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Interesses coletivos stricto sensu

2.4 Interesses transindividuais

2.4.2 Interesses coletivos stricto sensu

A expressão interesses coletivos em sentido amplo, consoante já explanado, corresponde aos interesses transindividuais pertencentes a grupos, classes ou categorias de pessoas252. É nessa acepção que a Constituição Federal referiu-se a

248

MEDEIROS NETO, Xisto Tiago de. Dano moral coletivo. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: LTr, 2012. p. 136-7. Destaques no original.

249

MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 25. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 54.

250

MEDEIROS NETO, Xisto Tiago de. Dano moral coletivo. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: LTr, 2012. p. 137.

251

BESSA, Leonardo Roscoe. Dano moral coletivo. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 59, p. 78-108, jul./set. 2006.

252

MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 25. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 55.

direitos coletivos, em seu Capítulo I do Título II253 e a interesses coletivos, em seu art. 129, III254. É, também, nesse mesmo sentido que o Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) disciplina a ação coletiva, que se volta não apenas à defesa dos direitos coletivos stricto sensu, mas também à proteção dos direitos difusos e individuais homogêneos”255.

Neste ponto, todavia, trataremos especificamente dos interesses coletivos em sentido estrito, que, conforme definição plasmada no Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90), consistem nos direitos “transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base”256-257. Anote-se que sempre que utilizarmos a expressão direito ou interesse coletivo sem adjetivação estaremos nos referindo ao direito ou interesse coletivo stricto sensu.

Assim, os direitos coletivos dizem respeito ao homem socialmente vinculado e não ao homem isoladamente considerado258. Colhem o homem “não como simples pessoa física tomada à parte, mas sim como membro de grupos autônomos e juridicamente definidos, tais como o associado de um sindicato [...], o acionista de uma grande sociedade anônima, o condômino de um edifício de apartamentos”259. Subjaz aos interesses coletivos “um vínculo jurídico básico, uma geral affectio societatis, que une todos os indivíduos”260.

No tocante ao elemento conceitual relação jurídica base, cabe uma ressalva. Pontifica Hugo Nigro Mazzilli que muito embora o Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) reporte-se a “ser uma relação jurídica básica o elo comum entre os lesados que comunguem o mesmo interesse coletivo (tomado em seu sentido estrito), ainda aqui é preciso admitir que essa relação jurídica disciplinará

253

Estabelece o Capítulo I do Título II da Constituição Federal a tutela dos “direitos e deveres individuais e coletivos”.

254

Preceitua o art. 129, III da Constituição Federal que: “São funções institucionais do Ministério Público: [...] III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”.

255

MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 25. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 55. Destaques no original.

256

Lei n. 8.078/90, art. 81, parágrafo único, inc. II.

257

Esse mesmo conceito pode ser vislumbrado no art. 21, parágrafo único, I, da Lei do Mandado de Segurança (Lei n. 12.016/09).

258

BASTOS, Celso. A tutela dos interesses difusos no direito constitucional brasileiro. Revista de

Processo, São Paulo, n. 23, p. 36-44, jul./set. 1981. p. 40.

259

BASTOS, Celso. A tutela dos interesses difusos no direito constitucional brasileiro. Revista de

Processo, São Paulo, n. 23, p. 36-44, jul./set. 1981. p. 40.

260

BASTOS, Celso. A tutela dos interesses difusos no direito constitucional brasileiro. Revista de

inevitavelmente uma hipótese fática concreta”261; todavia, no tocante aos interesses coletivos, “a lesão ao grupo não decorrerá propriamente da relação fática subjacente, e sim da própria relação jurídica viciada que une o grupo”262.

Para melhor compreensão do referido, imagine-se o exemplo de uma ação coletiva que objetive a nulidade de cláusula abusiva em contrato de adesão. No caso “a sentença de procedência não irá conferir um bem divisível aos integrantes do grupo lesado. O interesse em ver reconhecida a ilegalidade da cláusula é compartilhado pelos integrantes do grupo de forma não quantificável e, portanto, indivisível”263, ou seja, “a ilegalidade da cláusula não será maior para quem tenha dois ou mais contratos em vez de apenas um: a ilegalidade será igual para todos eles (interesse coletivo, em sentido estrito)”264.

Com efeito, o grupo de indivíduos atingidos pela cláusula ilegal encontra-se ligado por uma relação jurídica básica comum, e o resultado da ação coletiva deverá, necessariamente, ser uniforme para todo o grupo lesado, na medida em que ou a cláusula é legal para todos, ou não o é para ninguém. Anota Ronaldo Cunha Campos que Carnelutti bem elucidou essa questão ao referir que “no interesse coletivo as necessidades dos integrantes do grupo obtinham satisfação simultânea através do desfrute de um mesmo bem, ou não logravam satisfação alguma”265.

À vista do exposto, despontam como características ínsitas aos interesses coletivos em sentido estrito o seguinte rol:

(a) transindividualidade, uma vez que se manifestam como expressão do direito reconhecido a uma dada coletividade, não se conformando ou reduzindo-se ao âmbito individual;

(b) a abrangência de um universo de indivíduos de difícil determinação, que são alcançados pela integração em torno do interesse comum ou em relação ao ente que congrega este interesse;

261

MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 25. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 55.

262

MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 25. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 55.

263

MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 25. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 56.

264

MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 25. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 56.

265

CARNELUTTI apud CAMPOS, Ronaldo Cunha. Ação civil pública. Rio de Janeiro: Aide Editora, 1989. p. 47.

(c) a existência de um vínculo associativo – uma relação jurídica base – entre os integrantes do grupo; e

(d) a indivisibilidade do interesse, não se podendo fracioná-lo, em partes, entre os indivíduos integrantes da coletividade, pois afeto a todos indistintamente e a nenhum pessoalmente266.

Por fim, traçando breve paralelo comparativo entre os direitos difusos e os direitos coletivos stricto sensu, salientamos que essas duas categorias possuem como ponto de contato a indivisibilidade do objeto, mas distinguem-se pela origem da lesão e pela abrangência do grupo atingido. Com efeito, “os interesses difusos supõem titulares indetermináveis, ligados por circunstâncias de fato, enquanto os coletivos dizem respeito a grupo, categoria ou classe de pessoas determinadas ou determináveis, ligadas pela mesma relação jurídica básica”267.