHVHQWD GXDV WHRULDV XPD IDYRUiYHO H RXWUD FRQWUiULD DR SURSyVLWR GH VH GHVSHUWDU R LQWHUHVVH GR DOXQR ´ %(51$5',12 S

2 SRQWR SRVLWLYR p TXH p ³SRU PHLR GHOH TXH VH JDUDQWH D DVVLPLODomR GH FRQKHFLPHQWR por SDUWH GR DOXQR´ Mi D DUJXPHQWDomR FRQWUiULD p D GH TXH ³D YLGD QmR p SHUPHDGD SRU DSHQDV VLWXDo}HV IDYRUiYHLV H DJUDGiYHLV´ %(51$5',12 S H RV HVWXGDQWHV SUHFLVDP estar preparados para a realidade.

De modo geral, Dewey destaca o interesse como aspecto fundamental da DSUHQGL]DJHP H ³TXDQGR D FULDQoD SHUFHEH TXH R TXH VH GHVHMD HQVLQi-la tem relação com um WRGR GDt QDVFH R LQWHUHVVH ´ %(51$5',12 S 1DV SDODYUDV GH 'HZH\ S

55 apud %(51$5',12 S ³VH HVVH WRGR OKe pertence, ou se o seu próprio movimento o põe em contato com esse todo, aquela coisa ou aquela ação passa a interessá-OD ´ Segundo Dewey (1954 apud %(51$5',12 S R LQWHUHVVH VXUJH ³HP função de uma tendência inerente à pessoa, de uma capacidaGH Mi ODWHQWH´ SURS}H TXH QD preparação dos materiais, considere-VH ³DV H[SHULrQFLDV H QHFHVVLGDGHV SUySULDV GR DOXQR H que se estabeleça o significado daquilo que se pretende ensinar, despertando assim o real interesse, ou melhor, tornando desse modo, a matéria interessante por si própria e não por UHFXUVRV H[WHUQRV ´ 3RU FRQVHJXLQWH R LQWHUHVVH DUWLILFLDO DOFDQoDGR SRU PHLR GH malabarismos pedagógicos, não levaria a criança a apropriar-VH GRV VDEHUHV 1HVVH VHQWLGR ³R verdadeiro interesse está ligado a certas condições que levam o indivíduo a empenhar todo o esforço em determinada atividade, e também se prende à satisfação que emana do sujeito FLHQWH GH VHX SUySULR GHVHQYROYLPHQWR ´ %(51$5',12 S

Segundo Bernardino (2009, p. 05), para o pensamento deweyano, a motivação, da PHVPD IRUPD TXH R LQWHUHVVH ³QmR HVWi GLVVRFLDGD GR REMHWR RX GR ILP TXH VH SUHWHQGH DWLQJLU ´ 9LVWR TXH ³D TXHVWmR VHULD LGHQWLILFDU DV FDSDFLGDGHV WHQGrQFLDV H KiELWRV GRV DOXQRV e oferecer material e condições adequDGDV SDUD R GHVHQYROYLPHQWR GHVVDV FDSDFLGDGHV ´ (BERNARDINO, 2009, p. 05).

De acordo com Bin (2011, p. 125), Dewey compreende as diferentes percepções da SDODYUD LQWHUHVVH H ³R SRQWR FRPXP HQWUH WRGDV HVVDV SHUVSHFWLYDV p TXH TXDVH VHPSUH D palavra interesse é empregada para exprimir a qualidade da relação entre uma pessoa e um PDWHULDO ´ 'HZH\ GHILQH TXH ³LQWHUHVVH VLJQLILFD TXH R HX H R PXQGR H[WHULRU VH DFKDP MXQWDPHQWH HPSHQKDGRV HP XPD VLWXDomR HP PDUFKD ´ '(:(< S apud BIN, 2011, p. 125).

Para que possamos tecer considerações sobre o interesse é preciso ter previamente FRQYHQFLRQDGR TXH WUDWDPRV GH XP LQGLYtGXR DWLYR ³R DJHQWH TXH p UHVSRQViYHO SHODV DWLYLGDGHV YLWDLV ´ %,1 S 5HIRUoDPRV TXH HVWDPRV FRQVLGHUDQGR R HVWXGDQte um sujeito ativo e responsável pela sua aprendizagem. Desse modo, não se trata de cultivar o LQWHUHVVH GRV HVWXGDQWHV ³WDLV FRPR VmR´ SDUD 'HZH\ apud WESTBROOK et al, 2010, S ³XPD HGXFDomR HILFD] UHTXHU TXH R HGXFDGRU H[SORUH DV WHQGrQFLDV e os interesses para orientar o educando até o ápice em todas as matérias, sejam elas científicas, históricas ou DUWtVWLFDV ´ 3RUWDQWR SDUWLPRV GR LQWHUHVVH HP DomR LQWHQFLRQDO TXH SRVVLELOLWH R HVWXGDQWH aprender conceitos e conteúdos importantes para a sua vida objetivando alcançar a motivação para o que o estudante permaneça envolvido na atividade.

Segundo Westbrook et al S ³'HZH\ DILUPDYD TXH TXDQGR D FULDQoD entende a razão pela qual tem de adquirir um conhecimento, terá grande interesse em adquiri- OR´ GHVVD IRUPD RV PDWHULDLV FRPR OLYURV H RXWUDV IRQWHV GH SHVTXLVD VHUmR LPSRUWDQWHV ferramentas. Assim, para Westbrook et al, (2010, p. 126), quando os estudantes estão diante GH DVVXQWRV PXLWR GLVWDQWHV GH VXD H[SHULrQFLD ³DVVXQWRV TXH QmR despertam curiosidade ativa alguma e que estão além do seu poder de compreensão, lançam mão, para as matérias escolares, de uma medida de valor e de realidade, diversa da que empregam fora da escola, SDUD DV TXHVW}HV GH LQWHUHVVH YLWDO ´ $R HVWXGDU DOJR Tue não está no seu interesse, os HVWXGDQWHV ³WHQGHP D WRUQDU-se intelectualmente irresponsáveis; não perguntam a significação do que aprendem, isto é, não perguntam qual a diferença trazida pelo novo conhecimento para DV RXWUDV VXDV FUHQoDV H Do}HV ´ WESTBROOK et al, p. 126).

%LQ S WUDWD GH GRLV WLSRV GH LQWHUHVVH GLUHWRV H LQGLUHWRV ³RV LQWHUHVVHV GLUHWRV VmR DTXHOHV SURGX]LGRV SRU DWLYLGDGHV QDV TXDLV Ki ILP HP VL PHVPDV´ %,1

p.125) como, por exemplo, os jogos e brinquedos; no indiUHWR ³FRLVDV RX VLWXDo}HV TXH DQWHV eram indiferentes ou repulsivas tornam-VH LQWHUHVVDQWHV ´ %,1 S $VVLP ³R interesse indireto é mediado pela percepção das relações entre as diversas atividades e o FRQWH[WR PDLRU QD TXDO VH LQVHUHP ´ %,1, 2011, p. 126). Esse interesse está de acordo com a perspectiva deweyana, por estar ligado à compreensão do sujeito sobre a conexão do que se está estudando com o mundo, a uma percepção sobre a ligação entre as coisas e à importância ou à pertinência desse estudo.

Nesse contexto, quando estamos trabalhando com o tema de interesse do estudante, é importante incentivar as diferentes conexões com a realidade (e também com as diferentes disciplinas) no intuito de motivar, ou manter o estudante motivado, para que este concentre seus esforços e habilidades, permitindo a aprendizagem.

Para Bernardino (2009, p. 02), os professores têm importante papel motivador, aqueles TXH QHJOLJHQFLDP HVVH SDSHO ³YrHP D PRWLYDomR FRPR XP IDWRU SVLFROyJLFR LQWUtQVHFR H estável, apenas, e deixam de dar importantes contribuições para que o processo de DSUHQGL]DJHP VH UHDOL]H HIHWLYDPHQWH´ DFDEDP SRU DWULEXLU R IUDFDVVR HP VXDV GLVFLSOLQDV apenas à falta de motivação dos estudantes.

Desse modo, a atuação do professor é também fundamental para a motivação do estudante, pois, mesmo partindo de temas de interesse, o modo de conduzir a atividade pode contribuir ou não para que este se mantenha atento na atividade.

abordamos a formação dos professores para ensinar matemática na Educação Básica, partindo de alguns aspectos teóricos que possam subsidiar a análise da ação de pesquisa como propulsora da formação docente.