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2.4 Interesses transindividuais

2.4.1 Interesses difusos

O Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90)237 define interesses difusos como sendo aqueles “transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam

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MEDEIROS NETO, Xisto Tiago de. Dano moral coletivo. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: LTr, 2012. p. 131. Destaque no original.

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MEDEIROS NETO, Xisto Tiago de. Dano moral coletivo. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: LTr, 2012. p. 131. Destaque no original.

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MEDEIROS NETO, Xisto Tiago de. Dano moral coletivo. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: LTr, 2012. p. 131. Destaques no original.

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Citamos os seguintes exemplos de direitos contrapostos: “(a) aos interesses de uma classe de trabalhadores em obter condições de trabalho mais salubres erigem-se os interesses dos empregadores em diminuir o custo operacional e aumentar os lucros; (b) aos interesses de uma comunidade que habita às margens de um rio contrapõem-se os interesses de empresas que exploram as suas riquezas naturais; e, (c) em relação aos interesses de um grupo de consumidores podem opor-se os interesses dos fabricantes de determinado produto”. In: MEDEIROS NETO, Xisto Tiago de. Dano moral coletivo. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: LTr, 2012. p. 131.

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MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação popular: proteção do erário, do patrimônio público, da moralidade administrativa e do meio ambiente. 7. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. p. 40. Destaques no original.

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Com relação à importância do Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) para a temática sob análise, Leonardo Roscoe Bessa destaca que: “Até o advento da Lei 8.078/90, o entendimento relativo ao direito coletivo e difuso decorria especialmente de reflexões doutrinárias e das referências iniciais da Lei 7.347/85. O Código de Defesa do Consumidor, ao conceituá-los, no seu art. 81, bem como instituir a categoria de direitos individuais homogêneos, promoveu importante avanço no debate

titulares pessoas indeterminadas238 e ligadas por circunstâncias de fato”239. Sendo assim, na conceituação legal desses direitos “optou-se pelo critério da indeterminação dos titulares e da ausência entre eles de relação jurídica base (aspecto subjetivo) e pela indivisibilidade do bem jurídico (aspecto objetivo)”240.

Os interesses difusos são decorrência da sociedade tecnológica, de consumo e produção massificados, que contam com a “participação de empreendimentos públicos ou privados de avultadas proporções, dando lugar a uma mutação veloz e constante, em cujo bojo ocorrem lesões de um novo perfil, marcadas pelo grande número dos atingidos assim como pela sua indeterminação”241. Desponta, dessa afirmação, a principal nota caracterizadora dos interesses difusos, na medida em que eles se individualizam “pela natureza extensiva, disseminada ou difusa das lesões a que estão sujeitos. Os efeitos danosos das lesões aos interesses difusos apresentam-se amplos e não circunscritos, num fenômeno de propagação altamente centrífuga”242.

Nas palavra de Péricles Padre, podem ser conceituados como aqueles titularizados por uma “cadeia abstrata de pessoas, ligadas por vínculos fáticos exsurgidos de alguma circunstancial identidade de situação, passíveis de lesões disseminadas entre todos os titulares, de forma pouco circunscrita e num quadro de abrangente conflituosidade”243. Na mesma linha de pensamento, Hugo Nigro Mazzilli, refere que os direitos difusos são como um “feixe ou conjunto de interesses individuais, de objeto indivisível, compartilhados por pessoas indetermináveis, que se encontrem unidas por circunstâncias de fato conexas”244.

doutrinário”. In: BESSA, Leonardo Roscoe. Dano moral coletivo. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 59, p. 78-108, jul./set. 2006. p. 83.

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Hugo Nigro Mazzilli adverte que: “A lei [Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90)] refere- se a interessados indeterminados; entretanto, tratando-se de interesses difusos, melhor seria tivesse dito interessados indetermináveis”. In: MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em

juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 25. ed.

rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 53. Destaques no original.

239

Lei n. 8.078/90, art. 81, parágrafo único, inc. I.

240

BESSA, Leonardo Roscoe. Dano moral coletivo. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 59, p. 78-108, jul./set. 2006. p. 84.

241

BASTOS, Celso. A tutela dos interesses difusos no direito constitucional brasileiro. Revista de

Processo, São Paulo, n. 23, p. 36-44, jul./set. 1981. p. 41.

242

BASTOS, Celso. A tutela dos interesses difusos no direito constitucional brasileiro. Revista de

Processo, São Paulo, n. 23, p. 36-44, jul./set. 1981. p. 40.

243

PRADE, Péricles. Conceito de interesses difusos. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1987. p. 61.

244

MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 25. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 53.

Anote-se, todavia, que conquanto o Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) indique “ser uma situação fática o elo comum entre os lesados que compartilhem o mesmo interesse difuso, é evidente que essa relação fática também se subordina a uma relação jurídica (como, de resto, ocorre com quaisquer relações fáticas e jurídicas)”245; entretanto, no tocante aos direitos difusos, “a lesão ao grupo não decorrerá diretamente da relação jurídica em si, mas sim da situação fática resultante”246. A título ilustrativo, veja-se o seguinte exemplo: “um dano ambiental que ocorra numa região envolve tanto uma situação fática comum como uma relação jurídica incidente sobre a hipótese; mas o grupo lesado compreende apenas os moradores da região atingida – e, no caso, esse será o elo fático que caracterizará o interesse difuso do grupo”247.

Com fulcro no explanado, podemos asseverar que os direitos difusos possuem quatro características essenciais, que podem ser sintetizadas da seguinte maneira:

a) em relação à titularidade, observa-se a indeterminação dos

sujeitos, pois o interesse abrange pessoas envolvidas apenas por

circunstâncias de fato, como consumir um dado produto, professar uma determinada fé ou viver em uma mesma localidade [...]. Diferentemente da noção clássica do direito subjetivo, nos interesses difusos não há indivíduo ou indivíduos titulares, precisamente identificados, com poder de exigir de outrem certo bem da vida que possa ser apropriado apenas pessoalmente, pois a titularidade do direito repousa na própria coletividade afetada;

b) a indivisibilidade do objeto é manifesta, pois não se concebe, pela sua natureza, repartir-se o interesse difuso em quinhões ou quotas entre as pessoas ou grupos (não se apropria individualmente, por exemplo, o ar que se respira ou o patrimônio cultural de uma comunidade). Assim, a satisfação de um indivíduo necessariamente redundará na satisfação de todos; a lesão a um constituirá também a lesão a toda a coletividade;

c) possuem uma potencial e larga conflituosidade, por força de que, encontrando-se desagregados, sem vínculo jurídico básico a ligar os indivíduos afetados, os interesses difusos enfrentarão, em regra, resistência em face de outros interesses [...];

d) não há vínculo associativo entre os interessados, nem um liame jurídico a uni-los, oriundos de uma relação base. Ocorre apenas uma

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MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 25. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 53.

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MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 25. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 53.

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MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 25. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 53. Destaques no original.

identificação circunstancial, fluida, efêmera, em razão de uma dada situação de fato248.

Relativamente à indivisibilidade do objeto dos interesses difusos, cumpre salientar o seguinte exemplo enunciado por Hugo Nigro Mazzilli:

O interesse ao meio ambiente hígido, posto compartilhado por número indeterminável de pessoas, não pode ser quantificado ou dividido entre os membros da coletividade; também o produto de eventual indenização obtida em razão da degradação ambiental não pode ser repartido entre os integrantes do grupo lesado, não apenas porque cada um dos lesados não pode ser individualmente determinado, mas porque o próprio objeto do interesse em si mesmo é indivisível. Destarte, estão incluídos no grupo lesado não só os atuais moradores da região atingida como também os futuros moradores do local [...]249.

Por fim, registra-se que os direitos difusos “estão inseridos em áreas diversas de imprescindível valor à vida da coletividade, ligando-se às próprias aspirações direcionadas ao sentido de preservação, evolução ou bem-estar social”250. Tais direitos “pertencem à comunidade, a um número indeterminável de pessoas. São materialmente difusos. Não é uma lei que o define como tal, mas a sua própria natureza”251.